domingo, 17 de novembro de 2013
O SILÊNCIO FOI SEU TORMENTO
Qual será a maior intensidade da dor? Será aquela que dilacera o corpo e produz a agonia física?
Quem sabe seja a dor do espírito. Não dói o corpo, mas dói a alma.
Dores produzidas a partir de perdas.
Nesse caso, qual será a perda mais dolorosa ao espírito humano?
Talvez só quem perdeu aquilo que mais amava possa responder plenamente essa questão.
Pode ser que a resposta esteja com Ludwig van Beethoven, por exemplo.
Beethoven nasceu em 16 de dezembro de 1770, em Bonn, Alemanha.
Vovô van Beethoven era músico de talento reconhecido, tanto que era diretor de música da corte. Papai Beethoven Johann, também era músico, mas, de poucas luzes.
Mas era muito bom com o copo nosso papai Beethoven.
Johann (era seu nome) percebeu que o filho poderia ser uma mina de dinheiro. Embora ele próprio não tivesse talento podia reconhecer no filho algo de extraordinário e genial. Para garantir seu pé de meia obrigava o menino a estudar diariamente, por horas intermináveis. Beethoven não tinha tempo para brincar como as outras crianças e sua educação musical tinha aspectos de verdadeira tortura.
Desde os treze anos Ludwig ajudou no sustento da casa, já que o pai afundava-se
cada vez mais na bebida. Trabalhava como organista, cravista ensaiador do
teatro, músico de orquestra e professor, e assim precocemente assumiu a chefia
da família.
Apenas em 1792, aos 22 anos, pôde partir para a capital da música de sua época, Viena, sem sentir ter deixado algo incompleto para trás.
Aos 26 anos surgiram os primeiros sintomas de sua tragédia. Após uma dolorosa crise, buscou um médico que diagnosticou uma congestão dos centros auditivos internos. Tratou-se como pode, com inúmeras terapias, ervas, feitiços e na busca de um milagre, mas o mal era crescente, amadurecia com ele e cada vez silenciava mais o seu mundo. Apenas, em 1806, revelou o problema, publicamente, numa frase escrita nos esboços do Quarteto no. 9, que parece murmurada por uma terceira pessoa: "Não guardes mais o segredo de tua surdez, nem mesmo em tua arte!".
No terreno sentimental, uma paixão desesperadora por uma mulher casada. Uma felicidade impossível de um amor sem esperanças por Antonie von Birckenstock. Ludwig permaneceria solteiro, sonhando com Antonie, por toda sua vida.
Entre 1816 e 1819 passou por grande depressão e forte tendência suicida. Por que não se matou? Segundo ele mesmo, por causa de sua arte, que considerava uma missão. “Tenho dentro de mim obras que não são minhas, mas da humanidade, e que preciso exteriorizar a seus verdadeiros donos”.
Logo cria suas maiores obras-primas: as últimas sonatas para piano, as Variações Diabelli, a Missa Solene, a Nona Sinfonia e, principalmente, os últimos quartetos de cordas.
Enquanto pessoas de todas as idades e de todas as nacionalidades emocionam-se com a inspiração, força e romantismo de suas músicas, a Beethoven resta o silêncio.
Admirado, aplaudido, reconhecido no mundo inteiro, a Beethoven sobra um mundo em retalhos. Retalhos de sons, retalhos de amor, retalhos de realização.
No dia 26 de março de 1827, aos 56 anos, morreria Ludwig van Beethoven vítima de pneumonia e cirrose. Estava completamente surdo.
Gênio, artista de criatividade inimitável, Beethoven foi um homem que sofreu o supremo castigo, a dor que poucos sentiram de, fazer um mundo melhor e mais humano através do talento de sua música, que a todos emociona até hoje, prazer, entretanto, negado a ele próprio.
Uma terrível expiação.
Haverá dor maior?
Prof. Péricles
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