Às
vezes, dá uma vontade danada de sair em silêncio, escapar do burburinho pelo
buraco da fechadura das portas mal-humoradas. Você já percebeu como as portas
são mal humoradas? Ao menos as fechadas.
E
quando as horas do relógio ditam as fases de nossa rotina... nossa que vontade
deixar de existir mesmo existindo!
Será
que ao fechar os olhos com as pálpebras bem apertadas a gente fica invisível?
Quando
criança funcionava. Pena que a idade adulta nos tire os superpoderes e a gente
perceba que jamais se está invisível de si mesmo. Que porcaria!
Triste
como a descoberta de que as montanhas azuis não são azuis, mas parecem assim
pela distância misturadas com o horizonte.
Por
que os rios não secam se dia e noite suas águas vão embora, e se perdem no mar,
sendo que a água é recurso não renovável?
E as utopias
são renováveis?
A
reciclagem das fantasias que um dia fizeram que coubesse todas em nossos sonhos
desde dragões até princesas, bruxas e fadas, espadachins e heróis que voam e
uma infinidade de criaturas que dormiam, todas, embaixo do travesseiro.
Pra
onde vai toda a rebeldia dos dias jovens capaz de destruir exércitos quando os
dias jovens dão lugar aos dias velhos?
Como é
chato o mundo das coisas sérias.
Horários
pra tudo. Dias organizados que não variam e a segunda que sempre vem depois do
domingo e o sábado que vem antes dos dois. Ou seria depois?
E
essas semanas que se repetem em meses pré-definidos desde o dia do salário, até
o próximo salário.
Deveríamos
contar o tempo por número de salário e não por anos vividos, e o legal é que muitos,
como os milhares de mendigos, ficariam eternamente jovens.
O ano
das pessoas sérias é muito chato.
Sempre
com 12 meses, feriados marcados, início e fim comemorado sem motivo, sendo que
o ano não passa de uma volta que a Terra dá sobre o sol sempre do mesmo jeito,
sem nenhuma reboladinha, na mesma velocidade e constância.
Não
que eu seja fofoqueiro, mas é o que acontece com a lua que desde 1969, volúvel,
deixou de ser dos poetas para ser dos cientistas que a viram nua, tão de perto,
mas tão de perto que, pasmem... concluíram que não havia vida nenhuma por lá.
Quanta
incapacidade criativa! A culpa não é da lua, é dos cientistas!
Para
quem curte a história da vida, do país e das pessoas que habitam esse país, dói
profundamente ver gente defendendo a ditadura ou chamando golpe de estado de
intervenção.
É por
demais chocante entender que as pessoas que se acham sérias considerem justas
as diferenças que excluem e só consigam se sentir mais belos se existir feiura
e por isso cultivem a feiura fanaticamente. Que necessitem que existam pobres mais
pobres para acreditarem que foram competentes e previdentes.
Dilacerante
é que existam argumentos endeusando criaturas da pré-história da memória
nacional como deputado que se orgulha pelas torturas e defenda pena de morte ou
pastores que enriquecem com a manipulação da fé e da ignorância entre os que os
procuram.
Se é
verdade que o conhecimento liberta, talvez também o seja que o conhecimento
machuca, não o conhecimento da vida e da história, mas o conhecimento sobre as
pessoas e de suas mediocridades.
Eu já
decidi.
Vou
continuar acreditando em justiça e igualdade, mas não aqui, com essas almas
sombrias e sem cores.
Não.
Com esses rançosos de egoísmo eu não brinco mais.
Vou procurar
a minha turma.
Mesmo que
muito longe, onde as nuvens se escondem atrás das montanhas azuis.
Prof.
Péricles
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