quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

OPERAÇÃO CONDOR



A Operação Condor foi uma aliança estabelecida formalmente, em 1975, entre as ditaduras militares da América Latina. O acordo consistiu no apoio político-militar entre os governos da região, visando perseguir os que se opunham aos regimes autoritários. Na prática, a aliança apagou as fronteiras nacionais entre seus signatários, que se articularam na repressão aos adversários políticos.

O nome do acordo era uma alusão ao condor, ave típica dos Andes e símbolo do Chile. Trata-se de uma ave extremamente sagaz na caça às suas presas. Nada mais simbólico, portanto, que batizar a aliança entre as ditaduras de Operação Condor. Não à toa, foi justamente o Chile, sob os auspícios do governo de Augusto Pinochet, quem assumiu a dianteira da operação.

Além do Chile, fizeram parte da aliança: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Nos anos 1980, o Peru, já sob uma ditadura militar, também juntou-se ao grupo. Pode-se dizer que a operação teve três fases. A primeira consistiu na troca de informações entre os países-membros. A segunda caracterizou-se pelas trocas e execuções de opositores nos territórios dos países que formavam a aliança. A terceira fase ficou marcada pela perseguição e assassinato de inimigos políticos no exterior - muitas vezes no próprio exílio.

Calcula-se que, apenas nos anos 1970, o número de mortos e "desaparecidos" políticos tenha chegado a aproximadamente 290 no Uruguai, 360 no Brasil, 2 mil no Paraguai, 3.100 no Chile e impressionantes 30 mil na Argentina - a ditadura latino-americana que mais vítimas deixou em seu caminho. Estimativas menos conservadoras dão conta de que a Operação Condor teria chegado ao saldo total de 50 mil mortos, 30 mil desaparecidos e 400 mil presos.

O Brasil participou ativamente das duas primeiras fases da Operação Condor. Não há, contudo, evidências que comprovem seu envolvimento com o extermínio de adversários políticos fora da América Latina. O Brasil apoiou os golpes militares em pelo menos três países da região: Bolívia, em 1971; Uruguai, em 1973; e Chile, no mesmo ano. Já existiam, portanto, estreitas ligações entre as ditaduras latino-americanas.

A Operação Condor veio apenas reforçar os laços políticos e militares, reorientando a aliança entre os governos da região para a perseguição a seus opositores. Nesse sentido, um caso emblemático foi o episódio envolvendo o seqüestro de uruguaios em Porto Alegre, em 1978. Militares daquele país atravessaram a fronteira com o Brasil, com a anuência do governo brasileiro, para seqüestrar um casal de militantes de oposição ao governo uruguaio que estavam na capital gaúcha.

A operação teria sido um sucesso - como tantas outras - não fosse o fato de dois jornalistas brasileiros, após serem alertados por um telefonema anônimo, terem ido até o apartamento onde o casal morava. O envolvimento dos jornalistas acabou revelando a ação conjunta do Uruguai e do Brasil - e repercutindo internacionalmente o episódio. Em 1991, o governo gaúcho indenizou as vítimas daquela ação militar. No ano seguinte, o Uruguai também tomou a decisão de reparar os seqüestrados.


Até hoje, uma das maiores controvérsias da Operação Condor em relação ao Brasil é a morte dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, e do ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Embora não existam provas que atestem o envolvimento do governo brasileiro na morte dos três políticos, os familiares de JK e Jango freqüentemente acusaram a participação da ditadura na morte dos ex-presidentes.

De tempos em tempos, parentes de Jango voltam aos jornais para acusar o governo militar de ter planejado e executado seu assassinato. Em 2008, o ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio, Mario Neira Barreiro, disse em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo que espionou durante quatro anos João Goulart, e que ele foi morto por envenenamento a pedido do governo brasileiro.

Para investigar a morte dos dois ex-presidentes, o Legislativo chegou, inclusive, a instalar comissões especiais, que nunca conseguiram comprovar as teorias conspiratórias. Muito pelo contrário, os indícios, até agora, vão no sentido de comprovar que o Brasil não teve qualquer envolvimento com a morte de seus ex-presidentes, embora os dois episódios tenham ocorrido em circunstâncias estranhas na opinião de alguns observadores.

JK, Jango e Lacerda faleceram no espaço de menos de um ano. Em 1966, eles integraram a chamada "Frente Ampla", movimento de resistência à ditadura militar. Também por sua ativa participação no movimento oposicionista contra a ditadura, a morte dos três até hoje gera discussões quanto ao fato de terem ocorrido, ou não, sob as asas da Operação Condor.

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Vitor Amorim de Angelo
historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

OS VÔOS DA MORTE



Floreal Avellaneda achava que não suportaria mais tanta dor.

Desde que fora preso na cidade de Vicente López e depois de trazido arrastado para a ESMA (Escola de Mecânica da Armada argentina) já passara por verdadeiro suplício.

Pancadas foram tantas que já se tornara dormente e nem mais ligava para elas.

O que doía mesmo eram os choques elétricos, principalmente nos testículos, ou na língua, que lhe faziam saltar além de sua vontade, como se toda a musculatura de seu corpo tivesse vontade própria.

Incomodava também, o hábito dos torturadores de apagar os cigarros em sua pele. Queimaduras de cigarro ardem muito especialmente quando vários cigarros são apagados no mesmo lugar.

Caíra em abril de 1976, mas não sabia mais em que mês estava pois sua cabeça não conseguia organizar os pensamentos, embora o esforço para não perder a lucidez. Percebera a transferência para o Campo de Mayo, mas isso, não alterou em nada sua agonia.

Na última sessão de tortura, dois dias atrás, eles, os seus carrascos, exageraram. Um choque fora tão forte que lhe cortara um pedaço enorme da língua. Sentiu vontade vomitar mas as pancadas em sua cabeça foram tão repetidas que ele sufocara com o próprio vômito, não morrendo por um detalhe.

Agora, encolhido no canto da cela permanecia com os olhos fechados não só pela dor e pelo cansaço de dias sem dormir, mas porque, se abrisse os olhos veria Maria Rosa Mora, companheira de militância, presa junto com ele, estirada na cela ao lado. Ele fora obrigado a assistir as torturas em Maria Rosa, os estupros seguidos e seus gritos que foram diminuindo de intensidade até tornarem-se apenas sussurros.

Quando ouviu os passos que se aproximam da cela ele imaginou que iria para a última sessão. Dificilmente sobreviveria mais uma vez.

Floreal Avellaneda tinha apenas 17 anos, mais o sofrimento o envelhecera rapidamente, e, como um veterano da dor, respirou fundo, esperando o suplício final. Havia decidido morrer sem dizer nada, sem entregar nenhum companheiro à mesma sanha assassina e dessa decisão não se afastaria.

Para a sua surpresa, a primeira figura que reconheceu na frente de sua cela, foi um padre. Por segundos se sentiu aliviado. Padres representam Deus e certamente são contra as torturas. Com um padre por perto talvez sobrevivesse.

O torturador-mor entrou em seguida.

Maria Rosa Mora abrira também os olhos, embora não fizesse o menor ruído.

Sem rodeios o “general”, como gostava de ser chamado, disse com sua voz aguda que os dois, Floreal e Maria Rosa, eram pessoas de muita sorte. Recebera ordens para solta-los, com a condição de que abandonassem o país imediatamente e para sempre. Por mim, dizia o General, eu matava os dois, mas ordens são ordens.

Enquanto dois homens se aproximavam dos prisioneiros e aplicavam uma injeção em cada um, o padre dizia que estava ali para garantir suas seguranças, que as injeções eram para aliviar as dores e que os acompanhariam até o outro lado da fronteira, no Chile, de onde poderiam ir para onde quisessem.

Floreal percebeu que chorava quando não mais enxergava o padre próximo falando. Sua lágrima de felicidade turvava a visão. Mas, a injeção, maravilhosa, lhe tirava bastante as dores, deixando uma sensação agradável e alguma tontura.

Com algum esforço ergueu os braços alcançando as mãos do padre e beijo-as com enorme alívio.

A partir daí sua rota foi entremeada de vigília com sono, como se estivesse sonhando um sonho prolongado e vagaroso.

Viu-se numa maca sendo colocado num avião, ao lado de Maria Rosa. Depois, despertou com a voz do padre que rezava uma daquelas preces conhecidas que sua mãe ensinara. Depois viu que alguns homens tentavam erguê-lo. Viu o mar, estranhamente belo e infinitamente azul, que como um manto celeste lhe prometia abrigo. Sorriu, compreendendo estar próximo da liberdade...

Em meados de Maio de 1976, os corpos de Floreal Avellaneda e de Maria Rosa Mora foram encontrados, com as mãos amarradas, no Balneário de Rochas, no Uruguai.

O método de arremessar pessoas a partir de aviões e helicópteros, conhecidos como Vôos da Morte, foi aplicado pelos três ramos das forças armadas argentinas e por várias forças de segurança, durante a ditadura militar daquele país.

Sabe-se que os prisioneiros políticos condenados eram enganados com a promessa de que teriam a liberdade. Eram dopados antes do embarque para evitar qualquer tipo de reação e levados para alto mar.

O coronel Albino Zimmermann, chefe de polícia de Antonio Bussi, chegou a gabar-se em reuniões familiares de ter atirado vários guerrilheiros para a morte e fazia piada imaginando a surpresa dos infelizes.

Calcula-se em mais de 5 mil vítimas nos vôos da morte, alguns com a anuência e colaboração de padres que chegavam a dar a extrema-unção dentro das aeronaves.

A principal pista sobre os executores diretos foi dada em 1995 pelo ex gendarme Federico Talavera, que admitiu que a cada vinte dias transportava seqüestrados adormecidos num caminhão Mercedes-Benz rumo à base de El Palomar, onde eram carregados num Hércules da Força Aérea.

Em dezembro iniciou-se na Argentina, o julgamento de pilotos dos “vôos da morte”, que promete envolver lágrimas, revolta e muita emoção em todo o país.

Ao contrário do Brasil, a Argentina busca cicatrizar suas feridas punindo os culpados desse passado tenebroso para que fatos assim não voltem a ocorrer no país.

A todos que entendem o respeito aos direitos humanos como pressuposto da democracia, cabe acompanhar esse caso por mais doloroso que seja.

É o mínimo que se pode fazer em memória de suas vítimas.


Prof. Péricles

domingo, 6 de janeiro de 2013

A VEJA E O ESCARAVELHO


Com a morte de Oscar Niemeyer aos 104 anos de idade ouviram-se vozes do mundo inteiro cheias de admiração, respeito e reverência face a sua obra genial, absolutamente inovadora e inspiradora de novas formas de leveza, simplicidade e elegância na arquitetura. Oscar Niemeyer foi e é uma pessoa que o Brasil e a humanidade podem se orgulhar.

E o fazemos por duas razões principais: a primeira, porque Oscar humildemente nunca considerou a arquitetura a coisa principal da vida; ela pertence ao campo da fantasia, da invenção e do lúdico. Para ele era um jogo das formas, jogado com a seriedade com que as crianças jogam.

A segunda, para Oscar, o principal era a vida. Ela é apenas um sopro, passageira e contraditória. Feliz para alguns mas para as grandes maiorias cruel e sem piedade. Por isso, a vida impõe uma tarefa que ele assumiu com coragem e com sérios riscos pessoais: a da transformação. E para transformar a vida e torná-la menos perversa, dizia, devemos nos dar as mãos, sermos solidários uns para com os outros, criarmos laços de afeto e de amorosidade entre todos. Numa palavra, nós humanos devemos aprender a nos tratar humanamente, sem considerar as classes, a cor da pele e o nível de sua instrução.

Isso foi que alimentou de sentido e de esperança a vida desse gênio brasileiro. Por aí se entende que escolheu o comunismo como a forma e o caminho para dar corpo a este sonho, pois, o comunismo, em seu ideário generoso, sempre se propôs a transformação social a partir das vítimas e dos mais invisíveis. Oscar Niemeyer foi um fiel militante comunista.

Mas seu comunismo era singular: no meu modo de ver, próximo dos cristãos originários, pois era um comunismo ético, humanitário, solidário, doce, jocoso, alegre e leve. Foi fiel a esse sonho a vida inteira, para além de todos os avatares passados pelas várias formas de socialismo e de marxismo.

Na medida em que pudemos observar, a grande maioria da opinião pública mundial, foi unânime na celebração de sua arte e do significado humanista de sua vida. Curiosamente a revista VEJA de domingo, dedica-lhe 10 belas páginas. Outra coisa, porém, é a revista VEJA online de 7 de dezembro com um artigo do blog do jornalista Reinado Azevedo que a revista abriga.

Ele foi a voz destoante e de reles mau gosto. Até agora a VEJA não se distanciou daquele conteúdo, totalmente, contraditório àquele da edição impressa de domingo. Entende-se porque a ideologia de um é a ideologia do outro. Pouco importa que o jornalista Azevedo, de forma confusa, face às críticas vindas de todos os lados, procure se explicar. Ora se identifica com a revista, ora se distancia, mas finalmente seu blog é por ela publicado.

Notoriamente, VEJA se compraz em desfazer as figuras que melhor mostram nossa cultura e que mais penetraram na alma do povo brasileiro. Essa revista parece se envergonhar do Brasil, porque gostaria que ele fosse aquilo que não é e não quer ser: um xerox distorcido da cultura norte-americana. Ela dá a impressão de não amar os brasileiros, ao contrário expõe ao ridículo o que eles são e o que criam. Já o titulo da matéria referente a Oscar Niemeyer da autoria de Azevedo, revela seu caráter viciado e malevolente: "Para instruir a canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens".

Seu texto piora mais ainda quando, se esforça, titubeante, em responder às críticas em seu blog do dia 8/12 também na VEJA online com um título que revela seu caráter despectivo e anti-democrático: "Metade gênio e metade idiota- Niemeyer na capa da VEJA com todas as honras! O que o bloco dos Sujos diz agora?" Sujo é ele que quer contaminar os outros com a própria sujeira de uma matéria tendenciosa e injusta.

O que se quer insinuar com os tipos de formulação usados? Que brasileiro não pode ser gênio; os gênios estão lá fora; se for gênio, porque lá fora assim o reconhecem, é apenas em sua terceira parte e, se melhor analisarmos, apenas numa quarta parte. Vamos e venhamos: Quem diz ser Oscar Niemeyer um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado. Seguramente Azevedo está inscrito no número bem definido por Albert Einstein: "conheço dois infinitos: o infinito do universo e o infinito dos idiotas; do primeiro tenho dúvidas, do segundo certeza". O articulista nos deu a certeza que ele e a revista que o abriga possuem um lugar de honra no altar da idiotice.

O que não tolera em Oscar Niemeyer que, sendo comunista, se mostra solidário, compassivo com os que sofrem, que celebra a vida, exalta a amizade e glorifica o amor. Tais valores não cabem na ideologia capitalista de mercado, defendida por VEJA e seu albergado, que só sabe de concorrência, de "greed is good" (cobiça é coisa boa), de acumulação à custa da exploração ou da especulação, da falta de solidariedade e de justiça em nível internacional.

Mas não nos causa surpresa; a revista assim fez com Paulo Freire, Cândido Portinari, Lula, Dom Helder Câmara, Chico Buarque, Tom Jobim, João Gilberto, frei Betto, João Pedro Stédile, comigo mesmo e com tantos outros. Ela é um monumento à razão cínica. Segue desavergonhadamente a lógica hegeliana do senhor e do servo; internalizou o senhor que está lá no Norte opulento e o serve como servo submisso, condenado a viver na periferia. Por isso tanto a revista quanto o articulista revelam um completo descompromisso com a verdade daqui, da cultura brasileira.

A figura que me ocorre deste articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente, portanto.

Paro por aqui. Mas quero apenas registrar minha indignação contra esta revista, em versão online, travestida de escaravelho por ter cometido um crime lesa-fama. Reproduzo igualmente dois testemunhos indignados de duas pessoas respeitáveis: Antonio Veronese, artista plástico vivendo em Paris e João Cândido Portinari, filho do genial pintor Cândido Portinari, cujas telas grandiosas estão na entrada do edifício da ONU em Nova York e cuja imagem foi desfigurada e deturpada, repetidas vezes, pela revista-escaravelho.

De Leonardo Boff

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

MENINA DA ÍNDIA


Eu choro por ti, menina sem nome,

Menina que jamais vi embora te conheça por outras.

Eu choro pela violência da qual fosse vítima.

Pela dor impiedosa que te fizeram passar.

Eu choro por ti, filha da Índia, terra de Gandhi, que tanto lutou contra a violência.

Eu choro por ti, garota bonita, estudante de 23 anos, morta pela estupidez primitiva dos homens.

As aulas que assistias de medicina estarão mais vazias, sem ti.

O ônibus eternamente mais vazio e vagaroso.

Que direito tinham teus carrascos de tocarem teu corpo para apagarem teu sorriso e teus sonhos?

Eu choro por tantas outras meninas sem nome vítimas da mesma abominação, na Índia, na África, nos vários Brasis, e em todo o planeta.

Somos todos culpados, embora por ti, sejamos também as vítimas.

Consequências de uma sociedade subumana, subnutrida, sub-informada, sub-sensível.

Uma sociedade que permite que a mulher seja violada todos os dias de todas as formas.

Eu choro por ti menina da Índia e por nós todos filhos desse mundo de distância tão curta entre a razão e a bestialidade.

Chore por nós, menina da Índia, que morremos um pouco mais com tua morte.




Morreu dia 29 em um hospital de Cingapura, onde tinha sido levada para tratamento especializado, a jovem de 23 anos de idade, vítima de violência sexual na Índia.

Ela já havia passado por três cirurgias em Nova Déli antes de ser transferida para Cingapura. De acordo com os médicos, a causa da morte foi dada como falência múltipla dos órgãos causada por severos ferimentos ao corpo e ao cérebro além de hemorragia interna por introdução de uma barra de ferro.

Seu corpo deverá ser levado de volta para a Índia.

O ataque realizado no dia 16 de Dezembro desencadeou violentos protestos de rua na Índia.

Os líderes dos protestos afirmam que casos assim são comuns na Índia não havendo punição aos agressores.

Seis homens foram presos em conexão com o estupro e dois policiais foram suspensos.
A equipe do Hospital Mount Elizabeth, em Cingapura, onde a jovem estava internada, disse que ela ”faleceu em paz”, neste sábado, tendo sua família a seu lado.

Seu quadro era extremamente delicado, ela sofrera uma parada cardíaca, uma infecção no pulmão e no abdômen, além de dano cerebral.

Ela havia pegado um ônibus com seu amigo na região de Dwarka, no sudoeste de Nova Delhi. Dentro do ônibus ela foi violentada durante uma hora por diversos homens (no mínimo 6, incluindo o motorista). Depois, ela e o amigo foram lançados para fora do ônibus nus e com o veículo em movimento.

Somente neste ano, mais de 630 casos de estupro já foram registrados em Nova Delhi, conhecida no país como “capital do estupro”.


Prof. Péricles

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ORAÇÕES DO ANO NOVO



Saudamos o ano novo com as orações de Frei Betto:


Pai-nosso que estais no céu,
e sois nossa Mãe na Terra,
amorosa orgia trinitária,
criador da aurora boreal e dos olhos enamorados
que enternecem o coração.
Senhor avesso ao moralismo desvirtuado
e guia da trilha peregrina das formigas do meu jardim,

Santificado seja o vosso nome
gravado nos girassóis de imensos olhos de ouro,
no enlaço do abraço e no sorriso cúmplice,
nas partículas elementares e na candura da avó ao servir sopa.

Venha a nós o vosso Reino
para saciar-nos a fome de beleza
e semear partilha onde há acúmulo,
alegria onde irrompeu a dor,
gosto de festa onde campeia desolação,

Seja feita a vossa vontade
nas sendas desgovernadas de nossos passos,
nos rios profundos de nossas intuições,
no vôo suave das garças e no beijo voraz dos amantes,
na respiração ofegante dos aflitos
e na fúria dos ventos subvertidos em furacões,

Assim na Terra como no céu,
e também no âmago da matéria escura
e na garganta abissal dos buracos negros,
no grito inaudível da mulher aguilhoada
e no próximo encarado como dessemelhante,
nos arsenais da hipocrisia
e nos cárceres que congelam vidas.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
e também o vinho inebriante da mística alucinada,
a coragem de dizer não ao próprio ego,
o domínio vagabundo do tempo,
o cuidado dos deserdados e o destemor dos profetas,

Perdoai as nossas ofensas e dívidas,
a altivez da razão e a acidez da língua,
a cobiça desmesurada e a máscara a encobrir-nos a identidade,
a indiferença ofensiva e a reverencial bajulação,
a cegueira perante o horizonte despido de futuro
e a inércia que nos impede fazê-lo melhor,

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
e aos nossos devedores, aos que nos esgarçam o orgulho
e imprimem inveja em nossa tristeza de não possuir o bem alheio,
e a quem, alheio à nossa suposta importância,
fecha-se à inconveniente intromissão,

E não nos deixeis cair em tentação
frente ao porte suntuoso dos tigres de nossas cavernas interiores,
às serpentes atentas às nossas indecisões,
aos abutres predadores da ética,

Mas livrai-nos do mal,
do desalento, da desesperança, do ego inflado
e da vanglória insensata, da dessolidariedade
e da flacidez do caráter,
da noite desenluada de sonhos
e da obesidade de convicções inconsúteis.


Ave Maria grávida das aspirações de nossos pobres,
o Senhor é convosco,
bendita sois vós entre os oprimidos,
benditos os frutos de libertação do vosso ventre.

Santa Maria, mãe latino-americana
rogai por nós, para que confiemos no Espírito de Deus,
agora que o nosso povo assume a luta por justiça
e na hora de realizá-la em liberdade,
para um tempo de paz.

Amém!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

SOMOS TODOS ASTRONAUTAS



Viajando nessa nave incansável, no seu rodopiar maluco sobre sua estrela e sobre si mesma, somando dias, contando tempo e envelhecendo pois faz parte do ensinamento.

Alguns sem enxergar além de seu umbigo, não se importam além dos seus interesses não ousam nem acrescentam.

Outros se endureceram, mas não perderam a ternura jamais acreditando num futuro mais cúmplice.

Há os que percebem o real sentido de sua viagem e buscam escalar os seus mais loucos sonhos, como desbravadores, pioneiros em terras desconhecidas. Também tem os que preferem o recolhimento sobre si mesmo, o recesso do indefinido apostando apenas no concreto, que na verdade, na verdade, é mais inconstante que o grão de areia no deserto.

Muitas vezes o olhar queimado pelas fogueiras das horas que a tudo aniquila, se recolhe entre as estrelas e o questionamento do significado da vida desponta com desapontamento. Mas, nem por isso na primeira madrugada tudo deixa de reiniciar afoito quando até fazemos amor, alguns como famintos e desesperados, outros porém fartos e saciados.

Somos meninos e meninas viajantes de uma estrada cujas curvas são apenas miragens. Rumamos para o infinito, cada um com sua máscara preferida. Há princesas e príncipes, guerreiros e covardes, e também mendigos e loucos mambembes donos de calçadas. Existem as bruxas e os fantasmas, existem reis, as baronesas, os sem terra e os sem consciência.

No grande carnaval da vida, todos querem experimentar todas as máscaras, mas poucos, vão além da primeira experiência.

E juntos, nesse momento de aparente recomeço nos juramos melhores daqui pra frente. Puro engano, pois só se melhora por dentro e com tempo, e não na simples troca de roupa dos anos, como por encanto.

Somos astronautas voando juntos pelo cosmos. Tolos nem mesmo nos conhecemos preferindo o isolamento de nossos casulos. Não nos curtimos, não nos sorrimos, não trocamos poesia nem brincamos de esconde-esconde, muito menos nos amamos, e quando amamos queremos a propriedade com papel passado, testemunha e tudo.

Somos astronautas num louco vôo de mariposa que busca a luz, mesmo sendo ela nosso final de vôo.

Que em 2013 todos os amigos que nos prestigiaram tenham tempo e vontade para tecer planos de crescimento humano como a aranha tece a teia, pois na verdade estamos todos interligados e somos um, e não milhões.

Sejamos mais serenos e mais fraternos. Que a sensibilidade nos permita o choro, pois só não chora quem nunca viveu de verdade.

Desejo a todos, muitos banhos de chuva, muito cheiro de terra molhada nas narinas, muitos amores mesmo que dêem em nada. Muitas risadas de piadas idiotas e tempo jogado fora com os amigos. Desejo muitos e muitos atrasos no serviço devido o excesso de carinho e de amor com a pessoa amada.

Que tenhamos no olhar a inocência das crianças, e que realmente nos importe a felicidade alheia, e que nos comova a dor dos outros.

FELIZ 2013, e muito obrigado por sua companhia.

Prof. Péricles