quarta-feira, 30 de março de 2016

FALAR DE AMOR E DE ABUTRES




“Tu tem é que falar de amor” me disseram num dos meus momentos de estresse.

Falar de amor? Perguntei incrédulo... como falar de amor numa época dessas em que o golpismo nos surpreende e nos deixa perplexos quase todos os dias?

“Mesmo assim, tu tens que falar de amor”.

Estive pronto para dizer que não tinha tempo para perder com amenidades ou com romantismos, num momento em que o país se aproxima mais e mais do precipício.

Queres que eu fale de amor antes ou depois do Willian Boner me convencer que não existe vida sem o impeatchmen, nem corrupção antes do PT?

Mas... não disse porque sempre dói deixar de falar de amor e porque, pensando bem, existe alguma razão nesse pedido.

Melhor falar de amor do que de ódio.

União em vez de barreiras, inclusão no lugar de exclusão, procura em vez de distância, de coração em vez de coxinha.

Falar de amor, ou, também de amor.

Afinal, talvez só o amor possa explicar porque ainda não nos perdemos numa guerra civil que deveria ter começado em 1964.

Amor, sim, amor por nosso povo, por exemplo.

Um povo submetido a séculos no mais nefasto complexo de inferioridade. Que produziu com os calos de suas mãos a 6ª economia do mundo e ainda assim é chamado de malandro.

Amor por nossos velhos que produziram toda essa riqueza e que, apesar de não serem reconhecidos e recompensados foram chamados de vagabundos por um presidente.

Por nossa gente humilde acostumada a entrar nos postos de saúde olhando para o chão envergonhada de estar doente e precisar de atendimento.

Que de tanto ouvir acabou convencido de que não tem o direito de ser feliz, que não vale nada e que ainda se queixa do que tem de graça... mal agradecido.

Ou amor às nossas crianças.

Principalmente aquelas que não brincam pois precisam trabalhar e o trabalho, definitivamente, não é brinquedo.

Sim, talvez seja melhor falar de amor. De humanidade e humanização.

Mas, suspeito que a referência fosse o amor mais próximo da universal equação de dois. Na paixão que transforma pedra em poesias e que acha rima para continuar existindo... pode ser.

Mas, nesse caso nos falta a inspiração necessária nas coisas mágicas da vida, e enquanto isso, mais um golpe jurídico-midiático é revelado... e fica cada vez mais difícil não falar de abutres





Prof. Péricles

segunda-feira, 28 de março de 2016

CRISES E CRISES


O que vem primeiro, a crise econômica ou a crise política?

Parece que o mais comum é que crises econômicas gerem crises políticas.

O dinheiro falta em casa, bate o desespero e quando perceber o casal que tanto se ama está mutuamente se acusando e agredindo. Foi a crise econômica que levou a crise política.

Exemplo muito apropriado é a crise econômica do café na década de 20 que levou à crise política e a Revolução de 30.

Ou a crise de mercado que levou à Primeira Guerra Mundial.

No Brasil também ocorrem crises econômicas criadas a partir de crises políticas, ou simultaneamente, esta para justificar aquela.

Por exemplo, a alegada crise inflacionária no governo Jango era perfeitamente contornável sem a necessidade de pirotecnias, mas, foi alimentada para ser uma das justificativas para deposição do presidente no golpe de março de 1964.

E o que assistimos hoje é mais uma crise econômica ou política?

Bem, existe sim uma crise econômica e é internacional desde 2008, mas, parece não restar dúvidas de que a crise econômica no Brasil está sendo utilizada como combustível para a crise política.

O pior é que essa crise política não teve origem na renúncia inesperada de alguém ou na modificação radical do panorama político devido a fatores externos. Essa crise política tem origem no mais democrático dos processos, uma eleição presidencial, em 2014 com a vitória do governo PT e a terceira derrota consecutiva do neoliberalismo representado pelo PSDB.

É comum se ouvir dizer que “se a Dilma não tivesse vencido nada disso estaria acontecendo” e realmente, ao que parece quem assim fala tem razão.

Mas a causa mais exata não é a vitória da Dilma e do modelo PT.

A causa mais profunda está na derrota do neoliberalismo e na sua premência de abocanhar os lucros de vários setores da economia que prosperaram nos últimos anos, e não é apenas o pré-sal.

Todos os indicadores econômicos de 2003 até 2014 melhoraram, mesmo com a crise econômica internacional de 2008 e 2010.

O Brasil liquidou sua dívida com o FMI, cresceu o PIB, empregou mais gente e investiu muito mais em infraestrutura do que em qualquer outro momento.

Então, o que aconteceu em 2014 para tudo andar para trás num violento retrocesso?

A resposta – o resultado daquelas eleições.

Definitivamente essa é uma enorme crise politica, plantada no cenário nacional para impactar a economia e forçar as mudanças à direita, como tão ansiosamente deseja a elite brasileira.

Por isso, não se iluda acreditando que estamos diante de uma cruzada contra a corrupção.

A corrupção está sendo usada como carro chefe de um movimento muito maior, mais amplo e definitivo do que a própria corrupção.




Prof. Péricles



sábado, 26 de março de 2016

O ESCRAVO FUJÃO


A atual crise política nos remete à memória histórica de fatos passados no Brasil.

Não me refiro às óbvias semelhanças com a crise no governo João Goulart e ao Golpe de 64, mas outras, não menos dolorosas.

Por exemplo, ao escravo fujão.

Os donos de escravos, de nossa aristocracia rural, costumavam ficar furiosos quando um escravo, no legítimo direito de preservação, fugia de sua fazenda.

O escravo era perseguido por todos os cantos.

Pagava-se espaço nos jornais para descrever o fugitivo e prometer recompensa por qualquer informação.

Liderados pelo feitor, grupos procuravam nas vizinhanças e em todos os lugares possíveis, qualquer pista que levasse à captura.

Se não encontrado não era deletado da memória dos feitores e uma futura vingança sempre era possível.

Se encontrado era tremendamente torturado, alguns até a morte.

Não era pelo dinheiro investido que o latifundiário se enfurecia, porque, se fosse, teria todo o cuidado para não matar o escravo quando capturado. Era por ódio, por se sentir desafiado.

A elite brasileira é assim, usa as maiores barbaridades para se perpetuar no poder, mas não aceita reclamação, que costuma tratar como insurgência.

Afinal o brasileiro é um povo pacífico, não é mesmo?

Na crise atual a elite atua como no caso do escravo fujão.

Só que dessa vez não é o escravo, mas um partido e um metalúrgico que ousou contrariar sua vontade e vencê-la 3 vezes nas urnas.

São também os eleitores "dessa gente" que ousa derrota-la ha mais de 14 anos.

Elementos da senzala que agora exigem direitos trabalhistas, respeito e ganhos reais em suas vidas, irritam os eternos senhores da Casa Grande.

Onde já se viu filho de pobre em colégio particular? Na faculdade? Comprando carro e viajando de avião?

Os novos feitores não podem mais usar a chibata e o tronco, mas bem que gostariam.

Então, movidos pelo mesmo ódio usam a infâmia, as acusações levianas forjadas e disseminadas pela mídia como verdades absolutas, para agredir.

Sua fúria por ser desafiada é tão grande que ameaça botar fogo na senzala se os subordinados não baixarem o topete.

Devido ao ódio em sua perseguição não restava ao escravo fujão outra saída que não fosse procurar um quilombo e lutar pela vida.

Da mesma forma, talvez não reste outra saída ao povo brasileiro que não seja criar seus próprios quilombos.

Que comunidades, associações de bairro e profissionais, tornem-se os quilombos modernos na luta pela liberdade.

A elite precisa entender que depois de conhecer a liberdade o escravo fujão jamais aceitará os grilhões do passado.

Assim como, em nome da paz e da justiça "não haverá golpe, haverá luta”.





Prof. Péricles

sexta-feira, 25 de março de 2016

PÁTRIA AMADA


Lei 5.700 de 1º de setembro de 1971 estabeleceu quais são os símbolos nacionais.

São eles: a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas (ou Brasão Nacional) e o Selo Nacional.

Além de definir quais são os símbolos nacionais, essa Lei também estabeleceu normas e padrões para o uso desses símbolos.

É a chamada Lei dos Símbolos Nacionais e dela brotaram algumas curiosidades e costumes como, por exemplo, Bandeira Nacional quando rasgada ou sem condição de uso deve ser respeitosamente queimada, não se aplaude o hino nacional nem se faz arranjo alterando sua harmonia, etc.

Nossos símbolos, são símbolos e nos representam diante do cenário internacional, isso é, nos diferencia entre todas as outras nações.

Entretanto, tem gente que troca a forma pelo conteúdo.

Alguns, mais conservadores enxergam nos símbolos o próprio país, ou seja, na forma entendem como se conteúdo fosse, algo parecido com a veneração religiosa aos símbolos como se estátuas de santos e anjos fossem as próprias criaturas representadas.

Mas não são. Não passam de símbolos, que devem ser respeitados por todo o significado oficial, mas ainda assim, são apenas simbólicos.

Então, como definir o estado nacional, a pátria enfim?

Bem, costuma-se dizer que os elementos básicos do Estado sejam a existência de um território (não existe estado nas nuvens), um povo unido de alguma forma por uma cultura (não existe Estado onde não tem gente) e um governo central que represente esse Estado.

Qual deles é a pátria?

Com certeza os três são fundamentais para a existência do Estado, mas o que compõem a pátria amada tão decantada em verso e prosa?

O território? São nossas serras e vales, montanhas e litoral extenso que formam nossa pátria?

Serão os símbolos nacionais? A Bandeira, o Hino é minha pátria?

Talvez a melhor definição de pátria seja povo.

Por isso os curdos não possuem um estado nacional, mas se identificam como pátria.

Todo aquele que luta por sua pátria não luta basicamente pelo território ou governo, luta por seu povo.

Se o povo está faminto a pátria está faminta. Se o povo sofre e é humilhado, a pátria sofre e é humilhada.

Quando elevamos o Brasil de patamar diante dos outros povos elevamos também a dignidade de nosso povo.

Por isso, não deixa de surpreender a acusação da turma conservadora de que, nas manifestações do PT não havia Bandeira Brasileira.

Mas, afinal, é tao importante assim, as bandeiras, se a manifestação se deu pelo povo? 

Estava ali a pátria, nos olhos de senhoras idosas que fizeram questão de participar, no gesto dos jovens unidos pela mesma emoção, não em mastros, mapas ou frios brasões impessoais.

A pátria brasileira estava nos calos de homens rudes, mas apaixonados por essa nação. Estava no clamor de homens e mulheres negros que estavam ali por amor a democracia.

Talvez houvessem poucas bandeiras, realmente, mas, certamente a necessidade da presença desses símbolos foi maior na manifestação da turma do golpe, uma semana antes, quando, por exemplo, não foram localizados negros em suas fileiras.

Nas manifestações de apoio à presidenta Dilma e ao ex-presidente Lula, a pátria estava ali, sobre os asfalto, de vcabeça erguida.

Estava ali a nossa pátria amada.




Prof. Péricles

quarta-feira, 23 de março de 2016

PROFISSÃO DELATOR



Por: Moisés Mendes

Uma ideia de quem não tem o que fazer no feriadão: a atividade de delator deveria virar profissão e ser regulamentada. Só poderia ser delator profissional quem já tivesse feito pelo menos cinco delações certeiras.

Um delator, para ter carteira com número no Conselho Regional dos Delatores, teria de ralar muito.

Claro que nem todos chegarão ao primeiro time de um Alberto Youssef, o doleiro que há anos vive da delação, mesmo que seja um meio delator. Youssef delata para todo lado, mas quase sempre falha ao apontar seu dedo para os tucanos.

Foi Youssef quem disse que seu compadre, o deputado José Janene, mandava R$ 300 mil por mês a Aécio Neves, num período entre 1996 e 2000. Youssef buscava o dinheiro com Dimas Toledo, diretor de Furnas, que recebia a grana da Bauruense, empresa fornecedora da estatal. O doleiro já contou e recontou que carregava dinheiro vivo em mala.

Levava para o compadre, e esse dizia que iria repassá-lo a Aécio. Dimas seria o infiltrado do PSDB na estatal. É o que todo mundo diz. Mas Youssef não dá provas do que conta. Sem provas, fica difícil investigar qualquer coisa, ainda mais contra gente do PSDB. E Janene está morto desde 2010.

Outro delator, Carlos Alexandre Rocha, o Ceará, disse que Aécio era "o mais chato" na cobrança de propinas da empreiteira UTC. 

E mais outro delator repetiu a história de Youssef na semana passada, o lobista Fernando Moura. Ele contou em delação que Aécio ficava com um terço da propina gerada em Furnas.

Aécio desqualificou o homem. Disse que o que ele fez "é algo absurdo, é algo criminoso" cometido por "réus confessos, que se limitam a lançar suspeições absurdas, sem qualquer sustentação". 

Segundo Aécio, Moura defende "interesses inconfessos".

Delatores com ficha suja deveriam dedurar apenas as quadrilhas do PT, do PP e do PMDB na Lava-Jato. Contra o PSDB, somente seriam aceitas delações de pessoas ilibadas, de freiras e monges. 

Então, que se profissionalize a delação, e os delatores amadores não prosperem. Que sejam eliminados os maus delatores do mercado.

Também é preciso estabelecer um Código de Conduta dos Delatores, para que fique escrito que delator sério não delata tucanos. Se delatar, que seja suspenso da atividade até as eleições de 2018, para que não tumultue o pleito.

É hora de dar um basta na onda de delações contra gente que nunca corrompeu ou foi corrompida. Delatores sem ética e escrúpulos devem ser delatados já pelo Sindicato dos Delatores Honestos e Similares.



Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre



segunda-feira, 21 de março de 2016

O GOLPISMO SEM VERGONHA



O golpe contra Getúlio Vargas em 1954 e o golpe contra Jango em 1964 tiveram lideranças que, utilizando-se do sigilo tramaram os fatos mais delicados que levariam à crise final.

Carlos Lacerda, o corvo,  é uma figura golpista predominante nos dois casos, mas outros atores também se destacam nos sinuosos caminhos da conspiração, como Roberto Marinho e o General Costa e Silva, por exemplo.

Além disso, a sombra sinistra dos Estados Unidos através de seus organismos de espionagem esteve presente de forma disfarçada, como na criação de institutos aparentemente inofensivos como os IPES e IBAD.

Foram golpes planejados e dirigidos por cabeças que não ficavam expostas embora delas partissem toda a trama que levaria aos negros anos de ditadura militar.

Na história da América Latina ser chamado de golpista sempre foi ofensivo e os golpistas buscaram esconder suas reais intenções.

A crise que assistimos atualmente tem lá seus ineditismos.

Dessa vez o golpismo não se escondeu nem usou sigilo. Ao contrário foi escancarado e se anunciou no horário nobre e misturado com toda a programação, assim como pode ser visto nas bancas em edições semanais.

Os golpistas perderam a vergonha de conspirar contra a ordem democrática.

A mídia nunca mais será vista da mesma forma depois de tudo o que está acontecendo.

Qualquer um que pare para pensar com frieza sobre os fatos que nos trouxeram até aqui poderá ficar surpreso ao perceber que o “caos” foi construído sobre nada verdadeiramente concreto.

O que de material sustenta uma acusação formal contra Dilma ou contra Lula?

Igual um feiticeiro misturando componentes mágicos para construir um sortilégio a mídia golpista misturou de tal forma fatos com especulação que já não se pode mais separar claramente um do outro.

Pegou como componente principal o ódio ao petismo que já vem temperado com o conservadorismo histórico de nossa cultura com o anticomunismo e a intolerância.

Misturou com mágoa e inconformismo da direita pela terceira derrota eleitoral sucessiva.

Adicionou boatos folclóricos transformados em verdades dogmáticas como “todo político é ladrão” e “a cubanização do Brasil”.

Apontou favores de exposição que aguçaram a síndrome de celebridade de algumas pessoas, juízes, policiais federais, etc.

E acabou criando um bolo explosivo e venenoso.

Não se mente mais que o presidente é comunista, mas que a presidente é amiga do ex-presidente que é ladrão.

E chegamos ao apogeu da hipocrisia para justificar um golpe de estado, que, se for vitorioso terá sido o mais diferenciado da história, pois absolutamente vazio de argumentos.

O bolo foi feito e está posto à mesa.

Agora é hora de prova-lo.

Triste é que, talvez, ele seja amargo demais... e mortal.

Mas, para os golpistas, parece que isso não vem ao caso.

Já que perderam a vergonha, não precisam mais disfarças os sentimentos.





Prof. Péricles

sábado, 19 de março de 2016

POR QUE A GLOBO PRECISA ACABAR COM O PT?


Por Eduardo Guimarães

Quem seria Sergio Moro sem a Globo? Como ele conseguiria subverter as leis, violar o Estado Democrático de Direito, proteger políticos de direita e linchar políticos de esquerda sem o apoio da Globo?

Moro/Lava Jato é a Globo e a Globo é Moro/Lava Jato. Não por conta do poder desse juizinho de primeira instância em busca de holofotes, mas pelo poder que a Globo lhe transferiu.

52 anos após ter desempenhado papel decisivo para solapar a democracia brasileira, mergulhando o país em 21 anos de ditadura militar, a família Marinho volta assumir o protagonismo do atentado à democracia.

Em uma edição de 1 hora, 1 minuto e 57 segundos, a emissora não tratou de outro assunto que não o golpe contra o governo legítimo de Dilma Rousseff, eleito por 54 milhões de brasileiros.

Antes de prosseguir, vale contextualizar a situação em que este texto está sendo divulgado.

Hordas fascistas se espalham pelas ruas agredindo cidadãos que possam demonstrar opinião política diferente, em um processo que reedita, de forma apavorante, a ascensão do fascismo na Alemanha dos anos 1920/1930.

De onde vem isso? Na edição histórica (da forma mais negativa possível) do Jornal Nacional da última quinta-feira (17/03), o leitor começa a entender.

Por mais de uma hora, a emissora repisou fatos que todos já estão carecas de saber. E divulgou áudios que indispõem Lula com autoridades que irão julgá-lo.

Enfim, promoveu um linchamento e ofereceu à turba “motivos” para se manter mobilizada, ainda que tenha se limitado a divulgar conversas que não contêm qualquer ilegalidade.

Ao fim dessa maratona midiática, o atual robô teleguiado dos Marinho, William Bonner, teve a audácia de dizer que aquela emissora, que acabara de promover um dos ataques políticos mais furibundos que já se viu, não toma partido simplesmente por ser imprensa.

Quem viu e ouviu Bonner dizer essas coisas é capaz de se esquecer quanto a Globo já fez contra a democracia brasileira. E como foi através da política que a família Marinho erigiu esse império que esmaga quem quer que a ele se oponha.

O pior de tudo é que a própria Globo já admitiu – vá lá, ao seu modo cínico, debochado – que nunca se limitou, apenas, a informar. A Globo e seus penduricalhos (Folha de São Paulo, O Globo, Estadão e Veja) interferem há muito na política brasileira.

Dentre todo o mal que essa família já causou ao Brasil, está uma ditadura de duas décadas que, para desespero de qualquer pessoa sensata, começa a ser reeditada.

Para concluir, vale explicar que a Globo não faz o que faz à toa, só para mostrar que pode ou porque acha Lula e Dilma feios e bobos.

A Globo quer tirar o PT do poder e inviabilizar sua vitória em 2018 porque nesse ano sua concessão vencerá.

Muitos fascistas não sabem, mas a família Marinho não é dona da faixa do espectro radioelétrico por onde trafegam as ondas de rádio que colocam a programação dessa emissora na sua tevê. Essa faixa é uma concessão do Estado brasileiro.

A família Marinho teme que se Dilma chegar forte a 2018 e com Lula tendo chance de se eleger, o governo federal pode mandar para o Congresso uma medida propondo a não-renovação da concessão.

Ah, mas o Congresso jamais irá enfrentar a Globo, dirá você. Conversa. A Globo se mantém no “poder” na base da opressão, da intimidação. E seu poder ainda reside na transmissão pela TV aberta. Muitos políticos podem querer ajustar as contas com a Globo, se tiverem oportunidade.

Por fim, um recadinho ao senhor William Bonner: crie vergonha na cara, meu senhor. A história irá registrar com dureza o papel patético que o senhor desempenha ao mentir dessa forma vil a troco de algumas dezenas ou centenas de milhares de reais.



quinta-feira, 17 de março de 2016

INCLUSIVE OS TOLOS


Fim das horas que antecede a guerra e abrasa a Terra, que abraça o mar e que alerta a todos.

Calor das ondas que se espreguiçam na areia e bocejam cansadas.

É fugaz a vida quando se mira o horizonte e se percebe a distância entre um ponto e qualquer outro ponto.

Sem dúvida mais fácil que ser gigante para poucos é se fazer pequeno para muitos, por isso, o sol permitiu o pensamento de que ele girava sobre a Terra e não o contrário.

Para muitos a terra gira sobre si e só seus problemas são importantes e importam.

A reflexão sobre a história não nos faz poetas, mas, nos obriga a perceber a condição humana como uma poesia sem rimas e perdida num papel dobrado e esquecido ao largo da vida.

De quantos renascimentos precisa o homem para entender que seu maior fracasso é não ter construído uma sociedade verdadeiramente justa?

Engana-se quem pensa que a história meramente agrupa fatos em ordem cronológica.

Mai que isso, a história coleciona vidas que se tornam relatos ao longo do tempo, relatos que importam mais que a cronologia dos fatos.

E em cada vida um rosário de consequências, que podem ser futuras, imediatas ou perdidas, para serem recuperadas lá na frente com algum bisneto ou tataraneto e essa soma toda na verdade é nossa história, tão nossa e tão íntima como nosso travesseiro preferido.

Grandes conquistadores estabeleceram fronteiras.

Ciro, da Pérsia, Alexandre da Macedônia, Júlio Cesar de Roma, Atila, o Huno, Carlos Magno, Napoleão Bonaparte, entre outros, mas nenhum conseguiu conquistar a felicidade plena de todos os seus súditos.

Muitos lutaram pela paz.

Jesus, Gandhi, Luther King, entre outros, e todos que defendiam a paz foram mortos pela violência, o que não quer dizer que a tirania é maior que o amor, pois enquanto o sonho de um tirano é egoísta e morre com ele, o sonho da paz é universal e permanece nas próximas gerações.

A história nos conta, mas dependendo da forma que a história é contada uma versão se sobrepõe a outra, e será verdadeira aquela que mais interessa aos vencedores do momento, entretanto, a história dos pequenos nunca será esquecida graças, justamente, aos historiadores.

O Brasil teve muitos massacres como a Revolta dos Alfaiates, a Conjuração Baiana, a Praieira, a Cabanada, Balaiada, Canudos, Contestado, mas não chamamos a isso de massacres e sim de revoltas, como se os culpados fossem os revoltados e não o Estado facínora.

Nosso país já teve guerras civis. Confederação do Equador, Farroupilha, Federalista, Constitucionalista Paulista, mas não as chamamos de Guerra Civil e sim de Revoluções como se fosse cruel demais imaginar brasileiros matando brasileiros e assim, preferimos criar mitos de que somos um povo pacífico.

Temos a paz, mas as vezes apenas a paz dos cemitérios.

Na nação do faz de conta a miscigenação cultural deu-se por afeição e falta de opções e não pela escravidão criminosa.

E o culto é livre desde que abaixem os sons dos tambores e se apaguem os incensos.

Já faz tempo que se amarelaram as mais antigas esperanças e se amarelaram as folhas do meu primeiro livro de história.

Que o brasileiro saiba que mais importante que lutar por si, é lutar por todos.

Inclusive os tolos.



Prof. Péricles















segunda-feira, 14 de março de 2016

TRUMP VERSUS HILLARY


Por José Inácio Werneck

O inverno chega ao fim nos Estados Unidos e a campanha eleitoral se intensifica na primavera do lado Republicano com Primárias em que Donald Trump, Marco Rubio e Ted Cruz apresentam um panorama de lamentável indigência intelectual e completa ausência de boas maneiras.

O Partido Republicano tem dois outros candidatos em suas Primárias: John Kasich, governador de Ohio, o único capaz de manter um nível de discussão mais elevado, e Ben Carson, um cirurgião que explora evangélicos incautos e está na contenda apenas como instrumento de divulgação de seus livros de “autoajuda”.

Alguns leitores poderão perguntar o que vem a ser as Primárias. Elas são o meio pelo qual os dois principais partidos – o Republicano e o Democrático – escolhem seu candidato na eleição presidencial que vai ocorrer no próximo mês de novembro.

É um sistema confuso, pois os chefões republicanos e democratas guardam ainda no bolso o direito de conchavos e discussões nas duas convenções partidárias.

Há delegados, super-delegados e a possibilidade de que, num campo não muito definido, a Convenção acabe escolhendo um candidato que não tenha necessariamente reunido o maior número de vitórias nas Primárias.

É a esperança de muita gente no Partido Republicano para evitar a candidatura do magnata Donald Trump, que vem por enquanto ganhando as Primárias com uma mistura de racismo, xenofobia, insultos e ameaças, dirigidas não apenas a seus opositores, mas a outras nações.

Donald Trump é o homem que promete deportar 11 milhões de imigrantes, construir um muro entre o México e os Estados Unidos, obrigando o governo mexicano a pagar, proibir a entrada de muçulmanos no país, usar contra eventuais inimigos métodos de tortura piores do que o “water-boarding” (afogamento simulado), invadir países do Oriente Médio, bombardeá-los e – por último mas de modo derradeiro – “colonizar” os postos de petróleo do Iraque, apoderando-se de sua produção.

Os coronéis do Partido Republicano prefeririam um candidato aparentemente mais moderado, como Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos.

Mas Rubio é a Hillary Clinton dos republicanos, capaz de dizer tudo e qualquer coisa, se vislumbrar a possibilidade de angariar votos. Muda permanentemente de opinião, como na questão da imigração, e deve sua carreira a um bilionário investidor da Flórida.

Mas, fundamentalmente, de moderado ele não tem nada e sua política externa baseia-se muito mais em ameaçar outras nações com o poderio militar americano (à la Donald Trump) do que em negociações diplomáticas.

Ted Cruz, nascido no Canadá, filho de cubano com americana, é, como Ben Carson, um explorador da ingenuidade dos evangélicos, mas mais perigoso, pois realmente tem algum cacife político, coisa que o cirurgião – uma criatura que prova que um especialista bem-sucedido em seu campo de atividades pode ser também um completo idiota em tudo o que ocorre fora de sua sala de operações – não possui.

Na disputa, os insultos voam, descendo até ao terreno escatológico, com Rubio insinuando que Trump mijou nas calças. Trump vinha ofendendo Rubio e Cruz equitativamente, mas nas últimas horas desfechou seu fogo mais em Rubio, tendo para tanto alinhado o apoio do governador de New Jersey, Chris Christie, inimigo declarado de Rubio.

Christie, cuja campanha nas Primárias fracassou, obrigando-o a retirar a candidatura, culpa o “estabelecimento” republicano por seu infortúnio e apoia Trump como vingança – além, claro, de promessas de cargos numa futura administração, se ela vier a se concretizar.

No lado dos democratas, Hillary Clinton vai liderando, apesar de todas as críticas quanto à sua confiabilidade e honestidade. Hillary se encontra sob fogo pesado, entre outras coisas, por vir se recusando a publicar as transcrições de palestras que fez para firmas de Wall Street – ao preço de 750 mil dólares para algumas delas e um pouco menos para outras.

Em um ano e pouco mais, Hillary Clinton arrecadou 11 milhões de dólares com tais palestras.

A pergunta geral: os banqueiros e donos de fundos de risco estariam lhe dando tanto dinheiro só pelos seus belos olhos e a eloquência de sua prosa?

Num pleito sério, os republicanos concorreriam com John Kasich e os democratas com o senador Bernie Sanders.

Mas de séria a atual campanha presidencial nada tem.



José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

sábado, 12 de março de 2016

A LEI DE MURICI


O Muricizeiro é uma espécie rústica que se desenvolve muito bem em solos arenosos com poucos nutrientes. Por isso, o seu fruto, o murici, é típico do sertão nordestino.

Aliás, o Muricizeiro permanece florido, e muito bonito, mesmo na seca mais tenebrosa, daí nasceu o provérbio popular de que, quanto mais florido o muricizeiro, mais difícil é a vida do sertanejo.


Em 1896, tropas federais, promoveram uma campanha contra o Arraial rebelde de Canudos, no sertão da Bahia. Essas tropas eram comandadas pelo general Moreira César, militar importante na época.


Os “homens do Conselheiro” promoveram uma emboscada e as forças oficiais caíram como patinhos. Moreira César foi mortalmente atingido e o comando deveria passar ao coronel Pedro Nunes Tamarindo, porém, o coronel tomado de enorme pavor teria abandonado a luta gritando “em terra de murici cada um cuida de si”.

Até hoje, naquela parte do país chamasse de “lei de murici” a idéia de que, no perigo, cada um que trate de salvar a própria pele.

De certa forma se repete muitas vezes o mesmo comportamento.

Diante das ameaças, muitos pensam apenas em si e nas suas vantagens.

O PMDB é o partido político que encarna perfeitamente o coronel Tamarindo.

Desde o fim da ditadura militar, em 1985, tem se mantido no poder sem assumir a responsabilidade do poder, alterando apoios conforme o sabor das ondas.

Nas eleições presidenciais de 1989 apoiou Fernando Color jogando a candidatura do presidente do próprio partido,  Ulisses Guimarães no lixo, mas abandonou a barca assim que os escândalos do caso PC Farias bateu à porta do presidente.

Seus deputados votaram em peso pelo impeachment sem nenhum rubor na face.

Manteve-se no poder nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB (que surgiu de uma dissidência do próprio PMDB em 1985).

Em troca de ministérios e cargos em todos os escalões, apoiou os governos Lula e Dilma do PT, sendo o mais importante partido da base governista, porém, sempre com um pé dentro e outros fora, atento ao menor ruído.

Quando a atual crise política chegou perto de Dilma, o vice-presidente (também presidente do PMDB) divulgou uma carta patética que beirava a infantilidade política mas, importante para assinalar sua postura de “se apertar, não conte comigo”.

Dessa forma, ao entrarmos na parte final de pedido de impeachment de Dilma quando as decisões do presidente do senado (do PMDB) e os votos de seus parlamentares se tornam decisivos para a continuidade da ordem institucional ou não, pergunta-se qual será, afinal, a postura do PMDB?

Embora nada possa ser antecipado no jogo político que se trava hoje no Brasil, mas, diante dos antecedentes históricos desse partido e de sua clássica estratégia oportunista para se manter no poder, não será surpreendente se ele, novamente, aplicar a “Lei de Murici”.



Prof. Péricles

quinta-feira, 10 de março de 2016

O ENCANTO DAS ESTRELAS E O CAPITALISMO



Por Laerte Braga


A extinção das estrelas como astros capazes de gerir, influenciar, ou despertar o amor, a solidariedade, a beleza da Criação, está determinada.

O jornalista Natan de Guarulhos divulgou em seu Jornal Regional News, notícia publicada no Jornal da Chapada, anunciando a descoberta de uma nuvem de petróleo no interior da nebulosa de Orion, com 200 vezes a quantidade de água existente nos oceanos da Terra.

Tudo bem que a distância de 1 400 anos luz de nosso planeta dificulta a exploração desse petróleo por empresas do setor, mas, certamente, a partir de agora, o perfil da corrida espacial tem um ingrediente dominante. O petróleo. É o capitalismo se expandindo para além das galáxias, ameaçando o Universo com sua sanha destruidora.

Imagino que os republicanos, por exemplo, nos EUA, vão querer verbas astronômicas para pesquisas e investimentos em viagens de espaçonaves tanques para buscar o petróleo farto e capaz de assegurar o futuro do modelo de exploração do homem pelo homem. Os astronautas, terão que ser muitos, deverão ser as próximas vítimas do sistema.

“Ora direis ouvir estrelas...” É por aí que o fim – nada a ver com os Maias, vai se espraiando de forma irreversível. É na destruição pura e simples do que existe, inclusive o próprio ser.

A descoberta foi feita por astrônomos do Instituto Max Planck, Alemanha, usando um radiotelescópio de 30 metros, do Instituto de Radioastronomia Milimétrica, esse na Espanha.

O brilho intenso de uma estrela próxima faz com que determinadas partículas no interior da nebulosa se transformem em petróleo.

Deve ser sina.

No Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre, a freira conhecida como irmã Sherine, em palestra para mais de 15 mil pessoas, falou sobre a perspectiva de guerra contra seu país, o Iraque e ao final disse que “nossa maior riqueza, o petróleo, é também a nossa maior tragédia”.

Não deu outra.

No Brasil não é muito diferente. O pré-sal está sendo quase que inteiramente entregue a empresas estrangeiras e a Petrobras, desde o fim do monopólio estatal do petróleo (governo FHC), vive um constante processo de esvaziamento e transformação em acessório do mundo capitalista do petróleo. Um pouco foi disfarçado no governo de Lula, está escancarado o seu sucateamento no governo neoliberal de Dilma Roussef (a que não sabe para que lado vai e não vai a lado algum, é refém das elites políticas e econômicas).

Se pensarmos, por um instante, que Mitt Romney tivesse vencido as eleições presidenciais dos EUA, lógico que ele diria aos norte-americanos que “Deus nos abençoou com um futuro de poder para guiar o mundo”. Ou palavras semelhantes. Obama disfarça, enfrenta a jocosa tentativa de separação do Texas. O estado de George Bush quer se desligar da União e virar república. Segundo os especialistas seria a 15ª economia do mundo.

Um novo Álamo? A história desmentiu a “tragédia” transformada em filme. Não foi bem aquilo que se vê nas telas.

Orion seria entronizada no altar do capitalismo como uma espécie de anjo e logo cuidariam de um tratado internacional, nos moldes do que rege a exploração do continente Antártico, assegurando os direitos dos primeiros a chegar.

Em caso de problema diriam que uma parte da nebulosa, particularmente a do petróleo, seria reservada ao estado de Israel, como forma de reparar as atrocidades cometidas pelo nazismo. Hoje a versão é nazi/sionismo, só questão de atualizar a barbárie.

Foi-se o encanto das estrelas, foi-se a poesia, o universo, pelo jeito, vai virar um mar de petróleo e ao invés de “tu pisavas os astros distraída...” vamos ter refinarias e todo o complexo tecnológico do poder capitalista. Se pisar os “astros distraída”, vai sujar os pés e sumir também a doce imagem de “sem saber que a maior ventura dessa vida é o luar, a cabrocha e o violão” (versos de Orestes Barbosa, que alguns pretendem seja o Hino Nacional).

Já imagino o Jornal Nacional transmitindo ao vivo a chegada do homem a Orion e aquele jorro tradicional de petróleo, com William Bonner anunciando uma “nova era para o mundo”. Ao fundo, ao invés do plim plim, o símbolo, a bandeira dos EUA.





Laerte Braga é jornalista em Juiz de Fora/MG

segunda-feira, 7 de março de 2016

O PODER COMO ALGO PRIVADO


A questão de fazer parte é decisiva para entender a oposição quase irracional que alguns indivíduos fazem ao PT, e em especial, ao ex-presidente Lula.

O país sempre foi governado por um representante das elites, assim como sempre houve parcela da classe média que julga fazer parte dos mesmos interesses.

Os presidentes da república velha, por exemplo, sempre foram grandes produtores de café ou aliados dos grandes cafeicultores.

Dos 10 presidentes entre 1894 a 1930 seis eram grandes fazendeiros.

Getúlio Vargas derrubou a linhagem decadente do café especialmente ferida com a crise internacional de 1929, mas só chegou ao poder aliado de novas elites em crescimento no país: os industriais.

Mesmo assim, deixou de ser reconhecido como aliado quando passou se aproximar em demasia dos movimentos sindicais.

Morto Getúlio, em 1954, tivemos a crise dos três Jotas.

JK chegou lá, mas, por ser médico ligado Getúlio e do PSD, não foi identificado como “da turma”, quase não tomou posse, e no poder teve que enfrentar dois movimentos militares golpistas.

Jânio, apesar de polêmico e populista extremado abençoado pelo apoio fascista da UDN, mas era tão doido que nem a Casa Grande conseguiu manobra-lo e renunciou antes de começar a governar de fato.

Os presidentes da Ditadura Militar (1964-1985) não eram elite, mas filhos da classe média domesticada.

Collor, cuja famíia é dona de metade do estado das Alagoas, sim, esse fazia parte, tanto que foi eleito pela mídia.

FHC também, apesar do rótulo equivocado de intelectual de esquerda que ele mesmo pediu para apagar.

Mas, Lula não. Esse definitivamente nunca fez e jamais fará parte da turma da Casa Grande.

Nordestino, sem lustro da educação formal, líder sindical, definitivamente, Lula faz parte da Senzala.

Nem seu partido, o PT, tido como partido de mulambentos, de pobres e de intelectuais e teóricos.

É por isso que Lula não é aceito, mesmo governando de forma que beneficiou enormemente os interesses dos ricos.

Numa análise descompromissada de seu governo veremos que poucas vezes as elites lucraram tanto.

Por isso, o ódio à Lula não se dá por questões econômicas, mas, sociais.

É por isso que Dilma não é aceita, mesmo tendo enterrado velhas machadinhas de guerra da esquerda brasileira, como a reforma agrária, e utilizado até ministros e acenado com receitas neoliberais como “reforma previdenciária”.

O PT no poder, nunca foi, de fato, um governo de esquerda.

Mesmo assim  jamais será aceito por nossas elites.

Nem qualquer outro governo do PT. Isso porque as elites brasileiras acreditam, realmente, que o poder tem dono, é seu, é privado.

Lula, simplesmente não faz parte.





Prof. Péricles

domingo, 6 de março de 2016

O IMPÉRIO DA OPINIÃO


Por Sheila Sacks.

O noticiário dos blogueiros nas redes sociais é olhado com desconfiança.

Na série de TV americana Good Wife, ambientada nos tribunais de Chicago, uma das magistradas possui determinada característica que desarma os bacharéis que recorrem à sua jurisdição. Dependendo do viés interpretativo adotado pelos advogados de defesa ou de acusação em relação ao tema em julgamento, a juíza interrompe a argumentação com o bordão “na sua opinião”, sinalizando aos contendores e aos membros do júri que o raciocínio expresso pelo profissional em questão representa um ponto de vista pessoal e não necessariamente uma visão verdadeira ou correta dos fatos em exame.
Diferente dos tribunais, cujos parâmetros legais dificultam e restringem eventuais manipulações na construção de um raciocínio, a imprensa é um campo aberto a observações pessoais especulativas pela própria natureza de seu serviço voltado à livre difusão da informação e por extensão ao livre exercício da opinião. 
Ainda que o comentário afronte conceitos éticos e apresente visões distorcidas da realidade, o jornal lhe confere visibilidade e, essencialmente, o crédito da confiabilidade.
O historiador americano Christopher Lash (1932-1994), crítico dos processos de disseminação da informação no mundo globalizado, teve essa percepção ao enunciar em seu livro “Cultura do Narcisismo” (de 1979), que “para algo ser aceito como real, basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável”.
Consulta divulgada pelo Ibope, em dezembro de 2014, apontou que 58% dos entrevistados confiam “muito ou sempre nos jornais impressos”, percentual superior a outros meios de comunicação como televisão, rádio e internet.
Em relação às novas mídias, a pesquisa indicou que 71% dos entrevistados confiam pouco ou nada nas notícias veiculadas pelas redes sociais. O percentual de desconfiança chegou a 69% em relação aos blogs e 67% no que se refere aos sites.
Entre os vários itens pesquisados, ficou patente que o jornal é o meio de comunicação que recebe maior nível de atenção exclusiva, ou seja, metade dos leitores não faz nenhuma outra atividade durante a sua leitura.
Com a credibilidade em alta, aumenta naturalmente a responsabilidade daqueles que dispõem de espaços em jornais para emitir, formar e direcionar opiniões.
Sabe-se que o texto opinativo visa o assentimento às ideias, teorias e juízos apresentados, e que cabe ao leitor a nem sempre fácil tarefa de separar o que se enquadra efetivamente no real daquilo que se configura em um ideário de aparências e enganos.
No livro “A arte de argumentar”, o professor Bernard Meyer da Universidade de Rouen, na França, destaca que a argumentação age basicamente sobre os indivíduos e não sobre conceitos como o da verdade. E explica: “Ela (a argumentação) não procura determinar se uma tese é verdadeira ou falsa, mas influenciar outra pessoa, logo, ela nunca será automática ou obrigatoriamente aceitável, como o é a demonstração matemática.” De acordo com Meyer, a argumentação é bem sucedida quando convence o destinatário e não, como muitos pensam, atinge a verdade.
Na última década, ampliando a influência subjetiva das páginas opinativas que interferem na formação e avaliação da realidade, a imprensa vem agregando a esse plantel de profissionais de jornalismo uma plêiade de personalidades do mundo artístico, aparentemente em prol da diversidade de ideias e conceitos que balizam a liberdade de expressão nas democracias.
Se antes, cineastas, compositores, músicos e outros astros populares “bons de escrita” se expressavam nos suplementos de cultura ou “segundo caderno” sobre a sua arte, agora migraram para as páginas reservadas à prática e observação jornalísticas das cenas político-sociais, concorrendo em igualdade de espaço e mérito com os textos do “pessoal da casa”. O cineasta Cacá Diegues e os compositores Nelson Motta e Aldir Blanc, por exemplo, ocupam regularmente as páginas de opinião de “O Globo”, emitindo conceitos, análises, avaliações e críticas sobre temas que envolvem políticos, diretrizes de governo, relações internacionais etc.
A seu favor, os próprios currículos festejados pela imprensa e a admiração dos leitores-fãs, dois referenciais de peso a embasar pontos de vista individuais e impositivos que caracterizam “a superioridade bem informada” conceituada pelo filósofo e sociólogo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969).
Na obra “Minima Moralia: reflexões a partir da vida lesada” (1951), Adorno então em seu exílio nos Estados Unidos chama a atenção para a responsabilidade que deve prevalecer entre a elite formadora de opinião – “os inteligentes” – quando se propõe a expressar suas ideias e opiniões valendo-se de um meio de comunicação de massa. “Nenhum pensamento é imune à comunicação e proferi-lo no lugar errado e por meio de entendimento errado é suficiente para solapar sua verdade”, escreveu.
Para o professor de Ciências da Comunicação da Universidade Nova Lisboa, João Pissarra Esteves, aqueles que têm acesso à mídia estão investidos de um poder extraordinário, “porque impõem a sua própria realidade perante os outros, de acordo com os seus valores e interesses próprios” (“A Ética da Comunicação e os Media Modernos”, de 1998).
Maior contundência mostra o autor de “Nossa Cultura ou o que restou dela” (2005), o psiquiatra e escritor inglês Theodore Dabrymple, de 65 anos, um implacável analista da sociedade globalizada com uma dezena de livros publicados. Ele credita aos artistas, diretores de cinema, romancistas, dramaturgos, jornalistas e até cantores populares – além de economistas e filósofos sociais – o poder de indução e controle das sociedades. “São eles os legisladores invisíveis do mundo e devemos prestar muita atenção àquilo que dizem e como dizem”, assinala no prefácio do livro.
Sobra ao leitor consciente, diante de certas leituras nitidamente comprometidas com dogmas ideológicos, a desagradável sensação de impotência diante da leitura de textos bem articulados, produzidos por uma elite inteligente respaldada por veículos de comunicação de grande tiragem e influência social. 
Nesse caso soa perfeita a observação do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 89 anos, quando afirma que “nunca fomos tão livres e tão incapazes para mudar as coisas”.

Sheila Sacks, jornalista formada pela PUC-RJ sempre trabalhou em assessoria de imprensa.Tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total. Desde 2009 mantém o blog “Viajantes do tempo”.


sábado, 5 de março de 2016

A HISTÓRIA DAS SARDINHAS




Era uma vez... um cardume de sardinhas.

Num contexto mais amplo as sardinhas tinham a função de alimentar os tubarões.

E assim era, o tempo todo desde que os tubarões haviam descoberto as águas das sardinhas.

Haviam eleições para escolher a líder do cardume, mas, toda vez que aparecia uma sardinha de baixo, que ousasse questionar a ordem da cadeia alimentar era combatida pelas sardinhas de cima e as sardinhas do meio.

As sardinhas de cima eram as que viviam melhor já que, por estarem acima recebiam alguns afagos e eram poupadas pelos tubarões que preferiam mergulhar nas águas mais profundas, as vezes até no pré-sal.

As sardinhas da faixa média achavam que um dia seriam sardinhas de cima (as sardinhas de cima riam em segredo das coitadas) e desprezavam as sardinhas de baixo, as quais se achavam superiores.

As sardinhas do meio acabavam na barriga dos tubarões igual as sardinhas de baixo, porém, se achavam superiores e mais espertas.

Para manter essa ideia, havia, entre as sardinhas, as sardinhas vendidas.

Sardinhas vendidas eram sócias dos tubarões no Globo todo, mas isso era segredo, e passavam a vida transmitindo as notícias do que acontecia lá na superfície e dentro do cardume, distorcendo essas notícias de modo que, as sardinhas do meio e até as sardinhas de baixo, pensavam justamente o que as vendidas queriam.

Havia sardinhas que estudavam a história do cardume, mas, ninguém as ouvia e diziam que não sabiam de nada.

Havia sardinhas que formavam grupos de pensamentos sardinhescos populares, mas eram tachados de comunistas comedores de ostrinhas, e ninguém as ouvia.

Um dia, uma estrela do mar fez parceria com as sardinhas mais de baixo e uma Lula passou a liderar o cardume.

Graças a isso a vida melhorou, principalmente das sardinhas que eram preferencialmente devoradas ainda na infância.

Houve ódios e ranger de dentes quando as sardinhas do meio viram filhos das sardinhas de baixo nadando nas mesmas águas.

Mas, as sardinhas de baixo e as do meio que apoiavam a Lula eram maioria e passaram a ganhar todas as eleições do cardume.

Então,tudo se fez e todas as alianças se criaram para derrubar a estrela.

“Nesse mundo, o mundo dos seres Marinhos, quem manda somos nós” bradaram as sardinhas vendidas, cara de lata, que davam as notícias.

O que acontecerá com o cardume, com a Lula e com a estrela?

Não sei.

Essa história ainda está acontecendo e é você que contará o final.





Prof. Péricles

quinta-feira, 3 de março de 2016

MAD MAX: A ESTRADA DA FÚRIA É NO BRASIL

Brasil, em algum momento do futuro.

Olhos perdidos no nada buscam entender seu tempo.

Nosso herói sobreviveu a ultima epidemia provocada por mosquitos, que matou toda sua família.

Milhões de outras pessoas morreram já que não tinham dinheiro para pagar hospitais nem planos privados de saúde.

O SUS existiu mesmo um dia ou era uma lenda?

Esgotado, na saída do hospital privado e pago, procura lembrar como tudo começou.

Sim, pensa nosso heróis, foi na grande vitória dos coxinhas.

Agora lembrava bem...

Depois de uma enorme farsa montada pela mídia em parceria com a ala asiática da Polícia federal e membros do judiciário, a presidenta foi afastada.

Seu vice ficou de mau e nada fez para ajuda-la.

Pobre Presidenta, tão tolinha, acreditava em democracia.

Seu substituto natural e ex-presidente, foi atado a uma teia de acusações que inviabilizaram sua candidatura.

Não importava se acusações tivessem fundamento. Podiam ser míseros pedalinhos, tudo era usado para desvirtuar a candidatura dele.

Ao mesmo tempo desviava-se a atenção de milhões e milhões roubados pelos amigos da mídia e das companhias americanas.

Oh God! Como fomos tão cegos!

No poder, o tirânico ex-presidente do congresso deu o golpe final na democracia, e se declarou imperador, Coxinha I enquanto a primeira dama recebia o título de sobrecoxa.

O pré-sal foi entregue por alguns pilas (a moeda gaúcha foi adotada como moeda nacional) e a Petrobras trocada por um posto de gasolina da Shell em Caxias.

Os bancos da Suíça receberam dupla cidadania.

Numa festa apresentada por Fábio Júnior e Regina Duarte com músicas de Lobão, transmitida ao vivo pela maior rede de televisão e de audiência obrigatória pela nova ditadura, um ex-sociólogo recebeu o título de príncipe de acordo com sua insaciável vaidade.

O tucano virou a ave nacional e por determinação do Coxinha Supremo todos tiveram que colocar um globo na manga de suas camisas.

As saudações “Eil” usada pelos nazistas ou “anauê” pelos integralistas foram substituídas por “plim-plim” quando coxinhas se encontravam ou saudavam seus líderes

Sim, nosso herói lembrava bem...

Lembrava das festas do 4 de julho que substituíram o 7 de setembro e eram comemoradas com marcha dos estudantes pelas ruas do Brasil.

Lembrava dos campos de reeducação no interior do Araguaia onde a juventude aprendia inglês e era forçada a frequentar cursos intitulados de “revoltados on line” e “vem pra rua” onde sofriam lavagem cerebral e viravam umas bestas.

Shits! Quanto horror!

Ele nem sabia o que era pior...

Seria, talvez, os mandamentos da NIB (Nova Igreja Brasileira) que pregava que lésbicas, gays, índios e negros iriam para o inferno e o estado deveria dar um empurrãozinho?

Ou os discursos dos Bolssonaristas, membros de uma poderosa organização que pretendia enviar para campos de concentração e extermínio todos aqueles que fossem de esquerda ou tivessem um petista em sua árvore genealógica?

Nosso herói não sabia, mas uma coisa ele tinha certeza... aquilo tudo havia sido apenas o começo da grande tragédia que se abateu sobre os brasileiros, mas agora, chegara a hora de virar o jogo.



(continua)


Prof. Péricles

terça-feira, 1 de março de 2016

COMO AS MULHERES DOMINARAM O MUNDO



Por Luís Fernando Veríssimo


Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.

- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho...

Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira.

Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.

- E aí, papai?

- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite", eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "O regime".

- E vocês? Não perceberam nada?

- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior:

Continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem.

- Aí, veio o golpe mundial?!?

- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente...

- Como era mesmo o nome dele?

- William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo...

- Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue...

- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona...

- Pai, conta mais...

- Bem filho... O resto você já sabe.

Instituíram o Robô "Troca-Pneu" como equipamento obrigatório de todos os carros...

A Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho...

E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...

- TPM???

- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... E quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear...

- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...

- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...




Luis Fernando Verissimo
Filho de Érico Veríssimo, Luis Fernando Veríssimo é escritor e jornalista gaúcho, infelizmente, colorado.