quarta-feira, 11 de julho de 2012
A FORÇA DA INDIGNAÇÃO
Mohandas Karamchand era um recém formado advogado. Contratado por uma empresa britânica não revelou muito talento, sendo inclusive criticado pela extrema timidez para falar em público. Foi, então, enviado para a África do Sul, onde deveria se incorporar ao escritório da tal empresa.
Segundo relato seu, durante a viagem foi abordado pelos funcionários da segurança do trem, pois estava ocupando um acento no vagão dos brancos e ele, apesar de não ser negro, tinha a cor da pela escurecida, típica dos indianos.
Anos depois desse fato, ao rememorá-lo ainda sentia a enorme humilhação que foi ser retirado aos empurrões e jogado no vagão dos negros, mesmo tendo nas mãos o bilhete referente à poltrona do vagão privado.
Sua indignação foi tremenda. Um vulcão em seu peito parecia querer explodir.
Humilhado, indignado, Mohandas, o homem jogado ao chão pelos “gentis” funcionários, morreria ali. E o que se ergueu, sob os cacos da dignidade partida, se tornaria o grande Mahatma Gandi, líder político de milhões de criaturas que conseguiu, de forma impressionante, mover o processo de independência de seu país, a Índia, sem usar a violência.
O advogado frustrado pela dificuldade em falar em público, sob a força da indignação se tornaria o líder de milhões e milhões, ouvido e respeitado por reis e presidentes, e até hoje admirado pelos amantes da paz.
O povo brasileiro, assim como Gandhi, ao longo dos séculos tem sido colocado no vagão dos excluídos. Os vagões luxuosos sempre reservados aos senhores do poder econômico, os senhores de engenho, os barões do café, os senhores do capital.
Acostumou assistir a marcha do trem através das frestas da história, espremido como gado e sem respeito, nem mesmo ao bilhete adquirido.
Talvez, por isso, hoje provoque tanta irritação nos homens do vagão de luxo, o fato dos excluídos da última classe estarem subindo para uma nova classe média cada vez mais politizada.
Na verdade, o medo dos barões, é que, finalmente o povo brasileiro use a força da indignação, não mais para justificar sua alienação, mas para tomar conta, definitivamente, do seu destino, da sua vida e do trem. Como Gandhi.
Prof. Péricles
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