Foi mais um ano de profundas mudanças e de agravamentos no plano internacional e de afirmações no terreno nacional.
Estaremos iniciando o último ano do resto de nossas vidas, como alguns dizem que os Mais profetizaram?
Não sei, mas, realmente, coisas incríveis andam acontecendo.
A UE – União Européia – o mais sólido bloco econômico do pós-guerra, agoniza. Sua moeda única, o Euro está anêmica, perdendo força, e aparentemente não existe remédio para seu desbotamento. Sete chefes de estado perderam o emprego por causa da crise: Islândia, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia, Itália e Espanha.
A “patricinha” Noruega conheceu o terror através... de um norueguês. Não foi muçulmano nem latino, mas um típico cidadão nórdico que matou dezenas de pessoas por, adivinhe, xenofobia.
O Planeta atingiu 7 bilhões de habitantes. Nunca tantos moraram no mesmo orbe. Talvez seja a era dos encontros, ou reencontros.
Outra grande notícia de 2011 foi a consolidação da “Primavera Árabe”. Iniciada na Tunísia ganhou corpo na Praça Tahir, no Egito e se espalhou, por mil turbantes! Quatro governos decapitados: Tunísia, Egito, Iêmen e Líbia (com intromissão decisiva do ocidente) e mais dois no balança mais não cai: Irã e Síria.
Dois caminhos agora se abrem para os árabes: substituir seus ditadores e junto velhos dogmas escravizantes, como os que humilham a mulher, avançando no campo democrático e dos direitos humanos ou mergulhar ainda mais profundamente no fundamentalismo. Que a “Fraternidade Islâmica” do Egito vacile e que as mulheres sejam ágeis no mundo de Alá. Oremos, de preferência voltados para Meca.
Aqui seguimos redescobrindo nossa dignidade. Negamos, soberanamente, a extradição de Battisti e ampliamos o leque das parcerias comerciais. O Brasil descobriu que existe vida além dos Estados Unidos.
Informações da própria Europa acusam que nossa economia já é a 6ª do Mundo, superando a Grã-Bretanha. Agora só falta lutar para que tamanha riqueza seja melhor distribuída entre os brasileiros, pois não podemos esquecer que nossos pobres continuam tão pobres como os pobres de Serra Leoa, o menor PIB do mundo.
Iniciamos esse ano uma nova experiência criando esse Blog. Experiência humilde que tinha inicialmente a única pretensão de ser útil na complementação dos estudos dos nossos alunos.
Ao longo dos 9 meses de existência, porém, ele foi recebendo mais e mais visitantes de fora do espaço de aula. Acabou se espalhando e hoje, felizmente, faz parte dos “favoritos” de muita gente. Graças a vocês alguns de nossos textos já não nos pertencem, criando vida própria e fazendo parte do domínio público.
Se isso nos traz alegria e incentivo, traz também maior responsabilidade e intensifica nossa dedicação e comprometimento.
Agradecemos por todo o apoio. Agradecemos nossos alunos, colegas, amigos e amigas que nos prestigiaram.
Esperamos contar com todos em 2012, além de ampliar nossas amizades... em quanto houver tempo.
Assim como esperamos pelo fim da tortura no Brasil. Não da tortura dos porões da repressão, como nos tempos do AI-5, mas da tortura da fome, da miséria e do maior mal de todos os povos, a solidão.
Esperamos por um mundo melhor, por um Brasil melhor que melhore pelos méritos da participação de seu povo e não por “milagres” caídos do céu, pois, como diz Padre Quevedo, “isso nom ecxiste”.
Que os que venderam o Brasil por ninharias, em privatarias formuladas na calada da noite sejam reconhecidos e execrados como merecem.
E que o Grêmio volte a ser o grande campeão que sempre foi.
A todos, um brinde, e feliz 2012!
Prof. Péricles
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
O REI DO SERTÃO
Pernambucano, ele nasceu em 4 de junho de 1898 na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, no nordeste semiárido e semiárida seria sua alma durante toda a vida.
Dizem que quando ele nasceu nenhuma ave do céu cantou em respeitoso silêncio, pelo nascimento de um Rei.
Sempre chamou a atenção seu estranho gosto pela leitura. Afinal, o que lê um menino condenado pela condição de pobre no sertão nordestino? Seria ele um feiticeiro? Teria poderes no olhar para juntar as letras e entender o que diziam?
Até os 21 anos de idade seus óculos eram citados como uma estravagância... “coisa de quem sabe ler”, cochichavam.
Naquelas terras onde o ódio deixa rastro no chão abrasado e onde a propriedade, por menor que seja, é dádiva e também tragédia por atrair a cobiça, sua família travava uma disputa angustiante com outras famílias locais, tidas como honradas.
Onde a Casa Grande dita as normas e a Senzala ainda vive nas almas, seu pai acabou morto em confronto com a polícia, a soldo das famílias honradas, em 1919.
Virgulino não teve tempo de chorar, pois no sertão a seca as vezes é nos olhos. Jurou vingança com a mesma serenidade com que virava uma página de seus livros.
E a vingança não tardou.
O jovem menino de pele queimada de sol, queimaria a bala, um a um os assassinos de seu pai. Não houve tocaia, armamento, bandoleiro ou suborno que aplacasse sua fúria. Da família rival sobreviveram apenas as mulheres e crianças, junto com os que nada tinham a ver com a pendenga.
Virou lenda. Mas teve que fugir.
Nos 19 anos seguintes (até os 40 anos de idade), o menino leitor se tornaria Lampião. Junto com seu bando viveria em nomadismo pelas estradas e picadas do sertão. Superando o sol impassível e os espinhos da caatinga perambulou pela pobreza de sete estados do Brasil, dos anos 20 e 30. Terra de abandonados e, miseráveis que não possuindo nem o direito de ter heróis de forma clandestina fariam daquele cangaceiro de pele rachada e pobre como eles mesmos, o seu herói, seu super-homem.
Lampião virou mito. Foi rei, mas, além disso, foi herói. Um herói transfigurado como fora Batista Campos no Pará ou Raimundo Jutai, o Cara Preta, no Maranhão, um século antes, no imaginário de um povo sofrido, só compreendido pelo carcará.
Foi um dos maiores estrategistas de combate do Brasil. Líder natural, disciplinador e leal a seus homens e seus juramentos, Lampião usou e abusou das táticas de guerrilha para desmoralizar o exército brasileiro.
Até os coronéis à ele se curvariam, e o próprio poder público o requereu para combater a Coluna Prestes, outro expoente da guerrilha.
Sua namorada, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, foi sua rainha. Assim como as demais mulheres do grupo, participou de muitas das ações do bando. Maria Bonita, Maria mulher, Maria como tantas Marias do Brasil.
Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Há ainda a informação controversa de que eles tiveram mais dois filhos: os gêmeos Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, mas nunca foi comprovada a veracidade da informação.
Calcula-se que por volta das 5:15 da manhã, do dia 28 de julho de 1938, quando despertavam para um novo dia, Lampião, Maria Bonita e seu bando foram covardemente massacrados pelos macacos (policiais), na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Não houve nenhuma possibilidade de resistência e quase todos morreram sem nem tocar em suas armas.
Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida (seria degolada, ainda viva).
Para os poderosos herdeiros das Casas Grandes nordestinas, Lampião foi o terror.
Para os historiadores é símbolo do chamado “Banditismo Social” característico da América Latina na primeira metade do século. Um banditismo que mistura questões de latifúndio com ausência do estado e situação de abandono nas camadas mais pobres.
Para o povo ele é apenas o Capitão Virgulino, o Lampião. Rebelde e Robin Hood. Mas sempre e simplesmente Virgulino, um pobre menino que sabia ler.
Prof. Péricles
Dizem que quando ele nasceu nenhuma ave do céu cantou em respeitoso silêncio, pelo nascimento de um Rei.
Sempre chamou a atenção seu estranho gosto pela leitura. Afinal, o que lê um menino condenado pela condição de pobre no sertão nordestino? Seria ele um feiticeiro? Teria poderes no olhar para juntar as letras e entender o que diziam?
Até os 21 anos de idade seus óculos eram citados como uma estravagância... “coisa de quem sabe ler”, cochichavam.
Naquelas terras onde o ódio deixa rastro no chão abrasado e onde a propriedade, por menor que seja, é dádiva e também tragédia por atrair a cobiça, sua família travava uma disputa angustiante com outras famílias locais, tidas como honradas.
Onde a Casa Grande dita as normas e a Senzala ainda vive nas almas, seu pai acabou morto em confronto com a polícia, a soldo das famílias honradas, em 1919.
Virgulino não teve tempo de chorar, pois no sertão a seca as vezes é nos olhos. Jurou vingança com a mesma serenidade com que virava uma página de seus livros.
E a vingança não tardou.
O jovem menino de pele queimada de sol, queimaria a bala, um a um os assassinos de seu pai. Não houve tocaia, armamento, bandoleiro ou suborno que aplacasse sua fúria. Da família rival sobreviveram apenas as mulheres e crianças, junto com os que nada tinham a ver com a pendenga.
Virou lenda. Mas teve que fugir.
Nos 19 anos seguintes (até os 40 anos de idade), o menino leitor se tornaria Lampião. Junto com seu bando viveria em nomadismo pelas estradas e picadas do sertão. Superando o sol impassível e os espinhos da caatinga perambulou pela pobreza de sete estados do Brasil, dos anos 20 e 30. Terra de abandonados e, miseráveis que não possuindo nem o direito de ter heróis de forma clandestina fariam daquele cangaceiro de pele rachada e pobre como eles mesmos, o seu herói, seu super-homem.
Lampião virou mito. Foi rei, mas, além disso, foi herói. Um herói transfigurado como fora Batista Campos no Pará ou Raimundo Jutai, o Cara Preta, no Maranhão, um século antes, no imaginário de um povo sofrido, só compreendido pelo carcará.
Foi um dos maiores estrategistas de combate do Brasil. Líder natural, disciplinador e leal a seus homens e seus juramentos, Lampião usou e abusou das táticas de guerrilha para desmoralizar o exército brasileiro.
Até os coronéis à ele se curvariam, e o próprio poder público o requereu para combater a Coluna Prestes, outro expoente da guerrilha.
Sua namorada, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, foi sua rainha. Assim como as demais mulheres do grupo, participou de muitas das ações do bando. Maria Bonita, Maria mulher, Maria como tantas Marias do Brasil.
Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Há ainda a informação controversa de que eles tiveram mais dois filhos: os gêmeos Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, mas nunca foi comprovada a veracidade da informação.
Calcula-se que por volta das 5:15 da manhã, do dia 28 de julho de 1938, quando despertavam para um novo dia, Lampião, Maria Bonita e seu bando foram covardemente massacrados pelos macacos (policiais), na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Não houve nenhuma possibilidade de resistência e quase todos morreram sem nem tocar em suas armas.
Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida (seria degolada, ainda viva).
Para os poderosos herdeiros das Casas Grandes nordestinas, Lampião foi o terror.
Para os historiadores é símbolo do chamado “Banditismo Social” característico da América Latina na primeira metade do século. Um banditismo que mistura questões de latifúndio com ausência do estado e situação de abandono nas camadas mais pobres.
Para o povo ele é apenas o Capitão Virgulino, o Lampião. Rebelde e Robin Hood. Mas sempre e simplesmente Virgulino, um pobre menino que sabia ler.
Prof. Péricles
sábado, 24 de dezembro de 2011
AUTO DE NATAL
Vocês conhecem Jesus cristo,
Aquele que nasceu na manjedoura
De um acampamento palestino
De um assentamento do MST
Conviveu com os pobres,
Os fracos, desesperados e suicidas
E viveu toda a sua vida
Correndo sério risco?
Pois ele está aqui, agora, entre nós
Para mais uma vivencia sobre sua palavra e luz
Humanista, humanitária, humanizadora
Com seu olhar atento, atencioso, acalentador
Na construção de tantos bairros libertos
E suas populações libertas da miséria.
(...)
Um cristo dos direitos humanos
Cristo de um povo atento
Mesmo errante
Povo que se achou no meio de suas lutas
Um povo de luta
Contra suas misérias, vaidades, hipocrisias
E calamidades sociais.
Venham, venham ver
O cristo que voltou!
O cristo resistente que, em verdade
Nunca saiu daqui
Nunca nos abandonou
Nunca morreu
Nunca se evaporou.
(...)
Este é o seu reino:
Um cristo sem igrejas
Sem templos, seitas, bolsa de valores
Do livre comércio da fé
Um cristo das ruas
Amigo das Marias Nuas
Sem propriedade de ninguém.
(...)
Cristo somos todos nós!
Negros e brancos
Índios e ciganos
Palestinos e judeus
Comunistas e socialistas
De povos em fé
Na sua busca pela liberdade
Na construção das democracias
Cristo pobre
Cristo miserável
Morando, vivendo e morrendo
Nas favelas do mundo
Faminto, subnutrido
Desempregado e sem teto
Indignado com as balas perdidas
(...)
Um cristo revoltado
Um cristo palestino
Um pobre cristo menino
Sem pão, sem terra
E sem liberdade.
É este o Cristo que nos ensinaram
E que levamos com o nosso coração aberto
Para nossas vidas famintas
Nossas famílias aflitas
Nossa esperança em luta
Contra todas as injustiças
Pedro Osmar
Poeta, músico e dramaturgo
_______________________________________________
Cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro
Aquele que nasceu na manjedoura
De um acampamento palestino
De um assentamento do MST
Conviveu com os pobres,
Os fracos, desesperados e suicidas
E viveu toda a sua vida
Correndo sério risco?
Pois ele está aqui, agora, entre nós
Para mais uma vivencia sobre sua palavra e luz
Humanista, humanitária, humanizadora
Com seu olhar atento, atencioso, acalentador
Na construção de tantos bairros libertos
E suas populações libertas da miséria.
(...)
Um cristo dos direitos humanos
Cristo de um povo atento
Mesmo errante
Povo que se achou no meio de suas lutas
Um povo de luta
Contra suas misérias, vaidades, hipocrisias
E calamidades sociais.
Venham, venham ver
O cristo que voltou!
O cristo resistente que, em verdade
Nunca saiu daqui
Nunca nos abandonou
Nunca morreu
Nunca se evaporou.
(...)
Este é o seu reino:
Um cristo sem igrejas
Sem templos, seitas, bolsa de valores
Do livre comércio da fé
Um cristo das ruas
Amigo das Marias Nuas
Sem propriedade de ninguém.
(...)
Cristo somos todos nós!
Negros e brancos
Índios e ciganos
Palestinos e judeus
Comunistas e socialistas
De povos em fé
Na sua busca pela liberdade
Na construção das democracias
Cristo pobre
Cristo miserável
Morando, vivendo e morrendo
Nas favelas do mundo
Faminto, subnutrido
Desempregado e sem teto
Indignado com as balas perdidas
(...)
Um cristo revoltado
Um cristo palestino
Um pobre cristo menino
Sem pão, sem terra
E sem liberdade.
É este o Cristo que nos ensinaram
E que levamos com o nosso coração aberto
Para nossas vidas famintas
Nossas famílias aflitas
Nossa esperança em luta
Contra todas as injustiças
Pedro Osmar
Poeta, músico e dramaturgo
_______________________________________________
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
A CARTA
“Brasil, 26 de julho de 1969
Aos meus filhos,
Vivo falando de vocês com meus companheiros, eles estão longe dos filhos
também e falam nos filhos deles. Um só é o desejo de todos nós, é que nossos filhos sejam revolucionários. O que é um revolucionário? È toda a pessoa que ama todos os povos, ama a Humanidade, tem uma imensa capacidade de amar, ama a justiça, a Igualdade. Mas ele tem de odiar também, odiar os que impedem que o revolucionário ame, porque é uma necessidade amar. Odiar aos que odeiam o povo, a Humanidade, a Justiça social. Odiar aos que dominam e exploram o povo, odiar aos que corrompem, ameaçam e alienam as mentes, aos que degradam a Humanidade, aos injustos, falsos, demagogos, covardes.
O revolucionário ama a Paz, faz a guerra como instrumento para Ter a Paz, a
Paz justa, sem exploração do homem pelo homem. O revolucionário tem que ser
capaz de todos os sacrifícios pela causa, de até se separar dos seus filhos
para libertar todos os filhos, de se separar dos pais porque outros pais
precisam dele. Quando vocês sentirem saudades de mim, lembrem-se que aqui no Brasil existem muitas crianças que passam fome, que andam descalças, sem
escolas, que sofrem e vêem seus pais sofrerem.
Lembram-se quando conversei com vocês no quarto e pedi a vocês que deixassem eu lutar para acabar com isso. Eu lembro bem que a Claudinha bateu palmas e o Cesar disse: " Muito bem, papai". Combinamos que tínhamos de ficar longe um do outro, e que guardaríamos no coração a esperança de nos encontrarmos novamente.
(...) Amem muito a mamãe, eu não posso beijá-la, todos os dias beijem
duas vezes a ela, uma vez por mim. Tenho tantas saudades de vocês, mas não
choro, não beijo fotografias, encho o peito de ar e pego firme no meu
trabalho. Penso em vocês e em todas as crianças, então ganho forças para
lutar. Quando sentirem saudades, então estudem mais, perguntem tudo que não
entenderem, perguntem sempre o porquê das coisas- perguntar e pensar- ver se é certo, se não for, falem, discutam- ver se é justo, se não for, lutem para mudar.
Sejam disciplinados, façam somente o que for certo, justo. Ser disciplinado não é ser obediente, quem obedece tudo sem pensar não presta.
Como vai o treinamento de tiro? Não se esqueçam de colocar algodão no
ouvido, e também de olhar sempre pra mira e puxar o gatilho bem devagar. Já
mandaram consertar a pistola de ar comprimido? Espero que pratiquem corrida, natação e todos os jogos. Alimente-se bem, vocês que tanto gostam de frutas devem estar satisfeitos, aí ninguém passa fome (...)
Como vai o jogo de botão? Você, Cesar, tem ensinado aos meninos? Seguem
junto 29 bolinhas de cortiça, que fiz treinando a paciência, que eu tinha
pouco, é preciso ser paciente, sem ser passivo, claro.
E você Claudinha, continua fazendo discursos? Como eu gostava, você vai ser
uma grande agitadora.
Cuidem bem dos dentes para que possam mastigar bem. Não se esqueçam de
cantar e dançar. O Cesar gosta muito de desenhar e a Claudia de pintar,
procurem praticar bastante, procurem criar, não imitem ninguém.
Não chamem ninguém de senhor porque ninguém é senhor de ninguém. Mas ouçam
os mais velhos e procurem fazer coisas melhor que eles, porque tudo que é
novo é superior ao velho. Respeitem os mais velhos, mas exijam que respeitem vocês- exijam mesmo.
Contei para os companheiros que o Cesinha usava nome de guerra e eles
acharam engraçado. Já usei o nome Cesar mas tive de mudar.
Não sei como acabar essa carta porque é como se estivesse conversando com
vocês. Espero receber uma carta de vocês, se não for possível, continuarei
pensando muito em vocês.
A maior alegria que vocês podem me dar é aproveitar muito o estudo,
preparando-se para fazer a Revolução em qualquer país. Muitos beijos para a
minha esposa querida e meus filhos, com todo amor, cheio de saudades”.
Carlos Lamarca
Militar apontado como jóia rara do exercito brasileiro, Lamarca jamais aceitou o golpe de 64 que considerava um ataque à democracia.
Desertou do exército onde era paparicado e entrou na clandestinidade levando consigo farto material militar para ser usado na guerrilha.
Lutou contra a Ditadura militar de 1969 até sua morte em 1971.
Foi o inimigo mais odiado pelos militares a ponto de até hoje seu nome provocar irritação e desconforto entre militares.
Seu nome foi raspado da Pedra em que figurava como um dos formandos do Colégio Militar de Porto Alegre.
Foi membro dirigente da VPR e morreu pouco depois de se transferir para o MR-8.
Defendia a luta de guerrilha rural como única forma de derrotar as forças armadas convencionais, mas, não obeteve o apoio esperado numa época em que a maioria das organizações apostava na guerrilha urbana.
Foi um dos líderes da embrião de Guerrilha no Vale do Ribeira (onde escapou espetacularmente de um cerco numeroso) e do famoso assalto ao Cofre do Ademar.
Doente, foi morto praticamente sem poder reagir em 17 de setembro de 1971, aos 33 anos, na zona agreste baiana, no município de Ipupiara, após cerco militar que contou com milhares de homens do exército, aeronáutica e organismos da repressão.
A mulher de Lamarca, Yara Iavelberg, fora morta dias antes, em circunstâncias não esclarecidas, em um apartamento em Salvador (BA).
Os filhos ainda guardam as cartas do pai.
Prof. Péricles
Aos meus filhos,
Vivo falando de vocês com meus companheiros, eles estão longe dos filhos
também e falam nos filhos deles. Um só é o desejo de todos nós, é que nossos filhos sejam revolucionários. O que é um revolucionário? È toda a pessoa que ama todos os povos, ama a Humanidade, tem uma imensa capacidade de amar, ama a justiça, a Igualdade. Mas ele tem de odiar também, odiar os que impedem que o revolucionário ame, porque é uma necessidade amar. Odiar aos que odeiam o povo, a Humanidade, a Justiça social. Odiar aos que dominam e exploram o povo, odiar aos que corrompem, ameaçam e alienam as mentes, aos que degradam a Humanidade, aos injustos, falsos, demagogos, covardes.
O revolucionário ama a Paz, faz a guerra como instrumento para Ter a Paz, a
Paz justa, sem exploração do homem pelo homem. O revolucionário tem que ser
capaz de todos os sacrifícios pela causa, de até se separar dos seus filhos
para libertar todos os filhos, de se separar dos pais porque outros pais
precisam dele. Quando vocês sentirem saudades de mim, lembrem-se que aqui no Brasil existem muitas crianças que passam fome, que andam descalças, sem
escolas, que sofrem e vêem seus pais sofrerem.
Lembram-se quando conversei com vocês no quarto e pedi a vocês que deixassem eu lutar para acabar com isso. Eu lembro bem que a Claudinha bateu palmas e o Cesar disse: " Muito bem, papai". Combinamos que tínhamos de ficar longe um do outro, e que guardaríamos no coração a esperança de nos encontrarmos novamente.
(...) Amem muito a mamãe, eu não posso beijá-la, todos os dias beijem
duas vezes a ela, uma vez por mim. Tenho tantas saudades de vocês, mas não
choro, não beijo fotografias, encho o peito de ar e pego firme no meu
trabalho. Penso em vocês e em todas as crianças, então ganho forças para
lutar. Quando sentirem saudades, então estudem mais, perguntem tudo que não
entenderem, perguntem sempre o porquê das coisas- perguntar e pensar- ver se é certo, se não for, falem, discutam- ver se é justo, se não for, lutem para mudar.
Sejam disciplinados, façam somente o que for certo, justo. Ser disciplinado não é ser obediente, quem obedece tudo sem pensar não presta.
Como vai o treinamento de tiro? Não se esqueçam de colocar algodão no
ouvido, e também de olhar sempre pra mira e puxar o gatilho bem devagar. Já
mandaram consertar a pistola de ar comprimido? Espero que pratiquem corrida, natação e todos os jogos. Alimente-se bem, vocês que tanto gostam de frutas devem estar satisfeitos, aí ninguém passa fome (...)
Como vai o jogo de botão? Você, Cesar, tem ensinado aos meninos? Seguem
junto 29 bolinhas de cortiça, que fiz treinando a paciência, que eu tinha
pouco, é preciso ser paciente, sem ser passivo, claro.
E você Claudinha, continua fazendo discursos? Como eu gostava, você vai ser
uma grande agitadora.
Cuidem bem dos dentes para que possam mastigar bem. Não se esqueçam de
cantar e dançar. O Cesar gosta muito de desenhar e a Claudia de pintar,
procurem praticar bastante, procurem criar, não imitem ninguém.
Não chamem ninguém de senhor porque ninguém é senhor de ninguém. Mas ouçam
os mais velhos e procurem fazer coisas melhor que eles, porque tudo que é
novo é superior ao velho. Respeitem os mais velhos, mas exijam que respeitem vocês- exijam mesmo.
Contei para os companheiros que o Cesinha usava nome de guerra e eles
acharam engraçado. Já usei o nome Cesar mas tive de mudar.
Não sei como acabar essa carta porque é como se estivesse conversando com
vocês. Espero receber uma carta de vocês, se não for possível, continuarei
pensando muito em vocês.
A maior alegria que vocês podem me dar é aproveitar muito o estudo,
preparando-se para fazer a Revolução em qualquer país. Muitos beijos para a
minha esposa querida e meus filhos, com todo amor, cheio de saudades”.
Carlos Lamarca
Militar apontado como jóia rara do exercito brasileiro, Lamarca jamais aceitou o golpe de 64 que considerava um ataque à democracia.
Desertou do exército onde era paparicado e entrou na clandestinidade levando consigo farto material militar para ser usado na guerrilha.
Lutou contra a Ditadura militar de 1969 até sua morte em 1971.
Foi o inimigo mais odiado pelos militares a ponto de até hoje seu nome provocar irritação e desconforto entre militares.
Seu nome foi raspado da Pedra em que figurava como um dos formandos do Colégio Militar de Porto Alegre.
Foi membro dirigente da VPR e morreu pouco depois de se transferir para o MR-8.
Defendia a luta de guerrilha rural como única forma de derrotar as forças armadas convencionais, mas, não obeteve o apoio esperado numa época em que a maioria das organizações apostava na guerrilha urbana.
Foi um dos líderes da embrião de Guerrilha no Vale do Ribeira (onde escapou espetacularmente de um cerco numeroso) e do famoso assalto ao Cofre do Ademar.
Doente, foi morto praticamente sem poder reagir em 17 de setembro de 1971, aos 33 anos, na zona agreste baiana, no município de Ipupiara, após cerco militar que contou com milhares de homens do exército, aeronáutica e organismos da repressão.
A mulher de Lamarca, Yara Iavelberg, fora morta dias antes, em circunstâncias não esclarecidas, em um apartamento em Salvador (BA).
Os filhos ainda guardam as cartas do pai.
Prof. Péricles
domingo, 18 de dezembro de 2011
A REVOLTA DA CHIBATA, 101 ANOS
No dia 22 de novembro de 1910, um marinheiro da tripulação do encouraçado Minas Gerais era duramente castigado, conforme praxe, na época. O castigo era de 250 chibatadas na presença, como de costume, de todos os outros marujos. O jovem marinheiro desmaiou, mas, mesmo assim, os açoites continuaram. Mas não seriam concluídos...
Desta vez, a indignação tomaria forma de revolta. A mão do agressor foi estancada no último golpe pelos marujos, até então, contemplativos daquele absurdo. O que se seguiu entraria para a história como o nome de “A Revolta da Chibata”.
Os revoltosos mataram o comandante do navio e mais cinco oficiais, que resistiram. Já na Baía de Guanabara, outros marujos assumiram o controle dos navios São Paulo, Bahia e Deodoro. Dois mil marinheiros aderiram à revolta.
Dois anos antes, o marinheiro de primeira classe, João Cândido aproveitando a oportunidade de uma viagem à Inglaterra, em serviço, participara de reuniões sindicais de marinheiros ingleses. Além disso, conheceu os fatos históricos do motim dos marinheiros do encouraçado Potemkin de 1905. Quando retornou, João Cândido trazia consigo a idéia de acabar com os maus-tratos na marinha brasileira.
Nascido em Rio Pardo no Rio Grande do Sul, em 24 de junho de 1880 filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a corporação em 1894, aos 14 anos — época em que as Forças Armadas aceitavam menores e a Marinha, em particular, recrutava-os junto à polícia. Este não foi o caso de João Cândido. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Na manhã do dia 23 de novembro, sob a liderança de João Cândido Felisberto e com redação de Francisco Dias Martins, foi enviado um ultimato ao governo: Ou sediam às suas exigências (o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para os amotinados) ou bombardeariam a cidade do Rio de Janeiro e as outras embarcações não rebeladas.
A Marinha, inicialmente, apostou na inabilidade de simples marinheiros para manobrar as modernas embarcações sem o conhecimento técnico que tinham os oficiais. Boquiabertos perceberam que os amotinados possuíam positivamente a perícia e a habilidade necessárias. Esboçaram, então, um ataque com dois navios menores que foram postos a correr pelos rebelados.
Alguns tiros de advertência passaram raspando pelo Palácio do Catete (sede do Poder Executivo) e o presidente, recém empossado, Hermes da Fonseca resolveu blefar e anunciou que aceitava todas as exigências.
Os marinheiros confiaram na palavra do presidente, mas depois de entregarem as armas e abandonarem os navios, foram presos.
Dezoito dos principais líderes dos marinheiros envolvidos na ação foram jogados numa solitária do Batalhão Naval, na Ilha das Cobras. Antes de encarcerá-los, o pequeno catre que os receberia é "desinfetado", jogando-se baldes de água com cal. Nos quentes dias de Dezembro, a água evapora e a cal começa a penetrar nos pulmões dos prisioneiros. Sob os gritos lancinantes de dor, as ordens são claras: a porta deve permanecer trancafiada. É aberta, ao que se sabe, apenas no dia 26 de Dezembro. Naquela sala de horrores, dos dezoito marinheiros ali trancafiados, dezesseis estão mortos, alguns já podres. João Cândido sobrevive. Apenas ele e um outro marinheiro saem vivos, ainda que muito mal, daquele desafio infernal.
Todavia, os 59 anos de vida que teria pela frente após estes momentos de glória e de terror seriam árduos. Banido da Marinha, com uma tuberculose que o acompanhou durante os seus oitenta e nove anos de vida, teve de lutar muito pela sobrevivência. Trabalhou fazendo bicos em navios de carga, que logo tratavam de despedi-lo se descobriam quem era. Ganhou por muito tempo a vida na estiva, descarregando peixes na Praça XV, no Rio de Janeiro. Mesmo velho, pobre e doente, permaneceu sempre sob as vistas da Polícia e do Exército, por ser considerado um "subversivo" e perigoso "agitador".
"Nós queríamos combater os maus-tratos, a má alimentação (...). E acabar com a chibata, o caso era só este" — declarou João Cândido, em 1968, em depoimento ao Museu de Imagem e do Som.
Apesar de traída e esmagada, a Revolta da Chibata provocou profundas modificações na Marinha Brasileira, e nunca mais, nenhum marinheiro sofreu castigos físicos e humilhantes.
Em 1973 Aldir Blanc e João Bosco fizeram uma música em homenagem a João Cândido, o Almirante Negro. Sem dúvida uma das mais belas letras da música brasileira, a canção sofreria forte censura, sendo liberada apenas com três modificações na letra original.
Abaixo temos essa magistral composição, que foi interpretada por João Bosco e Elis Regina, sem cortes:
Almirante Negro
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O Dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala,
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas,
Jovens polacas e por batalhões de mulatas.
Rubras cascatas jorravam das costas
Dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação,
Que a exemplo do marinheiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais.
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Prof. Péricles
Agradecemos à colaboração do colega “musical” Eduardo Xavier
Desta vez, a indignação tomaria forma de revolta. A mão do agressor foi estancada no último golpe pelos marujos, até então, contemplativos daquele absurdo. O que se seguiu entraria para a história como o nome de “A Revolta da Chibata”.
Os revoltosos mataram o comandante do navio e mais cinco oficiais, que resistiram. Já na Baía de Guanabara, outros marujos assumiram o controle dos navios São Paulo, Bahia e Deodoro. Dois mil marinheiros aderiram à revolta.
Dois anos antes, o marinheiro de primeira classe, João Cândido aproveitando a oportunidade de uma viagem à Inglaterra, em serviço, participara de reuniões sindicais de marinheiros ingleses. Além disso, conheceu os fatos históricos do motim dos marinheiros do encouraçado Potemkin de 1905. Quando retornou, João Cândido trazia consigo a idéia de acabar com os maus-tratos na marinha brasileira.
Nascido em Rio Pardo no Rio Grande do Sul, em 24 de junho de 1880 filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a corporação em 1894, aos 14 anos — época em que as Forças Armadas aceitavam menores e a Marinha, em particular, recrutava-os junto à polícia. Este não foi o caso de João Cândido. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Na manhã do dia 23 de novembro, sob a liderança de João Cândido Felisberto e com redação de Francisco Dias Martins, foi enviado um ultimato ao governo: Ou sediam às suas exigências (o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para os amotinados) ou bombardeariam a cidade do Rio de Janeiro e as outras embarcações não rebeladas.
A Marinha, inicialmente, apostou na inabilidade de simples marinheiros para manobrar as modernas embarcações sem o conhecimento técnico que tinham os oficiais. Boquiabertos perceberam que os amotinados possuíam positivamente a perícia e a habilidade necessárias. Esboçaram, então, um ataque com dois navios menores que foram postos a correr pelos rebelados.
Alguns tiros de advertência passaram raspando pelo Palácio do Catete (sede do Poder Executivo) e o presidente, recém empossado, Hermes da Fonseca resolveu blefar e anunciou que aceitava todas as exigências.
Os marinheiros confiaram na palavra do presidente, mas depois de entregarem as armas e abandonarem os navios, foram presos.
Dezoito dos principais líderes dos marinheiros envolvidos na ação foram jogados numa solitária do Batalhão Naval, na Ilha das Cobras. Antes de encarcerá-los, o pequeno catre que os receberia é "desinfetado", jogando-se baldes de água com cal. Nos quentes dias de Dezembro, a água evapora e a cal começa a penetrar nos pulmões dos prisioneiros. Sob os gritos lancinantes de dor, as ordens são claras: a porta deve permanecer trancafiada. É aberta, ao que se sabe, apenas no dia 26 de Dezembro. Naquela sala de horrores, dos dezoito marinheiros ali trancafiados, dezesseis estão mortos, alguns já podres. João Cândido sobrevive. Apenas ele e um outro marinheiro saem vivos, ainda que muito mal, daquele desafio infernal.
Todavia, os 59 anos de vida que teria pela frente após estes momentos de glória e de terror seriam árduos. Banido da Marinha, com uma tuberculose que o acompanhou durante os seus oitenta e nove anos de vida, teve de lutar muito pela sobrevivência. Trabalhou fazendo bicos em navios de carga, que logo tratavam de despedi-lo se descobriam quem era. Ganhou por muito tempo a vida na estiva, descarregando peixes na Praça XV, no Rio de Janeiro. Mesmo velho, pobre e doente, permaneceu sempre sob as vistas da Polícia e do Exército, por ser considerado um "subversivo" e perigoso "agitador".
"Nós queríamos combater os maus-tratos, a má alimentação (...). E acabar com a chibata, o caso era só este" — declarou João Cândido, em 1968, em depoimento ao Museu de Imagem e do Som.
Apesar de traída e esmagada, a Revolta da Chibata provocou profundas modificações na Marinha Brasileira, e nunca mais, nenhum marinheiro sofreu castigos físicos e humilhantes.
Em 1973 Aldir Blanc e João Bosco fizeram uma música em homenagem a João Cândido, o Almirante Negro. Sem dúvida uma das mais belas letras da música brasileira, a canção sofreria forte censura, sendo liberada apenas com três modificações na letra original.
Abaixo temos essa magistral composição, que foi interpretada por João Bosco e Elis Regina, sem cortes:
Almirante Negro
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O Dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala,
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas,
Jovens polacas e por batalhões de mulatas.
Rubras cascatas jorravam das costas
Dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação,
Que a exemplo do marinheiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais.
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Prof. Péricles
Agradecemos à colaboração do colega “musical” Eduardo Xavier
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
VÍTIMAS DA DITADURA 5 - LÁGRIMAS DE MÃE
Honestino Monteiro Guimarães era goiano de Itaberaí e foi casado com Isaura Botelho Guimarães, com quem teve a filha Juliana.
Com apenas 17 anos, passou no vestibular de 1965 para cursar Geologia na Universidade de Brasília, obtendo o primeiro lugar entre os vestibulandos de todos os cursos. Seu irmão relata que ele somou 257 pontos num total de 260, sendo que o segundo colocado estava 43 pontos atrás dele.
Foi presidente do Diretório Acadêmico da Geologia e foi eleito presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB).
Em 29/08/68, a violenta e desastrosa invasão policial do campus da Universidade de Brasília teve como um de seus objetivos localizar Honestino, que foi preso sob intensa pancadaria, enquanto os estudantes queimaram viaturas policiais, ocorrendo detenções em massa.
Passou a viver na clandestinidade, sendo dessa forma impedido de concluir os últimos três meses que faltavam para se formar geólogo.
Três dias antes da edição do AI-5, deixou Brasília e se escondeu em Goiânia. A mãe de Honestino relatou que, naquele período, sua casa chegou a ser invadida mais de dez vezes por agentes policiais. Numa dessas invasões de domicílio, Norton, o irmão mais novo de Honestino, de 18 anos, foi levado ao DOPS e, depois, ao Pelotão de Investigações Criminais do Exército, para revelar seu paradeiro.
Na luta para soltar Norton, o pai de Honestino ficou praticamente três noites sem dormir e, como conseqüência, dormiu ao volante no trânsito, morrendo em 17/12/1968.
Entre 1969 e 1972, Honestino viveu em São Paulo desempenhando as atividades de dirigente da UNE e militante da AP.
No final de 1972, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi preso pelo CENIMAR em 10/10/1973. Sua mãe o procurou por todos as unidades de segurança e chegou a obter a promessa de que poderia visitá-lo, no PIC de Brasília no Natal daquele ano, o que se comprovou ser mais um engodo.
Seu nome consta na lista de desaparecidos políticos, tinha 26 anos.
....................
Jeito suave de gesticular, o olhar terno e a voz aveludada provam que o tempo foi generoso com Maria Rosa Leite Monteiro, mãe de Honestino Guimarães.
Companheira de primeira hora do filho revolucionário, Dona Rosa, como prefere ser chamada, viu de perto quase todo tipo de injustiça. Uma mistura de mãe e militante.
Ela compartilhou também vitórias importantes. A memória emocional reservou mais espaço para as lembranças boas, nenhuma amargura. “Eu nunca chorei pelos cantos. Eu choro de alegria. Poucas vezes, choro de tristeza. E eu não tenho tristeza”, diz a senhora de 76 anos.
Nos momentos mais duros da ditadura, aprendeu a conciliar trabalho com maternidade.
Protegeu Honestino até o limite do impossível. Mesmo como diretora de colégio, Rosa fazia questão de ir a comícios organizados pelo filho. “Já que não consegui impedi-lo, resolvi acompanhá-lo”, recorda.
Durante a invasão da polícia na Universidade de Brasília (UnB), em 29 de agosto de 1968, Rosa não conseguiu chegar a tempo. “Havia muitos soldados armados. Não consegui entrar e não sabia se meu filho estava vivo ou morto”, completa.
Cheguei a falar para ele desistir da luta. Ele não deixava de ouvir, mas tinha os argumentos dele. Falava que tinha de ser feito, era uma missão. Ele me dizia: “Mamãe, e se todo mundo fugir? Quem é que fica? Quem é que vai defender?”. Eu disse a ele que se ficasse iria morrer. Ele me respondeu: “Eu prefiro viver pouco tempo aqui a viver no exterior. Lá eu estarei morto. Se eu morrer na minha pátria, morro feliz”. Ele era realmente brasileiro. Um dos motivos de eu estar aqui viva e forte até hoje é não deixar a luta dele morrer junto.
O dia anterior ao AI-5, 12 de dezembro de 1968, foi o dia em que ele ficou foragido. Foi para a clandestinidade. Meu marido estava no trabalho, ele trabalhava na W3 Norte e foi para Taguatinga, pois estávamos montando uma loja. Tínhamos ficado três noites sem dormir porque eles pegaram o Norton em casa e ficaram com ele três dias. Eles (o Exército) nos ligaram e mandaram a gente ir pegar o Norton. Fui buscá-lo. O Monteiro saiu cedo com o Norton para deixá-lo em proteção. E ainda ficou até tarde da noite, pois o serviço estava todo atrasado e estávamos perto do Natal. Dia 17. Atrasou o trabalho que ele estava fazendo na montagem da loja. Aí ele cochilou e bateu num caminhão e morreu na hora. E eles ainda se aproveitaram da situação para pegar o Honestino. O pai estava morto e no enterro havia muitos policiais à paisana. Honestino queria muito vir. Ele era apaixonado pelo pai. E não o deixaram vir. Mas seria até melhor porque assim ele seria preso na presença de todos e aí não poderiam matá-lo.
Mesmo depois de prenderem Honestino, ou melhor, depois de matarem. Eu nunca chorei pelos cantos. Eu choro de alegria. Poucas vezes eu choro de tristeza. E eu não tenho tristeza. Nossa vida não começou aqui e nem vai acabar aqui.
Se tivesse uma última chance de falar com ele, iria abraçá-lo, beijá-lo, fazer todas as coisas que ele gostava de fazer. A parte mais importante para mim do Honestino é ele, como filho. Embora, eu ache que o que ele deu ao Brasil foi muito grande e importante.
Até hoje, falo com Honestino. Não sou uma mãe chorosa. Eu não preciso querer ver meu filho, eu tenho meu filho. Eu estou aqui e é como se ele estivesse aqui com a gente, naquele retrato, olhando para nós. Para mim, morte não é morte.
Adaptado do Jornal "O Berro"
Com apenas 17 anos, passou no vestibular de 1965 para cursar Geologia na Universidade de Brasília, obtendo o primeiro lugar entre os vestibulandos de todos os cursos. Seu irmão relata que ele somou 257 pontos num total de 260, sendo que o segundo colocado estava 43 pontos atrás dele.
Foi presidente do Diretório Acadêmico da Geologia e foi eleito presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB).
Em 29/08/68, a violenta e desastrosa invasão policial do campus da Universidade de Brasília teve como um de seus objetivos localizar Honestino, que foi preso sob intensa pancadaria, enquanto os estudantes queimaram viaturas policiais, ocorrendo detenções em massa.
Passou a viver na clandestinidade, sendo dessa forma impedido de concluir os últimos três meses que faltavam para se formar geólogo.
Três dias antes da edição do AI-5, deixou Brasília e se escondeu em Goiânia. A mãe de Honestino relatou que, naquele período, sua casa chegou a ser invadida mais de dez vezes por agentes policiais. Numa dessas invasões de domicílio, Norton, o irmão mais novo de Honestino, de 18 anos, foi levado ao DOPS e, depois, ao Pelotão de Investigações Criminais do Exército, para revelar seu paradeiro.
Na luta para soltar Norton, o pai de Honestino ficou praticamente três noites sem dormir e, como conseqüência, dormiu ao volante no trânsito, morrendo em 17/12/1968.
Entre 1969 e 1972, Honestino viveu em São Paulo desempenhando as atividades de dirigente da UNE e militante da AP.
No final de 1972, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi preso pelo CENIMAR em 10/10/1973. Sua mãe o procurou por todos as unidades de segurança e chegou a obter a promessa de que poderia visitá-lo, no PIC de Brasília no Natal daquele ano, o que se comprovou ser mais um engodo.
Seu nome consta na lista de desaparecidos políticos, tinha 26 anos.
....................
Jeito suave de gesticular, o olhar terno e a voz aveludada provam que o tempo foi generoso com Maria Rosa Leite Monteiro, mãe de Honestino Guimarães.
Companheira de primeira hora do filho revolucionário, Dona Rosa, como prefere ser chamada, viu de perto quase todo tipo de injustiça. Uma mistura de mãe e militante.
Ela compartilhou também vitórias importantes. A memória emocional reservou mais espaço para as lembranças boas, nenhuma amargura. “Eu nunca chorei pelos cantos. Eu choro de alegria. Poucas vezes, choro de tristeza. E eu não tenho tristeza”, diz a senhora de 76 anos.
Nos momentos mais duros da ditadura, aprendeu a conciliar trabalho com maternidade.
Protegeu Honestino até o limite do impossível. Mesmo como diretora de colégio, Rosa fazia questão de ir a comícios organizados pelo filho. “Já que não consegui impedi-lo, resolvi acompanhá-lo”, recorda.
Durante a invasão da polícia na Universidade de Brasília (UnB), em 29 de agosto de 1968, Rosa não conseguiu chegar a tempo. “Havia muitos soldados armados. Não consegui entrar e não sabia se meu filho estava vivo ou morto”, completa.
Cheguei a falar para ele desistir da luta. Ele não deixava de ouvir, mas tinha os argumentos dele. Falava que tinha de ser feito, era uma missão. Ele me dizia: “Mamãe, e se todo mundo fugir? Quem é que fica? Quem é que vai defender?”. Eu disse a ele que se ficasse iria morrer. Ele me respondeu: “Eu prefiro viver pouco tempo aqui a viver no exterior. Lá eu estarei morto. Se eu morrer na minha pátria, morro feliz”. Ele era realmente brasileiro. Um dos motivos de eu estar aqui viva e forte até hoje é não deixar a luta dele morrer junto.
O dia anterior ao AI-5, 12 de dezembro de 1968, foi o dia em que ele ficou foragido. Foi para a clandestinidade. Meu marido estava no trabalho, ele trabalhava na W3 Norte e foi para Taguatinga, pois estávamos montando uma loja. Tínhamos ficado três noites sem dormir porque eles pegaram o Norton em casa e ficaram com ele três dias. Eles (o Exército) nos ligaram e mandaram a gente ir pegar o Norton. Fui buscá-lo. O Monteiro saiu cedo com o Norton para deixá-lo em proteção. E ainda ficou até tarde da noite, pois o serviço estava todo atrasado e estávamos perto do Natal. Dia 17. Atrasou o trabalho que ele estava fazendo na montagem da loja. Aí ele cochilou e bateu num caminhão e morreu na hora. E eles ainda se aproveitaram da situação para pegar o Honestino. O pai estava morto e no enterro havia muitos policiais à paisana. Honestino queria muito vir. Ele era apaixonado pelo pai. E não o deixaram vir. Mas seria até melhor porque assim ele seria preso na presença de todos e aí não poderiam matá-lo.
Mesmo depois de prenderem Honestino, ou melhor, depois de matarem. Eu nunca chorei pelos cantos. Eu choro de alegria. Poucas vezes eu choro de tristeza. E eu não tenho tristeza. Nossa vida não começou aqui e nem vai acabar aqui.
Se tivesse uma última chance de falar com ele, iria abraçá-lo, beijá-lo, fazer todas as coisas que ele gostava de fazer. A parte mais importante para mim do Honestino é ele, como filho. Embora, eu ache que o que ele deu ao Brasil foi muito grande e importante.
Até hoje, falo com Honestino. Não sou uma mãe chorosa. Eu não preciso querer ver meu filho, eu tenho meu filho. Eu estou aqui e é como se ele estivesse aqui com a gente, naquele retrato, olhando para nós. Para mim, morte não é morte.
Adaptado do Jornal "O Berro"
sábado, 10 de dezembro de 2011
MÚSICA BRASILEIRA E A DITADURA MILITAR - Final
Belchior, que durante muito tempo foi considerado autor marginal, teve a música “Os Doze Pares de França” (Belchior – Toquinho) censurada, porque para os censores, os autores vangloriavam a França, fazendo dele um país melhor para se viver do que o Brasil.
Também a canção “Pequeno Mapa do Tempo” (Belchior), de 1977, uma crítica implícita ao regime, por causa dos versos “eu tenho medo e medo está por fora” e “eu tenho medo em que chegue a hora, em que eu precise entrar no avião“, uma alusão ao exílio, os censores concluíram que a música trazia mensagem de protesto político.
Ao contrário do que se pensa, o cantor e compositor Luiz Ayrão foi um dos artistas brasileiros que mais contestou a ditadura militar. A sua música “Quem Eu Devo é Que Deve Morrer”, tem como tema uma dívida pessoal que só será paga se Deus quiser. Também a dívida externa brasileira encontrava-se nessas condições. A canção é vetada, sendo a proibição justificada pela censura porque a letra era um incentivo ao homicídio, com uma mensagem de caráter negativo.
Sueli Costa deu a canção “Cordilheira” (Sueli Costa – Paulo César Pinheiro) para Erasmo Carlos gravar. Feito o registro, a canção jamais saiu, sendo proibida. Os autores chegaram a ir a Brasília em busca de uma explicação para o veto. Encontram o silêncio dos censores, sem nenhuma justificativa. Mas os versos falavam por si: “Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas”. “Cordilheira” é uma das mais belas canções de teor contestatório já feita no Brasil. Quando liberada, seria gravada por Simone, em 1979, no álbum “Pedaços”. O registro de Erasmo Carlos só saiu em uma caixa de cds comemorativos à carreira do cantor.
O Brega ou Popularesco, nada escapa à Censura.
A censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral.
Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época.
Em 1975, Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção “é um veículo de integração da nacionalidade“. Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.
Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José), teve só pelo seu título, o veto da censura. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
Dentro da corrente popularesca, a censura não poupou nem mesmo a dupla Dom e Ravel, que em 1970, tornara-se a menina dos olhos da repressão, com uma música que exaltava a nação, tornando-se o hino da ditadura: “Eu Te Amo, Meu Brasil”. O motivo que levou o regime a interrogar Dom e Ravel, foi quando eles apresentaram, em 1972, a canção “A Árvore”, os censores desconfiaram do trecho “venha, vamos penetrar”. Além de imaginar que o tema que falava de árvores, seria supostamente sobre a canabilis (planta da maconha). A música foi proibida, apesar de ter uma gravação da banda Os Incríveis, nunca foi lançada.
A esta altura, a incoerência da censura já dava passagem para uma certa esquizofrenia social e política, sem ideologia ou razão.
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores.
Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
Também a canção “Pequeno Mapa do Tempo” (Belchior), de 1977, uma crítica implícita ao regime, por causa dos versos “eu tenho medo e medo está por fora” e “eu tenho medo em que chegue a hora, em que eu precise entrar no avião“, uma alusão ao exílio, os censores concluíram que a música trazia mensagem de protesto político.
Ao contrário do que se pensa, o cantor e compositor Luiz Ayrão foi um dos artistas brasileiros que mais contestou a ditadura militar. A sua música “Quem Eu Devo é Que Deve Morrer”, tem como tema uma dívida pessoal que só será paga se Deus quiser. Também a dívida externa brasileira encontrava-se nessas condições. A canção é vetada, sendo a proibição justificada pela censura porque a letra era um incentivo ao homicídio, com uma mensagem de caráter negativo.
Sueli Costa deu a canção “Cordilheira” (Sueli Costa – Paulo César Pinheiro) para Erasmo Carlos gravar. Feito o registro, a canção jamais saiu, sendo proibida. Os autores chegaram a ir a Brasília em busca de uma explicação para o veto. Encontram o silêncio dos censores, sem nenhuma justificativa. Mas os versos falavam por si: “Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas”. “Cordilheira” é uma das mais belas canções de teor contestatório já feita no Brasil. Quando liberada, seria gravada por Simone, em 1979, no álbum “Pedaços”. O registro de Erasmo Carlos só saiu em uma caixa de cds comemorativos à carreira do cantor.
O Brega ou Popularesco, nada escapa à Censura.
A censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral.
Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época.
Em 1975, Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção “é um veículo de integração da nacionalidade“. Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.
Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José), teve só pelo seu título, o veto da censura. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
Dentro da corrente popularesca, a censura não poupou nem mesmo a dupla Dom e Ravel, que em 1970, tornara-se a menina dos olhos da repressão, com uma música que exaltava a nação, tornando-se o hino da ditadura: “Eu Te Amo, Meu Brasil”. O motivo que levou o regime a interrogar Dom e Ravel, foi quando eles apresentaram, em 1972, a canção “A Árvore”, os censores desconfiaram do trecho “venha, vamos penetrar”. Além de imaginar que o tema que falava de árvores, seria supostamente sobre a canabilis (planta da maconha). A música foi proibida, apesar de ter uma gravação da banda Os Incríveis, nunca foi lançada.
A esta altura, a incoerência da censura já dava passagem para uma certa esquizofrenia social e política, sem ideologia ou razão.
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores.
Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
PINTORES DA NOITE
Ela olhou pra mim como quem está prestes a fazer uma grande revelação e disse “sabe, eu nunca te contei, mas, detesto cachorros”.
Comecei a rir baixinho distraído. Mas o riso foi crescendo e ela, escorando a cabeça no meu ombro foi me acompanhando, e quando vimos as gargalhadas já não podiam ser contidas.
Ergui os olhos pras estrelas e perguntei pra uma delas: mas do que mesmo estou rindo?
Do fato de estar pendurado no alto de um poste numa dessas madrugadas de Porto Alegre?
Ou da escada velha que rangia e que ainda por cima, teve que ser inclinada entre o muro da calçada e o poste por dentro do terreno?
Talvez fosse dos dois cachorros furiosos que babavam de ódio por não poder nos alcançar e que ansiavam por nossa queda?
Ou do jeito de madame daquela guria com tinta nos ombros e na testa me sussurrando ter medo de cachorros?
Até hoje não sei.
Eram tantas coisas que precisavam de respostas e tantas respostas que não valiam à pena naqueles tempos.
Só sei que nossas gargalhadas calaram os cachorros como se nem eles entendessem, afinal, qual era a graça da situação grotesca.
Quando paramos de sacolejar de tanto rir, a escada diminuiu seu rangido, e continuamos a gloriosa tarefa de prender no poste, com arame pouco resistente, mais uma placa pintada à mão com a sigla de nosso partido.
Não só uma sigla, não senhor! Muito mais que isso. Um sentimento de resistência materializado na forma de três letras recém pintadas no quintal da casa de algum companheiro de sonhos.
Descemos altivos diante da indignação dos cachorros e recolhemos o material restante, pois era preciso ter pressa, pois outros postes nos esperavam, outros cachorros talvez, e com certeza, o sol, não demoraria.
A polícia odeia a hora entre o fim da madrugada e o início da manhã, e chamávamos esse momento de, a hora boa.
Os cachorros odeiam escadas e ela odiava cachorros. E eu achava graça. Uma graça que carecia de argumentos mas que transbordava de dor e de energia.
Que nos importam os vadios da madrugada que vagueiam embriagados?
Não estavam, com certeza, mais embriagados do que nós, em nossos desatinos.
Lá, em cima do poste, vendo a cidade “do alto” a gente desafiava a repressão, os medos, os ventos do inverno, os cachorros e o destino.
As vezes, virávamos artistas e pintávamos muros.
Muros estreitos e largos. Inteiros e lascados. Muros simpáticos e carrancudos. De casas, de cemitérios, de colégios. Muros de ruela e de avenidas.
Tinta vermelha de cheiro forte, artesanal, feita por nós mesmos, em balde que abraçávamos para que não derramasse enquanto a velha kombi sacudia sobre as ruas de uma Porto Alegre adormecida. "Cuidado gente, a tinta é cara"...
Pintávamos palavras de ordem. Pintávamos ultimatos. Pintávamos desafios de forma altiva, e imaginávamos Picasso pintando Guernica.
Ela, como ninguém desenhava nossos símbolos.
Ao contrário de Picasso, não podíamos assinar nossas obras. Mas no outro dia... ah no outro dia ninguém podia impedir o orgulho que sentíamos ao ver expostas nos muro da cidade em cores fortes com a tinta que ainda nos fedia, o nosso trabalho noturno. Depressa, dizia em silêncio ao mundo, leiam antes que eles apaguem.
Talvez seja assim mesmo.
Quando nos tiram os livros inventamos arte.
Quando nos tiram as montanhas, escalamos escadas que rangem.
Quando nos tiram oportunidades descobrimos talentos, e somos Picassos que pintam Guernicas com tinta barata em muros estreitos.
Quando nos tiram a graça rimos de nós, rimos a sós, e rimos das dores.
Mas nunca... nunca jamais, deixamos de rir, pois, muitas vezes, em nosso riso, mais do que em mil manifestos, está a força de nossa resistência.
Prof. Péricles
Comecei a rir baixinho distraído. Mas o riso foi crescendo e ela, escorando a cabeça no meu ombro foi me acompanhando, e quando vimos as gargalhadas já não podiam ser contidas.
Ergui os olhos pras estrelas e perguntei pra uma delas: mas do que mesmo estou rindo?
Do fato de estar pendurado no alto de um poste numa dessas madrugadas de Porto Alegre?
Ou da escada velha que rangia e que ainda por cima, teve que ser inclinada entre o muro da calçada e o poste por dentro do terreno?
Talvez fosse dos dois cachorros furiosos que babavam de ódio por não poder nos alcançar e que ansiavam por nossa queda?
Ou do jeito de madame daquela guria com tinta nos ombros e na testa me sussurrando ter medo de cachorros?
Até hoje não sei.
Eram tantas coisas que precisavam de respostas e tantas respostas que não valiam à pena naqueles tempos.
Só sei que nossas gargalhadas calaram os cachorros como se nem eles entendessem, afinal, qual era a graça da situação grotesca.
Quando paramos de sacolejar de tanto rir, a escada diminuiu seu rangido, e continuamos a gloriosa tarefa de prender no poste, com arame pouco resistente, mais uma placa pintada à mão com a sigla de nosso partido.
Não só uma sigla, não senhor! Muito mais que isso. Um sentimento de resistência materializado na forma de três letras recém pintadas no quintal da casa de algum companheiro de sonhos.
Descemos altivos diante da indignação dos cachorros e recolhemos o material restante, pois era preciso ter pressa, pois outros postes nos esperavam, outros cachorros talvez, e com certeza, o sol, não demoraria.
A polícia odeia a hora entre o fim da madrugada e o início da manhã, e chamávamos esse momento de, a hora boa.
Os cachorros odeiam escadas e ela odiava cachorros. E eu achava graça. Uma graça que carecia de argumentos mas que transbordava de dor e de energia.
Que nos importam os vadios da madrugada que vagueiam embriagados?
Não estavam, com certeza, mais embriagados do que nós, em nossos desatinos.
Lá, em cima do poste, vendo a cidade “do alto” a gente desafiava a repressão, os medos, os ventos do inverno, os cachorros e o destino.
As vezes, virávamos artistas e pintávamos muros.
Muros estreitos e largos. Inteiros e lascados. Muros simpáticos e carrancudos. De casas, de cemitérios, de colégios. Muros de ruela e de avenidas.
Tinta vermelha de cheiro forte, artesanal, feita por nós mesmos, em balde que abraçávamos para que não derramasse enquanto a velha kombi sacudia sobre as ruas de uma Porto Alegre adormecida. "Cuidado gente, a tinta é cara"...
Pintávamos palavras de ordem. Pintávamos ultimatos. Pintávamos desafios de forma altiva, e imaginávamos Picasso pintando Guernica.
Ela, como ninguém desenhava nossos símbolos.
Ao contrário de Picasso, não podíamos assinar nossas obras. Mas no outro dia... ah no outro dia ninguém podia impedir o orgulho que sentíamos ao ver expostas nos muro da cidade em cores fortes com a tinta que ainda nos fedia, o nosso trabalho noturno. Depressa, dizia em silêncio ao mundo, leiam antes que eles apaguem.
Talvez seja assim mesmo.
Quando nos tiram os livros inventamos arte.
Quando nos tiram as montanhas, escalamos escadas que rangem.
Quando nos tiram oportunidades descobrimos talentos, e somos Picassos que pintam Guernicas com tinta barata em muros estreitos.
Quando nos tiram a graça rimos de nós, rimos a sós, e rimos das dores.
Mas nunca... nunca jamais, deixamos de rir, pois, muitas vezes, em nosso riso, mais do que em mil manifestos, está a força de nossa resistência.
Prof. Péricles
MÚSICA BRASILEIRA E A DITADURA MILITAR - 04
Outro exemplo eloqüente da ignorância e do despreparo dos censores foi com o compositor e cantor Adoniran Barbosa. Conhecido como o mais paulista dos compositores, Adoniran Barbosa usava em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos.
Não querendo problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinqüenta.
Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas.
Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos:
“O Arnesto nos convidou prum samba, Ele mora no Brás
Nóis fumo, Num encontremo ninguém.
Fiquemo cuma baita duma réiva,
Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”,
O censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim:
“Ficamos com um baita de uma raiva,
Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”.
Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
Também a belíssima canção “Valsa do Bordel” (Vinícius de Moraes – Toquinho), sobre a vida de uma velha prostituta, esteve proibida por dez anos. Vinícius cantava esta música em shows, ironicamente chamando-a de “A Valsa da Pura”, por causa da censura.
Paulinho da Viola, em 1971, teve no seu álbum “Paulinho da Viola”, duas canções proibidas: “Chico Brito” (Wilson Batista – Afonso Teixeira), música composta em 1949, e “Um Barato, Meu Sapato” (Paulinho da Viola – Milton Nascimento), ambas vetadas sob a alegação de que evidenciavam o clima marginal do samba.
Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, filho de Jacob do Bandolim, em 1970, teve a sua música “Acorda, Alice”, proibida pela censura da ditadura militar por causa do verso “Acorda, Alice/ Que o país das maravilhas acabou”. Esta canção seria gravada por Waleska já na época da abertura política.
Rita Lee teve as músicas “Moleque Sacana” (Rita Lee e Mu) e “Gente Fina” (Rita Lee) censuradas, a primeira por causa da palavra sacana, considerada obscena, a segunda porque poderia ferir os bons costumes da época.
Carlos Lyra sentiu o gosto da censura com a sua música “Herói do Medo”, proibida por causa dos versos “odeio a mãe por ter parido” e “o passatempo estéril dos covardes“.
Carlos Lyra não alterou o conteúdo da letra, preferiu sair do país.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
Não querendo problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinqüenta.
Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas.
Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos:
“O Arnesto nos convidou prum samba, Ele mora no Brás
Nóis fumo, Num encontremo ninguém.
Fiquemo cuma baita duma réiva,
Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”,
O censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim:
“Ficamos com um baita de uma raiva,
Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”.
Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
Também a belíssima canção “Valsa do Bordel” (Vinícius de Moraes – Toquinho), sobre a vida de uma velha prostituta, esteve proibida por dez anos. Vinícius cantava esta música em shows, ironicamente chamando-a de “A Valsa da Pura”, por causa da censura.
Paulinho da Viola, em 1971, teve no seu álbum “Paulinho da Viola”, duas canções proibidas: “Chico Brito” (Wilson Batista – Afonso Teixeira), música composta em 1949, e “Um Barato, Meu Sapato” (Paulinho da Viola – Milton Nascimento), ambas vetadas sob a alegação de que evidenciavam o clima marginal do samba.
Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, filho de Jacob do Bandolim, em 1970, teve a sua música “Acorda, Alice”, proibida pela censura da ditadura militar por causa do verso “Acorda, Alice/ Que o país das maravilhas acabou”. Esta canção seria gravada por Waleska já na época da abertura política.
Rita Lee teve as músicas “Moleque Sacana” (Rita Lee e Mu) e “Gente Fina” (Rita Lee) censuradas, a primeira por causa da palavra sacana, considerada obscena, a segunda porque poderia ferir os bons costumes da época.
Carlos Lyra sentiu o gosto da censura com a sua música “Herói do Medo”, proibida por causa dos versos “odeio a mãe por ter parido” e “o passatempo estéril dos covardes“.
Carlos Lyra não alterou o conteúdo da letra, preferiu sair do país.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
sábado, 3 de dezembro de 2011
ANARQUISTAS E SOCIALISTAS
Os anarquistas buscam eliminar as distâncias entre os seres humanos criando um companheirismo maior que o individualismo. O gigantismo do Estado afasta as criaturas. Dessa forma, ao contrário do que muitos afirmam, os anarquistas não querem o fim da sociedade, mas, ao contrário, querem estreitar os laços sociais.
A idéia principal é, basicamente, reverter a ordem do poder que se apresenta acachapante do Estado sobre o indivíduo, para o indivíduo acima do Estado.
Diferentemente dos Marxistas, os Anarquistas jamais pregaram qualquer tipo de governo sobre o cidadão, como a ditadura do proletariado.
Enquanto Marx é citado como o antecessor do comunismo, Proudhon e Bakunin se tornariam os fundadores do anarquismo.
Sobre Karl Marx, sociólogo, historiador e pensador do chamado socialismo científico, nos diz Bakunin:
“Marx e eu éramos amigos naquela época. Nos víamos com freqüência, pois o respeitava por sua sabedoria e devoção séria e apaixonada, ainda que com uma certa vaidade pessoal, à causa do proletariado, e o procurava por sua conversa sempre inteligente e instrutiva. Mas não havia intimidade entre nós. Nossos temperamentos não se adaptavam. Ele me chamava de idealista sentimental, e estava certo. Eu o chamava de vaidoso, traiçoeiro e ardiloso, e eu também estava certo!”
Enquanto o pensamento marxista via nas revoluções contemporâneas (Inglesas e francesa) apenas conquistas burguesas sem avançar em direção a uma sociedade justa, devendo essa ser conquistada por uma revolução do proletariado, Bakunin ou Proudhon consideraram a possibilidade de que tal revolução do proletariado apenas trocasse uma elite por outra. Para eles uma revolução que não se desfaz da autoridade criará sempre um poder mais penetrante e mais duradouro do que aquele a que substitui.
Marx reconhecia o que significava o poder, mas acreditava que era possível criar uma nova forma de poder, o poder do proletariado, através do partido, que ao fim se dissolveria e produziria uma sociedade anarquista ideal, a que ele acreditava ser o objetivo final do esforço humano, enquanto que a dupla de anarquistas profetizava que a organização política marxista se tornaria uma rígida oligarquia de funcionários e tecnocratas.
Proudhon foi preso em 1849 por suas críticas a Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão e que se tornaria imperador com o título de Napoleão III). Passou o resto de sua vida na prisão ou no exílio. Morreu em 1865 sustentando que os partidos políticos eram operados por membros de uma elite social e que os trabalhadores só controlariam seus próprios destinos quando criassem e controlassem suas próprias organizações para mudar a sociedade. Seus seguidores formaram um movimento denominado mutualista que queriam atingir seus resultados pacificamente, através da cooperação entre produtores.
O conflito entre Marx e Bakunin não apenas refletiu diferenças de temperamento entre os protagonistas, mas também diferenças fundamentais de idéias, ou seja, de finalidades entre socialistas autoritários e anarquistas libertários.
O debate transformou-se em conflito, e em 1872 os marxistas expulsaram Bakunin.
As idéias marxistas, adaptadas por Lênin, chegaram ao poder com a revolução bolchevique na Rússia, em 1917.
O movimento anarquista sobreviveu como uma ideologia e não como organização.
(adaptado do texto de George Woodcock)
A idéia principal é, basicamente, reverter a ordem do poder que se apresenta acachapante do Estado sobre o indivíduo, para o indivíduo acima do Estado.
Diferentemente dos Marxistas, os Anarquistas jamais pregaram qualquer tipo de governo sobre o cidadão, como a ditadura do proletariado.
Enquanto Marx é citado como o antecessor do comunismo, Proudhon e Bakunin se tornariam os fundadores do anarquismo.
Sobre Karl Marx, sociólogo, historiador e pensador do chamado socialismo científico, nos diz Bakunin:
“Marx e eu éramos amigos naquela época. Nos víamos com freqüência, pois o respeitava por sua sabedoria e devoção séria e apaixonada, ainda que com uma certa vaidade pessoal, à causa do proletariado, e o procurava por sua conversa sempre inteligente e instrutiva. Mas não havia intimidade entre nós. Nossos temperamentos não se adaptavam. Ele me chamava de idealista sentimental, e estava certo. Eu o chamava de vaidoso, traiçoeiro e ardiloso, e eu também estava certo!”
Enquanto o pensamento marxista via nas revoluções contemporâneas (Inglesas e francesa) apenas conquistas burguesas sem avançar em direção a uma sociedade justa, devendo essa ser conquistada por uma revolução do proletariado, Bakunin ou Proudhon consideraram a possibilidade de que tal revolução do proletariado apenas trocasse uma elite por outra. Para eles uma revolução que não se desfaz da autoridade criará sempre um poder mais penetrante e mais duradouro do que aquele a que substitui.
Marx reconhecia o que significava o poder, mas acreditava que era possível criar uma nova forma de poder, o poder do proletariado, através do partido, que ao fim se dissolveria e produziria uma sociedade anarquista ideal, a que ele acreditava ser o objetivo final do esforço humano, enquanto que a dupla de anarquistas profetizava que a organização política marxista se tornaria uma rígida oligarquia de funcionários e tecnocratas.
Proudhon foi preso em 1849 por suas críticas a Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão e que se tornaria imperador com o título de Napoleão III). Passou o resto de sua vida na prisão ou no exílio. Morreu em 1865 sustentando que os partidos políticos eram operados por membros de uma elite social e que os trabalhadores só controlariam seus próprios destinos quando criassem e controlassem suas próprias organizações para mudar a sociedade. Seus seguidores formaram um movimento denominado mutualista que queriam atingir seus resultados pacificamente, através da cooperação entre produtores.
O conflito entre Marx e Bakunin não apenas refletiu diferenças de temperamento entre os protagonistas, mas também diferenças fundamentais de idéias, ou seja, de finalidades entre socialistas autoritários e anarquistas libertários.
O debate transformou-se em conflito, e em 1872 os marxistas expulsaram Bakunin.
As idéias marxistas, adaptadas por Lênin, chegaram ao poder com a revolução bolchevique na Rússia, em 1917.
O movimento anarquista sobreviveu como uma ideologia e não como organização.
(adaptado do texto de George Woodcock)
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
A SÍNDROME DAS OVELHINHAS
Então a aldeia de ovelhinhas entrou em pânico. Definitivamente essa situação era intolerável. De três em três dias, uma ovelhinha era morta por um tigre que atacava à noite, protegido pelas sombras e pelo silêncio.
Houve uma reunião no centro da aldeia à qual todas as ovelhinhas foram convocadas.
Uma sarada dirigiu os trabalhos, ou tentava, pois os apupos e as discussões pareciam intermináveis (vocês sabem como as ovelhinhas são nervosas, não sabem?).
Foi então, que em meio aos acalorados debates, uma ovelhinha jovem, de lãs alvas e sedosas pediu a palavra e se pronunciou...
“...béééé...minhas irmãs. Esse tigre assassino não pode continuar impune. Devemos nos livrar dele imediatamente. Fiquei sabendo que na colina, próxima da aldeia, mora um jovem leão, forte e poderoso. O que acham, minhas irmãs, de contratá-lo para dar cabo desse tigre?”
Foi uma explosão de aplausos. Muito bem! Muito bem! É isso mesmo, vamos contratar o leão e acabar com esse tigre sanguinário! Viva!
No meio da multidão, porém, uma ovelha, velhinha, ergueu sua patinha.
“Meninas, meninas!” Disse com a paciência de quem conhece a impulsividade da juventude: “Esse tigre está velho e decadente. Tanto que já não caça atacando ovelhinhas indefesas como nós. Basta nos organizarmos. Nada de pedir uma ajuda dos céus. Vamos fazer turnos de guarda e sem conseguir encontrar uma só ovelhinha distraída durante a noite, acabará morrendo de fome ou irá embora. Estaremos livres e salvas por nós mesmas”.
“Buuuuu...foi a reação da maioria. Cala a boca velha caduca, replicaram as massas jovens da aldeia das ovelhas.”
E, dessa forma, calou-se a ovelha que os anos fizeram sábia, e a jovem e enérgica idéia foi adotada.
O leão alegremente aceitou o convite. Veio para a aldeia, e à noite, numa emboscada, matou sem maiores problemas o velho e fraco tigre.
Na manhã seguinte as ovelhas entraram em euforia. Cataram, dançaram funk, soltaram fogos. Nomearam o leão "o cara" e por um dia inteiro comemoraram a morte do tigre.
Encerradas as festividades foram pagar a quantia combinada ao leão.
Esse sorriu num rugido assustador e diante das ovelhinhas de olhos arregalados exclamou: “Suas tolas. Gostei do lugar e na verdade estou me mudando para essa aldeia. Quanto a sua dívida... não se preocupem, cobrarei em prestações, tipo, uma ovelha por dia.”
Em sua cabana a velha e sábia ovelha sofria enroscada em suas lanzinhas, pois só ela havia percebido que, para se livrar de um problema menor, suas imprudentes companheiras haviam buscado a solução criando um problema muito, muito maior.
Na história dos povos muitas vezes se repete a síndrome das ovelhinhas.
Em 1898, para se livrar do velho e decadente império espanhol, sua última colônia das Américas, Cuba, pediu auxílio para os Estados Unidos, que como pagamento exigiu a edição da Emenda Platt na primeira Constituição do país, e dessa maneira pode estender suas garras e defender seus interesses no coração da jovem nação.
Já, o Brasil, para obter o reconhecimento de sua independência política em relação ao extinto Império português, assumiu compromissos e dívidas com o jovem império britânico.
Talvez fosse interessante ao povo da Líbia ouvir a ovelha velha antes de aceitar a “ajuda” da OTAN para derrubar seu ditador.
Quem sabe já seja tempo de abandonar soluções em pacotes formatados por mãos estrangeiras e entender que a solução dos problemas está inserida na cultura de cada povo. No talento e na criatividade de seus jovens e na justiça social.
Esse entendimento é que faz, realmente, o investimento na educação para a liberdade, uma questão de soberania nacional.
Prof. Péricles
Houve uma reunião no centro da aldeia à qual todas as ovelhinhas foram convocadas.
Uma sarada dirigiu os trabalhos, ou tentava, pois os apupos e as discussões pareciam intermináveis (vocês sabem como as ovelhinhas são nervosas, não sabem?).
Foi então, que em meio aos acalorados debates, uma ovelhinha jovem, de lãs alvas e sedosas pediu a palavra e se pronunciou...
“...béééé...minhas irmãs. Esse tigre assassino não pode continuar impune. Devemos nos livrar dele imediatamente. Fiquei sabendo que na colina, próxima da aldeia, mora um jovem leão, forte e poderoso. O que acham, minhas irmãs, de contratá-lo para dar cabo desse tigre?”
Foi uma explosão de aplausos. Muito bem! Muito bem! É isso mesmo, vamos contratar o leão e acabar com esse tigre sanguinário! Viva!
No meio da multidão, porém, uma ovelha, velhinha, ergueu sua patinha.
“Meninas, meninas!” Disse com a paciência de quem conhece a impulsividade da juventude: “Esse tigre está velho e decadente. Tanto que já não caça atacando ovelhinhas indefesas como nós. Basta nos organizarmos. Nada de pedir uma ajuda dos céus. Vamos fazer turnos de guarda e sem conseguir encontrar uma só ovelhinha distraída durante a noite, acabará morrendo de fome ou irá embora. Estaremos livres e salvas por nós mesmas”.
“Buuuuu...foi a reação da maioria. Cala a boca velha caduca, replicaram as massas jovens da aldeia das ovelhas.”
E, dessa forma, calou-se a ovelha que os anos fizeram sábia, e a jovem e enérgica idéia foi adotada.
O leão alegremente aceitou o convite. Veio para a aldeia, e à noite, numa emboscada, matou sem maiores problemas o velho e fraco tigre.
Na manhã seguinte as ovelhas entraram em euforia. Cataram, dançaram funk, soltaram fogos. Nomearam o leão "o cara" e por um dia inteiro comemoraram a morte do tigre.
Encerradas as festividades foram pagar a quantia combinada ao leão.
Esse sorriu num rugido assustador e diante das ovelhinhas de olhos arregalados exclamou: “Suas tolas. Gostei do lugar e na verdade estou me mudando para essa aldeia. Quanto a sua dívida... não se preocupem, cobrarei em prestações, tipo, uma ovelha por dia.”
Em sua cabana a velha e sábia ovelha sofria enroscada em suas lanzinhas, pois só ela havia percebido que, para se livrar de um problema menor, suas imprudentes companheiras haviam buscado a solução criando um problema muito, muito maior.
Na história dos povos muitas vezes se repete a síndrome das ovelhinhas.
Em 1898, para se livrar do velho e decadente império espanhol, sua última colônia das Américas, Cuba, pediu auxílio para os Estados Unidos, que como pagamento exigiu a edição da Emenda Platt na primeira Constituição do país, e dessa maneira pode estender suas garras e defender seus interesses no coração da jovem nação.
Já, o Brasil, para obter o reconhecimento de sua independência política em relação ao extinto Império português, assumiu compromissos e dívidas com o jovem império britânico.
Talvez fosse interessante ao povo da Líbia ouvir a ovelha velha antes de aceitar a “ajuda” da OTAN para derrubar seu ditador.
Quem sabe já seja tempo de abandonar soluções em pacotes formatados por mãos estrangeiras e entender que a solução dos problemas está inserida na cultura de cada povo. No talento e na criatividade de seus jovens e na justiça social.
Esse entendimento é que faz, realmente, o investimento na educação para a liberdade, uma questão de soberania nacional.
Prof. Péricles
domingo, 27 de novembro de 2011
A TORRE DAS DONZELAS
Durante quase três anos, Dilma Rousseff, morou na Torre das Donzelas.
A construção colonial não pertencia a nenhum palácio. Encravada no presídio Tiradentes, em São Paulo, ganhou o singelo nome por abrigar presas políticas do regime militar.
"Terrorista! Linda! O que você está fazendo aqui?", gritavam as presas comuns ao verem passar uma nova presa política pelo estreito corredor. Depois do corredor, havia um pequeno pátio. Em seguida, vinha a Torre.
Dilma atravessou o corredor em fevereiro de 1970, aos 23 anos, após mais de 20 dias nos porões da repressão política.
"Ela chegou fragilizada pela tortura, mas logo se recuperou", lembra a jornalista Rose Nogueira, 64 anos, que passara pelo mesmo processo três meses antes.
Não demorou para que as donzelas da Torre se agrupassem, primeiro com base nas organizações clandestinas às quais pertenciam no "mundão". Porque a Torre, no vocabulário das presas, era o "mundinho".
Mas as afinidades pessoais também contavam muito, como relata a médica e pesquisadora Guiomar Silva Lopes, 66 anos. "No mundão, o vínculo era de vida e morte", diz Guiomar. "Na cadeia, estabelecemos uma relação de confiança inabalável."
Dilma é até hoje lembrada pelo espírito solidário. Durante um período, cuidou de uma estudante de arquitetura. "Quando a menina chegou da tortura, estava muito desestruturada emocionalmente", afirma a advogada Rita Sipahi, 72 anos. "A Dilma ficou de olho nela o tempo todo para evitar que cometesse algum desatino."
Com a possibilidade de circular entre as celas, as presas políticas tentavam curar as feridas umas das outras e também se organizavam. Havia escala para as tarefas da limpeza e da cozinha. Com os víveres levados pelas famílias, elas preparavam as próprias refeições. Algumas conseguiam bons resultados, embora só contassem com dois fogareiros elétricos. Outras, nem tanto.
A dupla mais desastrada na cozinha era formada por Dilma e Cida. "Não dominávamos a arte do tempero", reconhece Cida. Numa ocasião, as duas resolveram caprichar no preparo de um prato de legumes. Acabaram servindo uma sopa de quiabo intragável. "Ficamos um pouco frustradas com o resultado, pois havíamos nos esforçado."
As mães das "donzelas da Torre" chegavam para as visitas nas tardes de sábado. Era o contato delas com o "mundão"
Aos 82 anos, a advogada Therezinha Zerbini, mulher do general Euryale de Jesus Zerbini, cassado em 1964, também recorda de Dilma com admiração. Presa na Torre durante o ano de 1970, Therezinha se destacava tanto pela origem quanto por ser uma senhora entre a população carcerária extremamente jovem. "As amigas dela me chamavam de 'burguesona' e ela me defendeu. Ela tinha uma liderança nata", diz Therezinha.
O Tiradentes "era o paraíso". Isso porque, ao entrar no presídio, a pessoa estava com a prisão reconhecida pelo Estado. Às vezes, era levada para interrogatórios em outras instituições, mas praticamente não corria risco de morrer ou "desaparecer".
Na escala macabra estabelecida nos porões do regime, a Operação Bandeirante (Oban) era o inferno, ficando o purgatório por conta da Delegacia Estadual de Ordem Política e Social (Deops). Como várias companheiras de cadeia, Dilma passou pelo inferno e pelo purgatório antes de chegar à Torre.
Por conta das sevícias, sofreu uma disfunção hormonal que levou anos para ser curada. Não perdeu, porém, o gosto pela vida. Com Cida, passava horas lendo os livros de ficção científica. Quando o rodízio do único aparelho de tevê da Torre caía em sua cela, entrava na madrugada vendo os filmes da sessão "Varig, a dona da noite". Aprendeu até a bordar. "Ela fez uma tapeçaria com flores coloridas, que colocamos na parede", lembra Rose.
No período em que o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, seu companheiro, permaneceu encarcerado no Tiradentes, Dilma se comunicava com ele com a ajuda dos presos comuns. A rota usada por ela e outras presas políticas consistia em baixar mensagens por meio de uma corda artesanal, chamada "teresa", para a carceragem dos "comuns", que ficava embaixo da Torre. "De cela em cela, as mensagens chegavam ao destinatário, na ala dos presos políticos", comenta Guiomar. "O recurso também era fundamental para sabermos o que estava acontecendo lá fora."
Conhecidas desde os tempos em que estudavam em Belo Horizonte, Dilma e Eleonora comemoravam com as meninas da Torre o Natal, o Réveillon e o Carnaval. As fantasias eram improvisadas, é claro, mas havia até desfile no "celão".
No caso de Dilma, as estratégias para manter o moral elevado atrás das grades também passava pelo humor. "Ela pôs apelido em todas nós", conta Rita. "Uma era a Ervilha, outra a Moló, porque tinha jogado um coquetel-molotov em uma ação." Essa faceta pouco conhecida de Dilma é ressaltada por outras entrevistadas. "Ela tem um humor impagável", garante Eleonora.
Quando a hoje presidenta deixou a Torre, as companheiras de cadeia repetiram o ritual criado para o momento da libertação: cantaram "Suíte do Pescador", de Dorival Caymmi, que começa com o verso "Minha jangada vai sair pro mar".
Quase 40 anos depois, tudo o que sobrou do presídio foi o portal de pedra, tombado como patrimônio histórico. No final de 1972, a construção de 1852 começou a ser demolida, para a construção do metrô paulistano.
De: http://www.istoe.com.br/reportagens
Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira
A construção colonial não pertencia a nenhum palácio. Encravada no presídio Tiradentes, em São Paulo, ganhou o singelo nome por abrigar presas políticas do regime militar.
"Terrorista! Linda! O que você está fazendo aqui?", gritavam as presas comuns ao verem passar uma nova presa política pelo estreito corredor. Depois do corredor, havia um pequeno pátio. Em seguida, vinha a Torre.
Dilma atravessou o corredor em fevereiro de 1970, aos 23 anos, após mais de 20 dias nos porões da repressão política.
"Ela chegou fragilizada pela tortura, mas logo se recuperou", lembra a jornalista Rose Nogueira, 64 anos, que passara pelo mesmo processo três meses antes.
Não demorou para que as donzelas da Torre se agrupassem, primeiro com base nas organizações clandestinas às quais pertenciam no "mundão". Porque a Torre, no vocabulário das presas, era o "mundinho".
Mas as afinidades pessoais também contavam muito, como relata a médica e pesquisadora Guiomar Silva Lopes, 66 anos. "No mundão, o vínculo era de vida e morte", diz Guiomar. "Na cadeia, estabelecemos uma relação de confiança inabalável."
Dilma é até hoje lembrada pelo espírito solidário. Durante um período, cuidou de uma estudante de arquitetura. "Quando a menina chegou da tortura, estava muito desestruturada emocionalmente", afirma a advogada Rita Sipahi, 72 anos. "A Dilma ficou de olho nela o tempo todo para evitar que cometesse algum desatino."
Com a possibilidade de circular entre as celas, as presas políticas tentavam curar as feridas umas das outras e também se organizavam. Havia escala para as tarefas da limpeza e da cozinha. Com os víveres levados pelas famílias, elas preparavam as próprias refeições. Algumas conseguiam bons resultados, embora só contassem com dois fogareiros elétricos. Outras, nem tanto.
A dupla mais desastrada na cozinha era formada por Dilma e Cida. "Não dominávamos a arte do tempero", reconhece Cida. Numa ocasião, as duas resolveram caprichar no preparo de um prato de legumes. Acabaram servindo uma sopa de quiabo intragável. "Ficamos um pouco frustradas com o resultado, pois havíamos nos esforçado."
As mães das "donzelas da Torre" chegavam para as visitas nas tardes de sábado. Era o contato delas com o "mundão"
Aos 82 anos, a advogada Therezinha Zerbini, mulher do general Euryale de Jesus Zerbini, cassado em 1964, também recorda de Dilma com admiração. Presa na Torre durante o ano de 1970, Therezinha se destacava tanto pela origem quanto por ser uma senhora entre a população carcerária extremamente jovem. "As amigas dela me chamavam de 'burguesona' e ela me defendeu. Ela tinha uma liderança nata", diz Therezinha.
O Tiradentes "era o paraíso". Isso porque, ao entrar no presídio, a pessoa estava com a prisão reconhecida pelo Estado. Às vezes, era levada para interrogatórios em outras instituições, mas praticamente não corria risco de morrer ou "desaparecer".
Na escala macabra estabelecida nos porões do regime, a Operação Bandeirante (Oban) era o inferno, ficando o purgatório por conta da Delegacia Estadual de Ordem Política e Social (Deops). Como várias companheiras de cadeia, Dilma passou pelo inferno e pelo purgatório antes de chegar à Torre.
Por conta das sevícias, sofreu uma disfunção hormonal que levou anos para ser curada. Não perdeu, porém, o gosto pela vida. Com Cida, passava horas lendo os livros de ficção científica. Quando o rodízio do único aparelho de tevê da Torre caía em sua cela, entrava na madrugada vendo os filmes da sessão "Varig, a dona da noite". Aprendeu até a bordar. "Ela fez uma tapeçaria com flores coloridas, que colocamos na parede", lembra Rose.
No período em que o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, seu companheiro, permaneceu encarcerado no Tiradentes, Dilma se comunicava com ele com a ajuda dos presos comuns. A rota usada por ela e outras presas políticas consistia em baixar mensagens por meio de uma corda artesanal, chamada "teresa", para a carceragem dos "comuns", que ficava embaixo da Torre. "De cela em cela, as mensagens chegavam ao destinatário, na ala dos presos políticos", comenta Guiomar. "O recurso também era fundamental para sabermos o que estava acontecendo lá fora."
Conhecidas desde os tempos em que estudavam em Belo Horizonte, Dilma e Eleonora comemoravam com as meninas da Torre o Natal, o Réveillon e o Carnaval. As fantasias eram improvisadas, é claro, mas havia até desfile no "celão".
No caso de Dilma, as estratégias para manter o moral elevado atrás das grades também passava pelo humor. "Ela pôs apelido em todas nós", conta Rita. "Uma era a Ervilha, outra a Moló, porque tinha jogado um coquetel-molotov em uma ação." Essa faceta pouco conhecida de Dilma é ressaltada por outras entrevistadas. "Ela tem um humor impagável", garante Eleonora.
Quando a hoje presidenta deixou a Torre, as companheiras de cadeia repetiram o ritual criado para o momento da libertação: cantaram "Suíte do Pescador", de Dorival Caymmi, que começa com o verso "Minha jangada vai sair pro mar".
Quase 40 anos depois, tudo o que sobrou do presídio foi o portal de pedra, tombado como patrimônio histórico. No final de 1972, a construção de 1852 começou a ser demolida, para a construção do metrô paulistano.
De: http://www.istoe.com.br/reportagens
Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
BAKUNIN: O PODER CEGA
Mikhail Alexandrovich Bakunin foi um político pela própria natureza.
Apesar de brilhante teórico, não foi apenas na teoria que sustentou suas convicções. Por sua participação direta em movimentos de contestação à política de sua época, foi preso e condenado à morte na Alemanha. Só não foi executado porque a pena máxima foi trocada pela extradição à sua terra mãe, a Rússia.
Em 1868, depois de fugir da prisão na Sibéria, Bakunin fundou a Aliança Internacional da Democracia Social que sonhou unir à Associação Internacional de Trabalhadores, liderada por Karl Marx. Mas os dois geniais pensadores não conseguiram aparar suas arestas e Bakunin acabou isolado.
Mikhail Bakunin acreditava que a origem dos problemas sociais estava na centralização do poder no Estado e no conceito de autoridade.
É considerado um dos pais do anarquismo, movimento no qual tentou algum tipo de unificação, através da criação de várias associações que acabaram fracassadas.
Para ele, o desenvolvimento pleno da criatura humana e o caminho para a felicidade estavam na descentralização das organizações que detinham o poder em todas as suas diferentes esferas.
Extremamente descrente do ser humano como altruísta e democrático, escreveu: "Pegue o mais ardente dos revolucionários, dê-lhe o poder absoluto. Dentro de um ano ele poderá se tornar pior do que o próprio Czar."
Segundo ele, os partidos de esquerda que se apresentam como messias, salvadores dos oprimidos e representantes dos mais fracos, quando chegam ao poder deixam de liderar os mesmos oprimidos e mais fracos passando a cultivar o poder e a oprimir as massas, tal e qual os governos burgueses que ajudaram a derrubar.
Seus interesses se alteram e acabam reproduzindo quase à perfeição a dominação exercida pelos agentes do capital, inclusive com a repressão, a perseguição e o terror.
É da natureza humana, dizia Bakunin, e quem duvida disso, não conhece a natureza humana.
O poder cega!
Essas afirmações foram feitas pelo anarquista russo no século XIX.
Qualquer semelhança com governos pretensamente humanitários e de esquerda que chegaram ao poder nos século XX e XXI, prometendo igualdade, reforma agrária e revolução social, mas que, para se manter no poder se aliaram com as coisas mais retrógradas da política, seja das estepes ou do Maranhão, negociando seus sonhos e esquecendo suas promessas, não é mera coincidência.
Salve Mikhail Alexandrovich Bakunin!
Bem que ele nos avisou!
Prof. Péricles
Apesar de brilhante teórico, não foi apenas na teoria que sustentou suas convicções. Por sua participação direta em movimentos de contestação à política de sua época, foi preso e condenado à morte na Alemanha. Só não foi executado porque a pena máxima foi trocada pela extradição à sua terra mãe, a Rússia.
Em 1868, depois de fugir da prisão na Sibéria, Bakunin fundou a Aliança Internacional da Democracia Social que sonhou unir à Associação Internacional de Trabalhadores, liderada por Karl Marx. Mas os dois geniais pensadores não conseguiram aparar suas arestas e Bakunin acabou isolado.
Mikhail Bakunin acreditava que a origem dos problemas sociais estava na centralização do poder no Estado e no conceito de autoridade.
É considerado um dos pais do anarquismo, movimento no qual tentou algum tipo de unificação, através da criação de várias associações que acabaram fracassadas.
Para ele, o desenvolvimento pleno da criatura humana e o caminho para a felicidade estavam na descentralização das organizações que detinham o poder em todas as suas diferentes esferas.
Extremamente descrente do ser humano como altruísta e democrático, escreveu: "Pegue o mais ardente dos revolucionários, dê-lhe o poder absoluto. Dentro de um ano ele poderá se tornar pior do que o próprio Czar."
Segundo ele, os partidos de esquerda que se apresentam como messias, salvadores dos oprimidos e representantes dos mais fracos, quando chegam ao poder deixam de liderar os mesmos oprimidos e mais fracos passando a cultivar o poder e a oprimir as massas, tal e qual os governos burgueses que ajudaram a derrubar.
Seus interesses se alteram e acabam reproduzindo quase à perfeição a dominação exercida pelos agentes do capital, inclusive com a repressão, a perseguição e o terror.
É da natureza humana, dizia Bakunin, e quem duvida disso, não conhece a natureza humana.
O poder cega!
Essas afirmações foram feitas pelo anarquista russo no século XIX.
Qualquer semelhança com governos pretensamente humanitários e de esquerda que chegaram ao poder nos século XX e XXI, prometendo igualdade, reforma agrária e revolução social, mas que, para se manter no poder se aliaram com as coisas mais retrógradas da política, seja das estepes ou do Maranhão, negociando seus sonhos e esquecendo suas promessas, não é mera coincidência.
Salve Mikhail Alexandrovich Bakunin!
Bem que ele nos avisou!
Prof. Péricles
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
MÚSICA BRASILEIRA E A DITADURA MILITAR - 03
Geraldo Vandré tornou-se o inimigo número um do regime militar. A sua canção “Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”, que ficou com o polêmico segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino contra a ditadura militar, cantado por toda a juventude engajada do Brasil de 1968. Esta canção, afirmam alguns analistas de história, foi uma das responsáveis pela promulgação do AI-5.
Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a cantora Simone a cantou em um show, no Canecão.
Perseguido pelo regime, Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva carreira emprestada ao combate à ditadura.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura.
Deparou-se com a atenção dos censores em 1971, atentos às canções do álbum “Carne e Osso”. Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época.
Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum “Let the Children Hear the Music“, em inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o disco finalmente liberado.
Outro disco mutilado pela censura naquele ano foi “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, lançado em LP e compacto simples. Do álbum seriam vetadas as canções: “Hoje é Dia d’El Rey” (Márcio Borges – Milton Nascimento), “Os Escravos de Jó” (Milton Nascimento – Fernando Brant) e “Cadê” (Milton Nascimento – Ruy Guerra). Uma das faixas proibidas teria a participação de Dorival Caymmi, com a sua exclusão, não aconteceu esta participação. “Diálogo Entre Pai e Filho” teve uma única frase que não foi proibida: “Meu filho”. Diante da censura, Milton Nascimento gravou apenas as melodias das canções vetadas.
Foi no tumultuado ano de 1973, que a banda Secos & Molhados explodiu, conquistando o país inteiro. O público dos Secos & Molhados, devido à proposta inovadora e ao seu carisma, era composto por todas as idades, inclusive por crianças e por adolescentes. Os três integrantes da banda eram Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo, que se apresentavam com os rostos pintados.
Ney Matogrosso além de trazer a cara pintada, tinha uma voz de timbre totalmente diferente da de um homem cantor, um aspecto andrógeno e apresentava-se entre plumas, sem camisa. Os pêlos do peito do cantor e os seus frenéticos rebolados, incomodaram à censura, à moral e aos seus bons costumes vigentes, que proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto, sendo permitido apenas aparecer o rosto em close. Assim apareceriam os Secos & Molhados em um clipe do recém estreado “Fantástico”, programa da Rede Globo.
Além da capa de “Calabar”, também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do disco “Índia”, por trazer um close frontal da cantora vestida de uma tanga minúscula, e na contra-capa fotografias da mesma de seios nus, vestida de índia. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul.
Do mesmo álbum, a música “Presente Cotidiano”, de Luiz Melodia, foi proibida de tocar em rádios e locais públicos. Em 1984, já no fim da ditadura, pós Diretas Já, Gal Costa teria outra canção proibida pela censura de ser tocada em público: “Vaca Profana” (Caetano Veloso), do álbum “Profana”.
Ainda em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela censura.
Luiz Melodia, além de ter “Presente Cotidiano” proibida de ser executada nas rádios, teve várias palavras excluídas ou alteradas das canções do seu disco de estréia, e várias músicas vetadas na íntegra.
Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”.
O que se concluía era que, os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um autor vulgar do Brasil da época.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a cantora Simone a cantou em um show, no Canecão.
Perseguido pelo regime, Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva carreira emprestada ao combate à ditadura.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura.
Deparou-se com a atenção dos censores em 1971, atentos às canções do álbum “Carne e Osso”. Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época.
Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum “Let the Children Hear the Music“, em inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o disco finalmente liberado.
Outro disco mutilado pela censura naquele ano foi “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, lançado em LP e compacto simples. Do álbum seriam vetadas as canções: “Hoje é Dia d’El Rey” (Márcio Borges – Milton Nascimento), “Os Escravos de Jó” (Milton Nascimento – Fernando Brant) e “Cadê” (Milton Nascimento – Ruy Guerra). Uma das faixas proibidas teria a participação de Dorival Caymmi, com a sua exclusão, não aconteceu esta participação. “Diálogo Entre Pai e Filho” teve uma única frase que não foi proibida: “Meu filho”. Diante da censura, Milton Nascimento gravou apenas as melodias das canções vetadas.
Foi no tumultuado ano de 1973, que a banda Secos & Molhados explodiu, conquistando o país inteiro. O público dos Secos & Molhados, devido à proposta inovadora e ao seu carisma, era composto por todas as idades, inclusive por crianças e por adolescentes. Os três integrantes da banda eram Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo, que se apresentavam com os rostos pintados.
Ney Matogrosso além de trazer a cara pintada, tinha uma voz de timbre totalmente diferente da de um homem cantor, um aspecto andrógeno e apresentava-se entre plumas, sem camisa. Os pêlos do peito do cantor e os seus frenéticos rebolados, incomodaram à censura, à moral e aos seus bons costumes vigentes, que proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto, sendo permitido apenas aparecer o rosto em close. Assim apareceriam os Secos & Molhados em um clipe do recém estreado “Fantástico”, programa da Rede Globo.
Além da capa de “Calabar”, também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do disco “Índia”, por trazer um close frontal da cantora vestida de uma tanga minúscula, e na contra-capa fotografias da mesma de seios nus, vestida de índia. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul.
Do mesmo álbum, a música “Presente Cotidiano”, de Luiz Melodia, foi proibida de tocar em rádios e locais públicos. Em 1984, já no fim da ditadura, pós Diretas Já, Gal Costa teria outra canção proibida pela censura de ser tocada em público: “Vaca Profana” (Caetano Veloso), do álbum “Profana”.
Ainda em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela censura.
Luiz Melodia, além de ter “Presente Cotidiano” proibida de ser executada nas rádios, teve várias palavras excluídas ou alteradas das canções do seu disco de estréia, e várias músicas vetadas na íntegra.
Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”.
O que se concluía era que, os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um autor vulgar do Brasil da época.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
domingo, 20 de novembro de 2011
DILMA SANCIONA COMISSÃO DA VERDADE
A presidenta Dilma Rousseff sancionou nesta sexta-feira a lei que cria a Comissão da Verdade para apurar violações aos direitos humanosocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar. Dilma sancionou também a Lei de Acesso a Informações Públicas, que acaba com o sigilo eterno de documentos.
A Comissão da Verdade será formada por sete pessoas, escolhidas pela presidenta da República a partir de critérios como conduta ética e atuação em defesa dos direitos humanos. Ao todo, 14 servidores darão suporte administrativo aos trabalhos.
O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o país, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer as violações de direitos. De acordo com o texto sancionado, a comissão tem o objetivo de esclarecer fatos e não terá caráter punitivo.
O grupo vai aproveitar as informações produzidas há quase 16 anos pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e há dez anos pela Comissão de Anistia.
A Lei de Acesso a Informações Públicas permite que o cidadão consulte documentos produzidos pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de forma a dar mais publicidade e transparência aos atos da administração pública.
A norma acaba com o sigilo eterno de documentos. Os documentos hoje classificados como ultrassecretos, que são aqueles com informações imprescindíveis à segurança do Estado, estarão protegidos por um prazo máximo de 50 anos. Atualmente, o documento ultrassecreto fica guardado por 30 anos, mas esse prazo pode ser prorrogado sucessivamente.
A lei abrange também estados e municípios e assim, o cidadão poderá, por exemplo, pedir dados sobre como foi empregada a verba do hospital e da merenda escolar de sua cidade. As informações solicitadas pela população devem ser respondidas em, no máximo, 20 dias.
Em seis meses, cada órgão vai ter que publicar em sua página na internetinformações sobre sua atuação, como contratos, licitações, gastos com obras, repasses ou transferências de recursos.
As entidades que recebem recursos públicos também terão que dar transparência a seus dados.
A Comissão da Verdade será formada por sete pessoas, escolhidas pela presidenta da República a partir de critérios como conduta ética e atuação em defesa dos direitos humanos. Ao todo, 14 servidores darão suporte administrativo aos trabalhos.
O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o país, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer as violações de direitos. De acordo com o texto sancionado, a comissão tem o objetivo de esclarecer fatos e não terá caráter punitivo.
O grupo vai aproveitar as informações produzidas há quase 16 anos pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e há dez anos pela Comissão de Anistia.
A Lei de Acesso a Informações Públicas permite que o cidadão consulte documentos produzidos pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de forma a dar mais publicidade e transparência aos atos da administração pública.
A norma acaba com o sigilo eterno de documentos. Os documentos hoje classificados como ultrassecretos, que são aqueles com informações imprescindíveis à segurança do Estado, estarão protegidos por um prazo máximo de 50 anos. Atualmente, o documento ultrassecreto fica guardado por 30 anos, mas esse prazo pode ser prorrogado sucessivamente.
A lei abrange também estados e municípios e assim, o cidadão poderá, por exemplo, pedir dados sobre como foi empregada a verba do hospital e da merenda escolar de sua cidade. As informações solicitadas pela população devem ser respondidas em, no máximo, 20 dias.
Em seis meses, cada órgão vai ter que publicar em sua página na internetinformações sobre sua atuação, como contratos, licitações, gastos com obras, repasses ou transferências de recursos.
As entidades que recebem recursos públicos também terão que dar transparência a seus dados.
MÚSICA BRASILEIRA E A DITADURA MILITAR - 02
Os problemas de Chico Buarque com a censura começaram junto com a sua carreira. Em 1966, a música “Tamandaré”, incluída no repertório do show “Meu Refrão”, com Odete Lara e MPB-4, é proibida após seis meses em cartaz, por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da marinha.
Exilado na Itália, de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreria com a perseguição da censura após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, o compositor enviou a música “Apesar de Você” para a aprovação da censura, tendo a certeza que a música seria vetada. Inesperadamente a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente em compacto, tornando-se um sucesso instantâneo. Já se tinha vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal comentou que a música referia-se ao presidente Médici. Revelado o ardil, o exército brasileiro invadiu a fábrica da Philips, apreendendo todos os discos, destruindo-os. Na confusão, esqueceram de destruir a matriz.
Em 1973 Chico Buarque sofreria todas as censuras possíveis. A peça “Calabar, ou o Elogio à Traição”, escrita em parceria com Ruy Guerra, foi vetada pela censura. As conseqüências da proibição viriam no seu álbum, “Calabar”, também daquele ano. A capa do disco trazia a palavra “Calabar” pichada num muro. Os censores concluíram que aquela palavra pichada tinha um significado subversivo, o que resultou na proibição da capa. A resposta de Chico Buarque foi lançar o álbum com uma capa totalmente branca e sem título.
O disco trazia o registro das canções da peça vetada, por isto teve várias músicas (todas elas em parceria com Ruy Guerra) censuradas:
- “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, que fazia parte deste disco, alcançaria grande sucesso quando gravada por Ney Matogrosso, em 1978, quando foi escolhida como tema de abertura da novela da tevê Globo “Pecado Rasgado”, na versão original da música o verso “Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor“, foi substituído por “Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor“;
- “Fado Tropical” teve proibido parte de um texto declamado por Ruy Guerra, além da frase “além da sífilis, é claro”, herança portuguesa, segundo a personagem Mathias, no sangue brasileiro.
- “Bárbara”, um dueto entre as personagens Ana de Amsterdam e Bárbara, teve cortada a palavra “duas”, por sugerir um relacionamento homossexual entre elas. Tanto “Ana de Amsterdam” quanto “Bárbara”, já tinham sofrido os mesmos cortes no álbum “Caetano e Chico Juntos Ao Vivo”, ali substituídos por palmas.
Naquele ano de 1973, a música “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), foi proibida de ser gravada e cantada. Gilberto Gil desafiou a censura e cantou a música em um show para os estudantes, na Politécnica, em homenagem ao estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), morto pela ditadura.
Ainda naquele ano, no evento “Phono 73”, festival promovido pela Polygram, Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram os microfones desligados quando iriam cantar “Cálice”, por decisão da própria produção do show, que não quis criar problemas com a ditadura.
Em 1974 a censura não dá tréguas ao artista. Impedido de gravar a si mesmo, Chico Buarque lança um disco, Sinal Fechado (1974), com composições de outros autores. Diante de tantas canções vetadas, a sofrer uma perseguição acirrada, Chico Buarque cria os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. É sob o heterônimo do Julinho da Adelaide que a censura deixa passar canções de críticas inteligentes à ditadura, lidas nas entrelinhas: “Jorge Maravilha”, que trazia o verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta”, que era lida como uma referência ao então presidente Geisel, cuja filha Amália Lucy, teria dito em entrevista, que admirava as canções do Chico Buarque.
“Acorda Amor”, outra canção liberada do Julinho da Adelaide, era uma referência clara aos órgãos da repressão, que vinham buscar cidadãos suspeitos de subversivos em suas casas, levando-os em uma viatura, desaparecendo com eles. Diante da polícia repressiva, ele chamava pelo ladrão. “Milagre Brasileiro” também levou a assinatura de Julinho da Adelaide.
Outro clássico da MPB que sofreu uma censura moralista foi “Atrás da Porta” (Chico Buarque – Francis Hime), o verso original “E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pêlos”, seria substituído por “E me agarrei nos teus cabelos, no teu peito”, a censura achava a palavra “pêlos” de caráter indecente.
Quando o AI-5 foi extinto, em 1978, Chico Buarque vingou-se dos anos de censura, gravou “Cálice”, regravou “Apesar de Você”, além de criar músicas provocantes, que afrontavam à moral da época, como “Folhetim“, que descrevia uma prostituta, ou “Geni e o Zepelim” e “Não Sonho Mais”, temas de dois travestis, Genivaldo da peça “A Ópera do Malandro” e Eloína, do filme “A República dos Assassinos”, respectivamente.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
Exilado na Itália, de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreria com a perseguição da censura após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, o compositor enviou a música “Apesar de Você” para a aprovação da censura, tendo a certeza que a música seria vetada. Inesperadamente a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente em compacto, tornando-se um sucesso instantâneo. Já se tinha vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal comentou que a música referia-se ao presidente Médici. Revelado o ardil, o exército brasileiro invadiu a fábrica da Philips, apreendendo todos os discos, destruindo-os. Na confusão, esqueceram de destruir a matriz.
Em 1973 Chico Buarque sofreria todas as censuras possíveis. A peça “Calabar, ou o Elogio à Traição”, escrita em parceria com Ruy Guerra, foi vetada pela censura. As conseqüências da proibição viriam no seu álbum, “Calabar”, também daquele ano. A capa do disco trazia a palavra “Calabar” pichada num muro. Os censores concluíram que aquela palavra pichada tinha um significado subversivo, o que resultou na proibição da capa. A resposta de Chico Buarque foi lançar o álbum com uma capa totalmente branca e sem título.
O disco trazia o registro das canções da peça vetada, por isto teve várias músicas (todas elas em parceria com Ruy Guerra) censuradas:
- “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, que fazia parte deste disco, alcançaria grande sucesso quando gravada por Ney Matogrosso, em 1978, quando foi escolhida como tema de abertura da novela da tevê Globo “Pecado Rasgado”, na versão original da música o verso “Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor“, foi substituído por “Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor“;
- “Fado Tropical” teve proibido parte de um texto declamado por Ruy Guerra, além da frase “além da sífilis, é claro”, herança portuguesa, segundo a personagem Mathias, no sangue brasileiro.
- “Bárbara”, um dueto entre as personagens Ana de Amsterdam e Bárbara, teve cortada a palavra “duas”, por sugerir um relacionamento homossexual entre elas. Tanto “Ana de Amsterdam” quanto “Bárbara”, já tinham sofrido os mesmos cortes no álbum “Caetano e Chico Juntos Ao Vivo”, ali substituídos por palmas.
Naquele ano de 1973, a música “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), foi proibida de ser gravada e cantada. Gilberto Gil desafiou a censura e cantou a música em um show para os estudantes, na Politécnica, em homenagem ao estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), morto pela ditadura.
Ainda naquele ano, no evento “Phono 73”, festival promovido pela Polygram, Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram os microfones desligados quando iriam cantar “Cálice”, por decisão da própria produção do show, que não quis criar problemas com a ditadura.
Em 1974 a censura não dá tréguas ao artista. Impedido de gravar a si mesmo, Chico Buarque lança um disco, Sinal Fechado (1974), com composições de outros autores. Diante de tantas canções vetadas, a sofrer uma perseguição acirrada, Chico Buarque cria os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. É sob o heterônimo do Julinho da Adelaide que a censura deixa passar canções de críticas inteligentes à ditadura, lidas nas entrelinhas: “Jorge Maravilha”, que trazia o verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta”, que era lida como uma referência ao então presidente Geisel, cuja filha Amália Lucy, teria dito em entrevista, que admirava as canções do Chico Buarque.
“Acorda Amor”, outra canção liberada do Julinho da Adelaide, era uma referência clara aos órgãos da repressão, que vinham buscar cidadãos suspeitos de subversivos em suas casas, levando-os em uma viatura, desaparecendo com eles. Diante da polícia repressiva, ele chamava pelo ladrão. “Milagre Brasileiro” também levou a assinatura de Julinho da Adelaide.
Outro clássico da MPB que sofreu uma censura moralista foi “Atrás da Porta” (Chico Buarque – Francis Hime), o verso original “E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pêlos”, seria substituído por “E me agarrei nos teus cabelos, no teu peito”, a censura achava a palavra “pêlos” de caráter indecente.
Quando o AI-5 foi extinto, em 1978, Chico Buarque vingou-se dos anos de censura, gravou “Cálice”, regravou “Apesar de Você”, além de criar músicas provocantes, que afrontavam à moral da época, como “Folhetim“, que descrevia uma prostituta, ou “Geni e o Zepelim” e “Não Sonho Mais”, temas de dois travestis, Genivaldo da peça “A Ópera do Malandro” e Eloína, do filme “A República dos Assassinos”, respectivamente.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
terça-feira, 15 de novembro de 2011
VÍTIMAS DA DITADURA 04: JOSÉ DALMO LINS - A Solidão Enlouquece
José Dalmo ligou-se ao PCB ainda na adolescência e, mais tarde, integrou a Executiva Estadual desse partido em Alagoas. Foi cronista no jornal A Voz do Povo.
Sua primeira prisão ocorreu em 1964, logo após a deposição de João Goulart.
Foi expulso do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas sob acusação de subversão.
No início de 1967 foi morar no Rio de Janeiro, junto com sua companheira Maria Luiza Araújo, recém-formada em Medicina.
No dia 22/03/1970, o casal teve o apartamento invadido e ambos foram levados para o DOI-CODI/RJ, onde permaneceram incomunicáveis por mais de 30 dias.
José Dalmo ficou preso por seis meses e Maria Luiza só foi solta um ano depois.
Estava entre ex-presos em liberdade controlados pela Polícia do I Exército.
José Dalmo não conseguiu superar os traumas causados pela prisão.As marcas e feridas acumuladas naquela oficina de torturas o atingiram profundamente.
Depois de libertado continuou visitando regularmente sua companheira, presa em Bangu, mas era um homem inseguro e nervoso, com crises freqüentes. Numa delas, em 11 de fevereiro de 1971, suicidou-se, pulando do sexto andar do apartamento onde morava, no Leblon.
Maria Luiza, confinada no Presídio Talavera Bruce, foi informada de sua morte tendo que suportar os sorrisos de deboche do informante. Compareceu escoltada ao enterro do marido por soldados do Exército e por policiais
Dalmo tinha então 37 anos.
A ele se refere Álvaro Caldas, companheiro de prisão, no livro Tirando o Capuz:
"Apesar de já apresentar sinais de catatonia, de ter os movimentos enrijecidos, ele se esforçava em participar da vida coletiva, integrando-se nas representações teatrais, participando das sessões musicais em que velhas canções como ‘Laranja Madura’ e ‘Jardineira’ eram lembradas.
Ou cantando sozinho enquanto andava pela cela, com sua voz forte e sentida: Moon River".
Livre adaptação do Jornal “O Berro”.
Sua primeira prisão ocorreu em 1964, logo após a deposição de João Goulart.
Foi expulso do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas sob acusação de subversão.
No início de 1967 foi morar no Rio de Janeiro, junto com sua companheira Maria Luiza Araújo, recém-formada em Medicina.
No dia 22/03/1970, o casal teve o apartamento invadido e ambos foram levados para o DOI-CODI/RJ, onde permaneceram incomunicáveis por mais de 30 dias.
José Dalmo ficou preso por seis meses e Maria Luiza só foi solta um ano depois.
Estava entre ex-presos em liberdade controlados pela Polícia do I Exército.
José Dalmo não conseguiu superar os traumas causados pela prisão.As marcas e feridas acumuladas naquela oficina de torturas o atingiram profundamente.
Depois de libertado continuou visitando regularmente sua companheira, presa em Bangu, mas era um homem inseguro e nervoso, com crises freqüentes. Numa delas, em 11 de fevereiro de 1971, suicidou-se, pulando do sexto andar do apartamento onde morava, no Leblon.
Maria Luiza, confinada no Presídio Talavera Bruce, foi informada de sua morte tendo que suportar os sorrisos de deboche do informante. Compareceu escoltada ao enterro do marido por soldados do Exército e por policiais
Dalmo tinha então 37 anos.
A ele se refere Álvaro Caldas, companheiro de prisão, no livro Tirando o Capuz:
"Apesar de já apresentar sinais de catatonia, de ter os movimentos enrijecidos, ele se esforçava em participar da vida coletiva, integrando-se nas representações teatrais, participando das sessões musicais em que velhas canções como ‘Laranja Madura’ e ‘Jardineira’ eram lembradas.
Ou cantando sozinho enquanto andava pela cela, com sua voz forte e sentida: Moon River".
Livre adaptação do Jornal “O Berro”.
MÚSICA BRASILEIRA E A DITADURA MILITAR - 01
Em 1968, os estudantes continuavam a ser os maiores inimigos do regime militar. Reprimidos em suas entidades, passaram a ter voz através da música. A Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas, ousando a falar o que não era permitido à nação.
Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado, passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma da ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime.
Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo.
A censura além de cerceadora, era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira. Os Perseguidos do Pré-AI-5 antes mesmo de deflagrado o AI-5, alguns representantes incipientes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Taiguara e Geraldo Vandré.
A intervenção de Caetano Veloso era mais no sentido da contracultura do que contra o regime militar. Os tropicalistas estavam mais próximos dos acontecimentos do Maio de 1968 em Paris, do que das doutrinas de esquerda que vigoravam na época, como o marxismo-leninismo soviético e o maoísmo chinês.
Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam. Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968).
Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
Ao retornar do exílio, Caetano Veloso e Gilberto Gil sofreram com a perseguição da ditadura e da censura. Em 1973, Caetano Veloso teve a sua canção “Deus e o Diabo”, vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Diante do veto, a gravadora solicitou recurso, foi sugerido pelo censor que o autor substituísse a palavra “bofes”. Mas um segundo censor menciona os versos “o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou” e “Cidade Maravilhosa/ Dos bofes do meu Brasil”, como ofensivos às tradições religiosas.
Em 1975, o álbum “Jóia” trazia na sua capa Caetano Veloso, sua então mulher Dedé e o filho Moreno, completamente nus, com o desenho de algumas pombas a cobrir-lhe a genitália. Censurada, o álbum foi relançado com uma nova capa, onde restaram apenas as pombas.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado, passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma da ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime.
Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo.
A censura além de cerceadora, era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira. Os Perseguidos do Pré-AI-5 antes mesmo de deflagrado o AI-5, alguns representantes incipientes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Taiguara e Geraldo Vandré.
A intervenção de Caetano Veloso era mais no sentido da contracultura do que contra o regime militar. Os tropicalistas estavam mais próximos dos acontecimentos do Maio de 1968 em Paris, do que das doutrinas de esquerda que vigoravam na época, como o marxismo-leninismo soviético e o maoísmo chinês.
Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam. Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968).
Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
Ao retornar do exílio, Caetano Veloso e Gilberto Gil sofreram com a perseguição da ditadura e da censura. Em 1973, Caetano Veloso teve a sua canção “Deus e o Diabo”, vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Diante do veto, a gravadora solicitou recurso, foi sugerido pelo censor que o autor substituísse a palavra “bofes”. Mas um segundo censor menciona os versos “o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou” e “Cidade Maravilhosa/ Dos bofes do meu Brasil”, como ofensivos às tradições religiosas.
Em 1975, o álbum “Jóia” trazia na sua capa Caetano Veloso, sua então mulher Dedé e o filho Moreno, completamente nus, com o desenho de algumas pombas a cobrir-lhe a genitália. Censurada, o álbum foi relançado com uma nova capa, onde restaram apenas as pombas.
eltheatro11@eltheatro.com
Editor: Elpídio Navarro
domingo, 13 de novembro de 2011
LEI SECA COM MAIOR RIGOR
Atenção, especialmente minha gente jovem.
É bom não brincar com a sorte e entender que as coisas estão mudando.
Não jogue sua vida fora.
Leiam o texto abaixo e veja se, literalmente, vale à pena...
BRASÍLIA - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem projeto de lei que torna crime dirigir sob efeito de qualquer teor de álcool, acaba com a obrigatoriedade do teste do bafômetro para comprovar a embriaguez do motorista e ainda aumenta as penalidades para infratores, que, atualmente, são submetidos à pena única de seis meses a três anos de detenção.
Ao permitir o uso de outras provas para atestar a embriaguez do motorista, alguns senadores consideram que a proposta, aprovada em caráter terminativo e que agora segue para a Câmara, estabelece a "tolerância zero de álcool" para os motoristas brasileiros. No entanto, admitem que esse ponto ainda terá de ser regulamentado.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) incluiu no texto emenda aumentando significativamente as penas para os condutores de veículos envolvidos em acidentes com vítimas. "A gente espera que isso diminua esse sentimento de impunidade que existe. Pela morosidade da Justiça em analisar esses casos, a atual punição para quem provoca uma morte no trânsito por causa do álcool acaba sem efeito", comemorou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), autor do projeto.
Se provocar morte, por exemplo, o motorista poderá ter pena de "reclusão de oito a 16 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor". A pena poderá ser acrescida em um terço ou metade se o motorista não tiver habilitação ou se seu direito de dirigir estiver suspenso.
Se um acidente resultar em lesão corporal gravíssima, a pena poderá variar de seis a 12 anos de prisão. E mesmo se a conduta não resultar em lesão corporal, o motorista ainda estará sujeito à reclusão de um a quatro anos. Se for detectado simplesmente que o condutor está sob efeito do álcool, mesmo não tendo se envolvido em acidente, ele estará sujeito a detenção de seis meses a três anos.
Diante da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de liberar os motoristas do teste do bafômetro, com o argumento de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, Ferraço incluiu no projeto outros meios para a comprovação de que um condutor está sob o efeito de álcool. Poderão ser usadas provas testemunhais, imagens, vídeos ou "quaisquer outras provas em direito admitidas", o que, na prática, estabelece uma política de álcool zero para motoristas. Hoje, é permitido dirigir com até 6 decigramas de álcool por litro de sangue.
Jornal do Commercio - 10/11/2011
É bom não brincar com a sorte e entender que as coisas estão mudando.
Não jogue sua vida fora.
Leiam o texto abaixo e veja se, literalmente, vale à pena...
BRASÍLIA - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem projeto de lei que torna crime dirigir sob efeito de qualquer teor de álcool, acaba com a obrigatoriedade do teste do bafômetro para comprovar a embriaguez do motorista e ainda aumenta as penalidades para infratores, que, atualmente, são submetidos à pena única de seis meses a três anos de detenção.
Ao permitir o uso de outras provas para atestar a embriaguez do motorista, alguns senadores consideram que a proposta, aprovada em caráter terminativo e que agora segue para a Câmara, estabelece a "tolerância zero de álcool" para os motoristas brasileiros. No entanto, admitem que esse ponto ainda terá de ser regulamentado.
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) incluiu no texto emenda aumentando significativamente as penas para os condutores de veículos envolvidos em acidentes com vítimas. "A gente espera que isso diminua esse sentimento de impunidade que existe. Pela morosidade da Justiça em analisar esses casos, a atual punição para quem provoca uma morte no trânsito por causa do álcool acaba sem efeito", comemorou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), autor do projeto.
Se provocar morte, por exemplo, o motorista poderá ter pena de "reclusão de oito a 16 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor". A pena poderá ser acrescida em um terço ou metade se o motorista não tiver habilitação ou se seu direito de dirigir estiver suspenso.
Se um acidente resultar em lesão corporal gravíssima, a pena poderá variar de seis a 12 anos de prisão. E mesmo se a conduta não resultar em lesão corporal, o motorista ainda estará sujeito à reclusão de um a quatro anos. Se for detectado simplesmente que o condutor está sob efeito do álcool, mesmo não tendo se envolvido em acidente, ele estará sujeito a detenção de seis meses a três anos.
Diante da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de liberar os motoristas do teste do bafômetro, com o argumento de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, Ferraço incluiu no projeto outros meios para a comprovação de que um condutor está sob o efeito de álcool. Poderão ser usadas provas testemunhais, imagens, vídeos ou "quaisquer outras provas em direito admitidas", o que, na prática, estabelece uma política de álcool zero para motoristas. Hoje, é permitido dirigir com até 6 decigramas de álcool por litro de sangue.
Jornal do Commercio - 10/11/2011
terça-feira, 8 de novembro de 2011
AUTO-DE-FÉ DE BARCELONA, 150 ANOS
Preocupadíssimo com o crescimento das idéias reformistas na Europa, o Papa Paulo III convocou, em 1545 o Concílio de Trento, para decidir as estratégias da Igreja Católica contra esse crescimento. Foi o concílio mais longo da História, realizado de 1545 a 1563. Também ficou conhecido como o Concílio da Contra-Reforma.
As decições desse Concílio, para o enfrentamento das idéias protestantes seriam decisivas para a história da Europa e da América, e consistiram entre outras decisões importantes: reafirmação do celibato clerical, da doutrina da graça e do pecado original, do culto dos santos e principalmente a instituição do Index Librorum Prohibitorum (uma espécie de index de livros proibidos aos católicos), a criação da companhia de Jesus (padres Jesuítas) e a refundação da Inquisição, agora com o nome de Tribunal do Santo Ofício.
Já o Auto-de-fé era um misto de cerimônia religiosa com execução judicial, tudo envolvido por um enorme aparato dogmático e teatral. Uma cerimônia pública em que se liam as sentenças da Inquisição. Em geral, aconteciam na principal praça da cidade, com uma procissão prolongada, missa solene, juramento de obediência ao Tribunal do Santo Ofício, sermão e leitura das sentenças de condenação.
Geralmente as penas variavam entre prisão perpétua e morte. O primeiro auto-de-fé foi realizado em Sevilha, na Espanha, em 1481, e o último, teve lugar no México, em 1850.
No dia 09/10/2011 completou-se 150 anos da realização do Auto-de-fé de Barcelona. Nele 300 exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo, de Allan Kardec, enviados da França, foram confiscados na Espanha pelo arcebispo dom Antônio Palau Y Termenes sob alegação de serem "imorais e contrários à fé católica" e queimados em praça pública.
Por volta de 10h30, surgiu um padre, vestido com paramentos especiais para ritos daquela espécie, trazendo numa das mãos uma cruz e, na outra, uma tocha. Era acompanhado por outras autoridades e auxiliares, inclusive três serventes, encarregados de manter aceso o fogo.
Quando, finalmente, as chamas se apagaram, a comitiva clerical se retirou, sob as vaias da multidão e os gritos de "abaixo a Inquisição!".
Os exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo chegaram a Barcelona num lote juntamente com outros, todos devidamente comprados e pagos, pelo renomado escritor e editor francês Maurice Lachâtr. Enviados de Paris, haviam sido inspecionados na alfândega espanhola, cobrando-se do destinatário todos os tributos correspondentes.
A propósito, o jornal La Carona publicou, à época, o seguinte:
"Os sinceros amigos da paz, do princípio de autoridade e da religião, se afligem com essas demonstrações reacionárias porque compreendem que às reações sucedem as revoluções. Os liberais sinceros se indignam de semelhantes espetáculos, dados por homens que não compreendem a religião sem a intolerância e querem impor como Maomé impunha o seu Alcorão".
A propósito, em tempos de crítica e demonização do Islã é bom refletirmos sobre atos que hoje se imputam aos muçulmanos terem sido praticados largamente no Ocidente.
Quanto ao Espiritismo e Allan Kardec seguiram seu caminho natural, apesar de toda repressão e intolerância.
Prof. Péricles
As decições desse Concílio, para o enfrentamento das idéias protestantes seriam decisivas para a história da Europa e da América, e consistiram entre outras decisões importantes: reafirmação do celibato clerical, da doutrina da graça e do pecado original, do culto dos santos e principalmente a instituição do Index Librorum Prohibitorum (uma espécie de index de livros proibidos aos católicos), a criação da companhia de Jesus (padres Jesuítas) e a refundação da Inquisição, agora com o nome de Tribunal do Santo Ofício.
Já o Auto-de-fé era um misto de cerimônia religiosa com execução judicial, tudo envolvido por um enorme aparato dogmático e teatral. Uma cerimônia pública em que se liam as sentenças da Inquisição. Em geral, aconteciam na principal praça da cidade, com uma procissão prolongada, missa solene, juramento de obediência ao Tribunal do Santo Ofício, sermão e leitura das sentenças de condenação.
Geralmente as penas variavam entre prisão perpétua e morte. O primeiro auto-de-fé foi realizado em Sevilha, na Espanha, em 1481, e o último, teve lugar no México, em 1850.
No dia 09/10/2011 completou-se 150 anos da realização do Auto-de-fé de Barcelona. Nele 300 exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo, de Allan Kardec, enviados da França, foram confiscados na Espanha pelo arcebispo dom Antônio Palau Y Termenes sob alegação de serem "imorais e contrários à fé católica" e queimados em praça pública.
Por volta de 10h30, surgiu um padre, vestido com paramentos especiais para ritos daquela espécie, trazendo numa das mãos uma cruz e, na outra, uma tocha. Era acompanhado por outras autoridades e auxiliares, inclusive três serventes, encarregados de manter aceso o fogo.
Quando, finalmente, as chamas se apagaram, a comitiva clerical se retirou, sob as vaias da multidão e os gritos de "abaixo a Inquisição!".
Os exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo chegaram a Barcelona num lote juntamente com outros, todos devidamente comprados e pagos, pelo renomado escritor e editor francês Maurice Lachâtr. Enviados de Paris, haviam sido inspecionados na alfândega espanhola, cobrando-se do destinatário todos os tributos correspondentes.
A propósito, o jornal La Carona publicou, à época, o seguinte:
"Os sinceros amigos da paz, do princípio de autoridade e da religião, se afligem com essas demonstrações reacionárias porque compreendem que às reações sucedem as revoluções. Os liberais sinceros se indignam de semelhantes espetáculos, dados por homens que não compreendem a religião sem a intolerância e querem impor como Maomé impunha o seu Alcorão".
A propósito, em tempos de crítica e demonização do Islã é bom refletirmos sobre atos que hoje se imputam aos muçulmanos terem sido praticados largamente no Ocidente.
Quanto ao Espiritismo e Allan Kardec seguiram seu caminho natural, apesar de toda repressão e intolerância.
Prof. Péricles
SUS É ASSUNTO SÉRIO
Os dados abaixo são do Ministério da Saúde:
INVESTIMENTOS EM ONCOLOGIA
Os avanços na área da Oncologia (tratamento de câncer) para pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) são importantes: nos últimos 12 anos, os gastos federais com assistência oncológica no país triplicaram, passando de R$ 470,5 milhões (em 1999) para cerca de R$ 1,8 bilhão (em 2010).
O Ministério da Saúde vai fechar o ano de 2011 com investimento de R$ 2,2 bilhões para o setor. Este aumento de recursos serviu para ampliar e melhorar a assistência aos pacientes atendidos nos hospitais públicos e privados que compõe o SUS, sobretudo para os tipos de câncer mais frequentes, como fígado, mama, linfoma e leucemia aguda.
Houve aumento de 40% no número de cirurgias oncológicas, que passou de 67 mil (2003) para 94 mil (estimativa 2011). Neste período, o número de procedimentos quimioterápicos dobrou – passou de 1,2 milhão (2003) para 2,4 milhões (2011/estimativa).
REDUÇÃO DE PREÇOS DE MEDICAMENTOS
Nos últimos anos, o governo federal – por meio do Ministério da Saúde – tomou uma importante decisão: tornar o país, gradualmente, independente do mercado internacional de medicamentos e outros produtos para a saúde.
O Ministério da Saúde vem adotando a política de “comprar melhor” – medida diretamente relacionada à melhoria da gestão.
CENÁRIO ATUAL
• Câncer é a segunda causa de mortalidade no mundo, atrás das doenças cardiovasculares.
• O Sistema Único de Saúde hoje garante assistência especializada e gratuita aos pacientes – de consultas e exames a procedimentos cirúrgicos, radioterapia, quimioterapia e iodoterapia – e hoje conta com 276 serviços especializados no tratamento oncológico.
• Todos os 26 estados e o Distrito Federal têm pelo menos um hospital habilitado em Oncologia.
• A estimativa do Ministério é de que, em 2010, no Brasil tenha ocorrido cerca de 490 mil novos casos de câncer, sobretudo câncer de pele não melanoma, próstata e mama.
DADOS GERAIS
São 276 serviços especializados no SUS.
Estima-se que tenham ocorrido 490 mil novos casos de câncer em 2010.
Brasil avançou na detecção precoce da doença: 44% dos tumores diagnosticados estavam na fase inicial.
Câncer é a segunda causa de mortalidade no mundo, atrás das doenças cardiovasculares.
CÂNCER DE LARINGE
• O câncer de laringe ocorre predominantemente em homens e é um dos mais comuns entre os que atingem a região da cabeça e pescoço.
• Representa cerca de 25% dos tumores malignos que acometem essa área e 2% de todas as doenças malignas.
• Aproximadamente 2/3 dos tumores surgem na corda vocal, localizada na glote, e 1/3 acomete a laringe supraglótica (acima das cordas vocais).
Número de mortes: 3.594, sendo 3.142 homens e 452 mulheres (dado de 2008)
• Fatores de risco – álcool e o tabaco são os maiores inimigos da laringe. Fumantes têm 10 vezes mais chances de desenvolver câncer de laringe. Em pessoas que associam o fumo a bebidas alcoólicas, esse número sobe para 43.
INVESTIMENTOS EM ONCOLOGIA
Os avanços na área da Oncologia (tratamento de câncer) para pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) são importantes: nos últimos 12 anos, os gastos federais com assistência oncológica no país triplicaram, passando de R$ 470,5 milhões (em 1999) para cerca de R$ 1,8 bilhão (em 2010).
O Ministério da Saúde vai fechar o ano de 2011 com investimento de R$ 2,2 bilhões para o setor. Este aumento de recursos serviu para ampliar e melhorar a assistência aos pacientes atendidos nos hospitais públicos e privados que compõe o SUS, sobretudo para os tipos de câncer mais frequentes, como fígado, mama, linfoma e leucemia aguda.
Houve aumento de 40% no número de cirurgias oncológicas, que passou de 67 mil (2003) para 94 mil (estimativa 2011). Neste período, o número de procedimentos quimioterápicos dobrou – passou de 1,2 milhão (2003) para 2,4 milhões (2011/estimativa).
REDUÇÃO DE PREÇOS DE MEDICAMENTOS
Nos últimos anos, o governo federal – por meio do Ministério da Saúde – tomou uma importante decisão: tornar o país, gradualmente, independente do mercado internacional de medicamentos e outros produtos para a saúde.
O Ministério da Saúde vem adotando a política de “comprar melhor” – medida diretamente relacionada à melhoria da gestão.
CENÁRIO ATUAL
• Câncer é a segunda causa de mortalidade no mundo, atrás das doenças cardiovasculares.
• O Sistema Único de Saúde hoje garante assistência especializada e gratuita aos pacientes – de consultas e exames a procedimentos cirúrgicos, radioterapia, quimioterapia e iodoterapia – e hoje conta com 276 serviços especializados no tratamento oncológico.
• Todos os 26 estados e o Distrito Federal têm pelo menos um hospital habilitado em Oncologia.
• A estimativa do Ministério é de que, em 2010, no Brasil tenha ocorrido cerca de 490 mil novos casos de câncer, sobretudo câncer de pele não melanoma, próstata e mama.
DADOS GERAIS
São 276 serviços especializados no SUS.
Estima-se que tenham ocorrido 490 mil novos casos de câncer em 2010.
Brasil avançou na detecção precoce da doença: 44% dos tumores diagnosticados estavam na fase inicial.
Câncer é a segunda causa de mortalidade no mundo, atrás das doenças cardiovasculares.
CÂNCER DE LARINGE
• O câncer de laringe ocorre predominantemente em homens e é um dos mais comuns entre os que atingem a região da cabeça e pescoço.
• Representa cerca de 25% dos tumores malignos que acometem essa área e 2% de todas as doenças malignas.
• Aproximadamente 2/3 dos tumores surgem na corda vocal, localizada na glote, e 1/3 acomete a laringe supraglótica (acima das cordas vocais).
Número de mortes: 3.594, sendo 3.142 homens e 452 mulheres (dado de 2008)
• Fatores de risco – álcool e o tabaco são os maiores inimigos da laringe. Fumantes têm 10 vezes mais chances de desenvolver câncer de laringe. Em pessoas que associam o fumo a bebidas alcoólicas, esse número sobe para 43.
domingo, 6 de novembro de 2011
A MIDIACRACIA
Teve gente, e me incluo nesse barco, que acreditou que com o fim do governo do último general e com o início do governo de um civil, mesmo eleito indiretamente, a Ditadura havia acabado.
Foi um erro.
Deveríamos ter percebido isso, logo em seguida, quando um político praticamente desconhecido do Brasil, tendo sido apenas Prefeito de Maceió por indicação dos militares, Fernando Collor de Melo, derrotou políticos carismáticos e cheios de história como Leonel Brizola e Ulisses Guimarães tornando-se presidente.
Todos foram unânimes em apontar a eleição de Collor como uma vitória da mídia. Dizia-se que Collor fora eleito pela televisão. Quem viveu aquela época deve lembrar da campanha montada pela maior rede televisiva que incluía a imagem favorecida de Collor diariamente no vídeo, criando-se do nada, um ícone e fabricando uma popularidade de cima para baixo. Ou ainda, de jogadas pérfidas como o falso ataque em Caxias do Sul (tipo, bolinha de papel jogada no Serra) o seqüestro de Abílio Diniz e as imagens dos seqüestradores com camisetas do PT e a imoral montagem sobre o último debate entre Collor e Lula no segundo turno.
O que, talvez, poucos perceberam, é que aquela não havia sido uma vitória isolada. Mais do que isso, aquela eleição forjada com a força da imagem e da palavra midiática era apenas um indício de que a ditadura, no Brasil, ainda não havia acabado, assim como, ainda não acabou.
Apenas saímos de uma Ditadura explicita para uma implícita.
A mídia brasileira, a poderosa, a que domina o mercado quase de forma monopolista, hoje se percebe, governa o Brasil. A mesma mídia que apoiou o golpe e a ditadura. A mesma cuja maior emissora foi fundada durante a ditadura.
Uma de suas estratégias preferidas lembra cobrança ensaiada de falta no futebol, ou a jogadinha do vôlei em que um levanta, outro distrai e um terceiro baixa o braço numa cortada fatal. É assim: a poderosa Revista levanta as acusações (provas são desnecessárias), e cria um clima de “bomba”, de grande revelação. Na Televisão rostos indignados e perplexos reproduzem “a descoberta” ampliando o clima. Usando personagens ilibados que todos os dias entram nas casas do espectador, como o casal “compenetrado” do telejornal, ou o comentarista diretor de cinema que revira os olhinhos quando fala clima teatral, eles estão acima de qualquer suspeita. Depois das fintas e negaceios, os poderosos jornais aplicam a cortada ampliando e repetindo cada “informação” e preferência trazendo “especialistas”, que, claro, dizem aquilo que eles querem que seja dito.
Está montado o circo e em pouco tempo tudo é repetido nas ruas como se fossem verdades (repito, provas são desnecessárias).
Goebels, chefe da imprensa nazista já dizia que uma mentira repetida vira uma verdade.
O Brasil é o único país do mundo governado pela mídia. Por isso mesmo, é o único país da América do Sul que tem medo de julgar os carrascos que mataram e torturaram no período ditatorial.
É o único país do mundo em que quem escreve não precisa apontar suas fontes mesmo que a “informação” implique numa acusação contra a moral de alguém.
É o único país do mundo envolto numa midiacracia. Onde qualquer proposto de estabelecer algum controle ético sobre a mídia é imediatamente rotulado de censura.
E sabe o que é o pior? Aparentemente o governo não tem força ou vontade suficiente para detê-la.
O dono de poderoso grupo, detentor da revista de maior credibilidade do país afirmou, sem meias palavras, que irá derrubar o governo Dilma
Você duvida?
Prof. Péricles
Foi um erro.
Deveríamos ter percebido isso, logo em seguida, quando um político praticamente desconhecido do Brasil, tendo sido apenas Prefeito de Maceió por indicação dos militares, Fernando Collor de Melo, derrotou políticos carismáticos e cheios de história como Leonel Brizola e Ulisses Guimarães tornando-se presidente.
Todos foram unânimes em apontar a eleição de Collor como uma vitória da mídia. Dizia-se que Collor fora eleito pela televisão. Quem viveu aquela época deve lembrar da campanha montada pela maior rede televisiva que incluía a imagem favorecida de Collor diariamente no vídeo, criando-se do nada, um ícone e fabricando uma popularidade de cima para baixo. Ou ainda, de jogadas pérfidas como o falso ataque em Caxias do Sul (tipo, bolinha de papel jogada no Serra) o seqüestro de Abílio Diniz e as imagens dos seqüestradores com camisetas do PT e a imoral montagem sobre o último debate entre Collor e Lula no segundo turno.
O que, talvez, poucos perceberam, é que aquela não havia sido uma vitória isolada. Mais do que isso, aquela eleição forjada com a força da imagem e da palavra midiática era apenas um indício de que a ditadura, no Brasil, ainda não havia acabado, assim como, ainda não acabou.
Apenas saímos de uma Ditadura explicita para uma implícita.
A mídia brasileira, a poderosa, a que domina o mercado quase de forma monopolista, hoje se percebe, governa o Brasil. A mesma mídia que apoiou o golpe e a ditadura. A mesma cuja maior emissora foi fundada durante a ditadura.
Uma de suas estratégias preferidas lembra cobrança ensaiada de falta no futebol, ou a jogadinha do vôlei em que um levanta, outro distrai e um terceiro baixa o braço numa cortada fatal. É assim: a poderosa Revista levanta as acusações (provas são desnecessárias), e cria um clima de “bomba”, de grande revelação. Na Televisão rostos indignados e perplexos reproduzem “a descoberta” ampliando o clima. Usando personagens ilibados que todos os dias entram nas casas do espectador, como o casal “compenetrado” do telejornal, ou o comentarista diretor de cinema que revira os olhinhos quando fala clima teatral, eles estão acima de qualquer suspeita. Depois das fintas e negaceios, os poderosos jornais aplicam a cortada ampliando e repetindo cada “informação” e preferência trazendo “especialistas”, que, claro, dizem aquilo que eles querem que seja dito.
Está montado o circo e em pouco tempo tudo é repetido nas ruas como se fossem verdades (repito, provas são desnecessárias).
Goebels, chefe da imprensa nazista já dizia que uma mentira repetida vira uma verdade.
O Brasil é o único país do mundo governado pela mídia. Por isso mesmo, é o único país da América do Sul que tem medo de julgar os carrascos que mataram e torturaram no período ditatorial.
É o único país do mundo em que quem escreve não precisa apontar suas fontes mesmo que a “informação” implique numa acusação contra a moral de alguém.
É o único país do mundo envolto numa midiacracia. Onde qualquer proposto de estabelecer algum controle ético sobre a mídia é imediatamente rotulado de censura.
E sabe o que é o pior? Aparentemente o governo não tem força ou vontade suficiente para detê-la.
O dono de poderoso grupo, detentor da revista de maior credibilidade do país afirmou, sem meias palavras, que irá derrubar o governo Dilma
Você duvida?
Prof. Péricles
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
UM BULLING NACIONAL
As mensagens que infestam a Internet sugerindo que o ex-presidente Lula trate seu câncer pelo SUS, são reveladores e, ao mesmo tempo, preocupantes.
Não, não se engane, não é apenas uma piada como alguns, talvez com um leve traço de remorsos podem alegar.
Piadas são para fazer rir e precisam de uma porção de ficção, do tipo “nada pessoal”, ou da cumplicidade da “vítima” para ter graça. Mesmo as de humor negro.
Piadas não agridem pessoas reais que são seu alvo. É por isso que bulling, como apelidar os coleguinhas por algum destaque físico negativo, embora faça rir aos idiotas, não é uma piada.
Não. A alegação “foi uma brincadeira” não se justifica quando de uma mão só.
Também não se trata de um desejo sério e verdadeiro de debater o SUS. Isso seria válido e justo a qualquer cidadão brasileiro.
O SUS, que, aliás, não foi criado por esse governo, é uma das grandes conquistas do povo brasileiro.
O SUS substituiu o extinto INAMPS que prestava auxílio à saúde apenas dos contribuintes, e ter carteira assinada e contribuição sindical em dia, era obrigatório para ter “carteirinha”, que valia apenas por um ano e necessitava ser renovada. É um sistema que prevê o atendimento universal a todos os brasileiros.
Os Estados Unidos, por exemplo, não tem SUS e o presidente Obama que enviou pra cá uma equipe que estudou o SUS por meses, ao propor um sistema semelhante ao Congresso Nacional, sofreu uma dolorosa derrota. Os Estados Unidos, ao que tudo indica, continuaram sem SUS.
Sim, o SUS é uma realidade desde a Lei que o criou em 1992 e que simbolizou a materialização de muitos sonhos. Porém distante do ideal. Possuí inúmeras dificuldades, como remuneração de profissionais da saúde, incompetência dos gestores municipais e estaduais e naturais adaptações de toda novidade em um país imenso como o nosso.
Por exemplo, falta a prática do nosso povo que ainda pensa saúde pensando em INAMPS.
Nossa gente, acostumada com a cultura da casa grande e senzala, ainda acha que saúde é coisa dos mais ricos e que seu direito é menor. Qualquer um que já trabalhou em Posto de Saúde sabe que esses brasileiros chegam de cabeça baixa, como quem “está incomodando”.
Não entende o que seja medicina preventiva. Desconhece os caminhos do SUS, e por desconhecer, busca atalhos que geralmente levam a caminhos errados, ou simplesmente desistem.
Você que está lendo essas linhas sabia que o SUS tem um Programa chamado “Saúde da Mulher” que prevê todos os exames de rotina, inclusive o famoso pré-câncer? Você sabia que existe outro programa chamado “Saúde da Próstata” que deve ser utilizado por todos os homens de forma preventiva? Você sabia que cada município Brasileiro tem o direito e o dever de ter um conselho municipal da saúde, autônomo, independente da prefeitura para fiscalizar e propor ações da saúde? Você sabia que quando as pequenas cidades abrem concurso público para médicos, depois de, com recursos do Fundo Nacional da Saúde, criarem Unidades ou hospitais, são obrigados a cancelar os concursos por falta de interessados, já que o sindicato médico desaconselha que qualquer profissional trabalhe por menos de um determinado valor?
Você já parou pra pensar quem paga cada coquetel de medicamentos contra a AIDS, quem paga os transplantes e exames de alta complexidade?
Você sabia que quando o bicho pega e a coisa é grave (e muito cara) rico também usa o SUS já que seus planos privados se socorrem do SUS ou tiram o corpo fora?
Infelizmente não é com intenção de combater as dificuldades do SUS que essas mensagens povoam a internet.
Na verdade, esses mails e PPS apenas revelam que o ódio, o sentimento mesquinho, o desejo de ver morto, a vontade de reverter derrotas eleitorais alimentam essas “brincadeirinhas”.
Quem lança essas besteiras imagina que o SUS é o fim do mundo e queria mais que o ex-presidente fosse pra lá, pro fim do mundo.
O fascismo vive!
Isso é o que revela esse lixo eletrônico.
E o preocupante é percebermos o teor do ódio que lateja nos corações, especialmente dos preconceituosos que acham que pobre não deveria ter direito a nada.
A mesma gente cujos partidos estiveram o tempo todo no poder e nunca fizeram melhor a vida de ninguém, a não ser de suas próprias e de seus interesses.
Tudo isso, infelizmente revela que embora o país tenha progredido e já se aproxime de ser a sexta economia do mundo; embora na última década uma Argentina inteira (em termos populacionais) tenha saído da pobreza e entrado na classe média. Embora os avanços, a personalidade política dos conservadores e ultra-direitista não evoluiu um só centímetro de humanidade além da ponta de seu nariz.
Continuam os mesmos, aves de rapina montados em galhos ilusórios criados pela mídia e pelo rancor.
O que preocupa, realmente, em toda essa história macabra, é a saúde da cidadania nacional e as ameaças que pairam sobre nossa frágil democracia (se é que ela existe).
Prof. Péricles
Não, não se engane, não é apenas uma piada como alguns, talvez com um leve traço de remorsos podem alegar.
Piadas são para fazer rir e precisam de uma porção de ficção, do tipo “nada pessoal”, ou da cumplicidade da “vítima” para ter graça. Mesmo as de humor negro.
Piadas não agridem pessoas reais que são seu alvo. É por isso que bulling, como apelidar os coleguinhas por algum destaque físico negativo, embora faça rir aos idiotas, não é uma piada.
Não. A alegação “foi uma brincadeira” não se justifica quando de uma mão só.
Também não se trata de um desejo sério e verdadeiro de debater o SUS. Isso seria válido e justo a qualquer cidadão brasileiro.
O SUS, que, aliás, não foi criado por esse governo, é uma das grandes conquistas do povo brasileiro.
O SUS substituiu o extinto INAMPS que prestava auxílio à saúde apenas dos contribuintes, e ter carteira assinada e contribuição sindical em dia, era obrigatório para ter “carteirinha”, que valia apenas por um ano e necessitava ser renovada. É um sistema que prevê o atendimento universal a todos os brasileiros.
Os Estados Unidos, por exemplo, não tem SUS e o presidente Obama que enviou pra cá uma equipe que estudou o SUS por meses, ao propor um sistema semelhante ao Congresso Nacional, sofreu uma dolorosa derrota. Os Estados Unidos, ao que tudo indica, continuaram sem SUS.
Sim, o SUS é uma realidade desde a Lei que o criou em 1992 e que simbolizou a materialização de muitos sonhos. Porém distante do ideal. Possuí inúmeras dificuldades, como remuneração de profissionais da saúde, incompetência dos gestores municipais e estaduais e naturais adaptações de toda novidade em um país imenso como o nosso.
Por exemplo, falta a prática do nosso povo que ainda pensa saúde pensando em INAMPS.
Nossa gente, acostumada com a cultura da casa grande e senzala, ainda acha que saúde é coisa dos mais ricos e que seu direito é menor. Qualquer um que já trabalhou em Posto de Saúde sabe que esses brasileiros chegam de cabeça baixa, como quem “está incomodando”.
Não entende o que seja medicina preventiva. Desconhece os caminhos do SUS, e por desconhecer, busca atalhos que geralmente levam a caminhos errados, ou simplesmente desistem.
Você que está lendo essas linhas sabia que o SUS tem um Programa chamado “Saúde da Mulher” que prevê todos os exames de rotina, inclusive o famoso pré-câncer? Você sabia que existe outro programa chamado “Saúde da Próstata” que deve ser utilizado por todos os homens de forma preventiva? Você sabia que cada município Brasileiro tem o direito e o dever de ter um conselho municipal da saúde, autônomo, independente da prefeitura para fiscalizar e propor ações da saúde? Você sabia que quando as pequenas cidades abrem concurso público para médicos, depois de, com recursos do Fundo Nacional da Saúde, criarem Unidades ou hospitais, são obrigados a cancelar os concursos por falta de interessados, já que o sindicato médico desaconselha que qualquer profissional trabalhe por menos de um determinado valor?
Você já parou pra pensar quem paga cada coquetel de medicamentos contra a AIDS, quem paga os transplantes e exames de alta complexidade?
Você sabia que quando o bicho pega e a coisa é grave (e muito cara) rico também usa o SUS já que seus planos privados se socorrem do SUS ou tiram o corpo fora?
Infelizmente não é com intenção de combater as dificuldades do SUS que essas mensagens povoam a internet.
Na verdade, esses mails e PPS apenas revelam que o ódio, o sentimento mesquinho, o desejo de ver morto, a vontade de reverter derrotas eleitorais alimentam essas “brincadeirinhas”.
Quem lança essas besteiras imagina que o SUS é o fim do mundo e queria mais que o ex-presidente fosse pra lá, pro fim do mundo.
O fascismo vive!
Isso é o que revela esse lixo eletrônico.
E o preocupante é percebermos o teor do ódio que lateja nos corações, especialmente dos preconceituosos que acham que pobre não deveria ter direito a nada.
A mesma gente cujos partidos estiveram o tempo todo no poder e nunca fizeram melhor a vida de ninguém, a não ser de suas próprias e de seus interesses.
Tudo isso, infelizmente revela que embora o país tenha progredido e já se aproxime de ser a sexta economia do mundo; embora na última década uma Argentina inteira (em termos populacionais) tenha saído da pobreza e entrado na classe média. Embora os avanços, a personalidade política dos conservadores e ultra-direitista não evoluiu um só centímetro de humanidade além da ponta de seu nariz.
Continuam os mesmos, aves de rapina montados em galhos ilusórios criados pela mídia e pelo rancor.
O que preocupa, realmente, em toda essa história macabra, é a saúde da cidadania nacional e as ameaças que pairam sobre nossa frágil democracia (se é que ela existe).
Prof. Péricles
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
ARGENTINA CONDENA SEUS MONSTROS
Semana importante não apenas para a Argentina, mas para todos os países que sofreram ditaduras militares cujos autores ainda não foram processados por seus crimes. Também para os governos democráticos, mesmo os de direita, que tiveram cidadãos sequestrados e assassinados pela última ditadura Argentina. A sinistra canalha uniformada destruiu, entre outros milhares, a vida de estrangeiros de 32 países diferentes. Desses países, alguns colaboraram com a ditadura (como o Brasil, o Chile e a Itália), mas outros moveram céu e terra para que se fizesse justiça com seus cidadãos vítimas, como a Suécia, a França e a Alemanha.
Mas também foi um dia emocionante para qualquer país civilizado. Pela terceira vez na história moderna, após Nuremberg e o julgamento dos coronéis gregos, foi realizado um processo judicial profundo, não condicionado, dentro dos mais rigorosos princípios do direito humanitário, de 18 antigos membros da última ditadura Argentina. Deles, 16 foram condenados, 12 a prisão perpétua, e outros 4 a períodos de 18, 20 e 25 anos de reclusão.
Antes do julgamento, a Argentina já tinha condenado 209 criminosos militares e cúmplices civis e eclessiais, mas isso foi conseguido pela administração Kirchner, num esforço minucioso e esforçado desde 2002. Todavia, nenhum desses processos tinha atingido tal quantidade de genocidas, e tampouco seu simbolismo era tão forte. Todos os condenados no dia 26 foram chefões da Escuela de Mecánica de la Armada (Escola de Mecânica da Marinha, ESMA), a mais emblemática instituição dos carniceiros argentinos, e o mais destrutivo dos 360 campos de extermínio que a demência assassina dos fardados, junto com seus muitos cúmplices civis, ergueram ao longo do país.
Os militares da ESMA foram acusados de oitenta e seis casos comprovados de sequestro, tortura, assassinado e desaparição, mas a dimensão de seus crimes é muito maior. Cálculos muito bem fundamentados estimam entre 4.500 e 5.600 o número total de vítimas do sinistro campo de extermínio. Seria absurdo dizer que, entre os condenados ontem, alguém não fosse cúmplice de todos esses crimes, cuja execução foi resultado de um projeto tão doentio como o que implementaram os nazistas. Se as quantidades são menores, é porque os militares argentinos não tiveram a decisão nem a capacidade dos nazistas, mas não, com certeza, porque fossem menos truculentos.
Os 12 condenados a prisão perpétua pelo Tribunal Federal 5º da Argentina são: Alfredo Astiz – “herói” das Malvinas, assassino de várias freiras, de mães de Praça de Maio e da adolescente sueca Dagmar Hagelin.
Jorge “Tigre” Acosta, célebre psicopata que obrigava suas vítimas a rezar.
E os seguintes: Ricardo Cavallo, Antonio Pernías, José Montes, Raúl Scheller, Jorge Rádice, Adolfo Donda, Alberto González, Néstor Savio e Julio César Coronel e Ernesto Weber.
Desde Nuremberg, os crimes contra a humanidade são considerados uma categoria especial, que merece critérios especiais para seu julgamento. O direito de defesa, a aplicação de normas claras, e as condenações humanitárias e não vingativas devem ser iguais para quaisquer crimes, inclusos os crimes contra a humanidade, pois estes são princípios do direito natural que, como disse no século 2º o jurista Ulpiano “valem para os homens e para todos os seres vivos”.
Mas os crimes contra a Humanidade não prescrevem, e isso ficou demonstrado no julgamento de ontem na Argentina, acontecido 35 anos após os fatos. O direito humanitário é contrário à prisão perpétua, e erradica-la é fundamental, mas a condenação a prisão perpétua de autores de crimes contra a humanidade não é, como torpemente pretendem os bajuladores das casernas, um ato de vingança.
Por outro lado, sabemos que esses homens tem uma probabilidade quase zero de se recuperar, pois, nos 26 anos de investigação sobre o caso Argentina, nunca se viu algum militar e policial que estivesse arrependido das torturas e assassinatos cometidos.
Vários deles, em julgamentos anteriores, choraram no tribunal, mas não por motivos nobres. Um velho general, que se movimentava em cadeira de rodas, olhou os juízes e a audiência e disse:
-Eu me arrependo... de não ter podido matar mais, de não ter matado todos vocês. Em vez de 30 mil deveriam ter sido 3 milhões...
Carlos A. Lungarzo
Mas também foi um dia emocionante para qualquer país civilizado. Pela terceira vez na história moderna, após Nuremberg e o julgamento dos coronéis gregos, foi realizado um processo judicial profundo, não condicionado, dentro dos mais rigorosos princípios do direito humanitário, de 18 antigos membros da última ditadura Argentina. Deles, 16 foram condenados, 12 a prisão perpétua, e outros 4 a períodos de 18, 20 e 25 anos de reclusão.
Antes do julgamento, a Argentina já tinha condenado 209 criminosos militares e cúmplices civis e eclessiais, mas isso foi conseguido pela administração Kirchner, num esforço minucioso e esforçado desde 2002. Todavia, nenhum desses processos tinha atingido tal quantidade de genocidas, e tampouco seu simbolismo era tão forte. Todos os condenados no dia 26 foram chefões da Escuela de Mecánica de la Armada (Escola de Mecânica da Marinha, ESMA), a mais emblemática instituição dos carniceiros argentinos, e o mais destrutivo dos 360 campos de extermínio que a demência assassina dos fardados, junto com seus muitos cúmplices civis, ergueram ao longo do país.
Os militares da ESMA foram acusados de oitenta e seis casos comprovados de sequestro, tortura, assassinado e desaparição, mas a dimensão de seus crimes é muito maior. Cálculos muito bem fundamentados estimam entre 4.500 e 5.600 o número total de vítimas do sinistro campo de extermínio. Seria absurdo dizer que, entre os condenados ontem, alguém não fosse cúmplice de todos esses crimes, cuja execução foi resultado de um projeto tão doentio como o que implementaram os nazistas. Se as quantidades são menores, é porque os militares argentinos não tiveram a decisão nem a capacidade dos nazistas, mas não, com certeza, porque fossem menos truculentos.
Os 12 condenados a prisão perpétua pelo Tribunal Federal 5º da Argentina são: Alfredo Astiz – “herói” das Malvinas, assassino de várias freiras, de mães de Praça de Maio e da adolescente sueca Dagmar Hagelin.
Jorge “Tigre” Acosta, célebre psicopata que obrigava suas vítimas a rezar.
E os seguintes: Ricardo Cavallo, Antonio Pernías, José Montes, Raúl Scheller, Jorge Rádice, Adolfo Donda, Alberto González, Néstor Savio e Julio César Coronel e Ernesto Weber.
Desde Nuremberg, os crimes contra a humanidade são considerados uma categoria especial, que merece critérios especiais para seu julgamento. O direito de defesa, a aplicação de normas claras, e as condenações humanitárias e não vingativas devem ser iguais para quaisquer crimes, inclusos os crimes contra a humanidade, pois estes são princípios do direito natural que, como disse no século 2º o jurista Ulpiano “valem para os homens e para todos os seres vivos”.
Mas os crimes contra a Humanidade não prescrevem, e isso ficou demonstrado no julgamento de ontem na Argentina, acontecido 35 anos após os fatos. O direito humanitário é contrário à prisão perpétua, e erradica-la é fundamental, mas a condenação a prisão perpétua de autores de crimes contra a humanidade não é, como torpemente pretendem os bajuladores das casernas, um ato de vingança.
Por outro lado, sabemos que esses homens tem uma probabilidade quase zero de se recuperar, pois, nos 26 anos de investigação sobre o caso Argentina, nunca se viu algum militar e policial que estivesse arrependido das torturas e assassinatos cometidos.
Vários deles, em julgamentos anteriores, choraram no tribunal, mas não por motivos nobres. Um velho general, que se movimentava em cadeira de rodas, olhou os juízes e a audiência e disse:
-Eu me arrependo... de não ter podido matar mais, de não ter matado todos vocês. Em vez de 30 mil deveriam ter sido 3 milhões...
Carlos A. Lungarzo
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
NOTA POLÍTICA DO PCB - DIGA COM QUEM ANDAS...
O programa institucional do PC do B, exibido na televisão na última quinta-feira, revela sem disfarce seu reformismo e oportunismo, além de sua falta de escrúpulos. Assistimos uma grosseira falsificação da história.
Se nosso Partido fosse legalista, poderíamos reclamar no Procon, no TSE, na justiça comum, contra a tentativa de seqüestro da história do PCB: propaganda enganosa, falsidade ideológica, estelionato político, apropriação indébita.
Num roteiro de farsa, o PcdoB, que em 2012 comemorará 50 anos anunciou que completará 90, apropriando-se, de forma oportunista, de uma história que sempre repudiou e negou, sobretudo a ligação do PCB com o Partido Comunista da União Soviética, com o Movimento Comunista Internacional e inclusive com a Revolução Cubana, da qual esses dissidentes foram ferrenhos opositores.
(...) Para falsificar a história, exibiram como membros do Pc do B camaradas que morreram antes da criação deste partido e outros que, na cisão de 1962, notoriamente ficaram com a maioria, permanecendo no PCB.
(...) No conteúdo político do programa o reformismo aparece com toda a sua expressão. Em 2011, exibem um programa eleitoral voltado para as eleições de 2012! Como todos os partidos da ordem, passam os anos ímpares se preparando para as eleições dos anos pares!
(...) Em 10 minutos de programa, não houve menção alguma ao imperialismo e ao capitalismo. Parece que, para esse partido, nem o imperialismo está inventando guerras contra os povos nem os trabalhadores do mundo estão lutando contra as retiradas de seus direitos, em meio à crise sistêmica do capitalismo.
(...) Jovens, certamente aspirantes a vereador, aparecem no programa se dizendo socialistas (não comunistas) e explicam o que significa ser socialista. Segundo eles, ser socialista “é fazer as cidades mais justas”, “é ser ético sempre”, ”é tratar as pessoas com dignidade”, “é ser responsável com o dinheiro público”.
(...) Aliás, por falar em dinheiro público, o PCB, na crítica política e ideológica que faz ao PcdoB, não centrará suas divergências nas recentes denúncias contra o Ministro dos Esportes. Ficamos com o benefício da dúvida, aguardando os desdobramentos do caso e a apuração das denúncias, pela CGU, MPF, Polícia Federal, Procuradoria Geral da República, STF(...).
(...) A luta do PCB contra a corrupção é aberta e radical, no sentido de ir às raízes do problema. É parte da luta contra o capitalismo. Dizemos claramente que a corrupção é inerente ao capitalismo, é sistêmica. De alguma forma, mais ou menos ”esperta”, é usada por todos os partidos que apostam e jogam no cassino da democracia burguesa, onde a concorrência depende de financiamentos privados e caixas dois.
(...) Esperamos que um partido intitulado comunista não caia na vala comum dos partidos burgueses, abatido por aqueles que querem o Ministério dos Esportes não para acabar com a promiscuidade, mas para administrá-la. Ou o PcdoB se depura e corrige seu rumo ou que mude de nome, o que seria uma atitude de respeito aos verdadeiros comunistas.
(...) O desgaste provocado pela degeneração do PC do B tem sido muito grande para a luta dos comunistas e outros revolucionários, permitindo à mídia hegemônica criar uma imagem de que todos são “farinha do mesmo saco”, inclusive os comunistas.
O PCB não pode e não deve abrir mão de se diferenciar dos reformistas e oportunistas, para que os trabalhadores não os confundam com o nosso Partido. Não podemos deixar de zelar pela memória de todos nossos camaradas que honraram o PCB , muitos pagando com a própria vida, e por uma história de 90 anos de luta, heróica, cheia de erros e acertos, de vitórias e derrotas, de perseguições e acusações de toda sorte, mas sempre de mãos limpas.
VIVA OS 90 ANOS DO PCB!
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central
25 de outubro de 2011
Para ler na íntegra acesse www.pcb.org.br
Se nosso Partido fosse legalista, poderíamos reclamar no Procon, no TSE, na justiça comum, contra a tentativa de seqüestro da história do PCB: propaganda enganosa, falsidade ideológica, estelionato político, apropriação indébita.
Num roteiro de farsa, o PcdoB, que em 2012 comemorará 50 anos anunciou que completará 90, apropriando-se, de forma oportunista, de uma história que sempre repudiou e negou, sobretudo a ligação do PCB com o Partido Comunista da União Soviética, com o Movimento Comunista Internacional e inclusive com a Revolução Cubana, da qual esses dissidentes foram ferrenhos opositores.
(...) Para falsificar a história, exibiram como membros do Pc do B camaradas que morreram antes da criação deste partido e outros que, na cisão de 1962, notoriamente ficaram com a maioria, permanecendo no PCB.
(...) No conteúdo político do programa o reformismo aparece com toda a sua expressão. Em 2011, exibem um programa eleitoral voltado para as eleições de 2012! Como todos os partidos da ordem, passam os anos ímpares se preparando para as eleições dos anos pares!
(...) Em 10 minutos de programa, não houve menção alguma ao imperialismo e ao capitalismo. Parece que, para esse partido, nem o imperialismo está inventando guerras contra os povos nem os trabalhadores do mundo estão lutando contra as retiradas de seus direitos, em meio à crise sistêmica do capitalismo.
(...) Jovens, certamente aspirantes a vereador, aparecem no programa se dizendo socialistas (não comunistas) e explicam o que significa ser socialista. Segundo eles, ser socialista “é fazer as cidades mais justas”, “é ser ético sempre”, ”é tratar as pessoas com dignidade”, “é ser responsável com o dinheiro público”.
(...) Aliás, por falar em dinheiro público, o PCB, na crítica política e ideológica que faz ao PcdoB, não centrará suas divergências nas recentes denúncias contra o Ministro dos Esportes. Ficamos com o benefício da dúvida, aguardando os desdobramentos do caso e a apuração das denúncias, pela CGU, MPF, Polícia Federal, Procuradoria Geral da República, STF(...).
(...) A luta do PCB contra a corrupção é aberta e radical, no sentido de ir às raízes do problema. É parte da luta contra o capitalismo. Dizemos claramente que a corrupção é inerente ao capitalismo, é sistêmica. De alguma forma, mais ou menos ”esperta”, é usada por todos os partidos que apostam e jogam no cassino da democracia burguesa, onde a concorrência depende de financiamentos privados e caixas dois.
(...) Esperamos que um partido intitulado comunista não caia na vala comum dos partidos burgueses, abatido por aqueles que querem o Ministério dos Esportes não para acabar com a promiscuidade, mas para administrá-la. Ou o PcdoB se depura e corrige seu rumo ou que mude de nome, o que seria uma atitude de respeito aos verdadeiros comunistas.
(...) O desgaste provocado pela degeneração do PC do B tem sido muito grande para a luta dos comunistas e outros revolucionários, permitindo à mídia hegemônica criar uma imagem de que todos são “farinha do mesmo saco”, inclusive os comunistas.
O PCB não pode e não deve abrir mão de se diferenciar dos reformistas e oportunistas, para que os trabalhadores não os confundam com o nosso Partido. Não podemos deixar de zelar pela memória de todos nossos camaradas que honraram o PCB , muitos pagando com a própria vida, e por uma história de 90 anos de luta, heróica, cheia de erros e acertos, de vitórias e derrotas, de perseguições e acusações de toda sorte, mas sempre de mãos limpas.
VIVA OS 90 ANOS DO PCB!
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central
25 de outubro de 2011
Para ler na íntegra acesse www.pcb.org.br
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