sábado, 5 de setembro de 2015
COM A FARTURA NASCE A MISÉRIA
Até aproximadamente 12 mil anos atrás os agrupamentos humanos viviam da coleta e da caça.
Além da insegurança causada pela necessidade de encontrar a caça a cada novo dia havia a tensão dele próprio não ser o caçado.
Entre 12 e 10 mil anos, surgiu algo que iria mudar profundamente a vida de nossos antepassados: a agricultura.
E o homem, de mero caçador e coletor como milhares de outros animais, transformou-se num produtor, o único animal capaz de produzir seu próprio alimento.
Inicialmente, a agricultura abasteceu os grupos com o necessário à sua sobrevivência.
Porém, em algum tempo a produção foi além do necessário, e surge o excedente.
Esse excedente passou a ser trocado por outros excedentes de outros grupos. A troca de produtos marcava o início do comércio.
Era necessário organizar a semeadura e a colheita, além do transporte do essencial e do excedente e assim nasce o que chamamos de governo. Outros grupos poderiam querer roubar a comida e sendo vital protege-la surge o exército.
Para ter reconhecida sua autoridade que não mais se justifica por sua coragem e perícia para à caça, o governante se alia aos que se dedicam a entender a natureza que os cerca e a qual temem, e dessa aliança nasce a religião e o rei teocrático. Mais que um rei, um deus.
As populações, com a certeza da sobrevivência, cresciam cada vez mais e as relações se tornavam mais complexas.
A extração dos minérios e da comida das entranhas da terra somado as diferenças entre as atividades exercidas fazem surgir as classes sociais.
Em pouco tempo se reconhece o acúmulo e as diferenças se tornam maiores.
O excedente da produção, gerou o comércio, o governo e o exército a propriedade e até mesmo o crescimento populacional.
Agora havia riqueza e propriedade privada que, entretanto, não estava distribuída do mesmo jeito entre todos. Estavam inventados o rico e o pobre.
Nas sociedades paleolíticas, enquanto caçadores e coletores e mesmo nos primeiros tempos da agricultura, a natureza organizou a sociedade humana pela divisão de tarefas por sexo e idade. O fruto de seu trabalho dessas sociedades “primitivas” era distribuído de igual maneira entre todos da tribo.
Havia as tarefas dos homens mais jovens, dos mais velhos, e das crianças e mulheres, que, aliás, contavam com uma grande importância dentro do grupo.
A riqueza trouxe a diferenciação e a exploração do trabalho alheio e também a diminuição da importância da mulher.
Se a segurança da produção em relação a insegurança da caça-coleta foi um grande progresso, o próprio progresso trouxe os gérmens da exclusão.
Na origem de nossa civilização, portanto, está o egoísmo tomando o lugar do coletivo.
É o individualismo que dá forma às sociedades ditas civilizadas e não a fraternidade.
Com a fartura da produção coletiva nasce a miséria individual.
Os persas, que habitavam o atual território do Irã, formaram no século VII a.C. o primeiro grande império a partir de conquistas militares.
Seu plano de expansão, após conquistar o oriente, objetivava diretamente a distante Grécia, em especial o porto de Atenas graças... a seu intenso comércio.
E assim tivemos as Guerras Médicas no século V a.C. como tivemos inumeráveis guerras posteriores baseadas no desejo de alguns de acumular indiscriminadamente a riqueza que nunca foi de todos.
O Império Romano foi o apogeu dessa ideia de ambições e sua queda em 476 mudou o mundo, mas não mudou a fome por excedentes.
Durante os dez séculos que se seguiram a sua queda, período que chamamos de Idade Média, o comércio se encolheu, se tornou local, mas a ambição continuou fomentando o acúmulo de riqueza, agora baseada na posse da terra, e a Igreja se destacaria como a mais rica, poderosa e insaciável entre todas as forças da terra.
(Continua)
Prof. Péricles
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