Preocupadíssimo com o crescimento das idéias reformistas na Europa, o Papa Paulo III convocou, em 1545 o Concílio de Trento, para decidir as estratégias da Igreja Católica contra esse crescimento. Foi o concílio mais longo da História, realizado de 1545 a 1563. Também ficou conhecido como o Concílio da Contra-Reforma.
As decições desse Concílio, para o enfrentamento das idéias protestantes seriam decisivas para a história da Europa e da América, e consistiram entre outras decisões importantes: reafirmação do celibato clerical, da doutrina da graça e do pecado original, do culto dos santos e principalmente a instituição do Index Librorum Prohibitorum (uma espécie de index de livros proibidos aos católicos), a criação da companhia de Jesus (padres Jesuítas) e a refundação da Inquisição, agora com o nome de Tribunal do Santo Ofício.
Já o Auto-de-fé era um misto de cerimônia religiosa com execução judicial, tudo envolvido por um enorme aparato dogmático e teatral. Uma cerimônia pública em que se liam as sentenças da Inquisição. Em geral, aconteciam na principal praça da cidade, com uma procissão prolongada, missa solene, juramento de obediência ao Tribunal do Santo Ofício, sermão e leitura das sentenças de condenação.
Geralmente as penas variavam entre prisão perpétua e morte. O primeiro auto-de-fé foi realizado em Sevilha, na Espanha, em 1481, e o último, teve lugar no México, em 1850.
No dia 09/10/2011 completou-se 150 anos da realização do Auto-de-fé de Barcelona. Nele 300 exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo, de Allan Kardec, enviados da França, foram confiscados na Espanha pelo arcebispo dom Antônio Palau Y Termenes sob alegação de serem "imorais e contrários à fé católica" e queimados em praça pública.
Por volta de 10h30, surgiu um padre, vestido com paramentos especiais para ritos daquela espécie, trazendo numa das mãos uma cruz e, na outra, uma tocha. Era acompanhado por outras autoridades e auxiliares, inclusive três serventes, encarregados de manter aceso o fogo.
Quando, finalmente, as chamas se apagaram, a comitiva clerical se retirou, sob as vaias da multidão e os gritos de "abaixo a Inquisição!".
Os exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e O que é o Espiritismo chegaram a Barcelona num lote juntamente com outros, todos devidamente comprados e pagos, pelo renomado escritor e editor francês Maurice Lachâtr. Enviados de Paris, haviam sido inspecionados na alfândega espanhola, cobrando-se do destinatário todos os tributos correspondentes.
A propósito, o jornal La Carona publicou, à época, o seguinte:
"Os sinceros amigos da paz, do princípio de autoridade e da religião, se afligem com essas demonstrações reacionárias porque compreendem que às reações sucedem as revoluções. Os liberais sinceros se indignam de semelhantes espetáculos, dados por homens que não compreendem a religião sem a intolerância e querem impor como Maomé impunha o seu Alcorão".
A propósito, em tempos de crítica e demonização do Islã é bom refletirmos sobre atos que hoje se imputam aos muçulmanos terem sido praticados largamente no Ocidente.
Quanto ao Espiritismo e Allan Kardec seguiram seu caminho natural, apesar de toda repressão e intolerância.
Prof. Péricles
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