sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

TRÊS JORNALISTAS

Em tempos de polêmica sobre a mídia, apresentamos a seguir três histórias de jornalistas que ajudaram, por bem ou por mal, a escrever a história do Brasil.

01) Morre o Jornalista, Cai Um Imperador.

Líbero Badaró, nasceu na Itália e mudou-se para o Brasil em 1826. Médico formado pelas Universidades de Turim e Pávia, mas era de escrever que gostava mais. No Brasil se radicou em São Paulo, fundou o jornal “O Observador Constitucional” tornando-se seu diretor e redator chefe. Liberalista, defendia causas populares e progressistas para sua época. Tornou-se crítico voraz do primeiro imperador do Brasil. Noticiou e comentou com entusiasmo os acontecimentos da Revolução de 1830 em Paris, defendendo que D. Pedro I era figura política autoritária, idêntica ao deposto Carlos X.

As 22 hs. do dia 20 de novembro de 1830, quando voltava pra casa na rua de São Sepé (hoje rua Líbero Badaró) foi cercado por quatro elementos e fuzilado com um tiro fatal de bacamarte. Segundo testemunhas antes de morrer teria dito “morro defendendo a liberdade”.

A morte do jornalista italiano causou uma comoção em São Paulo, onde 5 mil pessoas compareceram ao enterro, e no restante do país.
D. Pedro I foi responsabilizado pela morte (apenas uma pessoa foi presa, porém logo libertada) e esse foi um forte componente na crise política que derrubou o imperador que abdicou em 07 de abril de 1831.

02) O Atentado que Feriu o País.

Carlos Lacerda fundou o jornal “Tribuna da Imprensa” em 1949. Esse talentoso jornalista e orador foi vereador, deputado e Governador da Guanabara. Mas, seu sonho mesmo, era ser presidente. O problema é que para ser presidente ele deveria enfrentar uma eleição nacional e vencê-la, e isso, parecia não agradar Lacerda, um golpista nato, que tentou impedir a posse de JK, foi pivô da crise que levou Getúlio Vargas ao suicídio, apoiou Jânio Quadros e depois tentou derrubá-lo, e, finalmente, foi um dos articuladores do golpe militar de 1964, embora tenha sido rejeitado posteriormente pelo regime. É mole, ou quer mais?

No dia 5 de agosto de 1954, quando retornava para casa na Rua Toneleros, acompanhado do amigo major-aviador Rubens Florentino Vaz, Carlos Lacerda sofreu um atentado a tiros. Como saldo do atentado o Major morreu e Lacerda ficou ferido, com um tiro no pé. O raciocínio da época foi o seguinte: Lacerda, líder da UDN (partido de oposição ao presidente Getúlio Vargas) e jornalista tagarela que diariamente atacava o presidente em seu jornal “Tribuna da Imprensa” e assim, encarnara o anti-getulismo, sofrera um atentado à bala. Quem seria o mentor? Quem? Ula-la, ele mesmo, o próprio presidente seria o maior interessado em calar a boca do desafeto. O próprio Lacerda jogou lenha na fogueira e uma semana após o atentado já pedia, em seu jornal, a deposição do presidente da república.

Resultado? Na madrugada de 24 de agosto, ou seja, apenas 19 dias depois do tiroteio, o presidente Getúlio Dorneles Vargas se suicidava nas dependências do Palácio do Catete. Um tiro no peito que iria ter profundas conseqüências na história do Brasil.

03) O Jornalista do Suicídio Impossível

Em 1975 o regime militar mantinha-se em pé em terreno movediço. O governo Médice, período de maior terror do regime, havia acabado em 1974 e o novo General na presidência, Gen. Geisel, anunciava a abertura política, lenta e gradual de retorno à democracia. Isso exigia estratégia e atenção permanente para acomodar as “peças” no tabuleiro político, tanto os que pressionavam para o retorno à normalidade, como não desagradar a ala dura do regime que defendia mais tempo de ditadura. Geisel se equilibrava numa corda bamba e por isso seu governo é denominado de “pendular”, pois recheado de idas e vindas, entre o arbítrio e a abertura. Um fato que sacudiria a corda bamba foi a morte de um jornalista.

O jornalista Vladimir Herzog tinha então, 38 anos. Pai de sois filhos e diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, não era militante de nenhum partido político ou de qualquer organização de luta contra a ditadura.

No dia 24 de outubro de 1975, Herzog despediu-se da família com um “já volto e compareceu ao DOI-CODI de São Paulo para prestar depoimento sobre sua suposta proximidade com o PCB. No dia seguinte, 25 de outubro, em nota oficial desse órgão da repressão era anunciada a morte do Jornalista Vladimir Herzog por suicídio através de enforcamento na cela em que estava detido.

Para comprovar o fato, foram divulgadas na imprensa, fotos de Vladimir como supostamente havia sido encontrado pelos carcereiros. Para espanto de todos a foto mostrava Vladimir com a corda atada ao pescoço e a uma das grades, numa posição abaixo da própria altura. Para morrer por asfixia, o suicida teria que fazer muita força, sentado, abaixando a cabeça até o chão e não erguendo-a até a asfixia fazer seu trabalho. Considerando-se o instinto de sobrevivência, a patética foto mostrava a impossibilidade do enforcamento.

Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, novas fotos saídas dos abismos do terror, mostravam Vladimir Herzog nu, com a cabeça entre as mãos em evidente estado de perturbação própria dos torturados. O processo movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a morte de Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado.


Prof. Péricles

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