domingo, 26 de janeiro de 2014

TEMPO DA GRANDE TRANSFORMAÇÃO



Por Leonardo Boff


Normalmente as sociedade se assentam sobre o seguinte tripé: na economia que garante a base material da vida humana para que seja boa e decente; na política pela qual se distribui o poder e se montam as instituições que fazem funcionar a convivência social; a ética que estabelece os valores e normas que regem os comportamentos humanos para que haja justiça e paz e que se resolvam os conflitos sem recurso à violência.

Geralmente a ética vem acompanhada por uma aura espiritual que responde pelo sentido último da vida e do universo, exigências sempre presentes na agenda humana.

Estas instâncias se entrelaçam numa sociedade funcional, mas sempre nesta ordem: a economia obedece a política e a política se submete à ética.

Mas a partir da revolução industrial no século XIX, precisamente, a partir de 1834, a economia começou na Inglaterra a se descolar da política e a soterrar a ética.

Surgiu uma economia de mercado de forma que todo o sistema econômico fosse dirigido e controlado apenas pelo mercado livre de qualquer controle ou de um limite
ético.

A marca registrada deste mercado não é a cooperação mas a competição, que vai além da economia e impregna todas a relações humanas. Mais ainda criou-se, no dizer de Karl Polanyi, "um novo credo totalmente materialista que acreditava que todos os problemas poderiam ser resolvidos por uma quantidade ilimitada de bens materiais (A Grande Transformação, Campus 2000, p. 58).

Esse credo é ainda hoje assumido com fervor religioso pela maioria dos economistas do sistema imperante e, em geral, pelas políticas públicas.

A partir de agora, a economia funcionará como o único eixo articulador de todas as instâncias sociais. Tudo passará pela economia, concretamente, pelo PIB. Quem estudou em detalhe esse processo foi o filósofo e historiador da economia já referido, Karl Polanyi (1866-1964), de ascendência húngara e judia e mais tarde convertido
ao cristianismo de vertente calvinista. Nascido em Viena, atuou na Inglaterra e depois, sob a pressão macarthista, entre o Toronto no Canadá e a Universidade de Columbia nos USA. Ele demonstrou que "em vez de a economia estar embutida nas relações sociais, são as relações sociais que estão embutidas no sistema econômico (p. 77). Então ocorreu o que ele chamou A Grande Transformação: de uma economia de mercado se passou a uma sociedade de mercado.

Em consequência nasceu um novo sistema social, nunca antes havido, onde a sociedade não existe, apenas os indivíduos competindo entre si, coisa que Reagan e Thatcher
irão repetir à saciedade. Tudo mudou pois tudo, tudo mesmo, vira mercadoria. Qualquer bem será levado ao mercado para ser negociado em vista do lucro individual: produtos naturais, manufaturados, coisas sagradas ligadas diretamente à vida como água potável, sementes, solos, órgãos humanos. Polanyi não deixa de anotar que tudo isso é "contrário à substância humana e natural das sociedades". Mas foi o que triunfou especialmente no após-guerra. O mercado é "um elemento útil, mas subordinado à uma comunidade democrática" diz Polanyi. O pensador está na base da "democracia econômica".

Aqui cabe recordar as palavras proféticas de Karl Marx em 1847 Na miséria da filosofia: "Chegou, enfim, um tempo em que tudo o que os homens haviam considerado
inalienável se tornou objeto de troca, de tráfico e podia vender-se. O tempo em que as próprias coisas que até então eram co-participadas mas jamais trocadas; dadas, mas jamais vendidas; adquiridas mas jamais compradas - virtude, amor, opinião, ciência, consciência etc -em que tudo passou para o comércio. O tempo da corrupção geral, da venalidade universal ou, para falar em termos de economia política, o tempo em que qualquer coisa, moral ou física, uma vez tornada valor venal é levada ao mercado para receber um preço, no seu mais justo valor.

Os efeitos socioambientais desastrosos dessa mercantilização de tudo, os estamos sentindo hoje pelo caos ecológico da Terra. Temos que repensar o lugar da economia
no conjunto da vida humana, especialmente face aos limites da Terra. O individualismo mais feroz, a acumulação obsessiva e ilimitada enfraquece aqueles valores sem os quais nenhuma sociedade pode se considerar humana: a cooperação, o cuidado de uns para com os outros, o amor e a veneração pela Mãe Terra e a escuta da consciência que nos incita para bem de todos.

Quando uma sociedade se entorpeceu como a nossa e por seu crasso materialismo se fez incapaz de sentir o outro como outro, somente enquanto eventual produtor e consumidor, ela está cavando seu próprio abismo. O que disse Chomski há dias na Grécia (22/12/2013) vale como um alerta:"aqueles que lideram a corrida para o precipício são as sociedades mais ricas e poderosas, com vantagens incomparáveis como os USA e o Canadá. Esta é a louca racionalidade da 'democracia capitalista' realmente existente."

Agora cabe a retorção ao There is no Alternative (TINA): Não há alternativa: ou mudamos ou pereceremos porque os nossos bens materiais não nos salvarão.

É o preço letal por termos entregue nosso destino à ditadura da economia transformada num "deus salvador" de todos os problemas.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CONTA DIREITO ESSA HISTÓRIA


Filho de Professor de História Antiga, o judeu Marc Léopold Benjamim Bloch nasceu na França em 06 de julho d 1886.

Desde muito jovem demonstrou talento para o estudo, em especial para as ciências sociais e a história.

Lutou na I Guerra Mundial, sendo condecorado por heroísmo em batalha após grave ferimento.

Depois da guerra foi para a Universidade de Estrasburgo, onde conheceu Lucien Febvre que seria seu amigo pessoal e parceiro intelectual pelo resto da vida.

Na época de Bloch o estudo de história estava amordaçado às circunstâncias do fato. Produzir conhecimento em história era apenas descrever os fatos como eles pareciam ter ocorrido, sem maior preocupação com análise contextual ou futura.

Era como você contando a história do seu casamento apenas focando a cerimônia desapegada dos fatos que levariam o divórcio mais tarde.

Juntos, Bloch e Febvre, fundaram, em 1929, a revista “Annales d’Histoire Économique ET Sociale” que trouxe uma nova abordagem da história. Nessa abordagem o fato é mostrado como conseqüência do contexto social, político e econômico de seu tempo, compreensível a partir de uma análise econômica e social.

A revista alcançou sucesso mundial, dando origem a uma nova forma de “contar a história”, que foi chamado de Escola dos Annales.

A partir dessa nova mentalidade, Bloch publicou em 1939, aquela que é considerada sua obra prima “A Sociedade Feudal” (ele até hoje é considerado o maior medievalista de todos os tempos). Nessa obra se promove uma renovação na compreensão do feudalismo.

Definitivamente estava sepultada a história meramente seqüencial dos fatos, nomes e datas para dar lugar a uma nova história preocupada com a relação do homem, a sociedade e o tempo, sendo os fatos, conseqüências e não causas.

Em junho de 1940 a França se rende ao invasor nazista. Bloch participará da resistência francesa que fará amarga a vida dos alemães em território francês. Mas, foi capturado, barbaramente torturado e fuzilado em 16 de junho de 1944, nos subúrbios da pequena cidadezinha francesa de Saint-Didier-de-Formans.

Após a Guerra, amigos e admiradores publicaram post-mortem “Apologia da História ou O Ofício do Historiador”, outro clássico da área.

Por tudo isso Marc Bloch sempre será uma referência nos estudos de história. Sem nenhuma dúvida um dos maiores intelectuais de nosso tempo, e para muitos, o maior historiador do século XX.

Assim, é muito triste quando se percebe que, no Brasil, o estudo de história, em muitas cabeças e instituições, permaneça anterior a Marc Bloch e sua obra.

Ainda é muito comum ouvir de aluno que história é só “decoreba”.

Esse pensamento expressa a idéia errônea da história apenas factual e estática.
Reflete também a forma que foi ensinada história a esse aluno.

Exemplo do quanto esse raciocínio pode ser prejudicial é a idéia existente na cabeça de muitos brasileiros sobre a Ditadura militar como uma seqüência de fatos (lamentáveis), mas que “devem permanecer no passado” como se a sua influência nefasta ainda não se faça sentir na política nacional e na sua ética. Nessa maneira de pensar a Ditadura é algo passado que não diz nada a quem não viveu a sua época.

Por isso, assim como antes de pensar em mudar o mundo devemos pensar em mudar a nós mesmos, não há dúvidas que antes de repensar as mudanças no sistema de ensino do Brasil, deve o historiador e o professor de história mudar a maneira de relatar os fatos históricos, fornecendo elementos e exigindo mais interpretação e envolvimento do que, meramente, conhecimento formal.

E aos alunos é sagrado o direito de cobrar de seus professores - “conta direito essa história”.


Prof. Péricles
Fontes:
http://www.marcbloch.fr/bio.html

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O IMPÉRIO DO SHOPPING



por Emir Sader em Carta Maior

Na sua fase neoliberal, o capitalismo implementa, como nunca na sua história, a mercantilização de todos os espaços sociais. Se disseminam os chamados não-lugares – como os aeroportos, os hotéis, os shopping-centers , homogeneizados pela globalização, sem espaço nem tempo, similares por todo o mundo.

Os shopping-centers representam a centralidade da esfera mercantil em detrimento da esfera pública, nos espaços urbanos. Para a esfera mercantil, o fundamental é o consumidor e o mercado. Para a esfera pública, é o cidadão e os direitos.

Os shoppings-centers representam a ofensiva avassaladora contra os espaços públicos nas cidades, são o contraponto das praças públicas. São cápsulas espaciais condicionadas pela estética do mercado, segundo a definição de Beatriz Sarlo. Um processo que igualiza a todos os shopping-centers, de São Paulo a Dubai, de Los Angeles a Buenos Aires, da Cidade do México à Cidade do Cabo.

A instalação de um shopping redesenha o território urbano, redefinindo, do ponto de vista de classe, as zonas onde se concentra cada classe social. O centro – onde todas as classes circulavam – se deteriora, enquanto cada classe social se atrincheira nos seus bairros, com claras distinções de classe Os shopping, como exemplos de não-lugares, são espaços que buscam fazer com que desapareçam o tempo e o espaço – sem relógio e sem janelas - , em que desaparecem a cidade em que estão inseridos, o pais, o povo. A conexão é com as marcas globalizadas que povoam os shopping-centers de outros lugares do mundo. Desaparecem os produtos locais – gastronomia, artesanato -, substituídos pelas marcas globais, as mesmas em todos os shoppings, liquidando as diferenças, as particularidades de cada pais e de cada povo, achatando as formas de consumo e de vida.

O shopping pretende substituir à própria cidade. Termina levando ao fechamento dos cinemas tradicionais das praças publicas, substituídos pelas dezenas de salas dos shoppings, que promovem a programação homogênea das grandes cadeias de distribuição.

O shopping não pode controlar a entrada das pessoas, mas como que por milagre, só estão aí os que tem poder aquisitivo, os mendigos, os pobres, estão ausentes. Há um filtro, muitas vezes invisível, constrangedor, outras vezes explicito, para que só entrem os consumidores.

Nos anos 1980 foi organizado um passeio de moradores de favelas no Rio de Janeiro a um shopping da zona sul da cidade. Saíram vários ônibus, com gente que nunca tinham entrado num shopping.
As senhoras, com seus filhos, sentavam-se nas lojas de sapatos e se punham a experimentar vários modelos, vários tamanhos, para ela e para todos os seus filhos, diante do olhar constrangido dos empregados, que sabiam que eles não comprariam aqueles sapatos, até pelos seus preços. Mas não podiam impedir que eles entrassem e experimentassem as mercadorias oferecidas.

Criou-se um pânico no shopping, os gerentes não sabiam o que fazer, não podiam impedir o ingresso daquelas pessoas, porque o shopping teoricamente é um espaço público, aberto, nem podiam botá-los pra fora. Tocava-se ali no nervo central do shopping – espaço público privatizado, porque mercantilizado.

O shopping-center é a utopia do neoliberalismo, um espaço em que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. Interessa aos shoppings os consumidores, desaparecem, junto com os espaços púbicos, os cidadãos. Os outros só interessam enquanto produtores de mercadorias. Ao shopping interessam os consumidores.

Em um shopping chique da zona sul do Rio, uma vez, uns seguranças viram um menino negro. Correram abordá-lo, sem dúvida com a disposição de botá-lo pra fora daquele templo do consumo. Quando a babá disse que ela era filho adotivo do Caetano Veloso, diante do constrangimento geral dos seguranças.

A insegurança nas cidades, o mau tempo, a contaminação, o trânsito, encontra refúgio nessa cápsula, que nos abriga de todos os riscos. Quase já se pode nascer e morrer num shopping – só faltam a maternidade e o cemitério, porque hotéis já existem. A utopia – sem pobres, sem ruídos, sem calçadas esburacadas, sem meninos pobres vendendo chicletes nas esquinas ou pedindo esmolas, sem trombadinhas, sem flanelinhas.

O mundo do consumo, reservado para poucos, é o reino absoluto do mercado, que determina tudo, não apenas quem tem direito de acesso, mas a distribuição das lojas, os espaços obrigatórios para que se possa circular, tudo comandado pelo consumo.

sábado, 18 de janeiro de 2014

DR. EGITO


O povo egípcio se destacou em muitas coisas e foram fundamentais em muitos aspectos nas mais variadas áreas. Uma delas foi a medicina.

Foram os maiores médicos da antiguidade e muitos dos seus conhecimentos foram utilizados até a Idade Média, ou mais.

Grandes ginecologistas, obstetras, pediatras.

Ninguém sabia mais da anatomia humana que eles, até pelo exercício extraordinário da mumificação.

Algumas múmias egípcias guardam até hoje os pontinhos brancos das unhas.

Claro, que a mumificação também estava atrelada ao poder econômico e por isso, com raras exceções, apenas as múmias dos mais ricos chegaram até nós com todo o conhecimento conservado.

O mais antigo tratado de Medicina que chegou até nós, foi escrito por volta de 1555 a.C. e foi encontrado em Tebas, no Egito, no ano de 1862.

Abordava diagnósticos e tratamentos de várias doenças. Esses tratamentos incluíam exorcismos, uso de vegetais, manipulação de minerais e até excrementos de animais como medicamento.

No Antigo Egito já havia preocupação com as insistentes dores de cabeça e enxaquecas, mas, o tratamento consistia em amarrar um crocodilo de barro na cabeça do paciente, orar e evocar os deuses.

Diagnosticavam ataques epiléticos a acreditando que as convulsões eram provocadas pela influência da lua, denominavam os doentes de “lunáticos”.

Os Egípcios descreviam com pormenores desconhecidos por qualquer outra civilização, a anatomia feminina, diagnosticando inúmeras enfermidades e terapias.

Foram eles que criaram o mais perfeito método anticoncepcional antes da invenção da pílula no século XX, composto por sementes de acácia negra esmagadas, que possuíam enorme efeito antiespermaticida.

Alguns desenhos sugerem que seus médicos chegaram a tentar transplantes, mas foram vencidos pela rejeição e também aumentar o órgão sexual masculino.

Nunca esquecendo que estamos falando de um povo e de conhecimentos de mais de 3500 anos atrás.

Dá pra imaginar o quanto os médicos do Egito iriam se encantar e contribuir tendo a seu dispor os recursos técnicos de hoje?

Prof. Péricles

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

OS MAIS LIDOS



Queridas amigas e amigos,

Tendo em vista que muitos dos nossos visitantes são recém-chegados, convido a todos a conferir os cinco textos mais acessados do Blog.

Se você não leu e gostaria de ler, use a aba “Pesquisar esse Blog” que fica ao lado. Coloque o título no espaço e clic, automaticamente será levado ao título e depois de novo clic, ao texto.

Não são necessariamente, os que mais causaram repercussão, mas os mais acessados segundo estatística do google.

Fique à vontade para encaminhar comentários ou imprimir o texto, se desejar.

Espero que seja útil a seus estudos ou simplesmente de agradável leitura.

São eles:

1º Corrupção na ditadura militar, publicado em maio de 2013;

2º Batalha de Pirajá, publicado em maio de 2011;

3º Os 10 Piores Governantes do Brasil, de agosto de 2013;

4º Chimangos e Maragatos, Traumas da Guerra de dezembro de 2012;

5º A Revolta dos Padres, de junho de 2011.


Boa leitura.


Prof. Péricles

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O QUE DIZEM OS GATOS



Num certo momento os persas estavam próximos de estruturar o primeiro império conhecido da história. Para consolidar seu poder, após a conquista da Babilônia e da Palestina, seu imperador, Cambises considerou fundamental ampliar seu território às terras mais distantes do Egito. Com essa conquista estaria fechado um arco de dominação que se estenderia no planalto do Irã e das terras férteis do atual Iraque até o nordeste da África, dominando as principais rotas comerciais.

Assim, confiante e decidido, Cambises invadiu o Egito no ano de 525 a.C.

Governava o Egito o jovem faraó Psamético III, que reinava a pouco mais de cinco meses quando morrera seu pai. Marchou com suas tropas ao encontro do invasor encontrando-os na decisiva batalha de Pelusa (ou Pelúsio).

Psamético esperava receber apoio naval e terrestre dos Gregos, mas esse reforço jamais chegou até o faraó.

A batalha foi muito fácil para os persas.

Enquanto as tropas egípcias eram comandadas por um inexperiente faraó, os persas contavam com uma raposa no comando.

Segundo o historiador Heródoto, Cambises além de possuir soldados veteranos em combate e bem treinados, ainda fez uma aliança com tribos nômades que não só deixaram de ajudar as tropas de Psamético como ainda auxiliaram os persas.

Heródoto afirma que, Cambises ordenou que vasta quantidade de gatos fosse colocada à frente de suas tropas e amarrados em seus carros de guerra. Além disso, determinou que fosse pintada a figura de Bastet,o deus-gato dos egípcios, em seus escudos.

Temerosos de atingir os animais sagrados e de cometer algum tipo de sacrilégio, as tropas egípcias foram totalmente envolvidas e a batalha terminou num massacre. As baixas do Egito teriam sido de mais de 50 mil homens entre mortos, feridos e desertores.

Psamético III recuou com o que restou de suas forças para a cidade de Mênfis, mas não suportou por muito tempo o cerco de Cambises e acabou se rendendo ao invasor.

A Batalha de Pelusa demonstrou como é necessário conhecer o inimigo para poder vencê-lo. Cambises estudou os egípcios e assim, conhecia seus pontos fracos e suas crenças, seu amor aos gatos e o temor ao deus-gato.

Começou a vencer a batalha antes mesmo de sua realização.

Essa lição deveria ser melhor compreendida, por exemplo, pela oposição política brasileira.

Derrotada nas últimas três eleições presidenciais, os partidos de oposição ameaçam repetir seus erros não trazendo nada de novo ao debate político nacional.

Se quiser ter alguma chance nas urnas ano que vem, é fundamental que a oposição ao atual governo abandone táticas totalmente superadas, como alianças de última hora para a construção de uma espécie de salvador da pátria.

A internet promoveu uma silenciosa transformação entre o eleitorado brasileiro, ainda não completamente compreendida. Não basta mais o apoio tácito da mídia para formar opinião. A maioria das pessoas estão melhor informadas graças ao acesso a inúmeros novos mecanismos de informação.

Tão pouco adianta para a oposição bater nas conquistas sociais tipo Bolsa Família ou afirmar que o país está mal e a beira do precipício se as pessoas estão empregadas e recriando uma classe média que nunca consumiu tanto.

Muito menos adianta insistir que o PT inventou a corrupção no Brasil. O povo sabe muito bem que isso não é verdade e lembra que outros governos, inclusive de quem hoje usa o dedo acusador, fizeram o mesmo ou pior do que os mensaleiros.

Se a oposição no Brasil quiser ter chances nas eleições de 2014, deveria entender melhor porque o governo do PT agrada tanto ao povão e depois de bem compreendida a lição, partir para propostas reais e palpáveis de fazer melhor.

O Brasil precisa de uma oposição melhor, mais objetiva e realista que contribua de fato com um debate sério e realista. É necessário à saúde política do país que a oposição seja menos Psamético.

Seria conveniente colocar alguns gatos que o PT teme, à frente de suas tropas, como por exemplo, cadê a reforma agrária que era prometida pelo partido e por Lula? Cadê a participação popular nas decisões?

A melhor forma de combater o personalismo é inserindo as organizações populares nas discussões e decisões políticas ao invés de apenas denunciar o populismo.

Talvez esteja faltando estratégia a quem faz oposição no Brasil.

Certamente estão faltando gatos no seu arsenal e Cambises entre suas lideranças.



Prof. Péricles