sábado, 18 de agosto de 2012

NOVO PRAZO

Pessoal, atendendo pedidos de alunos, especialmente os candidatos ao vestibular, o Blog manterá suas atividades até as férias de verão, quando do concurso da UFRGS.

Assim, a partir dessa semana voltaremos às atividades normais.

Abraços,

Péricles

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

CHEGANDO AO FIM

Caros amigos e amigas.

Nosso Blog sairá do ar no fim desse mês de agosto.
Um série de motivos nos levam a isso: poucos acessos, falta de tempo para uma maior dedicação, enfim, várias coisas.
Ainda estaremos por aqui em agosto.
Quem desejar aproveitar para copiar algum texto de interesse, sinta-se à vontade.
Beijos e abraços,

Prof. Péricles

terça-feira, 31 de julho de 2012

A FUGA DO REI


A fuga do Rei

Uma noite de Junho, em 1791, entre onze horas e meia-noite, o rei, a rainha e as suas duas crianças escaparam, disfarçados, das Tulherias, fizeram uma travessia palpitante através de Paris, rodearam a cidade no norte para leste e atingiram, afinal, uma carruagem de viagem, que os estava esperando na estrada de Châlons. Fugiam para o exército do leste.

O exército do leste era “leal”, isto é, os seus generais e oficiais estavam, pelo menos, preparados para trair a França em favor do rei e da corte. Eis afinal um pouco de aventura ao gosto da rainha! Pode-se figurar a deliciosa excitação do pequeno grupo, à medida que os quilômetros passavam e a distância aumentava entre eles e Paris.

Adiante, sobre as colinas, estavam a reverência, as curvaturas profundas e os solenes
beija-mãos.

Depois, a volta para Versalhes. Alguns tiros sobre a turbamulta de Paris – artilharia, se necessário. Algumas execuções – não, porém, da espécie de gente que afinal importa. Um Terror Branco, por alguns meses. Depois, tudo, de novo, estaria bem.

Talvez Calonne pudesse também voltar, com expedientes financeiros novos. Não estava ele, agora mesmo, trabalhando por conseguir o apoio dos príncipes
alemães? Havia uma porção de castelos a reedificar, mas o povo, que os queimara, dificilmente se poderia queixar se a tarefa de sua reconstrução lhe pesasse um pouco mais opressivamente sobre os seus ombros sujos...

Todas estas brilhantes antecipações foram cruelmente destruídas, aquelas. O rei fora reconhecido proprietário da estação em Sainte-Menehould pelo proprietário
da estação de muda e , enquanto descia a noite, as estradas de leste ressoavam sob o galope dos mensageiros que acordavam a população das zonas circunvizinhas
e procuravam interceptar os fugitivos.

Na aldeia de Varennes de Cima haviam sido reservados cavalos novos para o descanso das parelhas – o jovem oficial encarregado havia, porém, desistido de esperar o rei, durante a noite, e tinha ido dormir – e nesse ínterim, por uma meia hora, o pobre rei, disfarçado de criado, discutia em Varennes de Baixo com os seus postilhões, os quais, esperando encontrar as mudas para os cavalos nesta aldeia, recusavam-se a seguir adiante.

Afinal consentiram em partir. Mas era muito tarde. O pequeno grupo encontrou o proprietário da muda de Sainte-Menehould – que havia passado a cavalo, enquanto os postilhões discutiam – acompanhado de certo número de valorosos republicanos de Varennes a esperá-lo na ponte, entre as duas partes da vila. A ponte estava defendida por barricadas. Os mosquetes foram apontados para a carruagem: “Os vossos
passaportes!” O rei rendeu-se sem luta. O pequeno grupo foi levado para a casa de certo funcionário da vila. “Bem”, disse o rei, “aqui me tendes!” Observou também que estava com fome. No jantar, louvou o vinho, “excelente vinho”. O que disse a rainha, não foi registado.

Havia tropas realistas nas proximidades, mas não houve tentativa de libertar o rei. Os sinos começaram a tocar e a vila, para guardar-se contra qualquer surpresa, reacendeu a sua iluminação pública...

Um carro carregado de realeza, mas em profundo desalento, voltou a Paris e foi recebido por imensa multidão – em silêncio. Fizera-se correr entre a multidão
que seria castigado todo aquele que insultasse o rei, e morto qualquer um que o aplaudisse...

Foi somente depois dessa proeza louca que a idéia de república apossou-se do espírito francês.


Wells, H.G In: História Universal, vol7. Cia. Ed. Nacional, São Paulo, 1968.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A BURGUESINHA NUA


Na vida tem certas coisas que parecem que são, você jura ... mas não são.

Quem nunca confundiu abacaxi com ananás?

Quem nunca chamou alguém pelo nome pra verificar, sem graça, que a pessoa era outra?

Quem nunca trocou a data de aniversário das namoradas?

Pois, quem vivia na França na segunda metade do século XVIII, e assistiu os momentos dramáticos da Revolução Francesa, com certeza, poderia jurar que se tratava de um movimento dos pobres, dos oprimidos, em busca de igualdade e da liberdade.

Afinal, quem empunhava aquele porrete não era o moço funcionário do armazém? E aquele senhor lá na frente, exaltado, não era o agricultor humilde da fazendola próxima?

Igualdade, Liberdade, Fraternidade!

A emoção de ver homens e mulheres, jovens e velhos nas ruas, armando barricadas e lutando contra as forças do Rei fizeram circular histórias, como a da misteriosa e linda mulher de seios nus (depois identificada como a Liberdade) lutando lado a lado com o povo.

Centenas juravam tê-la visto.

Quando os habitantes de Marselha chegaram a Paris para se juntar à luta, parecia, poderia jurar que parecia, a união de pobres em busca da sua vez.

Parecia, mas não era.

Na verdade, quem chegava ao poder a partir dessas lutas emocionantes, era a burguesia, que, naquele momento histórico, pertencia a um status menor, um status de terceiro estado, sendo explorada pela nobreza no andar de cima.

Foram 10 loucos anos revolucionários em que, logo após galgar o poder a mais alta burguesia tratou de limitar o espaço dos mais pobres, urbanos ou dos campo.

A Reforma agrária jamais aconteceu de fato. A reforma fiscal beneficiou apenas os que tinham dinheiro e a igualdade deve ter morrido na guilhotina em alguma noite escura, sem testemunhas.

Quando sonhadores como Gracchus Babeuf, lideranças da ralé, perceberam, a cortina já havia se fechado, o show havia terminado e o povo ficado de fora.

Quando os canhões de Napoleão impuseram o fim da revolução, a única mudança social fora a mudança de inquilinos do andar de cima.

A Igualdade e a fraternidade permaneceram belas palavras, sedutoras e ilusórias, e muitos morreram velhinhos sem entender onde elas haviam se perdido.

A moça dos seios nus? Não era a Liberdade coisa nenhuma... era uma burguesinha assanhada, prometendo o que não daria e que só existia na imaginação dos iludidos.

Prof. Péricles

terça-feira, 24 de julho de 2012

SÉCULO XVIII, A VEZ DA BURGUESIA



O século XVIII foi o século da consolidação do capitalismo.

Depois de uma fase pré-capitalista em que a unificação nacional centralizada na figura do Rei deu origem a um Estado Nacional aristocrático, a burguesia assumiria efetivamente o poder político, deixando de ser uma mera coadjuvante para, realmente se tornar o ator principal.

Para isso foi necessário desmantelar a ordem do chamado “Antigo Regime”, destruindo as bases da monarquia absolutista e, em seu lugar, estruturar a democracia burguesa.

Por estarem juntos no andar debaixo, povo trabalhador e burguesia, a queda da aristocracia através de processos revolucionários, trouxe a ilusão do povo no poder, através da ordem democrática. Mas, apenas ilusão, pois na verdade, quem se assentou no andar de cima foi apenas, e tão somente a burguesia.

Na ordem econômica o Mercantilismo, economia clássica do estado absolutista foi substituído pelo liberalismo, onde a livre iniciativa e a busca do lucro através da concorrência de mercado seriam os elementos determinantes.

Dessa forma teremos a consolidação do iluminismo como fonte dos novos valores culturais e sociais.

São fatos históricos intrínsecos a esse contexto: o apogeu das idéias iluministas cujo lema liberdade, igualdade e fraternidade é representativo; a Revolução Francesa e a primeira fase da Revolução Industrial.

Sobre a Revolução Industrial é importante ressaltar que ela ocorreu exclusivamente na Inglaterra devido, principalmente, ao pioneirismo de sua burguesia ao se livrar dos entulhos feudais ainda no século XVII nas chamadas Revoluções Inglesas (Puritana e Gloriosa).

O Brasil, por estar submetido ao colonialismo português que adota o mercantilismo colonial com ortodoxia, explorando suas colônias de forma radical e autoritária, ficou à margem dessas mudanças. Mesmo assim, ocorre durante o ciclo da Mineração uma verdadeira queda de braço com a Metrópole representada pela política fiscal massacrante da metrópole e a sonegação da colônia.

É nesse contexto que teremos a primeira revolta de fundo contra a exploração fiscal (A Revolta de Vila Rica ou de Felipe dos Santos, em 1720) e, principalmente, a primeira inconfidência (Minas Gerais, 1789).

O Rio Grande do Sul, pela primeira vez será reconhecido como território brasileiro, com o Tratado de Madri de 1750. Teremos também, como conseqüência desse Tratado, a primeira resistência indígena pela terra, as Guerras Guaraníticas, de 1750 a 1756.

Prof. Péricles

domingo, 22 de julho de 2012

DONA EUROPA E SUAS FILHAS

Dona Europa livrou-se, há séculos, da tutela do Senhor Feudal, ao qual esteve submetida ao longo de mil anos. Cabeça feita por Copérnico, Galileu e Descartes, casou-se com o Senhor Moderno Liberal e montou casa no bairro da Democracia.

Dona Europa puxou o tapete dos nobres, deu um chega pra lá no papa e elegeu governos constitucionais que trocaram a permuta pela moeda, evitaram fazer uso de mão de obra escrava, transformaram antigos camponeses em operários merecedores de salários.

Dona Europa passou a nutrir ambições desmedidas. Fitou com olho gordo o imenso mapa-múndi que enfeitava a sala de sua casa. Quantas riquezas naquelas terras habitadas por nativos ignorantes! Quantas áreas cultiváveis cobertas pela exuberância paradisíaca da natureza!

Dona Europa lançou ao mar sua frota em busca de ricas prendas situadas em terras alheias. Os navegantes invadiram territórios, saquearam aldeias, disseminaram epidemias, extraíram minerais preciosos, estenderam cercas onde tudo, até então, era de uso comum.

Dona Europa praticou, em outros povos, o que se negava a fazer na própria casa: impôs impérios, reinados e ditadores; inibiu o acesso à cultura letrada; implantou o trabalho escravo; proibiu a industrialização; internacionalizou normas econômicas que lhe eram favoráveis, em detrimento dos povos alhures.

Um dos povos de além-mar dominados por Dona Europa ousou rebelar-se em 1776, emancipou-se da tutela e se tornou mais poderoso do que ela – o Tio Sam.

O professor Maquiavel ensinou à Dona Europa que, quando não se pode vencer o inimigo, é melhor aliar-se a ele. Assim, ela associou-se a Tio Sam para exercer domínio sobre o mundo.

Dona Europa e Tio Sam acumularam tão espantosa riqueza, que cederam à ilusão de que seriam eternos o luxo e a ostentação em que viviam. Tudo em suas casas era maravilhoso. E suas moedas reluziam acima de todas as outras.

Ora, não há casa sem alicerce, árvore sem raiz, riqueza sem lastro. Para manter o estilo de vida a que se acostumaram, Dona Europa e Tio Sam gastavam mais do que podiam. E, de repente, constataram que se encontravam esmagados sob dívidas astronômicas. O que fazer?

A primeira medida foi a adotada em turbulência de viagem de avião: apertar os cintos. Não deles, óbvio. Mas de seus empregados: despediram alguns, reduziram os salários de outros, deixaram de consumir produtos importados. Assim, a crise da dupla se alastrou mundo afora.

Dona Europa e Tio Sam não são burros. Sabem onde mora o dinheiro: nos bancos. Tio Sam, ao ver o rombo em sua economia, tratou de rodar a maquininha da Casa da Moeda e socorreu os bancos com pelo menos US$ 18 trilhões.

Dona Europa tem várias filhas. Segundo ela, algumas não souberam administrar bem suas fortunas. A formosa Grécia parece ter perdido a sabedoria. Gastou muito mais do que podia. Os mesmo aconteceu com a sedutora Itália, a encantadora Espanha e a inibida Irlanda.

Como o cofre da família é de uso comum, Dona Europa se cobriu de aflições. Puniu as filhas gastadoras e apelou à mais rica de todas, a severa Alemanha, para ajudá-la a socorrer as endividadas.

A Alemanha é manhosa. Disse que só socorre as irmãs se puder controlar os gastos delas. O que significa cortar as asinhas das moças – o que em política equivale a anular a soberania.

Soberana hoje, na casa de Dona Europa, só a pudica Alemanha. O resto da família é dependente e está de castigo. A mais cheirosa das filhas, a França, anda rebelde. Após aparecer de mãos dadas com a Alemanha, agora que arrumou namorado novo encara a irmã com desconfiança.

Nós, aqui do sul do mundo, que ainda não cortamos o cordão umbilical com Tio Sam e Dona Europa, corremos o risco de ficar gripados se Dona Europa continuar a espirrar tanto, alérgica ao espectro de um futuro tenebroso: a agonia e morte do deus Mercado, cujos fiéis devotos mergulharam em profunda crise de descrença.

Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital