“Como pode” dizia a tiazinha na fila do caixa do supermercado, falando com
a “vizinha” da frente, “como pode gente tão rica roubar tanto?”
“Verdade” diz a “vizinha”, já ganham tanto pra trabalhar tão pouco e querem
mais e mais... “senador, deputado, governador, empresário... o que mais eles querem”?
Para responder as tiazinhas talvez o melhor fosse contar a história de
Tântalo.
Tântalo era um rei da Lídia (ou
Corinto). Filho de Zeus com uma princesa terrena, não era imortal.
Mas, por ser filho de Zeus, além de justo e leal com seu povo, tornou-se o
preferido dos deuses e o único mortal a ser admitido à mesa dos olímpicos, onde
desfrutava de todas as frutas, do néctar e da ambrosia.
Os deuses não escondiam sua predileção e isso foi parindo no íntimo de
Tântalo, uma vaidade que não parou mais de crescer, sufocando as suas virtudes
sem que ele percebesse.
Cego pela soberba, passou a se imaginar um igual entre os deuses.
Resolveu confirmar sua superioridade, enganando os próprios deuses.
Convidou a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em
teste a onisciência divina, lhes ofereceu o alimento terrestre sob sua forma
mais abjeta: a carne humana, de seu próprio filho, Pélops.
Mas os deuses, são sim oniscientes e reconheceram a blasfêmia jogando pra
longe seus pratos.
Apenas a Deméter (deusa da agricultura) perturbada pelo recente desaparecimento de sua filha Perséfone, estava tão desatenta que ingeriu um pedacinho da carne.
Apenas a Deméter (deusa da agricultura) perturbada pelo recente desaparecimento de sua filha Perséfone, estava tão desatenta que ingeriu um pedacinho da carne.
Furioso, Zeus ressuscitou Pélops, que retornou à vida faltando apenas um
pequeno pedaço no ombro, reconstituído com mármore (marca), que passará a ser a
marca do pecado da vaidade (tal qual o pecado original de Adão e Eva).
Como castigo Tântalo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante
em vegetação e água, foi sentenciado pela eternidade a não poder saciar sua
fome e sede, visto que, ao aproximar-se da água esta escoava e ao erguer-se
para colher os frutos das árvores, os ramos moviam-se para longe.
Sabiam os deuses que muito dói estar
tão próximo e ao mesmo tempo tão distante e que as vezes só a dor faz germinar
a humilde.
O mito aborda o eterna inconformidade com
o que é possível e o eterno desejo de ser maior e de como isso pode ser
destruidor.
A cobiça incoerente de quem já tem
tanto e mesmo assim corrompe-se.
O ser humano busca a felicidade suprema, não a felicidade possível.
Quer o máximo, podendo esse máximo estar o Olimpo, o nirvana, o céu, ou um simples copo d’agua.
Quer o máximo, podendo esse máximo estar o Olimpo, o nirvana, o céu, ou um simples copo d’agua.
Sempre se considera merecedor, sem
perceber que esse “merecimento” é um mito que cria sobre si mesmo e com valores
próprios à sua psique, não necessariamente reais a quem está ao lado.
Conforme o mito, talvez muitos personagens envolvidos na corrupção
grotesca de nossos dias possam até fugir da condenação da frágil justiça
brasileira, mas, de um jeito ou de outro, nos dizem os gregos, não fugirão do seu Suplício de Tântalo.
Afinal, para esses, tudo é vaidade.
Prof. Péricles
2 comentários:
Assim seja. Muito bom, eu gostei do texto.
Um abraço.
Assim seja. Muito bom, eu gostei do texto.
Um abraço.
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