terça-feira, 22 de setembro de 2015

PROFESSORES, ESPÉCIE EM EXTINÇÃO



O professor faz parte das mais intensas lembranças da maioria das pessoas.

Ser intermediário entre os pais e os estranhos que povoam os novos caminhos além de nossas casas, os professores marcaram os "melhores momentos" da vida de quase todos.

Atualmente se quedam diante da falta de valorização profissional, da humilhação de serem sinônimos de profissionais mal pagos e, mais recentemente, de saco de pancada de policiais militares a mando de governadores incompetentes, como aconteceu hoje pela manhã, em Porto Alegre e a pouco tempo, em Curitiba.

Talvez estejamos vendo o fim de uma era e de um profissional.

Nas faculdades os cursos de licenciatura já são oferecidos a preço muito abaixo dos demais.

Mesmo assim, falta quem queira segurar o giz que os mais antigos estão largando.

Talvez, nesse mundo informatizado e virtual, não haja mais espaço para os professores...

A seguir, uma texto de Moisés Mendes, cronista da "Zero Hora" onde ele faz um pedido que talvez esteja chegando tarde demais.

Prof. Péricles




Se acabarem com o Facebook, daqui a alguns anos, terá sido tão normal como quando acabaram com o fax e o Orkut.

Podem acabar com o Twitter como acabaram com o CD. E dar um fim à lâmpada de LED e ao smartphone, como descartaram o iPod.

Podem me dizer, sem que represente grande prejuízo, que vão acabar com o Instagram e suas assustadoras paisagens falsificadas. Podem terminar com o que ainda nem inventaram.

Se quiserem, podem extinguir os bancos, esses medievais que estão aí, e inventar os bancos do século 21.

Eu acredito mesmo que os bancos podem ser reinventados. Não me incomoda a ideia do fim de algo aparentemente insubstituível, até que um dia coisas, aparelhos e processos desaparecem e não fazem falta. Podem acabar até com o WhatsApp.

Só não terminem com os professores.

Não há como imaginar um mundo sem professores. Não há como uma criança virar adulto sem que carregue a certeza de que foi cuidada por um professor. É bobo isso? Então cresça e você saberá do que estou falando.

Ninguém será completo se não tiver na memória a imagem daquela professora. Pode ser um professor, mas de preferência que seja uma professora — elas é que são poderosas.

O professor de quem você guarda imagens de uma frase, um olhar, um pito, um silêncio, uma vacilação, uma cena banal.

Um dia você se verá tentando imitar sua fala e seus gestos. Um dia você aí saberá do que estou falando.

Bem, fiquei assim porque há alguns dias conversei por telefone, depois de mais de 50 anos, com a minha primeira professora.

Falei dela e sua neta Bruna leu e nos reaproximou. Vergília de Almeida Mongelôs, diretora, nos anos 60, do Grupo Escolar Alexandre Lisboa, de Alegrete.

Já contei que fui seu aluno do primeiro ano na sala dela, porque me negava a entrar em sala de aula. Tive agora, quando ouvi sua voz ao telefone, uma das sensações mais mágicas da minha vida.

Sim, eu me lembro da professora Vergília sentada à mesa ou circulando pela sala. Eu me vejo naquela sala. Eu sei o que a diretora do Alexandre representou para mim.

Escrevo agora para contar que daqui a alguns dias vamos nos ver.

Mas escrevo também para dizer que desejo que Martina tenha o que meus netos Joaquim e Murilo já têm. Que Martina tenha uma professora para não esquecer. Martina nasceu na terça-feira. É minha primeira neta.

Eu sei que a minha Martina terá a sua Vergília.


Por: Moisés Mendes

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