sábado, 19 de julho de 2014

CEM ANOS DE TRINCHEIRAS


A Primeira Guerra Mundial, cuja data de início fez cem anos, recentemente, foi uma das maiores tragédias humanas da nossa história, e também, um dos fatos mais anunciados e previstos.

No século XIX ocorreu a segunda revolução industrial. Novas fontes de energia, máquinas cada vez mais rápidas e eficientes, provocaram uma superprodução de bens nunca antes vista na história do capitalismo.

Nunca se produziu tanto e a venda dessa produção prometia uma riqueza nunca antes imaginada.

Para isso, era fundamental vender. Ampliar o mercado consumidor virou obsessão de industriais, banqueiros, investidores e de seus representantes, os respectivos governos de seus países.

Junto a isso havia a “necessidade” de encontrar matéria-prima que fosse cada vez mais barata para serem transformadas no produto industrial.

O primeiro passo para o enriquecimento surreal que se previa fora os investimentos na criação de máquinas cada vez melhores. Ao mesmo tempo o pagamento de salários cada vez menores, a exploração da mão-de-obra infantil e do trabalho da mulher.

Num segundo momento ocorreu uma das mais indecentes e desumanas corridas que a história já assistiu. Uma corrida desenfreada de potências européias em direção aos territórios da África e da Ásia. Territórios ricos em matéria-prima e ocupados por povos divididos, governos regionalizados e defendidos por exércitos frágeis e mal equipados

Utilizando um pensamento asqueroso a quem alguém chamou de “Darwinismo social”, no qual os Europeus alegavam estarem levando o progresso aos povos primitivos do planeta, os países europeus empreenderam guerras de conquista que incluíram limpeza étnica e massacres incontáveis para dominar os territórios desses dois continentes. Esses crimes bárbaros, essa dominação violenta, são registrados na história como “neocolonização”.

Povos inteiros massacrados, espoliados, humilhados, expulsos de suas terras, em nome do progresso e do lucro do capital estrangeiro.

Do século XIX em diante as guerras não mais se dariam por fronteiras ou por direitos de coroa ou religião. Foram todas guerras por mercados.

Esse dinheiro sujo de sangue promoveu na Europa o luxo e o progresso que alguém denominou de “La Belle Époque”.

Agora, na virada do século XIX para o XX pairava um momento de grande expectativa.
A partilha pacífica tornava-se cada vez mais difícil diante de tantos interesses e de tanto dinheiro envolvido. Além disso, havia a Alemanha.

Esse país nasceu no final do século XIX a partir da concretização da idéia de criar “a pequena Alemanha” com a unificação dos estados germânicos, sem a Áustria. Oto Von Bismarck foi o artífice do sonho e idealizador da política que após três guerras bem planejadas, contra a Dinamarca, Áustria e frança, permitiram nascer uma nova nação no coração da Europa.

Mas, não era apenas uma nova nação, e sim, uma potência emergente que já surgiu com propostas bem concretas de ocupação de espaço e de conquistas de gordas fatias do já, disputadíssimo mercado.

O surgimento da Alemanha decretou um desequilíbrio definitivo entre as antigas potências.

Com os primeiros anos do século XX termina a Bela Época e se inicia um período tenebroso em que, apesar de não haver tiros, o cheiro da morte está no ar e era possível saber que a guerra estava próxima. A esse período denominamos “Paz Armada”.

Alianças secretas foram assinadas. Uma unia Inglaterra e França (arque inimigos, porém unidos pelo mesmo temor da Alemanha) e Rússia. Outra agrupava Alemanha e Itália (recém nascidos que se sentiam excluídos da partilha) e Áustria-Hungria.

O início da Grande Guerra foi antecedido por uma intensa campanha da mídia (sempre ela) que visava convencer os cidadãos de que a guerra era necessária. Não eram os interesses de industriais e banqueiros que estavam em jogo. Mas da pátria.

Na Inglaterra chegou-se a ouvir o discurso de que, não haveria um só inglês que não fosse beneficiado com a derrota da Alemanha numa guerra direta.

Na França o discurso nacionalista e revanchista contra uma guerra perdida em 1871 para essa mesma Alemanha, alimentava a imaginação de uma guerra inevitável.

Uma guerra que, diziam, seria rápida, quase a tempo de retornar para as aulas do colégio no ano seguinte.

Daí termos um acontecimento inédito na história das nações. A I Guerra Mundial não teve uma causa direta, específica. O assassinato do arquiduque da Áustria-Hungria em visita a Sarajevo, capital da Bósnia Herzegovina por estudantes sérvios, é apontado como causa. Mas, um assassinato político, seguido da prisão dos seus responsáveis jamais justificaria uma guerra mundial. A menos que, ela já estivesse preparada, apenas aguardando um sinal.

Na verdade a causa da Guerra que matou milhões foi a cobiça, a ambição e amor ao lucro e ao poder de gente que, não morreu na guerra, porque quem morre na guerra, não são os ricos e seus filhos, são os pobres, os trabalhadores, que, aliás, não tinham nada a ver com essa briga



Prof. Péricles

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