quinta-feira, 22 de outubro de 2015

MONTANHAS AZUIS

Às vezes, dá uma vontade danada de sair em silêncio, escapar do burburinho pelo buraco da fechadura das portas mal-humoradas. Você já percebeu como as portas são mal humoradas? Ao menos as fechadas.

E quando as horas do relógio ditam as fases de nossa rotina... nossa que vontade deixar de existir mesmo existindo!

Será que ao fechar os olhos com as pálpebras bem apertadas a gente fica invisível?

Quando criança funcionava. Pena que a idade adulta nos tire os superpoderes e a gente perceba que jamais se está invisível de si mesmo. Que porcaria!

Triste como a descoberta de que as montanhas azuis não são azuis, mas parecem assim pela distância misturadas com o horizonte.

Por que os rios não secam se dia e noite suas águas vão embora, e se perdem no mar, sendo que a água é recurso não renovável?

E as utopias são renováveis?

A reciclagem das fantasias que um dia fizeram que coubesse todas em nossos sonhos desde dragões até princesas, bruxas e fadas, espadachins e heróis que voam e uma infinidade de criaturas que dormiam, todas, embaixo do travesseiro.

Pra onde vai toda a rebeldia dos dias jovens capaz de destruir exércitos quando os dias jovens dão lugar aos dias velhos?

Como é chato o mundo das coisas sérias.

Horários pra tudo. Dias organizados que não variam e a segunda que sempre vem depois do domingo e o sábado que vem antes dos dois. Ou seria depois?

E essas semanas que se repetem em meses pré-definidos desde o dia do salário, até o próximo salário.

Deveríamos contar o tempo por número de salário e não por anos vividos, e o legal é que muitos, como os milhares de mendigos, ficariam eternamente jovens.

O ano das pessoas sérias é muito chato.

Sempre com 12 meses, feriados marcados, início e fim comemorado sem motivo, sendo que o ano não passa de uma volta que a Terra dá sobre o sol sempre do mesmo jeito, sem nenhuma reboladinha, na mesma velocidade e constância.

Não que eu seja fofoqueiro, mas é o que acontece com a lua que desde 1969, volúvel, deixou de ser dos poetas para ser dos cientistas que a viram nua, tão de perto, mas tão de perto que, pasmem... concluíram que não havia vida nenhuma por lá.

Quanta incapacidade criativa! A culpa não é da lua, é dos cientistas!

Para quem curte a história da vida, do país e das pessoas que habitam esse país, dói profundamente ver gente defendendo a ditadura ou chamando golpe de estado de intervenção.

É por demais chocante entender que as pessoas que se acham sérias considerem justas as diferenças que excluem e só consigam se sentir mais belos se existir feiura e por isso cultivem a feiura fanaticamente. Que necessitem que existam pobres mais pobres para acreditarem que foram competentes e previdentes.

Dilacerante é que existam argumentos endeusando criaturas da pré-história da memória nacional como deputado que se orgulha pelas torturas e defenda pena de morte ou pastores que enriquecem com a manipulação da fé e da ignorância entre os que os procuram.

Se é verdade que o conhecimento liberta, talvez também o seja que o conhecimento machuca, não o conhecimento da vida e da história, mas o conhecimento sobre as pessoas e de suas mediocridades.

Eu já decidi.

Vou continuar acreditando em justiça e igualdade, mas não aqui, com essas almas sombrias e sem cores.

Não. Com esses rançosos de egoísmo eu não brinco mais.

Vou procurar a minha turma.

Mesmo que muito longe, onde as nuvens se escondem atrás das montanhas azuis.



Prof. Péricles


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