Pilantragem e Civismo |
Por Laerte Braga
Kalanag
foi um mágico que se apresentou no Brasil lá pelos idos de 1960.
Como, ninguém
nunca soube, mas descia do palco até a platéia com uma jarra d’água e mandava o
espectador escolher a bebida preferida. Vinho, uísque, cerveja, da tal jarra
saia tudo. Se levarmos em conta que os mágicos àquela época dispunham de poucos
recursos tecnológicos, aquele negócio de jogos de luzes, máquinas que engolem
pessoas, esses aparatos todos dos mágicos de hoje, Kalanag era de fato um
prodígio.
Circos
ainda ocupam um espaço importante tanto na lembrança dos que assistiram aos
velhos grandes circos do passado, como os que hoje têm o privilégio de observar
uma arte – falo de tudo o que o circo traz -. Aquela armação de lona sobrevive
em muitas cidades do interior do País. Hoje, uma nova roupagem recheada de
salamaleques dos tempos atuais, levou o circo para dentro dos ginásios, das
grandes áreas de espetáculos e numa certa forma preservou e preserva as
características do espetáculo circense.
Águas
dançantes apareceram no Rio de Janeiro no final da década de 50 e o show
aconteceu no Maracanãzinho como ponto culminante de um dos grandes circos
norte-americanos em seguida a trapezistas, palhaços, mágicos, equilibristas,
toda a troupe.
Foi
uma semana antes da célebre luta entre Archie Moore e o brasileiro Luisão, mas
essa é outra história.
A
descaracterização da palavra circo, transformada, entre outros sinônimos, em
local de pilantragem, de maracutaia aconteceu por conta de se emprestar à
pilantragem e às maracutaias o epíteto de um grande circo, com mágicas com
dinheiro público, trapaças nos negócios de governo, grandes palhaçadas de
políticos, toda essa sorte de ilusionismo do chamado mundo real.
O
circo de Brasília, por exemplo, não tem nada a ver com o Circo de Moscou. E nem
com as lonas remendadas que povoam as cidades do interior brasileiro. Ali, nessas cidades, crianças e adultos ainda
são capazes de gargalhadas quando o palhaço tropeça e daquelas interjeições de
espanto quando o mágico faz sumir um carro em pleno palco substituindo-o ou por
um elenco de mulheres, ou por pássaros coloridos que saem voando dentro dos
limites da lona.
O
circo de Brasília tem a batuta de três dos mais espertos “mágicos” da política
brasileira.
O
presidente do Senado, José Sarney. O presidente da Câmara dos Deputados, Michel
Temer e o presidente do Supremo Tribunal Federal – atual STF – o “ministro
Gilmar Mendes.
Sarney,
proprietário dos estados/fazenda Maranhão e Amapá seja talvez o mais completo
exemplo de Zelig da história da política brasileira. Em 1º de abril de 1964,
governador do Maranhão, soltou um manifesto na parte da manhã apoiando o
governo constitucional de João Goulart e outro à tarde, aderindo ao golpe
militar. Virou capacho de confiança dos governos da ditadura. Acabou presidente
da República no episódio da construção da candidatura Tancredo Neves e da morte
do mineiro, eleito presidente em 1984.
Michel
Temer saiu da casca de jurista e constitucionalista para virar político,
deputado em vários mandatos e uma interpretação para cada caso, não importa que
seja diversa da anterior, desde que os interesses dos que representa sejam
mantidos.
É
ponta de lança de FHC e José Serra no PMDB. O maior partido do País,
curiosamente sem cara, sem rosto, um amontoado de queromeu, onde ainda
pontificam figuras sérias do porte de Roberto Requião governador do Paraná.
O
terceiro nessa trindade de pilantras é Gilmar Mendes, presidente do STF.
Corrupto de carteirinha, tucano de coração, corpo e alma, ocupa a presidência
do que deveria ser a corte suprema do País para transformá-la em instrumento de
garantia de todo esse mundo podre e irreal que acaba sendo o real.
E
William Bonner, síntese do pilantra na comunicação, está lá para assustar todos
os “homer simpson” na hora do Jornal Nacional. O maior produto vendido pelos
donos do Brasil aos incautos que ainda acham que esses circos são reais. Não
têm a ver com Arrelia ou Pimentinha, palhaços de muito caráter e seriedade.
O
circo da pilantragem é no duro mesmo um circo de tragédias e essas tragédias se
abatem sobre o povo brasileiro que segundo o imortal João Ubaldo Ribeiro ainda
é o culpado de tudo.
A
corrupção é só uma conseqüência do modelo político e econômico. Esse é o fato
gerador. Esses são os donos do circo.
Laerte
Braga é jornalista em Juiz de Fora/MG
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