Roma foi o maior império da antiguidade. Unificou seu poder das ilhas da Bretanha às fronteiras da Índia, do Egito ao norte da África às terras próximas da Escandinávia. Este vasto Império explorou a exaustão o trabalho escravo. Havia escravos em Roma para todos os serviços e atividades, desde lecionar (sim, professores sempre foram escravos) até lutar e morrer para a diversão da platéia nos estádios. Desde que Roma caiu sob as patas dos cavalos dos “bárbaros” os historiadores consideraram o seguinte: a causa da queda do gigante foi... dos escravos. Sim, foi o excesso de escravos nas atividades remuneradas que fez crescer o desemprego entre a população livre, a inflação, etc., que por fim fez ruir o maior império do ocidente. Não foi a ganância, a vaidade, a exploração. Foram os escravos. Sugados até o bagaço ainda carregam para a eternidade a culpa do fim do mundo romano.
Na Idade Média, os grandes latifundiários compunham a nobreza. Junto com o clero, concentravam toda a riqueza da época: a posse da terra. Os pobres, os miseráveis, trabalhavam para os donos de terra de sol a sol, sem salário, sem sindicato, sem elogios, nem hora extra. Eram os servos. Uma espécie de escravo que não era escravo só porque não era um mero instrumento que pudesse ser comprado ou vendido, mas que no mais, vivia igual ou pior que o escravo romano do passado. Quando esse mundo pré-determinado pelo nascimento entrou em decadência, com pestes mortais, fome e guerras infindáveis, os analistas consideraram que a culpa foi... dos servos. Seu crescimento populacional sem ser acompanhado por mais terras para feudalizar, e a busca desses infelizes de uma vida melhor através do comércio provocaram a ruptura do mundo feudal.
Hoje, o capitalismo que até uma década atrás se pavoneava como o modelo social perfeito, vencedor de todas as disputas e cujos defensores chegaram a alardear o fim da história, esse capitalismo, como o conhecemos, agoniza. Potências econômicas no divã, não sabem o que fazer para conter a decadência de suas moedas, de seus valores, de suas economias de papel. No sufoco, buscam culpados e os culpados são... os pobres.
Sim, são as políticas públicas, os investimentos públicos em saúde, previdência, educação, transporte, em síntese, os gastos públicos renomeados de déficit público os culpados. Os pobres, claro, só podiam ser eles. A culpa não é do gasto excessivo em guerras. Nem são das falcatruas criadas nas instituições especulativas internacionais. Nem da especulação gananciosa e sem freios que nada cria além de uma neurótica rede de mentiras. Não. A culpa é do remédio gratuito. Do valor da aposentadoria. Do aposentado ainda com saúde para trabalhar. Das leis trabalhistas. A culpa é dos pobres.
Quando o presidente Obama injeta aquela avalanche de dinheiro “na economia” ele está investindo que dinheiro? O do contribuinte, e sabemos bem que a contribuição maior é a do pobre. Pra onde deveria ir? Para os investimentos públicos, lógico, pois nesse país, nem saúde pública gratuita existe. Mas pra onde realmente irá? Para os cofres bancários “salvar o sistema financeiro nacional”, ou seja, salvar os coitadinhos dos bancos que faliram vendendo imóveis que não existiam, publicando saldos de lucros mentirosos para vender suas ações na bolsa, na ciranda imoral das falcatruas.
Essa associação do “sistema financeiro” com “nacionalismo” foi o argumento usado para convencer os povos da necessidade da Primeira Guerra Mundial. Essa associação é indevida e mentirosa pois povo e banco não são, nunca foram e jamais serão a mesma coisa e jamais habitarão o mesmo barco.
O discurso do momento, repetido por todos os governantes, que faz eco em todos os meios de comunicação é esse: a culpa da crise é o déficit público, os gastos públicos.
Por favor, não caia nessa, mentira.
A culpa não é dos pobres.
Prof. Péricles
Um comentário:
Muito boa tua matéria Péricles, esclarece desde o início até os dias de hoje, a história me fascina, é nela que aprendemos como não errar novamente, quanto ao sistema bancário, não existe no mundo alguma coisa que de mais lucro que bancos, nem industria, nem comercio, nem manufaturas, nada dá mais dinheiro que banco. Bem colocado, a culpa é do pobre sempre, nunca de políticos corruptos, nem das falcatruas criadas por sistemas fantasmas. Que a paz esteja entre nós sempre.
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