quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
O MUNDO DE PÉRICLES - 2
Péricles foi o grande articulador da união das pólis sob a Liga de Delos. A ele foi depositada a confiança das demais cidades-estados tornando-o líder da Liga.
Teoricamente a Liga de Delos visava preparar os gregos militar e financeiramente para um novo ataque persa, dando continuidade às Guerras Médicas. Como esse ataque jamais ocorreu, Péricles usando todo seu talento de oratória, convenceu os membros da Liga a permitir o uso dos recursos para restaurar Atenas, em teoria, a mais atingida das cidades quando da última expedição dos persas.
A partir de então, Atenas conhecerá um período de incomparável explendor. Péricles e o escultor Fídias, seu amigo, embelezarão a cidade e darão fundamentos à construções que sobreviverão aos tempos, inclusive, o Partenom.
Em pouco tempo Péricles estabelece uma unificação monetária de todas as cidades de Delos, tendo o Dracma (moeda ateniense) como moeda única.
Prédios foram reconstruídos e o Porto de Atenas quase totalmente reformado.
Tais fatos elevarão Atenas sobre todas as outras cidades estados, levando os historiadores a identificar esse momento como de um imperialismo ateniense.
Obviamente isso atraiu a fúria e a inconformidade de Esparta que, além de não aderir à Liga de Delos, criara a sua própria Liga de cidades aliadas, a Liga do Peloponeso.
As Guerras do peloponeso, que se estenderiam de 431 a 404 a.C. seria a ruína da civilização grega. O fim da independência de seus povos e de todas as pólis, debilitadas, enfraquecidas pela guerra e finalmente conquistadas por Alexandre da Macedônia. E essa triste guerra que pôs fim à democracia ateniense e ao mundo grego teve, como causa mais profunda, a rivalidade das duas ligas, Peloponeso X Delos.
Em 430 a.C. o exército espartano atacou a Ática, porém Péricles manteve sua estratégia inicial de evitar o confronto direto com o exército espartano. Buscando o combate onde Atenas era superior, no mar, liderou uma expedição naval para saquear a costa peloponésica, obrigando os espartanos a recuar.
No verão daquele mesmo ano, uma epidemia devastou a população ateniense. Provocava dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, febre, calafrio e manchas vermelhas. A maioria acredita tratar-se do Tifo, transmitida pelo piolho. O pânico embruteceu os cidadãos. A fome grassou pelo rompimento das rotas comerciais naturais. Inconformados com a penúria provocada pela epidemia, desencadeou-se uma onda de revolta entre a população contra Péricles.
Então, para se defender, Péricles pronunciou um discurso emocionado, histórico, e considerado uma oração monumental, da amargura de Péricles a ingratidão de seus compatriotas.
Sobre o estilo de vida de Atenas ele diria:
- "A liberdade que gozamos no nosso sistema de governo estende-se também para a nossa vida em sociedade. Nós não exercemos uma invejosa espionagem uns sobre os outros (...) embora toda esta liberalidade nas relações privadas não nos torne cidadãos que não respeitam as leis".
- "Na educação, enquanto nossos rivais são treinados desde o berço para a guerra, em Atenas vivemos exatamente como queremos, e, assim mesmo, estamos preparados sempre para enfrentar qualquer desafio".
- "Nós Atenienses somos capazes de opinar sobre todos os temas, e, ao invés de encararmos as discussões como um obstáculo para a ação, nós as consideramos como a preliminar indispensável para qualquer ação prudente e sábia".
- "Na generosidade também somos singulares. As amizades nós conquistamos fazendo favores e não os recebendo, e somente nós os atenienses, sem medo, outorgamos benefícios não por interesse e sim na expectativa da reciprocidade. Esta é a Atenas pela qual estes homens, na afirmação do seu desejo de não perdê-la, nobremente lutaram e morreram."
No início de 429 a.C Péricles comandou o exército de Atenas em importantes vitórias no terreno militar. Porém, no outono desse mesmo ano, sofreria o golpe que lhe seria fatal e decisivo. Seus dois filhos (com a primeira esposa), Páralo e Xantipo, morrem, vítimas da epidemia.
Péricles jamais se recuperaria desse golpe e, em tempo meteórico desceria todos os degraus da dor, até a morte.
Passou a ter longos períodos de silêncio e crises compulsivas de choro. Nem mesmo Aspásia conseguia trazer de volta o equilíbrio. Tornou-se comum vê-lo à noite, perambulando entre os doentes terminais vítimas da epidemia.
No final de abril de 429 a.C. aos 66 anos, Péricles morreu, também vítima da peste, como parece ter sido sua vontade.
Com sua morte os destinos de Atenas e os rumos da Guerra do Peloponeso estavam definitivamente traçados, embora ainda durasse alguns anos.
Atenas, sem sua liderança, foi derrotada por Esparta, que seria derrotada por Tebas, que seria, assim como todo mundo grego, conquistada pelos Macedônios em 395 a.C.
O grande historiador grego, Tucídides, assim falou na oração fúnebre de Péricles:
“Pois os homens só podem suportar ouvir os outros sendo louvados enquanto podem persuadir a si mesmos acerca de sua própria habilidade de igualar os atos que estão sendo narrados. Uma vez que este ponto seja ultrapassado, surge a inveja, e com ela a incredulidade.”
Prof. Péricles
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