terça-feira, 8 de julho de 2014

INCÊNDIO EM SARAJEVO


Era um domingo de muito sol. As ruas da bela cidade de Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, estavam enfeitadas com bandeirinhas e cartazes coloridos. Pessoas se espremiam nas calçadas para assistir a passagem do comboio composto por cinco carros, onde ao centro, em um carro aberto, acenava para a multidão o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro ao trono da Áustria-Hungria e sua esposa, a duquesa Sofia. Era o dia 28 de junho de 1914, cem anos atrás.

Após a cerimônia de recepção na câmara municipal, seguem a marginal junto ao rio Miljacka.

Na mesma manhã, seis jovens estudantes sérvios, componentes da organização ultranacionalista, clandestina, “Mão Negra”, tinham se espalhado pelo trajeto provável (o trajeto oficial não havia sido divulgado) que seria seguido pelo comboio. O plano é simples, matar o arquiduque e após cometer suicídio para não ser capturado com vida e delatar a organização sob tortura.

O primeiro dos seis, Muhamed Mehmedbasic acredita que foi descoberto e está sendo vigiado, entra em pânico e desaparece na multidão, mas o segundo, Nedeliko Cabrinovic lança uma bomba sobre o carro de Francisco Ferdinando, mas não atinge o alvo, acertando o terceiro carro da comitiva, ferindo alguns, mas sem causar mortes.

O terceiro, o mais jovem de todos, Vaso Cubrilovic acovarda-se ao perceber a presença não prevista da duquesa. Mas tarde, no seu julgamento dirá que não atirou pois seria incapaz de matar uma mulher.

O quarto, Cvijetko Popovic, era míope e não conseguiu distinguir a figura do arquiduque entre as outras personalidades.

Já Gavrilo Princip que ficara numa rua em que a comitiva acabou não passando, ouviu a explosão e acreditou no sucesso da operação. Mas, conseguiu ver Cabrinovic preso em meio à confusão após a bomba e percebeu que algo havia dado errado.

O atentado fracassara. Mas, uma séria de fatos aleatórios acabaria interferindo no desfecho do drama.

Furioso com a tentativa de assassinato e se dizendo indignado pelo risco que a esposa correra o
arquiduque decide abreviar os planos, mas, sem cancelá-los para não parecer covarde. Assim, decide ir ao hospital visitar feridos, conforme planejado. Já a reunião com mulheres bósnias de que participaria Sofia é cancelada e ela decide acompanhar o marido na visita ao hospital.

Desta vez vão à alta velocidade, mas o motorista engana-se no caminho,
mete-se num beco, pára o carro (sem marcha atrás) e este tem de ser
empurrado para a estrada.

Nesse momento Gavrilo Princip está descendo a rua, furioso pelo plano, meticulosamente preparado ter dado errado. É de se imaginar sua surpresa ao ver o carro do arquiduque completamente indefeso e à sua mercê.

São 11 horas da manhã quando Gravilo, sem pestanejar aperta o gatilho várias vezes.
Em instantes arquiduque e duquesa estão mortos.

O assassino tenta o suicídio atirando contra si mesmo, mas é agarrado por uma multidão atraída pelos tiros.

O que os desatinados jovens queriam era causar uma forte comoção que revertesse em favor da causa da criação de uma “Grande Sérvia”. Pensavam que, a presença da Áustria nos Bálcãs, em auxílio de sua aliada, a Bósnia-Herzegovina, impedia que seu povo alcançasse plenamente a nacionalidade e a independência.

Jamais poderiam imaginar que um mês depois do atentado, a Áustria usasse o atentado de Sarajevo para declarar guerra à Sérvia. Eu a Rússia aliada da Sérvia declarasse guerra à Áustria. Eu alemães, ingleses e franceses acabassem, por força de alianças secretas, também declarando guerra e que, assim, a Europa e o mundo entrassem no maior pesadelo de todos os tempos, até então, a Grande Guerra, mais tarde chamada de A Primeira Guerra Mundial.

No que será que pensaram os meninos de Sarajevo sobre uma guerra que matou mais de 10 milhões de pessoas. Eu pela primeira vez vitimou mais civis que militares, utilizou armas químicas, aviões e submarinos como armas letais?

Nunca saberemos se eles morreram se sentindo culpados da guerra ou se perceberam que todo o cenário já estava montado, aguardando apenas a ordem de ação.

Sabemos apenas que Gavrilo Princip, por ser menor, não pode ser condenado à morte e que acabou morrendo tuberculoso na prisão de Theresienstadt, em 1918, quatro anos depois do atentado de Sarajevo, e, curiosamente, poucos dias depois do fim da Grande Guerra.

Princip e seus amigos deveriam ouvir os conselhos dos mais velhos quando de que, criança que brinca com fogo, acaba se queimando. Nesse caso, o incêndio foi maior que toda a Europa.

Prof. Péricles

Nenhum comentário: