Roteiro para um filme de terror brasileiro.
O ano é 2024.
A questão israelense continua grave, aliás, mais um massacre de palestinos foi recentemente perpetrado, mas não vem ao caso.
Na rádio o funk do MC Doidão está bombando, maior sucesso. Por sua completa inutilidade as letras foram abolidas da música.
O país, vive tempos de muita paz.
Nada de protestos nem de greves. Contestações e sindicatos estão proibidos.
Nas grandes cidades, uma multidão de zumbis carrega suas sombras.
A turba arrasta seus pés ao caminhar para o trabalho. São 10 horas por dia de segunda a sábado, com possibilidades de ser chamado aos domingos.
Câmeras do grande irmão Coxinha no alto dos postes, observam tudo e sempre que detectam algum zumbi se escorando na parede acionam o alerta... plim-plim...plim-plim... e o zumbi se recupera e segue seu caminho rumo ao trabalho ordeiro de cordeiro.
No centro da cidade ainda restam vestígios da grande fogueira que queimou a última bruxa, uma mulher que se atrevia a clamar por igualdade salarial entre homens e mulheres e ousou pedir respeito aos direitos femininos. Maldita! Foi execrada e estuprada por três fãs do mito antes de ser queimada. Afinal, ela pediu com aquelas roupinhas curtas.
Periodicamente, grandes telões são ligados e neles surge a cara conhecida de um apresentador de telejornal. Durante alguns minutos os zumbis olham para a imagem do apresentador e aparentemente escutam as notícias do momento dizendo que tudo foi culpa do PT e que fora do neoliberalismo não há salvação.
Nos colégios professores zumbis numa escola sem opinião ensinam histórias em que seres demoníacos como Paulo Freire, Lula, Getúlio Vargas, Brizola, Fidel Castro, Hugo Chaves, entre outros, ameaçaram um dia a instalação do paraíso na terra que hoje eles vivem.
Fala-se também na maravilha de viver num país sem funcionários públicos, os verdadeiros culpados do grande surto da corrupção que varreu o país por décadas. Afinal, para que funcionários públicos se nenhum bem mais era público desde a grande privatização do ano anterior?
Nada de empresas públicas. Tudo em nome do Tio San, dos filhos da burguesia e do espírito do capital.
Também não existe mais sistema de saúde. Numa terra de zumbis ordeiros ficar doente é crime e mesmo um zumbi pode adquirir um plano de saúde privado.
Um mundo sem doentes e sem gays, lésbicas nem outras loucuras como negros metidos a besta pensando em fazer curso superior.
À noite, após o trabalho de 10 horas, antes de voltar para a cripta, os zumbis se reúnem nos grandes templos, onde pastores explicam que a zumbizisse é vontade do senhor e que todos devem estar atentos às ameaças dos comunistas, anarquistas e esquerdistas em geral que comem criancinhas e no passado só criavam coisas inúteis como utopias de igualdade e fraternidade e outras coisas impossíveis.
Depois do culto que termina com o hino dos Estados Unidos, a turma segue seu caminho silencioso, arrastando seus pés numa procissão de zumbis, com um sorriso bestial no rosto.
Prof. Péricles
sábado, 30 de julho de 2016
quinta-feira, 28 de julho de 2016
LEMBRE DE MUNIQUE
Por Sheila Sacks,
Em outubro de 2016, encerrados os Jogos Olímpicos do Rio (de 5 a 21 de agosto), uma solenidade marcará o engajamento da Alemanha e do Comitê Olímpico Internacional (COI) ao projeto memorial que insere os 11 desportistas israelenses (cinco atletas e seis treinadores) assassinados durante a Olimpíada de Munique, em 1972, no panteão histórico dos mártires olímpicos.
A construção de 2,3 milhões de dólares está sendo erguida entre a Vila Olímpica, local do atentado, e o estádio olímpico de Munique, e sua instalação contou com o apoio financeiro do governo alemão, do COI, da Confederação alemã de Esportes Olímpicos da Fundação para o Desenvolvimento Global de Esportes e de outras organizações internacionais.
Passaram-se mais de quatro décadas para que o COI e seus dirigentes reconhecessem efetivamente o tamanho da tragédia que se abateu em Munique e o peso de seu legado em termos de responsabilidade moral e pública.
Desde então, a mensagem é clara: aos governos de países que sediam os Jogos não é dada a possibilidade de falhar ou se omitir, sobretudo no quesito da segurança, sob pena de comprometer, de forma indelével, o ideal olímpico que anima milhares de atletas e visitantes nesse que é o maior espetáculo contemporâneo de confraternização entre povos e nações.
Por isso, entende-se a manifesta preocupação do diretor do Departamento de Contraterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Luiz Alberto Sallaberry, diante do aumento de brasileiros seguidores do Estado Islâmico (EI).
Ele atribui o fato ao “mecanismo da internet” e “às facilidades migratórias do Brasil”.
Em meados de abril, em uma Feira Internacional de Segurança Pública ocorrida no Rio de Janeiro, Sallaberry confirmou que a probabilidade do Brasil ser alvo de ataques terroristas.
Muito antes do curta (29 minutos) “Munique 72 e Além” outro documentário já abordava o sequestro e massacre dos atletas israelenses sob uma ótica jornalística mais investigativa. Produzido em 1999, “Um dia em setembro” (On Day in September), do escocês Kevin Macdonald, traz uma entrevista inédita com Jamal Al-Gashey, o único dos oito terroristas que provavelmente ainda continua vivo, escondido em algum lugar da Jordânia.
Com o rosto encoberto, Al-Gashey diz: “Estou orgulhoso do que fiz em Munique porque ajudou bastante a causa palestina. Antes de Munique o mundo não tinha ideia de nossa luta". Os terroristas exigiam a libertação de 234 presos em Israel.
Premiado com o Oscar de melhor documentário de 2000, o filme reúne entrevistas com membros do Mossad, o serviço secreto de Israel, e com os parentes dos atletas mortos.
Na ocasião da premiação, Macdonald justificou de maneira contundente o motivo que o levou a realizar o filme: “De alguma forma o massacre de Munique foi uma transgressão inominável, a destruição de um ideal de paz e fraternidade”.
Seu produtor, John Battsek, foi mais adiante: “A investigação para o documentário revelou uma história de mistério, conspiração, tragédia, inépcia e terror”.
Estima-se que 900 milhões de pessoas em mais de 100 países assistiram pela TV o ataque ao alojamento dos atletas, na Vila Olímpica, na madrugada de 5 de setembro de 1972, e o seu desenrolar trágico que durou 18 horas.
Cinco dos oito integrantes do grupo terrorista Setembro Negro invadiram o quarto onde dormia a equipe israelense e assassinaram dois atletas no confronto inicial, sendo que o halterofilista Yossef Romano foi torturado e castrado.
Por isso, entende-se a manifesta preocupação do diretor do Departamento de Contraterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Luiz Alberto Sallaberry, diante do aumento de brasileiros seguidores do Estado Islâmico (EI).
Ele atribui o fato ao “mecanismo da internet” e “às facilidades migratórias do Brasil”.
Em meados de abril, em uma Feira Internacional de Segurança Pública ocorrida no Rio de Janeiro, Sallaberry confirmou que a probabilidade do Brasil ser alvo de ataques terroristas.
Muito antes do curta (29 minutos) “Munique 72 e Além” outro documentário já abordava o sequestro e massacre dos atletas israelenses sob uma ótica jornalística mais investigativa. Produzido em 1999, “Um dia em setembro” (On Day in September), do escocês Kevin Macdonald, traz uma entrevista inédita com Jamal Al-Gashey, o único dos oito terroristas que provavelmente ainda continua vivo, escondido em algum lugar da Jordânia.
Com o rosto encoberto, Al-Gashey diz: “Estou orgulhoso do que fiz em Munique porque ajudou bastante a causa palestina. Antes de Munique o mundo não tinha ideia de nossa luta". Os terroristas exigiam a libertação de 234 presos em Israel.
Premiado com o Oscar de melhor documentário de 2000, o filme reúne entrevistas com membros do Mossad, o serviço secreto de Israel, e com os parentes dos atletas mortos.
Na ocasião da premiação, Macdonald justificou de maneira contundente o motivo que o levou a realizar o filme: “De alguma forma o massacre de Munique foi uma transgressão inominável, a destruição de um ideal de paz e fraternidade”.
Seu produtor, John Battsek, foi mais adiante: “A investigação para o documentário revelou uma história de mistério, conspiração, tragédia, inépcia e terror”.
Estima-se que 900 milhões de pessoas em mais de 100 países assistiram pela TV o ataque ao alojamento dos atletas, na Vila Olímpica, na madrugada de 5 de setembro de 1972, e o seu desenrolar trágico que durou 18 horas.
Cinco dos oito integrantes do grupo terrorista Setembro Negro invadiram o quarto onde dormia a equipe israelense e assassinaram dois atletas no confronto inicial, sendo que o halterofilista Yossef Romano foi torturado e castrado.
Os outros nove desportistas foram levados pelos terroristas como reféns para um aeroporto militar nos arredores de Munique e perderam a vida em uma tentativa fracassada de resgate conduzida pela polícia alemã. Um policial e cinco terroristas também morreram.
Três terroristas foram detidos e em pouco menos de dois meses foram libertados em uma troca que envolveu o sequestro de um avião da Lufthansa.
Para Steven Ungerleider, membro do Comitê Olímpico dos EUA e um dos produtores de “Munique 72 e Além”, o atentado de Munique “foi o primeiro ato de terror moderno e não se justifica que esse trauma horrendo seja relegado a uma simples notinha histórica de rodapé”.
De Munique à Rio-2016, lá se vão mais de 40 anos e dez Jogos nas cidades-sede de Montreal (1976), Moscou (1980), Los Angeles (1984), Seul (1988), Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sydney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012).
Durante esse tempo, pedidos foram feitos por familiares dos atletas israelenses para que o COI promovesse um minuto de silêncio na abertura ou no encerramento de uma das Olimpíadas para lembrar as vítimas. Porém, a alegação de que esse tipo de homenagem poderia abalar os atletas ou provocar constrangimento às delegações dos países árabes pontuou as negativas sucessivas emitidas pelo COI.
Mas, para a Olimpíada do Rio – que vai receber 10.500 atletas de 206 países e será vista por mais de 3 bilhões de espectadores ao redor do mundo – o atual presidente do COI, o alemão e ex-esgrimista olímpico Thomas Bach, parece ter encontrado uma solução diplomática. Ele anunciou que haverá um minuto de silêncio na solenidade de encerramento dos Jogos, “para permitir que todos no estádio, bem como aqueles que estão assistindo em casa, lembrem dos entes queridos que já faleceram.”
Antes, no dia 14, em parceria com o Comitê Rio-2016, o COI finalmente irá homenagear os 11 atletas mortos em uma cerimônia na Vila Olímpica da Barra da Tijuca, sinalizando um considerável diferencial de humanismo, generosidade, tolerância e boa vontade que já distingue a Rio-2016 antes mesmo de seu início, das demais Olimpíadas, e em especial da de Munique com a sua terrível história de fanatismo e barbárie.
Sheila Sacks, jornalista tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total. Desde 2009 mantém o blog “Viajantes do tempo”.
Três terroristas foram detidos e em pouco menos de dois meses foram libertados em uma troca que envolveu o sequestro de um avião da Lufthansa.
Para Steven Ungerleider, membro do Comitê Olímpico dos EUA e um dos produtores de “Munique 72 e Além”, o atentado de Munique “foi o primeiro ato de terror moderno e não se justifica que esse trauma horrendo seja relegado a uma simples notinha histórica de rodapé”.
De Munique à Rio-2016, lá se vão mais de 40 anos e dez Jogos nas cidades-sede de Montreal (1976), Moscou (1980), Los Angeles (1984), Seul (1988), Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sydney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012).
Durante esse tempo, pedidos foram feitos por familiares dos atletas israelenses para que o COI promovesse um minuto de silêncio na abertura ou no encerramento de uma das Olimpíadas para lembrar as vítimas. Porém, a alegação de que esse tipo de homenagem poderia abalar os atletas ou provocar constrangimento às delegações dos países árabes pontuou as negativas sucessivas emitidas pelo COI.
Mas, para a Olimpíada do Rio – que vai receber 10.500 atletas de 206 países e será vista por mais de 3 bilhões de espectadores ao redor do mundo – o atual presidente do COI, o alemão e ex-esgrimista olímpico Thomas Bach, parece ter encontrado uma solução diplomática. Ele anunciou que haverá um minuto de silêncio na solenidade de encerramento dos Jogos, “para permitir que todos no estádio, bem como aqueles que estão assistindo em casa, lembrem dos entes queridos que já faleceram.”
Antes, no dia 14, em parceria com o Comitê Rio-2016, o COI finalmente irá homenagear os 11 atletas mortos em uma cerimônia na Vila Olímpica da Barra da Tijuca, sinalizando um considerável diferencial de humanismo, generosidade, tolerância e boa vontade que já distingue a Rio-2016 antes mesmo de seu início, das demais Olimpíadas, e em especial da de Munique com a sua terrível história de fanatismo e barbárie.
Sheila Sacks, jornalista tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total. Desde 2009 mantém o blog “Viajantes do tempo”.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
COMO ASSIM, ESCOLA SEM IDEOLOGIA?
Por Marcelo Rubens Paiva
A escola sem um professor de história de esquerda é como uma escola sem
pátio, sem recreio, sem livros, sem lanchonete, sem ideias. É como um
professor de educação física sem uma quadra de esportes, ou uma quadra
sem redes, ou crianças sem bola.
O professor de história tem que ser de esquerda. Tem que contestar os regimes, o sistema, sugerir o novo, o diferente. Tem que expor injustiças sociais, procurar a indignação dos seus alunos, extrair a bondade humana, o altruísmo.
Como abordar o absolutismo, a escravidão, o colonialismo, a Revolução Industrial, os levantes operários do começo do século passado, Hitler e Mussolini, as Grandes Guerras, a Guerra Fria, o liberalismo econômico, sem a leitura da luta de classes, uma visão da esquerda?
A minha do colegial era a Zilda, inesquecível, que dava textos de Max Webber, do mundo segmentado do trabalho. Ela era sarcástica com a disparidade econômica e a concentração de renda do Brasil. Das quais nossas famílias, da elite paulistana, eram produtoras.
Em seguida veio o professor Beno (Benauro). Foi preso e torturado pelo DOI-Codi, na leva de repressão ao PCB de 1975, que matou Herzog e Manoel Fiel Filho. Benauro era do Partidão, como nosso professor Faro (José Salvador), também preso no colégio. Eu tinha 16 anos quando os vimos pelas janelas da escola, escoltados por agentes.
Outro professor, Luiz Roncari, de português, também fora preso. Não sei se era do PCB. Tinha um tique nos olhos. O chamávamos de Luiz Pisca-Pisca. Diziam que era sequela da tortura. Acho que era apenas um tique nervoso. Dava aulas sentado em cima da mesa. Um ato revolucionário.
Era muito bom ter professores ativistas e revolucionários me educando. Era libertador.
Não tem como fugir. O professor legal é o de esquerda, como o de biologia precisa ser divertido, darwinista e doidão, para manter sua turma ligada e ajudar a traçar um organograma genético da nossa família. A base do seu pensamento tem de ser a teoria da evolução. Ou vai dizer que Adão e Eva nos fizeram?
Como abordar o absolutismo, a escravidão, o colonialismo, a Revolução Industrial, os levantes operários do começo do século passado, Hitler e Mussolini, as Grandes Guerras, a Guerra Fria, o liberalismo econômico, sem a leitura da luta de classes, uma visão da esquerda?
A minha do colegial era a Zilda, inesquecível, que dava textos de Max Webber, do mundo segmentado do trabalho. Ela era sarcástica com a disparidade econômica e a concentração de renda do Brasil. Das quais nossas famílias, da elite paulistana, eram produtoras.
Em seguida veio o professor Beno (Benauro). Foi preso e torturado pelo DOI-Codi, na leva de repressão ao PCB de 1975, que matou Herzog e Manoel Fiel Filho. Benauro era do Partidão, como nosso professor Faro (José Salvador), também preso no colégio. Eu tinha 16 anos quando os vimos pelas janelas da escola, escoltados por agentes.
Outro professor, Luiz Roncari, de português, também fora preso. Não sei se era do PCB. Tinha um tique nos olhos. O chamávamos de Luiz Pisca-Pisca. Diziam que era sequela da tortura. Acho que era apenas um tique nervoso. Dava aulas sentado em cima da mesa. Um ato revolucionário.
Era muito bom ter professores ativistas e revolucionários me educando. Era libertador.
Não tem como fugir. O professor legal é o de esquerda, como o de biologia precisa ser divertido, darwinista e doidão, para manter sua turma ligada e ajudar a traçar um organograma genético da nossa família. A base do seu pensamento tem de ser a teoria da evolução. Ou vai dizer que Adão e Eva nos fizeram?
O de química precisa encontrar referências nos elementos que temos em
casa, provar que nossa cozinha é a extensão do seu laboratório, sugerir
fazer dos temperos, experiências.
O professor de física precisa explicar Newton e Einstein, o chuveiro elétrico e a teoria da relatividade e gravitacional, calcular nossas viagens de carro, trem e foguete, mostrar a insignificância humana diante do colossal universo, mostrar imagens do Hubble, buracos negros, supernovas, a relação energia e massa, o tempo curvo. Nosso professor de física tem que ser fã de Jornadas nas Estrelas.
Precisa indicar como autores obrigatório Arthur Clarke, Philip Dick, George Orwell. E dar os primeiros axiomas da mecânica quântica.
O professor de filosofia precisa ensinar Platão, Sócrates e Aristóteles, ao estilo socrático, caminhando até o pátio, instalando-se debaixo de uma árvore, sem deixar de passar pela poesia de Heráclito, a teoria de tudo de Parmênides, a dialética de Zenão. Pula para Hegel e Kant, atravessa o niilismo de Nietzsche e chega na vida sem sentido dos
existencialistas. Deixa Marx e Engels para o professor de história barbudo, de sandália, desleixado e apaixonante.
O professor de português precisa ser um poeta delirante, louco, que declama em grego e latim, Rimbaud e Joyce, Shakespeare e Cummings, que procura transmitir a emoção das palavras, o jogo do inconsciente com a leitura, a busca pela razão de ser, os conflitos humanos, que fala de alegria e dor, de morte e prazer, de beleza e sombra, de
invenção-fingimento.
O de geografia precisa falar de rios, penínsulas, lagos, mares, oceanos, polos, degelo, picos, trópicos, aquecimento, Equador, florestas, chuvas, tornados, furacões, terremotos, vulcões, ilhas, continentes, mas também de terras indígenas, garimpo ilegal, posseiros, imigração, geopolítica, fronteiras desenhadas pelos colonialistas, diferenças entre xiitas e
sunitas, mostrar rotas de transação de mercadorias e comerciais, guerra pelo ouro, pelo diamante, pelo petróleo, seca, fome, campos férteis, Civilização.
A missão deles é criar reflexões, comparações, provar contradições. Provocar. Espalhar as cartas de diferentes naipes ideológicos. Buscar pontos de vista.
O paradoxo do movimento Escola sem Partido está na justificativa e seu programa: "Diante dessa realidade - conhecida por experiência direta de todos os que passaram pelo sistema de ensino nos últimos 20 ou 30 anos -, entendemos que é necessário e urgente adotar medidas eficazes para prevenir a prática da doutrinação política e ideológica nas escolas, e a usurpação do direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções."
Mas como nasceriam as convicções dos pais que se criariam num mundo de escolas sem ideologia? E que doutrina defenderiam gerações futuras?
A escola não cria o filho, dá instrumentos. O papel dela é mostrar os pensamentos discordantes que existem entre nós. O argumento de escola sem ideologia é uma anomalia de Estado Nação.
Uma escola precisa acompanhar os avanços teóricos mundiais, o futuro, melhorar, o que deve ser reformulado. Um professor conservador proporia manter as coisas como estão. Não sairíamos nunca, então, das cavernas.
Marcelo Rubens Paiva é escritor, dramaturgo e jornalista.
sábado, 23 de julho de 2016
ESCOLA SEM PARTIDO, DIREITA SEM VERGONHA
A primeira vez que frequentei uma sala de aula, era muito jovem, e ainda estava na faculdade. Estava eu no meio de professores mais velhos e experientes, encolhido num canto, nervoso diante dos minutos que antecediam minha primeira aula.
De repente um professor, que vim a me relacionar muito bem mais tarde, se aproxima de mim e me fala quase aos cochichos: vai embora guri, te manda antes que seja tarde.
Lógico que me assustei com aquilo, mas, o colega continuou: se realmente der a primeira aula, vais te apaixonar, vai querer que a segunda seja melhor que a primeira e nunca mais vai deixar de ser professor e mal pago. Te manda, vai fazer outra coisa e ganhar dinheiro.
Não ouvi seu bem-humorado conselho (sim, ele estava brincando) e dei a primeira aula, dei a segunda e estou lecionando até hoje, trinta anos depois.
De certa forma, ele tinha razão. Lecionar sobre a história da humanidade é viver uma paixão de tal forma que ela só cresce e um professor de história será sempre um professor de história.
Por mais conhecimento que tenha o professor, se não tiver paixão, jamais será um bom professor.
Como falar sobre o homem, sua produção, suas escolhas e suas heranças sem paixão?
Como relatar a história de povos que foram ricos em descobertas e conhecimentos, mas que já desapareceram, sem um toque de saudade e mistério?
De que forma podemos falar da arte humana de reproduzir a realidade em que vive sem imaginar os dedos do artista, seus pensamentos e receios diante da obra?
Impossível viajar pela mitologia dos povos sem imaginar sua personalidade, seus sonhos, esperanças e decepções sem sentir um pouco da emoção que sonhos esperanças e decepções emanam.
Seria possível falar da contradição de um animal que progrediu tanto ´tecnologicamente que já faz transplantes, mapeia genomas, viaja no cosmos e cria máquinas maravilhosas como o computador, mas que, jamais conseguiu criar uma sociedade minimamente justa, sem um misto de indignação e deslumbramento?
Somos sim inteligentes e temos consciência de nossa existência. Fazemos milagres com nossa imaginação e trabalho, mas, ainda permitimos que crianças morram de fome, velhos morram abandonados e a violência ainda dite as normas em vários pontos do planeta.
Falamos de coisas antigas, mas que estão tão presentes hoje como ontem como fanatismo religioso, homofobia, fascismo, guerras e outras degradações humanas.
Como falar da história do Brasil sem nos emocionarmos com as mesquinharias das elites que mantiveram a escravidão ao ponto da exaustão num mundo que não mais admitia o trabalho escravo?
Daria para falar do holocausto judeu sem lembrar o maior de todos os holocaustos praticados contra as populações indígenas das Américas?
Ou do egoísmo da República Velha e seus coronéis donos do poder e das Leis?
Poderíamos permitir a crítica ao totalitarismo europeu sem lembrar da comédia dos integralistas brasileiros apaixonados por Hitler e Mussolini?
Não, não peçam a um professor de história que ele dê aula sem partido, pois todo relato histórico já exige em sua essência que se tome um partido.
Um professor não é um narrador, uma leitura mecânica sem alteração no timbre de voz.
O que nos move não é o salário, é o brilho de indignação e curiosidade nos olhos de nossos alunos. É provocar a inquietação e a vontade de saber mais.
Por isso, meu colega tinha razão, os salários são baixos, mas não perdemos a vontade de continuar lecionando já que cada inquietação que provocamos é uma nova esperança em dias melhores.
Não queiram nos tirar a indignação que as vezes nos levam às lágrimas como nos relatos de perseguidos e torturados por ditaduras criminosas.
A neutralidade não foi feita para poetas nem para contadores de história.
Melhor seria uma mídia sem partido, mas a simples menção da ideia provoca clamores de interferência na liberdade de informação. Mas, o que o professor de história faz também não é direito de liberdade de informação?
Melhor seria judiciário sem partido, polícia federal sem partido, ministério público sem partido.
A interpretação e aplicação da Lei sim, exigem imparcialidade, neutralidade e, se possível, ausência de emoção.
O pedido de uma escola sem partido vem da direita, pois, reclamam, os professores são majoritariamente de esquerda.
Então seria de se questionar, se aqueles que estudam história com método e com afinco em sua imensa maioria são de esquerda, não estaria a verdade dos fatos com essa maneira de ver as coisas.
Por que são tão poucos professores de história de direita?
Então, pensam os deputados direitistas, das bancadas do boi, da Bala e da Bíblia, se não é possível mudar a história que se mude o jeito de conta-la.
O que se pretende fazer com a Lei da Escola sem Partido é o mais sórdido fascismo.
Nós, professores de história, somos percentualmente poucos para definir qualquer resultado de consulta popular. Dependemos da vontade e da luta da população brasileira. Dependemos que pais e cidadãos não aceitem que seus filhos recebam aulas de uma história morta e mentirosa.
Uma vez perguntaram a Heródoto, o primeiro historiador com método e por isso conhecido como “o pai da história” por que ele dedicava tanto tempo viajando aos locais de batalhas para apenas registra-las se as batalhas já tinham ocorrido a muito tempo e ele não poderia modifica-las. Heródoto suspirou e respondeu “para fazer justiça”.
A história contada pelos vencedores, nem sempre é a história real e cabe ao historiador, com o fôlego que só o tempo pode dar, fazer justiça também aos derrotados.
Uma escola sem partido terá partido sim, o partido dos vencedores.
Não tirem as estrelas dos poetas, nem a emoção dos historiadores.
Prof. Péricles
quinta-feira, 21 de julho de 2016
AINDA OS SEIOS DE DUÍLIA
Por Clement Rosas
O escritor Aníbal Machado, pai da teatróloga e mestra em ficção infantil Maria Clara Machado, e irmão de Cristiano Machado, candidato dos comunistas à presidência da república em 1950, constitui um caso raro na literatura: ganhou notoriedade com apenas um de seus contos. “Viagem aos Seios de Duília” é o seu título, e marca presença em todas as antologias até hoje editadas no país.
Nele, conta-se a história do seu Zé Maria, funcionário público solitário que, ao aposentar-se, sente a vida vazia, e não se satisfaz com os lazeres dos círculos de aposentados como ele. Em casa, no então bucólico bairro de Santa Tereza, no Rio, imerso em reflexões, evoca, de repente, episódio de sua adolescência, em remota cidade do interior de Minas Gerais.
A jovem Duília, que seguia uma procissão, sentindo-se observada por ele, tem um impulso de irreverência, e, fugindo às vistas dos demais acompanhantes, exibe-lhe, num relance, os seios nus: “Quer ver? Quer ver mais?”. E nada acontece na sequência, além daquele deslumbramento passageiro.
Seu Zé Maria, então, concebe o plano de retornar à sua terra de origem e rever a criatura que lhe havia proporcionado aquele êxtase momentâneo, na esperança de que isso lhe pudesse trazer de volta as emoções da juventude e o gosto pela vida. Parte sem plano de regresso, e, ao cabo de uma viagem que começa de trem e termina penosamente em lombo de burro, chega à cidadezinha e encontra a sua antiga musa.
Não mais a Duília, é claro, mas a Dona Dudu, professora aposentada, viúva e cheia de filhos, que não o reconhece. Ao apresentar-se e tentar rememorar a cena, da qual a Dona Dudu possivelmente não se lembraria, dá-se conta da ilusão em que mergulhara. Sente que o encanto do passado estava perdido, e nada teria a esperar do futuro. Chora, e é consolado pela velha professora, que, vislumbrando enfim a razão do seu desencanto, esconde as próprias lágrimas. E ele se retira, desaparecendo nas sombras da noite que cai sobre a pequena cidade, em cenário adequado ao epílogo.
Refletindo sobre a história do velho funcionário, ocorreu-me pensar se haveria registro, no meu passado, de episódio comparável de arrebatamento.
É certo que não configuro bem o caso do nosso personagem: tenho mulher, filhos e netos, além de irmãos e sobrinhos. Não sou, nesse sentido, um solitário, embora traga comigo aquela solidão radical, inerente à condição humana, de que fala Miguel Torga, o escritor português, e que carregamos desde que deixamos o “materno lago amniótico, onde boiavam nossos corpos, sem alegria e sem dores”. Mas a veleidade de reviver emoções da juventude lateja no peito de qualquer idoso.
Para minha surpresa, o momento de enlevo que me ressurge é bem mais sutil. A minha Duília era uma namoradinha de olhos amendoados, de quem a vida me separou, por outras seduções que já não vale a pena lembrar. Estávamos sentados, de mãos dadas, em um banco da lagoa do Parque Solon de Lucena, aprazível recanto no centro da cidade de João Pessoa, que pode causar inveja a qualquer capital nordestina. Era aquela hora fagueira da tarde, em que as sombras se alongam e o brilho do sol se faz mais dourado. Completando o cenário, uma lua prematura mostrava o rosto ainda na luz declinante do dia, lançando reflexos prateados nas águas da lagoa.
Assim embevecidos, fomos encontrados pelo poeta Vanildo Brito, companheiro de geração e de roda literária, que nos chamou a atenção para a magia do quadro.
Mas por que recordo isso agora? Talvez apenas porque a poesia, que nos chegou nas palavras daquele amigo, tem o dom de transfigurar a realidade, perenizar emoções, fixar memórias. Minha Duília, que, hoje casada e mãe, imagino feliz, talvez também não guarde lembrança daquele momento.
Mas por que recordo isso agora? Talvez apenas porque a poesia, que nos chegou nas palavras daquele amigo, tem o dom de transfigurar a realidade, perenizar emoções, fixar memórias. Minha Duília, que, hoje casada e mãe, imagino feliz, talvez também não guarde lembrança daquele momento.
Mas se o acaso a fizer ler estas linhas, espero que lhe sejam amenas, como o são para mim agora, ao escrevê-las.
Clemente Rosas Ribeiro atuou como consultor e executivo de empresas privadas e, a partir de 1979, assumiu cargos de confiança no Governo de Pernambuco, sendo o principal o de Superintendente do Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (CONDEPE). Durante oito anos ocupou o posto de Procurador Geral da SUDENE, aposentando-se em 2001, com a extinção da autarquia.
Clemente Rosas Ribeiro atuou como consultor e executivo de empresas privadas e, a partir de 1979, assumiu cargos de confiança no Governo de Pernambuco, sendo o principal o de Superintendente do Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (CONDEPE). Durante oito anos ocupou o posto de Procurador Geral da SUDENE, aposentando-se em 2001, com a extinção da autarquia.
terça-feira, 19 de julho de 2016
TERRORISMO, RETORNO À IDADE MÉDIA
Por Celso Lungaretti
Tenho ojeriza profunda aos fanáticos religiosos que exumaram e exacerbaram o terrorismo clássico. Vale a pena explicar os motivos.
Ao contrário de considerável parcela dos articulistas ditos de esquerda, li muito Marx, Engels, Lênin e Trotsky nos meus anos de formação política. E aprendi que a abolição do capital e o fim da sociedade de classes seriam o coroamento da marcha civilizatória, o final de uma longa caminhada das trevas para as luzes, do tacão da necessidade para a plenitude da liberdade.
Então, como os autores citados, só posso considerar patética a tentativa de fazer o relógio da História retroceder à Idade Média, quando os pastores de cabras aceitavam que a idiotia religiosa regesse cada esfera da vida social e da moral individual, e acreditavam que dizimar infiéis lhes abriria as portas do paraíso.
Desde o aiatolá Khomeini, sou totalmente contrário ao oportunismo da má parte da esquerda que, trocando o marxismo pela geopolítica, alinha-se com os inimigos da civilização, apenas porque, casualmente, estão na contramão de EUA, Israel, França ou qualquer outro vilão da vez.
Quem justificou a chacina do Charlie Hebdo é cúmplice moral da matança na cidade estadunidense de Orlando. Considero simplesmente aberrante a esquerda, filha do iluminismo, dar as mãos a quem quer anular o iluminismo e todas as suas consequências!
Também me irrita profundamente a forma como os terroristas de Alá ajudam a indústria cultural a incutir no cidadão comum a paranoia face aos diferentes. O que a indústria cultural insidiosamente incute nos seus públicos, martelando sem parar?
A sensação de que tudo vai bem na vidinha de todos até que surge qualquer ameaça externa, como assassinos seriais, zumbis ou… terroristas. Os papalvos devem prezar a normalidade e temer unicamente aquilo que a quebre. É onde se encaixam, como uma luva, as bestiais matanças perpetradas pelo Estado Islâmico.
Desconheço autoproclamados inimigos do sistema mais convenientes para o dito cujo do que os carniceiros de Alá. O ataque pirotécnico da Al Qaeda ao WTC deu pretexto a uma longa e terrível temporada internacional de estupro dos direitos humanos, da qual finalmente estávamos emergindo quando o EI entrou em cena para fornecer novos e valiosos trunfos propagandísticos para os trogloditas da direita.
Se depender dos jihadistas, a guerra ao terror nunca acabará.
Por último, os verdugos de Alá, com seus atentados covardes contra civis e suas repugnantes execuções de prisioneiros, agridem de tal forma a sensibilidade dos cidadãos equilibrados que facilitam a disseminação de preconceitos contra qualquer forma de resistência armada a governos totalitários.
A direita deita e rola nesse clima de rancor cego, que propicia a satanização dos combatentes que, em situação de extrema inferioridade de forças, desafiaram heroicamente o terrorismo de estado nos anos de chumbo; propiciou a satanização de Cesare Battisti, mediante a afixação de um rótulo que nem sequer fora utilizado no momento dos acontecimentos (a Justiça italiana não o acusou nem condenara como terrorista). Serviu para socar-nos goela adentro uma lei que permitirá enquadrar as mais inofensivas formas de protesto como crimes gravíssimos.
Sou veterano de uma organização armada que erigia como inimigos apenas os torturadores, assassinos e dirigentes da ditadura militar, fazendo tudo para evitar que civis e os inconscientes úteis apanhassem as sobras dos confrontos. Preferíamos sacrificarmo-nos do que sacrificar os inocentes. Então, é chocante ao extremo para mim constatar a falta de um mínimo resquício de solidariedade, de compaixão, de empatia com outros seres humanos, nesses autômatos de Alá.
Os atentados são típicos de nazistas, de psicopatas!
“…quando olho para o rosto dos terroristas, o que vejo é a felicidade da matança. Eles não matam apenas por uma religião (que mal estudaram) ou por razões geopolíticas (que nem sequer entendem).
Eles matam porque gostam de matar… A parte bestial do ser humano não pode ser abolida da nossa natureza… Quando provamos a loucura da guerra, emergimos como o primeiro homem, o homem das cavernas.
…embalados pelo conforto da paz, somos incapazes de entender, muito menos aceitar, a felicidade (…) de homens como nós que provaram e gostaram do sangue. E que exatamente por isso querem mais e mais e mais –até que a morte nos separe“.
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária.
Desconheço autoproclamados inimigos do sistema mais convenientes para o dito cujo do que os carniceiros de Alá. O ataque pirotécnico da Al Qaeda ao WTC deu pretexto a uma longa e terrível temporada internacional de estupro dos direitos humanos, da qual finalmente estávamos emergindo quando o EI entrou em cena para fornecer novos e valiosos trunfos propagandísticos para os trogloditas da direita.
Se depender dos jihadistas, a guerra ao terror nunca acabará.
Por último, os verdugos de Alá, com seus atentados covardes contra civis e suas repugnantes execuções de prisioneiros, agridem de tal forma a sensibilidade dos cidadãos equilibrados que facilitam a disseminação de preconceitos contra qualquer forma de resistência armada a governos totalitários.
A direita deita e rola nesse clima de rancor cego, que propicia a satanização dos combatentes que, em situação de extrema inferioridade de forças, desafiaram heroicamente o terrorismo de estado nos anos de chumbo; propiciou a satanização de Cesare Battisti, mediante a afixação de um rótulo que nem sequer fora utilizado no momento dos acontecimentos (a Justiça italiana não o acusou nem condenara como terrorista). Serviu para socar-nos goela adentro uma lei que permitirá enquadrar as mais inofensivas formas de protesto como crimes gravíssimos.
Sou veterano de uma organização armada que erigia como inimigos apenas os torturadores, assassinos e dirigentes da ditadura militar, fazendo tudo para evitar que civis e os inconscientes úteis apanhassem as sobras dos confrontos. Preferíamos sacrificarmo-nos do que sacrificar os inocentes. Então, é chocante ao extremo para mim constatar a falta de um mínimo resquício de solidariedade, de compaixão, de empatia com outros seres humanos, nesses autômatos de Alá.
Os atentados são típicos de nazistas, de psicopatas!
“…quando olho para o rosto dos terroristas, o que vejo é a felicidade da matança. Eles não matam apenas por uma religião (que mal estudaram) ou por razões geopolíticas (que nem sequer entendem).
Eles matam porque gostam de matar… A parte bestial do ser humano não pode ser abolida da nossa natureza… Quando provamos a loucura da guerra, emergimos como o primeiro homem, o homem das cavernas.
…embalados pelo conforto da paz, somos incapazes de entender, muito menos aceitar, a felicidade (…) de homens como nós que provaram e gostaram do sangue. E que exatamente por isso querem mais e mais e mais –até que a morte nos separe“.
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária.
domingo, 17 de julho de 2016
A TURQUIA E SUAS MENTIRAS
Poucos lugares do mundo encarnam tão bem a mentira como a Turquia.
Há décadas um povo é massacrado dentro de suas fronteiras, os Curdos, mas como a Turquia é de importância estratégica vital para conter a Rússia, o ocidente “defensor dos direitos humanos” faz de conta que não sabe disso.
Desde 1952 a Turquia faz parte da aliança militar do ocidente, a OTAN, sendo sua participação considerada vital por especialistas, porém, não é aceita na União Europeia embora tente fazer parte do grupo a 20 anos.
Mas, apesar de não fazer parte da UE, recebeu dela apoio para deter pela força, a massa de imigrantes que tentava entrar na Europa pelo Bósforo.
Faz de conta que é um dos nossos só não entra no nosso clubinho restrito.
Ao mesmo tempo que Europeus bajulam a Turquia que serve de escudo contra Síria e Iraque, que fariam fronteira com a Europa se a Turquia não estivesse no meio, renegam sua maioria muçulmana.
Ângela Merkel por mais de uma vez já deixou claro que teme a islamização da Europa a partir da inserção da Turquia no dia a dia europeu.
As mentiras e os “faz de conta” preponderam em abundancia em qualquer questão que envolva a Turquia.
O governo de Recep Tayip Erdogan, por exemplo.
Há 14 anos ele e seu partido, o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) estão no poder com as bênçãos e sorrisos satisfeitos dos Estados Unidos.
Para os norte-americanos Erdogan representa a união possível entre democracia e Islã.
Isso parece uma maravilha num país que nos últimos 50 anos conheceu quatro golpes de estado. O governo do AKP pareceu estável até mesmo nos piores momentos da Primavera Árabe que abalou as estruturas de estados vizinhos.
Mas tudo começaria a mudar a partir da crise econômica de 2008.
As dificuldades financeiras expuseram um quadro grave de tensões sociais e descortinou uma paz apenas aparente.
Como bom aprendiz de feiticeiro, Erdogan agiu como costumam agir os chefes de estado do ocidente diante de uma bomba relógio prestes a explodir em sua casa... atacou a casa dos outros.
Mas, a participação da Turquia na destruída Síria foi totalmente desfavorável ao governo que apoiou a oposição moderada, esmagada entre o EI e o governo de Bashar al-Assad.
Tentando recuperar protagonismo, a aviação Turca derrubou, em novembro do ano passado, um avião militar russo, perto da fronteira entre Turquia e Síria. Putin se irritou, ameaçou apelar e o governo da Turquia teve que pedir desculpas oficiais.
A emenda saiu pior que o soneto.
Nas eleições do ano passado, um pequeno partido, o Partido Democrático Popular, de tendência de aproximação com os curdos, conquistou, pela primeira vez, uma ampla bancada no congresso.
Talvez seja essa a causa da tentativa de golpe militar iniciada na sexta-feira, o velho e ancestral ódio aos curdos e o medo de perder as mais importantes fontes de petróleo que se localizam, justamente, onde outrora os curdos tinham sua pátria.
O discurso de defender a democracia por parte dos golpistas não só é mentiroso como é calhorda.
Ou talvez seja outra mentira e o golpe seja patrocinado pelo próprio governo em busca de recuperar espaços e encurralar ospró-curdos.
Felizmente, as notícias de reação do povo turco contra o golpe militar, vem trazer esperança de um pouco de verdade diante de tantas mentiras.
Em tempos de golpes e de fascismos não deixa de ser um alento ver jovens, do outro lado do mundo defendendo a liberdade.
Pena que seja do outro lado do mundo.
Prof. Péricles
sábado, 16 de julho de 2016
É DE SUA NATUREZA
Sabe aquela história da mulher que tratava uma cobra jararaca como se fosse filha?
Dava ratinhos fresquinhos para ela devorar e toda atenção fofinha do mundo... um dia a cobra a mordeu e ela morreu. Culpa da cobra? Claro que não, cobra é cobra, é de sua natureza.
Igual a estória do escorpião que tanto insiste que acaba convencendo o sapo a lhe atravessar na lagoa carregando-o às costas. No meio da lagoa o escorpião picou o sapo que antes de morrer ainda perguntou “por que fez isso, iremos morrer nós dois” ao qual o escorpião respondeu “sinto muito, mas é da minha natureza”.
Ninguém foge de sua natureza assim como ninguém foge de sua biografia.
O fascismo é um conjunto político de natureza perversa.
O fascismo estava na essência do Franquismo que provocou milhares de mortes na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939.
Estava nos genes dos regimes de Mussolini e de Hitler que atearam fogo ao mundo e mataram milhões antes, durante e depois da segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Estava na alma de todas as ditaduras do século XX como em Portugal de Salazar, no Chile de Pinochet, na Ditadura Militar Brasileira e todas as outras ditaduras.
O fascismo é mal não importa com que cara santa se apresente, seja nas embaixadinhas com uma bola de futebol de Médici, no sorriso de Pinochet ou nos afagos de Hitler às crianças arianas.
O fascismo é mal porque é de sua natureza a exclusão, o autoritarismo, o racismo, a xenofobia e a homofobia.
Podemos mudar os perseguidos de acordo com o momento histórico e a geografia, mas o fascismo é sempre perseguidor.
A natureza do fascismo é o radicalismo, o ultra, sem concessões.
Por isso provoca tanta inconformidade a forma mansa como os defensores da democracia brasileira trataram e tratam os fascistas de hoje.
Não se dá leitinho às cobras.
Ao evitar combater o monopólio de uma rede de telecomunicações sabidamente envolvida com golpismo no passado, os governistas brasileiros não foram democráticos como imaginavam... foram tolos.
Tratar com democracia quem odeia a democracia não é nobreza, é burrice.
Hoje apenas começam a aparecer os elementos que formataram o golpe parlamentar-midiático-jurídico no Brasil, que tirou do poder uma presidente legitimamente eleita sem cometimento de ilícito e já se sente o cheiro de enxofre, assim como se percebe pistas de interesses estrangeiros por trás de toda a trama.
Muito mais ainda será descoberto, espera-se que não só daqui a vinte anos.
Se considerarmos que a primeira função de um governo democrático é a defesa e a manutenção da democracia, esse foi o maior erro e o maior fracasso do governo que caiu apesar de eleito por mais de 54 milhões de votos.
O fascismo é mal, é coisa ruim, é criminoso, não importa o tom da gravata e o estilo elegante do paletó de seus defensores.
Porque é de sua natureza a intolerância e o autoritarismo.
E os fascistas não deveriam jamais ser tratados a pão-de-ló, mas extirpados como erva-daninha, como dizia o saudoso Leonel Brizola, esse sim, um campeão defensor da democracia.
Prof. Péricles
Dava ratinhos fresquinhos para ela devorar e toda atenção fofinha do mundo... um dia a cobra a mordeu e ela morreu. Culpa da cobra? Claro que não, cobra é cobra, é de sua natureza.
Igual a estória do escorpião que tanto insiste que acaba convencendo o sapo a lhe atravessar na lagoa carregando-o às costas. No meio da lagoa o escorpião picou o sapo que antes de morrer ainda perguntou “por que fez isso, iremos morrer nós dois” ao qual o escorpião respondeu “sinto muito, mas é da minha natureza”.
Ninguém foge de sua natureza assim como ninguém foge de sua biografia.
O fascismo é um conjunto político de natureza perversa.
O fascismo estava na essência do Franquismo que provocou milhares de mortes na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939.
Estava nos genes dos regimes de Mussolini e de Hitler que atearam fogo ao mundo e mataram milhões antes, durante e depois da segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Estava na alma de todas as ditaduras do século XX como em Portugal de Salazar, no Chile de Pinochet, na Ditadura Militar Brasileira e todas as outras ditaduras.
O fascismo é mal não importa com que cara santa se apresente, seja nas embaixadinhas com uma bola de futebol de Médici, no sorriso de Pinochet ou nos afagos de Hitler às crianças arianas.
O fascismo é mal porque é de sua natureza a exclusão, o autoritarismo, o racismo, a xenofobia e a homofobia.
Podemos mudar os perseguidos de acordo com o momento histórico e a geografia, mas o fascismo é sempre perseguidor.
A natureza do fascismo é o radicalismo, o ultra, sem concessões.
Por isso provoca tanta inconformidade a forma mansa como os defensores da democracia brasileira trataram e tratam os fascistas de hoje.
Não se dá leitinho às cobras.
Ao evitar combater o monopólio de uma rede de telecomunicações sabidamente envolvida com golpismo no passado, os governistas brasileiros não foram democráticos como imaginavam... foram tolos.
Tratar com democracia quem odeia a democracia não é nobreza, é burrice.
Hoje apenas começam a aparecer os elementos que formataram o golpe parlamentar-midiático-jurídico no Brasil, que tirou do poder uma presidente legitimamente eleita sem cometimento de ilícito e já se sente o cheiro de enxofre, assim como se percebe pistas de interesses estrangeiros por trás de toda a trama.
Muito mais ainda será descoberto, espera-se que não só daqui a vinte anos.
Se considerarmos que a primeira função de um governo democrático é a defesa e a manutenção da democracia, esse foi o maior erro e o maior fracasso do governo que caiu apesar de eleito por mais de 54 milhões de votos.
O fascismo é mal, é coisa ruim, é criminoso, não importa o tom da gravata e o estilo elegante do paletó de seus defensores.
Porque é de sua natureza a intolerância e o autoritarismo.
E os fascistas não deveriam jamais ser tratados a pão-de-ló, mas extirpados como erva-daninha, como dizia o saudoso Leonel Brizola, esse sim, um campeão defensor da democracia.
Prof. Péricles
quarta-feira, 13 de julho de 2016
A "NOVA" EUROPA
Por Martonio Mont’ Alverne
A saída do Reino Unido da Comunidade Europeia comporta diversos pontos de análise.
Desde 1919 Keynes adverte ingleses e europeus dos perigos de vitórias da direita reacionária. Não foi ouvido, e aí está a história para dar-lhe razão.
Se o Brexit foi uma vitória desta direita, a responsabilidade é inteiramente dos próprios europeus. A partir dos anos 1990, a Comunidade Europeia tornou-se uma associação de banqueiros, a impor regras em favor do capitalismo financeiro, deixando para segundo plano o capitalismo produtivo.
Desta forma é que cruéis sacrifícios foram impostos a diferentes povos, cujo melhor e mais recente exemplo é o da Grécia.
A estabilidade financeira passou a ser a maior razão da existência da Comunidade, o que fez com que bancos recebessem generosos recursos e especial atenção, seguindo a antiga receita de que este capital financiará a produção e o bem-estar social, que não ocorreu.
Os programas de socorro para países endividados não é ajuda aos estados, mas ao sistema bancário destes países, o qual é vinculado aos bancos internacionais.
Referida orientação traduz a dependência dos europeus não aos seus interesses, mas àqueles dos Estados Unidos da América. Esta visão é ainda responsável pela contenção da Rússia como um dos pilares da Comunidade Europeia, ignorando a visão de Bismarck, desde o século XIX, de que uma Europa sem a Rússia é impossível: cultural, econômica e geopoliticamente.
Um sábio de 92 anos, Egon Bahr, ministro de Willy Brandt, dizia em 2014, que a Europa precisava de sua “emancipação” dos Estados Unidos.
Os europeus pagam caro pela saída do Reino Unido. Podem pagar um preço mais elevado.
Se a direita reacionária da França e noutros estados vence, pode-se falar no começo do fim do sonho europeu. O que deveria ser o incremento da livre circulação de bens e pessoas, a promoverem o comércio – que precisa de paz e tranquilidade – transformou-se num clube privado de banqueiros, a desejarem obrigar outras nações a viverem de joelhos perante seus interesses.
Surpreende que a opinião pública europeia não se tenha apercebido dos perigos, exatamente quando decorridos apenas 70 anos do fim do totalitarismo bélico que viveu entre 1939 e 1945.
Como vemos, ignorar a própria história e decidir com base em informações unilaterais, o que sempre conduz à ruína econômica e da política, não é problema só dos brasileiros.
Martonio Mont’ Alverne, Presidente do Instituto Latino-Americano de Estudos em Direito, Política e Democracia (ILAEDPD)"
terça-feira, 12 de julho de 2016
NOVOS ATAQUES DO TERROR, COM CERTEZA
Por Sheila Sacks
Em maio, uma reportagem da agência espanhola EFE, em sua edição portuguesa, revelou que um marroquino residente na Espanha e que trabalha normalmente há onze anos em uma empresa como caça talentos, também se empenhava em recrutar possíveis terroristas jihadistas. Para o ministro de Interior, Jorge Fernando Díaz, a descoberta mostra uma mudança de perfil dos supostos aliciadores que necessariamente não precisam estar engajados à ideologia do islamismo radical.
A possibilidade dos recrutadores serem cidadãos comuns, profissionais integrados na sociedade, um vizinho ou colega de trabalho, é mais um dado que assusta as autoridades e os serviços de Inteligência, principalmente os da Espanha. O país já convive com o nível 4 de alerta (alto risco de atentado terrorista, um grau abaixo do nível máximo), desde junho do ano passado, a partir dos atentados em Paris, Tunísia e Kuwait, ocorridos simultaneamente naquele mês, com mais de 60 mortos e 200 feridos.
O surgimento de novos perfis de recrutadores que não correspondem aos padrões convencionais de militantes da causa jihadista e a crescente rapidez no processo de aliciamento de jovens – inclusive de mulheres não muçulmanas para se juntar ao Estado Islâmico (Daesh) como escravas sexuais – já demandam a adoção de diferentes instrumentos para enfrentar tal realidade, como o registro aéreo de passageiros
A medida foi aprovada pelo Parlamento Europeu em abril deste ano e obriga as empresas aéreas a repassar os dados dos passageiros que chegam e partem da Europa aos governos dos 27 países-membros da União Europeia. Essa regra também vale para os voos internos e deverá estar operacionalizada em dois anos.
Desde o ano passado, os órgãos de segurança da Espanha cumprindo o protocolo do nível 4 de alerta mantêm proteção especial nos aeroportos, nas principais estações de trens e metrô, nas centrais energéticas e em locais de maior concentração de pessoas. Desde então, foram realizadas 46 operações antiterroristas com mais de 130 detidos.
Em outra reportagem, a agência EFE informa que a França vai realizar investigações administrativas, provavelmente sigilosas, sobre cidadãos que ocupam cargos “sensíveis” em profissões regulamentadas para detectar a possível presença de sinais de radicalização ou de fundamentalismo islâmico. A iniciativa faz parte de um pacote de medidas para o combate ao terrorismo anunciado em maio pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls.
O governo também pretende criar uma rede de centros de reinserção para realizar o tratamento psicológico de jovens identificados com o radicalismo e suscetíveis ao jihadismo.
Segundo Valls, que acredita que haverá novos ataques na França, o mundo vive a “era do hiperterrorismo” e nos últimos três anos a segurança francesa conseguiu impedir a consecução de pelo menos 15 atentados no país. Em fevereiro, na 52ª edição da Conferência de Segurança de Munique, ele foi categórico: ”Vai haver ataques terroristas. Ataques em larga escala. É uma certeza.”
O premiê francês também denunciou o que chamou de “pseudomessianismo religioso e o uso do terror em massa” como componentes explosivos do “hiperterrorismo que aí está”.
Sheila Sacks, jornalista.
domingo, 10 de julho de 2016
E SE NÃO HOUVER 2018?
Os brasileiros defensores da democracia que sofreram o golpe de 64 na carne, costumam pensar nos fatos que aconteceram com grande pesar. Porém, dor maior talvez seja provocada pelos fatos que não aconteceram.
Por exemplo, e se Jango não fizesse o discurso do 13 de março teria evitado o golpe? E se Jango aceitasse a sugestão de Brizola de resistir ao golpe teria abreviado os longos 20 anos de ditadura?
No rol das lembranças dolorosas também entram as esperanças que evitaram radicalizações e depois não se concretizaram, como acreditar nas eleições que ocorreriam em 1966 e que, segundo os golpistas, marcariam o fim do movimento... não houve eleições em 1966 mas a sua espera foi motivo para impedir muitas lutas quando ainda era possível lutar contra o golpe.
Hoje também pode estar acontecendo uma ilusão com esperanças que não se concretizem e acabem atrapalhando a reação contra o fascismo.
Muitos amigos defendem a tese de que, seria melhor enfrentar com serenidade o afastamento de Dilma e até aceitar o golpe jurídico-parlamentar a partir de uma postura mais preocupada com 2018 e a volta de Lula.
Entretanto, há um componente terrivelmente ameaçador que não pode ser esquecido: e se não haver 2018?
Com o poder assegurado, os golpistas podem criar casuísmos econômicos que tragam a idéia da superação da crise econômica “criada pelo governo Dilma”.
Podem também, partir para o ataque cada vez mais pontual contra o PT e seus aliados enquanto vendem a idéia de saneamento moral da coisa pública.
Enfim, no terreno da legalidade é possível que o país seja coberto, nesses dois anos de governo Temer com a falsa idéia de que os governos Lula-Dilma levariam o país ao caos e eles, super-heróis salvaram a nação.
Mídia para isso não falta.
Mas, o terreno da legalidade será apenas uma frente de combate.
Haverá outras, como a intensificação das medidas golpistas na área jurídica onde detêm amplamente o poder. É lá que tratarão de tornar ilegal a candidatura de Lula, isso se não conseguirem antes a sua prisão.
E se todas as medidas dentro da legalidade não derem certo, se a incapacidade do governo golpista for maior do que as possibilidades de fraudar a realidade, se apesar de tudo a candudatura Lula ainda se apresentar como favorita, resta a possibilidade de um golpe mais tradicional e sem floreios.
Afinal, golpista e golpista e meio pode nem haver tanta diferença assim.
Seria um golpe dentro do golpe, coisa que nossa história conhece bem.
Dessa forma, não haveria 2018 como pensam, os que hoje argumentam que é mais sensato investir na volta de Lula do que na reação ao golpe em vigência.
Por isso, abandonar Dilma à própria sorte, voltando a atenção para Lula e uma suposta candidatura em 2018 é uma estratégia eticamente incorreta e politicamente perigosa, com altas possibilidades de fracasso.
A luta pela volta de Dilma Roussef se configura hoje como a verdadeira luta contra o golpe e esse foco não pode sofrer desvios em nome de esperanças em fatos que talvez jamais ocorram, como foram as eleições, tão esperadas e defendidas, de 1966.
Prof. Péricles
Seria um golpe dentro do golpe, coisa que nossa história conhece bem.
Dessa forma, não haveria 2018 como pensam, os que hoje argumentam que é mais sensato investir na volta de Lula do que na reação ao golpe em vigência.
Por isso, abandonar Dilma à própria sorte, voltando a atenção para Lula e uma suposta candidatura em 2018 é uma estratégia eticamente incorreta e politicamente perigosa, com altas possibilidades de fracasso.
A luta pela volta de Dilma Roussef se configura hoje como a verdadeira luta contra o golpe e esse foco não pode sofrer desvios em nome de esperanças em fatos que talvez jamais ocorram, como foram as eleições, tão esperadas e defendidas, de 1966.
Prof. Péricles
sexta-feira, 8 de julho de 2016
INSTANTÂNEO BRASILEIRO
Por Maria Lúcia Dahl
Ontem a noite passei por um casal na rua, cuja mulher estava grávida, estendendo uns papelões no chão como se fossem lençóis em cima de um colchão e se deitaram, ambos, em cima deles, perto de uma moça, um pouco mais longe e bem jovem, deitada na calçada pura, sem nem sequer um papelão de caixa, solta na rua e encolhida como um bicho assustado, provavelmente pensando nos estupradores, que apavorantemente, se tornam cada vez mais numerosos.
A mulher grávida me disse que o casal não tinha comido nada aquele dia e que ela estava passando mal. Os dois me conheciam da TV e me pediram comida.
Fui até em casa e peguei tudo o que tinha na geladeira, que era pouco, pois costumo comer na rua, peguei tudo, esquentei e levei pra eles, e depois da grávida ter devorado a comida, o seu companheiro perguntou se eu poderia comprar um pouquinho de macarrão pra eles.
Fui até o super- mercado, comprei o que eles queriam, olhei pra eles e pra garota que continuava lá perto, dormindo, encolhida.
Chocada com o tipo de vida que as pessoas ainda levam, desde a minha infância, quando o número de mendigos eram os mesmos, ou talvez até menor do que agora que a população não para de crescer no mundo, transformando as ruas em dormitórios e banheiros onde pode-se tudo: estuprar, matar, roubar ou o que lhe apetecer na hora, enquanto os transeuntes pulam por cima deles, abrindo caminho como se nada houvesse.
Fiquei em estado de choque, olhando aquele acontecimento que já se tornou corriqueiro para alguns mas intensamente chocante pra mim.
De manhã passei pelo lugar onde eles teriam dormido, se alguém consegue dormir com a cabeça nas pedras portuguesas e sob o frio que ainda por cima se manifestou.
Nessa hora, a população era de crianças pobres, rindo, felizes das musiquinhas que cantavam, provavelmente inventadas por elas e cheias de palavrões que incluíam nas melodias e os faziam gargalhar.
Lembrei-me mais uma vez da minha infância, quando uma vez cantei junto com a minha irmã e minha prima, um samba que estava na moda e sé chamava: “Na Pavuna”.
Cantávamos e dançávamos, felizes, batucando: “Na Pavuna, Tum, Tum, Tum” Na Pavuna, Tum, Tum Tum!” quando vovó nos deu uma bronca, indignada, gesticulando e nos apavorando, quando minha irmã perguntou o que é que cantar aquela música tinha de mal, ao que vovó respondeu que meninas como a gente não podiam dizer palavrão. Minha irmã perguntou que palavrão ela ouvira naquela música inocente e vovó respondeu, furiosa:
-Tapa a bunda, Tum, Tum, Tum! Tapa a bunda! E bunda não é palavrão?
Tivemos todas nós, crianças, um acesso de riso explicando a vovó que era “Na Pavuna” e não tapa a bunda, como ela tinha entendido. Vovó ficou sem graça e se retirou do jardim onde brincávamos.
Tempos inocentes aqueles onde não se podia nem falar bunda, enquanto hoje se estupra quem estiver por perto e à vontade, enquanto os políticos roubam a comida, as casas, as escolas e os hospitais da população que os substituem por ruas onde os doentes, crianças, adolescentes e grávidas tentam se abrigar enquanto a turma de cima deposita seu rico dinheirinho nos países chiques.
Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes 29 peças teatrais. Na televisão trabalhou em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo.
quarta-feira, 6 de julho de 2016
REFÚGIOS
Há ocasiões em que o mais desejado mesmo é um refúgio.
Um lugar para se esconder e se sentir protegido. Para recobrar as forças, entender melhor o que está acontecendo.
Ou simplesmente parar, como aqueles refúgios da autoestrada que por um tempo nos tiram do maior movimento.
Quando crianças muitas vezes o refúgio para tantas descobertas diárias, e que muitas vezes nos assustam, é a mãe.
Nada se equivale ao olhar protetor da mãe, ou seu sopro salvador para aliviar nossas dores.
O grupo de amigos são refúgios evidentes na adolescência, principalmente quando nos sentimos incompreendidos em casa, o que é comum nessa fase da vida.
E também na adolescência usamos os filmes, os livros, a própria televisão para viajar em fantasias.
As mulheres amadas são refúgios primorosos.
Nas primeiras experiências amorosas, aquelas em que guardamos até os cheiros e sabores do dia, criamos o lastro que nos leva ao porto seguro, ou ao olho do furacão.
Nos concedemos perder entre vales e montanhas, escorregar pelas laderas e buscar o controle em curvas que nos servem de desafio e afirmação.
Quem poderia imaginar que viveríamos tempos em que a cidadania procura seu refúgio?
Mesmo distante simplesmente não entendemos onde tudo isso nos levará.
Listas e delações indicam nomes repetidamente que simplesmente são postos de lado sem investigação enquanto outros são perseguidos de acordo com os desejos de quem tem o poder.
Onde está a justiça, aquela que sempre acreditamos?
Uma presidente é afastada sem cometer ou ser acusada de qualquer ilícito e nem imaginamos por onde anda a democracia pela qual tantos de nós dedicou a juventude e seus melhores sonhos.
Onde anda o caráter e a vergonha na cara do povo brasileiro, esse mesmo povo que sempre se acreditou generoso e bom?
As coisas acontecem, mas não são divulgadas na mídia que tem o poder onipresente de forma opiniões e teria o dever da isenção.
Ao contrário, os telejornais abandonaram qualquer disfarce e simplesmente assumiram a postura de esconder coisas e salientar outras conforme a necessidade da ocasião.
Onde fica o direito à informação? A ética?
O que aconteceu com a gente para ficarmos assim, divididos entre canalhas que invejam as melhorias das classes mais pobres e os covardes que permitem massacres públicos, só faltando a fogueira da Inquisição?
De que filme de terror brotaram tantos brasileiros com ódios fascistas e fanatismo religioso?
Quando foi que começamos a permitir a defesa pública da homofobia e do racismo?
Em que momento nos tornamos tão ignóbeis?
Não sei qual será o refúgio da cidadania violada.
Na verdade, nem ao menos sei qual será meu refúgio.
Talvez o tempo das lutas por democracia e pela construção de utopias de igualdade já tenham se tornado lenda e muitos até duvidem de sua existência.
Quem sabe já não exista tempo para a fraternidade e o respeito pela verdade.
Assim como o refúgio na mulher amada, ou a própria mulher amada, já não exista mais.
Prof. Péricles
segunda-feira, 4 de julho de 2016
SAÚDE, MUITA OPINIÃO POUCA INFORMAÇÃO
Uma mentira repetida inúmeras vezes acaba se tornando uma verdade, dizia Goebels naquilo que já se tornou um jargão popular.
E de mentiras nossos dias estão cheios.
Uma das lorotas preferidas é a de que a saúde nunca foi tão ruim e abandonada quanto nos governos Lula-Dilma.
Até parece que antes do PT o país vivia situação de saúde invejável e perfeita, onde todo brasileiro era assistido em suas necessidades.
O “SUS não funciona” já virou mantra golpista.
Como toda mentira, por mais repetida que seja, não resiste a uma boa memória, listamos abaixo, sete (em homenagem aos mentirosos) fatos concretos, criados pelos governos posteriores ao neoliberalismo no Brasil, ou seja, de 2003 para cá.
1- Criação do Samu - Em 2003 Lula criou o Serviço de Atendimento Médico de Urgência, o SAMU. Lula distribuiu 2.312 ambulâncias para 789 municípios e Dilma distribuiu mais 2.180 ambulâncias a 1000 municípios. Hoje o Samu atende 72% do território nacional.
2- Vacina Contra o HPV - No governo Dilma a vacina contra o HPV passou a ser distribuída gratuitamente pelo SUS. Na rede particular a vacina custa cerca de R$ 1.500,00. O HPV é o vírus que é responsável por 90% dos casos de câncer do colo do útero.
3- Criação de 121 Novos Cursos de Medicina - Lula e Dilma criaram 121 novos cursos de medicina em Universidades Federais. Para se ter uma comparação, Aécio Neves, em oito anos como governador, não criou nenhum em Minas. FHC também não criou nenhum quando foi presidente.
4- Lei do Câncer - Sancionada por Dilma a lei do câncer entrou em vigor em maio de 2013 e estabelece um prazo máximo de 60 dias para que pessoas com câncer iniciem o tratamento pelo SUS. Nesse período, que conta a partir da confirmação do diagnóstico e da inclusão dessas informações no prontuário médico, os pacientes devem passar por cirurgia ou iniciar as sessões de químio ou radioterapia, conforme a indicação de cada caso.
5- Mais Médicos - Até agosto de 2014, 14.462 médicos já estavam trabalhando em postos de saúde na periferia e em cidades pequenas, onde faltavam médicos. Mais de 50 milhões de brasileiros que não tinham acesso a um médico gratuito passaram a ter.
6 – Farmácia Popular - Criado em 2004, programa conta com uma rede própria (governamental) de 534 farmácias, e uma rede conveniada de 12.499 drogarias privadas que oferecem medicamentos com 90% de desconto. O governo arca com os custos do remédio e a população paga apenas 10% do preço. A farmácia do povo também derrubou o alto preço dos medicamentos em farmácias particulares que passaram a ter uma concorrente cobrando preços baixíssimos.
7 – Programa Saúde Não Tem Preço - Criado por Dilma, o programa oferece remédios gratuitos a pessoas que sofrem diversas doenças consideradas raras ou crônicas, como insuficiência renal crônica, hepatite viral B e C, osteoporose, problemas de crescimento, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, mal de Gaucher, diabetes e hipertensão. Remédios caríssimos passaram a ser distribuídos gratuitamente pelo governo. Mais de 33 milhões de brasileiros são beneficiados.
Ao longo de séculos o pobre brasileiro acostumou a crer não ter direito ao atendimento de saúde, sendo isso, uma coisa de gente rica.
Esse estigma, muito mais difícil de ser superado do que se possa crer, se soma a desinformação e à informação comprometida, gerando uma “ignorância dirigida” cujo objetivo parece ser claro, acabar com a saúde pública e gratuita entregando um mercado de milhões de brasileiros, capaz de alimentar lucros astronômicos à iniciativa privada.
Falta muito a ser feito para que a saúde pública no Brasil seja de fato boa. No entanto não podemos ignorar os avanços que tivemos entre 2003 e 2014 e nem esquecer de como era a situação da saúde pública antes do governo de Lula.
Prof. Péricles
Obs. Os dados numéricos apresentados foram coletados pelo Dr. Franklin Alves, em excelente texto.
sábado, 2 de julho de 2016
O "BREXIT", O FASCISMO E O MEDO
Já faz algum tempo que esse blog denuncia o perigo do retorno do fascismo, não apenas no Brasil, como no mundo.
Esse horror que separa as pessoas, discrimina, excluí e provoca guerra entre nações, já mostra sua cara e vontade de retornar desde o final dos anos 90 quando em países como Grécia, Áustria e França, entre outos, formaram partidos poderosos.
Como sempre, o fascismo precisa do ódio, das acusações e calúnias, do preconceito, e, principalmente, do medo para se apresentar como uma opção válida.
Atualmente, o golpismo no Brasill e a saída do Reino Unido da União Européia (Brexit), escancaram essa triste realidade.
Sobre a saída do Reino Unido, leia com atenção o texto abaixo, onde Mauro Santayana, de forma muito clara, nos fala sobre as causas mais escondidas e as consequências mais temidas do "Brexit.
Prof. Péricles
Mauro
Santayana
Depois
de intestina disputa que rachou a sociedade inglesa, cujo ápice foi o
emblemático assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um fanático fascista
que, ao atacá-la a tiros, gritou “a Grã Bretanha primeiro!”, slogan inspirado,
assim como o de “o Brasil acima de tudo!”, no “Deutschland Uber Alles!”, do
hino nazista, o Reino Unido cada vez
mais desunido - votou, finalmente, por sua saída da União Europeia.
O
resultado provocou terremotos internos e externos. As bolsas caíram em todo o
mundo. O primeiro-ministro David Cameron já marcou data para se afastar do
cargo.
E pode
levar à desagregação do país, já que a Irlanda do Norte e a Escócia anunciaram
que pretendem convocar plebiscitos próprios para decidir, a primeira, se
continua na União Européia, e a segunda, se vai unir-se à República da Irlanda.
Além
disso, a libra já caiu mais de 10% com relação ao dólar e ao euro, e os
alimentos e as viagens para o exterior ficarão mais caras, porque em alguns
produtos, como leite e manteiga, e certos vegetais, por exemplo, mais de 50% do
que é consumido na Inglaterra vem do continente, no outro lado do canal.
Comandada
pela direita e pela extrema direita, e provocada principalmente pela ignorância
característica dos dias de hoje - milhares de britânicos entraram no Google
para perguntar, às vésperas do plebiscito, o que era “União Européia” - e pelo
medo e a aversão aos imigrantes, a vitória do “Brexit” é mais um poderoso
exemplo do comportamento burro, deletério e ilógico do fascismo.
Com a saída da UE, a Inglaterra tende a
perder influência na Europa; a enfraquecer-se frente a eventuais adversários
extracomunitários; a empobrecer economicamente, diminuindo seu acesso a um dos
maiores mercados do mundo; além de aumentar seu isolamento no âmbito
geopolítico e sua histórica dependência dos Estados Unidos.
Uma
situação que deveria servir de alerta, no Brasil, para aqueles que querem
acabar com a UNASUL e o Mercosul a qualquer preço e substituí-lo por “acordos”
de livre comércio desiguais com países e grupos de países altamente
protecionistas, como a própria União Europeia, que contam com capacidade de
pressão muito maior que a nossa.
Decepcionada
e frustrada com os resultados das urnas, a juventude inglesa reclamou que seu
futuro foi cortado, lembrando que os jovens britânicos perderam, entre outras
coisas, a chance de trabalhar em 27 diferentes países, e engrossou um
manifesto de 3 milhões de assinaturas que pede a realização de novo plebiscito
- hipótese improvável, praticamente impossível de avançar neste momento, diante
da indiferença e do egoísmo dos vitoriosos.
Nunca
é demais lembrar que o fascismo, também em ascensão na Inglaterra de hoje,
rejeita e despreza - apaixonadamente - o futuro.
Mesmo
quando se disfarça de "novo" e disruptivo, como ocorreu com a
Alemanha Nazista, ele está profundamente preso ao passado, como mostrou
claramente Mussolini - e também Hitler com seus monumentos, estátuas, bandeiras
e desfiles - ao tentar emular, canhestramente, a cultura greco-romana e
repetir - nesse caso, na forma de tragédia, com as seguidas derrotas
militares italianas - a glória perdida da Roma Imperial.
O
fascismo - ao contrário do que muitos pensam - não é glorioso, mas
medroso.
Fascistas
temem, paradoxalmente, aqueles que consideram mais fracos, e por isso são
“apolíticos”, homofóbicos, eugenistas, antifeministas, racistas, intolerantes,
discriminatorios, xenófobos, anti-culturais e contrários ao voto
obrigatório e universal.
A
suástica, girando sobre seu eixo, reproduz o movimento concêntrico de
alguma coisa que se encerra em si mesma, repelindo tudo que venha de fora, como
uma tribo ignorante e primitiva, um molusco que fecha velozmente sua concha, ou
um filhote de porco espinho ou de tatú que se enrola, tapando a cabeça, ao
primeiro sinal de ruído ou de aproximação.
Da
mesma forma que faziam, patologicamente, os soldados nazistas, educados
no temor da “contaminação” judaica, cigana ou bolchevique, que se comportavam
como diligentes técnicos de dedetização tentando conter uma epidemia,
fechando-se a qualquer razão ou sentimento, ao matar récem nascidos e crianças
de três, quatro, cinco, seis anos de idade, escondidas debaixo da cama, ou
trancadas na derradeira escuridão das câmaras de gás, da forma mais fria e
repulsiva, como se estivessem exterminando, simplesmente, pulgas, percevejos e
ratos, ou esmagando ovos de barata.
O
Brexit - a saída da Inglaterra da União Européia - é mais um perigoso aviso,
entre os muitos que estão se repetindo, nos últimos tempos - como sinais
proféticos - do próximo retorno de um fascismo alucinado e obtuso.
Um
retorno que se dá, e se torna possível, mais uma vez, pela fraqueza e indecisão
da social democracia, a existência de uma pretensa massa de “defensores” do
Estado de Direito e da liberdade, amôrfa, apática, inativa; e de uma esquerda
que apenas espera, de braços cruzados, também encerrada, em muitos países do
mundo, em seus próprios sites e grupos, disfuncional, estrategicamente confusa,
passiva, inerme e dividida, sem reagir ou defender-se quando atacada, nem mesmo
institucionalmente, como um letárgico bando de carneiros pastando ao sol.
O medo
fascista está de volta.
E não
se limitará à Inglaterra.
Se não
for contido o avanço de sua imbecilidade ilógica, por meio do recurso ao bom
senso e à inteligência, outros países da UE, tão xenófobos quanto racistas,
seguirão o reino de Sua Majestade em seu caminho de intolerância,
isolamento e fragilidade.
Porque
o fascismo só avança com a exploração do medo e do egoísmo.
O medo
de quem se assusta com o outro, repele o que é diferente e rejeita o futuro e a
mudança.
O
egoísmo daqueles que preferem erguer muros no lugar de derrubá-los; que se
empenham em separar no lugar de unir; que escolheriam, se pudessem decidir,
matar a fecundar, saudando a morte, como fazem em muitos países do Velho
Continente e em outros lugares do mundo, jovens e antigos neonazistas de
coração estéril, com a artrítica, tremente, mão espalmada levantada, no
ressentimento raivoso de uma velhice amarga, que cultiva e adora o deus do ódio
no lugar de celebrar a vida, o amanhã, a alegria, o encontro e a diversidade.
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