quarta-feira, 27 de novembro de 2013
BRICS, QUE A MÍDIA NÃO VÊ, O
Por Mauro Santayana
RBA /Brasil
“A civilização é um movimento, e não uma condição. Uma viagem, e não o porto de destino.” A frase, do historiador inglês Arnold J. Toynbee, define como poucas o curso da história. Raramente percebemos a história, enquanto ela ainda está acontecendo, a cada segundo, à nossa volta. O mundo se transforma, profundamente, o tempo todo. Mas as maiores mudanças são as imperceptíveis. Aquelas que quase nunca aparecem na primeira página dos jornais, normalmente tomada por manchetes que interessam a seus donos, ou por chamadas de polícia ou futebol. Esse é o caso das notícias sobre os Brics.
Quem já ouviu Pink Floyd (Another Brick in the Wall) pode confundir o termo com brick, palavra inglesa que quer dizer tijolo. Se gostar de economia, vai lembrar que essa é uma sigla inventada em 2001 por um economista do grupo Goldman Sachs.
Mas poucas pessoas têm ideia de como o Bric vai mudar o mundo e sua própria vida nos próximos anos. Antes um termo econômico, o Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, está caminhando – aceleradamente, em termos históricos – para se transformar na aliança estratégica de alcance global que vai mudar a história no século 21.
O que juntou esses países? Para Jim O’Neill, criador do vocábulo, foi seu potencial econômico e de crescimento. Mas, para esses países, o que os aproxima é seu desejo de mudar o planeta. Dominados ou combatidos pelos Estados Unidos e pela Europa, no passado, eles pretendem desafiar a hegemonia anglo-saxônica e “ocidental”, e mostrar que outro mundo é possível, na diplomacia, na ciência, na economia, na política e na questão militar.
Três deles, Rússia, Índia e China, já são potências atômicas e espaciais. O Brasil e a África do Sul, embora não o sejam, têm indiscutível influência em suas respectivas regiões, e trabalham com a mesma filosofia. A construção de uma nova ordem mundial, mais digna e multipolar, em que haja menor desigualdade entre os países mais ricos e os que estão em desenvolvimento.
A união faz a força. O Brics sabe disso, e seus concorrentes, também. Por isso, os meios de comunicação “ocidentais” e seus servidores locais movem forte campanha contra o grupo, ressaltando pontos negativos e ocultando e desencorajando as perspectivas de unidade.
Mesmo assim, eles estão cada vez mais próximos. A cada ano, seus presidentes se reúnem. Na ONU, votam sempre juntos contra ataques ocidentais a países do Terceiro Mundo, como aconteceu no caso da Síria, há poucas semanas. Controlam 25% do território, 40% da população, 25% do PIB e mais de 50% das reservas internacionais do mundo. China e Brasil são, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores credores dos Estados Unidos.
Por crescerem mais que a Europa e os Estados Unidos, e terem mais reservas internacionais, os Brics querem maior poder no Banco Mundial e no FMI. Como isso lhes tem sido negado, estão criando, no próximo ano, o próprio banco, com capital inicial de US$ 100 bilhões.
No final de outubro, o Brasil – que já compra helicópteros militares russos, tem um programa conjunto de satélites de monitoramento com a China, vende aviões radares para a Índia e desenvolve mísseis com a Denel Sul-africana – foi convidado a juntar-se a russos e indianos no desenvolvimento e fabricação de um dos aviões mais avançados do mundo, o Sukhoi T-50, caça-bombardeiro invisível a radares, capaz de monitorar e atingir alvos múltiplos, no ar e em terra, a 400 quilômetros de distância.
Também em outubro, Brasília recebeu a visita do chanceler indiano Salman Khurshid, que, em conjunto com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, estabeleceu como meta aumentar o comércio Brasil-Índia em 50%, de US$ 10 bilhões para US$ 15 ¬bilhões, até 2015.
Na área de internet, Rússia e Índia já declararam apoio ao novo marco regulatório defendido pelo Brasil para a rede mundial. E planeja-se o Brics Cable, um cabo óptico submarino de 34 mil quilômetros que, sem passar pelos Estados Unidos ou pela Europa, ligará o Brasil à África do Sul, Índia, China e Rússia, em Vladivostok. No comércio, na cooperação para a ciê¬ncia e o ensino, na transferência de tecnologia para fins pacíficos não existem limites para os Brics.
Se você pensa um dia em visitar Miami, mandar seu filho estudar nos Estados Unidos, ou acha que seus netos vão crescer em um mundo regido pelo Tio Sam, está na hora de rever seus conceitos.
Há grande chance de que a segunda língua deles seja o mandarim. De que viajem, a passeio, para Xangai, e não para a Flórida. De que usem uma moeda Brics, e não dólar. E vivam em uma era em que não existirá mais uma única grande potência, mas seis ou sete, entre elas o Brasil. Em um mundo em que a competição geopolítica se dará, principalmente, entre os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os que comporão outro organismo internacional, liderado pelo Brics.
domingo, 24 de novembro de 2013
TONELEROS... A VERDADE PERDIDA
O relato abaixo é fruto de ficção, não devendo ser visto como um trabalho histórico científico. Mas... quem pode garantir que a ficção às vezes não conte mais verdades do que a história oficial? Leia antes, o texto anterior.
O plano é perfeito, exulta o general. O escândalo será grande. A mídia raivosa será abastecida com informações para ampliar a dramaticidade. Com certeza haverá manifestações de rua exigindo a renúncia do presidente. O exército será chamado para fazer o papel de protetor da constituição e da democracia, para derrubar o velho. Em seguida, antes que se perceba o golpe será completado com a tomada real do poder e a nomeação, de Lacerda, para exercer a presidência, ou mesmo, do próprio general. O plano é simplesmente genial.
É preciso criar a cena. Climério Euribes de Almeida, integrante da Guarda pessoal de Getúlio, aceitou o suborno para contratar o atirador Alcino João do Nascimento. Se algo sair errado, Climério será uma seta apontando para Vargas.
Alcino, pobre coitado, na verdade um marceneiro desempregado tentando ser um matador. Na única vez que foi contrataodo para atirar em alguém, acabou matando a pessoa errada (fato histórico).
As ordens são simples, Alcino deve esperar a chegada de Lacerda e atirar no jornalista, com cuidado para não feri-lo, nem ao filho, mas de forma próxima para dar credibilidade ao atentado. Lacerda deve reagir a tiros para criar a imagem de herói que não se entrega e em seguida, enquanto a polícia é chamada, o taxista Nelson Raimundo de Souza, na verdade, empregado de Climério, leva o atirador para lugar seguro pré-combinado.
Lacerda bradará por justiça e fotos suas ferido irão compor o mosaico do inocente covardemente atacado. A mídia criará a versão de um presidente que supostamente, manda matar seu adversário, e o exército dará o golpe final. Perfeito.
Perfeito, mas, saiu tudo errado.
Primeiro, o teimoso Major Rubens Florentino Vaz cismou de acompanhar Lacerda e o filho até em casa justo naquela noite. Não houve jeito de demovê-lo da idéia. Pior foi que o major reagiu e atirou-se sobre o atirador (fato histórico) que, amador, entrou em pânico e atirou pra valer acertando o militar. Até um guardinha acabou aparecendo com os disparos e anotando a maldita placa do táxi.
Lacerda, assustado com os erros cometidos, apesar de tudo ter sido tão bem planejado, acabou atirando com sua própria arma no pé, para poder afirmar que o alvo era ele e não o Major. Foi corajoso. Mas burro, pois sua arma era calibre 38 enquanto que do desastrado atirador era calibre 45 (fato histórico e “inexplicavelmente” esquecido nas investigações e no julgamento).
Era preciso evitar o desastre. Para desviar as atenções, o próprio exército cria um IPM e toma o caso das mãos da polícia, por isso mesmo, sem avisar o presidente da república (República do Galeão). Se perceberem a diferença do calibre das balas, se perceberem o extremo amadorismo dos envolvidos, se apertarem Climério, tudo poderá ser perdido e a verdade vir à tona. Getúlio passará de criminoso à vítima.
Alguém maior de Climério terá que pagar o pato, alguém próximo o suficiente para não deixar a menor dúvida... alguém... como Gregório Fortunato.
Gregório Fortunato foi preso e sob torturas inomináveis foi obrigado a assinar uma confissão. Foi deixado claro para ele que se assumisse publicamente tudo aquilo, sua família estaria garantida financeiramente para o resto de suas vidas e ele teria a pena anulada quando Lacerda e os militares assumissem o poder. Ele concordou, mas se recusou a apontar o dedo para Getúlio. Assumiria tudo e exigiu que a vida do amigo Getúlio fosse poupada, e assim ficou acertado.
Anos depois foi necessário queimar os arquivos e toda a verdade que ele poderia revelar (assassinato de Gregório na prisão, fato histórico).
Quando tudo parecia consertado e que, finalmente, daria certo, veio o pior, lembrou o general. A raposa do Getúlio Vargas percebeu as reais intenções golpistas por trás de toda a encenação e como último recurso para deter os fatos, cometeu suicídio. Maldito Vargas, morto, atrapalhou tudo, muito mais do que vivo (fato histórico).
O suicídio do presidente abalou o país. O povo nas ruas forçou os militares a recuarem e o golpe que seria dado em 1954 acabaria sendo executado apenas dez anos depois, em 1964 (fato histórico).
As evidências de um atentado forjado foram apagadas, o caderninho de Gregório destruído e o Atentado da Rua Toneleros se tornaria uma das estórias mais mal contadas da história oficial brasileira.
Prof. Péricles
sábado, 23 de novembro de 2013
TONELEROS, A HISTÓRIA OFICIAL
Madrugada. Escuridão numa rua pouco iluminada do Rio de Janeiro. Um carro em marcha lenta estaciona. Dele saltam três pessoas: dois homens adultos e um jovem de 15 anos.
Despendem-se do motorista que coloca o carro em movimento e se afasta. Nesse momento, surgindo das sombras da Rua Toneleros, um vulto se destaca, em sem pronunciar nenhuma palavra aciona o revólver. Um dos três recém chegados tenta se lançar sobre o agressor, mas é atingido no peito e cai pesadamente na calçada. O outro puxa o jovem pelo braço e corre em direção ao prédio. É atingido também, no pé. Um guarda Municipal se aproxima da cena e também é atingido. Um táxi surge do nada e o atirador entra com agilidade. O táxi dispara, mas, mesmo caído e sangrando, o guarda, Sávio Romero, consegue anotar a placa.
Quando o barulho do motor se dispersa, ouvem-se gemidos. Três pessoas estão caídas na calçada. O jornalista e candidato a Deputado Federal, Carlos Lacerda, segura a perna baleada, o Guarda municipal grita pedindo socorro enquanto tenta estancar o sangue que verte do braço e logo a poucos metros o corpo imóvel do major-aviador Rubens Florentino Vaz.
O Atentado da Rua Toneleros, ocorrido em 5 de agosto de 1954, foi um dos fatos mais dramáticos da história brasileira, e também, um dos mais mal planejados e executados da história dos crimes políticos.
Naquela mesma madrugada o taxista Nelson Raimundo de Souza procurou a polícia. Depois de tentar se dizer um inocente taxista que pegou um passageiro acabou reconhecendo seu envolvimento.
Num gesto de claro desafio, o exército cria um IPM (Inquérito Policial Militar) em dependências do Aeroporto Galeão. A formação do Inquérito não passa pela autorização do presidente Getúlio Vargas, chefe maior das forças armadas, segundo a constituição, e por isso, a comissão será apelidada de “República do Galeão” como se fosse independete da autoridade presidencial.
O taxista confessa que Climério Euribes de Almeida, um integrante da Guarda pessoal de Getúlio acertara com ele de dar fuga em seu veículo a um pistoleiro que iria fazer “um serviço” naquela noite. Pressionado durante o depoimento, acaba confessando o nome do matador, Alcino João do Nascimento.
Alcino e Climério são presos, e Alcino se diz apenas um “testa de ferro” e aponta como mandante do crime, Gregório Fortunato, chefe da Guarda do presidente e amigo pessoal de Getúlio Vargas.
O círculo estava fechado e aponta para a responsabilidade do chefe de Estado brasileiro. Havia uma vítima preferencial feriada (Carlos Lacerda, opositor e líder do anti-getulismo), uma vítima acidental (um militar, o major Vaz), o pistoleiro (Alcino), o contato (Climério) e o mandante (Gregório Fortunato, homem de confiança de Getúlio Vargas).
A pressão se estabelece, o país se escandaliza. Os militares exigem a renúncia, o povo na rua exige a renúncia, a mídia acentua a impossibilidade da continuação no poder de um presidente com as mãos sujas de sangue.
Vargas, sempre se dirá inocente, jamais assumindo qualquer responsabilidade nos fatos.
Na madrugada de 24 de agosto de 1954, após uma tentativa de negociação recusada pelos militares, Getúlio Dorneles Vargas cometia suicídio com um tiro no coração.
Nelson Raimundo, o taxista, foi condenado a 11 anos de prisão. Alcino, o pistoleiro foi condenado a 33 anos, pena depois reduzida, foi solto após 23 anos e sobreviveu a duas tentativas de assassinato. A mesma sorte não teve Climério, o contato, condenado a 33 anos, foi assassinado enquanto cumpria pena.
Gregório Fortunato, o “Anjo Negro”, jamais admitiu a participação de Getúlio nos acontecimentos mesmo sob as mais bárbaras torturas. Disse sempre ser o único responsável pelo atentado fracassado. Julgado em 1956 foi condenado a 25 anos de prisão, pena reduzida para 20 e depois 15 anos. Estudou direito e se formou advogado criminalista na cadeia, tornando-se ídolo dos prisioneiros ao rever penas dos detidos.
Numa provável queima de arquivo, Gregório Fortunato foi assassinado na penitenciária Frei Caneca, no Rio de Janeiro, pelo também detento Feliciano Emiliano Damas uma semana antes de ser posto em liberdade.
O Anjo Negro sabia de toda a verdade e escreveu sua versão dos fatos num caderno, que guardava com devoção.
O caderno de Gregório, desapareceu para sempre.
Prof. Péricles
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
VENEZUELA E O GOLPE SUAVE
Por Jacob David Blinder
Fortes medidas de caráter revolucionário foram tomadas na Venezuela com vistas a combater a guerra econômica e o golpe suave (conjunto de ações de caráter imperialista para desestabilizar países e regiões) e que já se encontrava em adiantado estado de gestação nesse país.
Nessa Venezuela pré golpe suave notava-se que gêneros de primeira necessidade para consumo popular desapareciam como por milagre das prateleiras de lojas e grandes redes de supermercados e quando apareciam seus preços estavam em níveis estratosféricos; promovia-se forte especulação com o dólar não oficial, chegando seus valores a ser 10 vezes maior do que o oficial (numa economia que depende de divisas para sobreviver isso é fatal); sabotagens de variados tipos eram realizadas no sistema elétrico do país; incêndios inexplicáveis surgiam em refinarias de petróleo e siderúrgicas; greves de caráter político eram promovidas nas indústrias básicas de Guayana (indústrias siderúrgicas e metalo-mecânicas); bloqueava-se estradas ou promovia-se greves de caminhoneiros com vistas e interromper o sistema de abastecimento; a mídia burguesa promovia falsos informes sobre fatos e coisas gerando confusão ideológica nos setores populares; tentava-se infiltrar manifestos de ex-militares aposentados e radicalmente anti-chavistas junto a militares da ativa no sentido de cooptá-los para adesão ao golpe.
Qualquer semelhança desses acontecimentos com aqueles do Chile de 1973 (golpe contra Allende) NÃO é mera coincidência...
E aí o governo resolveu agir ... São apenas as medidas preliminares, outras virão, principalmente porque a partir da próxima semana a Assembléia Nacional irá discutir a proposta da “Ley Habilitante” e sendo aprovada permitirá que constitucionalmente o Presidente Nicolás Maduro Moros legisle por decreto.
A medida que mais chamou a atenção refere-se a criação de um órgão estatal que intermediará todas as importações e exportações do país e com isso será evitado com que as preciosas divisas da Venezuela (produto da exportação de petróleo) sejam entregues diretamente aos agentes econômicos. O estado terá assim o controle de situação e tais agentes se subordinarão aos interesses na nação e não mais a processos especulativos de caráter privado.
Outra medida importante foi criar como referencia para a economia um orçamento nacional fundamentado em divisas e não mais em “Bolívar Fuerte” (moeda corrente existente e que está submetido à forte ação inflacionária). Tal indexação será uma espécie de Unidade Real de Referencia (URV) que foi aplicada no Brasil antes de vigência do o Plano Real. Tal ação permitirá no futuro criar uma nova moeda de caráter nacional que sofrerá pouca influencia inflacionária. Isso já está sendo feito com sucesso nas trocas comerciais entre países membros da ALBA com uma moeda virtual denominada SUCRE e com isso evitando-se que os processos inflacionários dos países membros contaminam as trocas comerciais realizadas.
domingo, 17 de novembro de 2013
O SILÊNCIO FOI SEU TORMENTO
Qual será a maior intensidade da dor? Será aquela que dilacera o corpo e produz a agonia física?
Quem sabe seja a dor do espírito. Não dói o corpo, mas dói a alma.
Dores produzidas a partir de perdas.
Nesse caso, qual será a perda mais dolorosa ao espírito humano?
Talvez só quem perdeu aquilo que mais amava possa responder plenamente essa questão.
Pode ser que a resposta esteja com Ludwig van Beethoven, por exemplo.
Beethoven nasceu em 16 de dezembro de 1770, em Bonn, Alemanha.
Vovô van Beethoven era músico de talento reconhecido, tanto que era diretor de música da corte. Papai Beethoven Johann, também era músico, mas, de poucas luzes.
Mas era muito bom com o copo nosso papai Beethoven.
Johann (era seu nome) percebeu que o filho poderia ser uma mina de dinheiro. Embora ele próprio não tivesse talento podia reconhecer no filho algo de extraordinário e genial. Para garantir seu pé de meia obrigava o menino a estudar diariamente, por horas intermináveis. Beethoven não tinha tempo para brincar como as outras crianças e sua educação musical tinha aspectos de verdadeira tortura.
Desde os treze anos Ludwig ajudou no sustento da casa, já que o pai afundava-se
cada vez mais na bebida. Trabalhava como organista, cravista ensaiador do
teatro, músico de orquestra e professor, e assim precocemente assumiu a chefia
da família.
Apenas em 1792, aos 22 anos, pôde partir para a capital da música de sua época, Viena, sem sentir ter deixado algo incompleto para trás.
Aos 26 anos surgiram os primeiros sintomas de sua tragédia. Após uma dolorosa crise, buscou um médico que diagnosticou uma congestão dos centros auditivos internos. Tratou-se como pode, com inúmeras terapias, ervas, feitiços e na busca de um milagre, mas o mal era crescente, amadurecia com ele e cada vez silenciava mais o seu mundo. Apenas, em 1806, revelou o problema, publicamente, numa frase escrita nos esboços do Quarteto no. 9, que parece murmurada por uma terceira pessoa: "Não guardes mais o segredo de tua surdez, nem mesmo em tua arte!".
No terreno sentimental, uma paixão desesperadora por uma mulher casada. Uma felicidade impossível de um amor sem esperanças por Antonie von Birckenstock. Ludwig permaneceria solteiro, sonhando com Antonie, por toda sua vida.
Entre 1816 e 1819 passou por grande depressão e forte tendência suicida. Por que não se matou? Segundo ele mesmo, por causa de sua arte, que considerava uma missão. “Tenho dentro de mim obras que não são minhas, mas da humanidade, e que preciso exteriorizar a seus verdadeiros donos”.
Logo cria suas maiores obras-primas: as últimas sonatas para piano, as Variações Diabelli, a Missa Solene, a Nona Sinfonia e, principalmente, os últimos quartetos de cordas.
Enquanto pessoas de todas as idades e de todas as nacionalidades emocionam-se com a inspiração, força e romantismo de suas músicas, a Beethoven resta o silêncio.
Admirado, aplaudido, reconhecido no mundo inteiro, a Beethoven sobra um mundo em retalhos. Retalhos de sons, retalhos de amor, retalhos de realização.
No dia 26 de março de 1827, aos 56 anos, morreria Ludwig van Beethoven vítima de pneumonia e cirrose. Estava completamente surdo.
Gênio, artista de criatividade inimitável, Beethoven foi um homem que sofreu o supremo castigo, a dor que poucos sentiram de, fazer um mundo melhor e mais humano através do talento de sua música, que a todos emociona até hoje, prazer, entretanto, negado a ele próprio.
Uma terrível expiação.
Haverá dor maior?
Prof. Péricles
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
NAS CERCANIAS DO PALÁCIO
Por Leandro Fortes/ Fernando Brito
Desde a terça-feira 6 um grupo de assessores brasileiros liderados pelo Ministério das Comunicações está em Washington para ouvir as explicações do Departamento de Estado americano sobre as denúncias de espionagem contra o País. É um lance para a platéia.
Nas principais instâncias de inteligência do governo federal e, portanto, no Palácio do Planalto, desde sempre se sabe, ou se deveria saber, da movimentação de espiões dos Estados Unidos no território nacional sob proteção da Embaixada em Brasília.
Manter agentes de inteligência em representações diplomáticas não chega a ser uma novidade. Quase todos os países possuem alguma estrutura desse gênero. O problema é que os norte-americanos vão além, operam com uma liberdade incomum e extrapolam os limites da soberania. Segundo os documentos vazados pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden, até 2002 Tio Sam valia-se de 16 instalações em território nacional para atividades de “inteligência”.
Documentos secretos e reservados do governo federal, vários deles encaminhados a assessores diretos da presidenta Dilma Rousseff, relatam o funcionamento de ao menos seis endereços em Brasília utilizados pela Embaixada dos EUA como centros de operação e análise de inteligência. São quatro imóveis no Lago Sul, área tradicionalmente residencial da cidade, um no Setor de Indústria e Abastecimento e outro no Setor de Autarquias Sul, região central da capital, a pouco mais de 1 quilômetro do prédio dessa embaixada. Os imóveis, casas e salas comerciais, cobrem com freqüências de rádio toda a extensão do Plano Piloto de Brasília, a partir de antenas de radiocomunicação e telefonia exclusivas autorizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que tem um representante na missão enviada pelo governo aos Estados Unidos. A outorga para o uso “limitado-privado” foi concedida à Embaixada dos EUA no fim do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, e tem validade até 20 de julho de 2019. Ao todo, abrange 841 licenças de freqüências de rádio para uso exclusivo dos americanos em solo brasileiro.
Na sala comercial número 209 do Bloco H da QI 9, no Lago Sul, funcionava a principal divisão de segurança das embaixadas e consulados dos Estados Unidos, responsável pela movimentação de diversos equipamentos de comunicação. Lá, o Regional Security Office (RSO) funcionou por oito anos até se mudar, no fim do ano passado, para a sala 411 de um movimentado edifício de lojas e escritórios no Setor de Autarquias Sul. No local, tanto os funcionários da portaria como a vizinhança do corredor estranham a movimentação constante de servidores da Embaixada, quase sempre no turno da manhã. Muitos costumam passar a noite no escritório.
A Embaixada dos EUA mantém ainda um conjugado de salas comerciais de números 311 e 312 no Conjunto 12-A do Setor de Mansões Dom Bosco, também no Lago Sul. Na sala 311, segundo os relatórios encaminhados ao Palácio do Planalto, funciona o escritório da Drug Enforcement Administration, a DEA, órgão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos encarregado da repressão e controle de drogas. Como se verá mais adiante, a DEA tem uma longa história no Brasil. Nos anos FHC, financiava atividades da Polícia Federal e, em troca, tinha carta branca para atuar em território nacional, conforme denunciou uma série de reportagens de CartaCapital entre 1999 e 2004.
O maior imóvel alugado pela Embaixada americana é uma chácara na QI 5 do Lago Sul. No terreno vigiado por câmeras e guaritas foram construídos alojamentos para fuzileiros navais e é um dos endereços com licença de funcionamento de radiofreqüência da Anatel. Em outro terreno menor, ocupado por uma casa no Conjunto 2 da QL 16 do Lago Sul, os americanos montaram aparentemente um bunker rodeado de câmeras de segurança e com uma guarita de vidros espelhados. No galpão do CIA, em uma zona afastada do Plano Piloto, a antiga movimentação de funcionários e furgões da Embaixada americana foi interrompida no início do ano. O imóvel foi esvaziado e, atualmente, há apenas uma placa de “aluga-se” na entrada.
As informações sobre o megaesquema de espionagem dos Estados Unidos começaram a se tornar públicas a partir de 6 de junho, quando o jornal britânico The Guardian iniciou a publicação de uma seqüência de reportagens do jornalista Glenn Greenwald baseadas nos documentos vazados por Snowden. Soube-se assim que a NSA não cuidava apenas da segurança interna, mas estendia seus tentáculos a países aliados, inclusive o Brasil. A partir de bases espalhadas planeta afora e de uma rede de satélites, os Estados Unidos montaram um sistema monstruoso de monitoramento de e-mails e ligações telefônicas com a cooperação de empresas de telecomunicações e de gigantes da internet, entre eles o Google e o Facebook. Os espiões americanos desenvolveram um programa chamado PRISM, dedicado ao monitoramento em tempo real da circulação de informações na rede mundial de computadores, em tese para prevenir ataques terroristas.
Snowden trabalhava para a CIA e para a NSA em cargos ligados ao manejo e acompanhamento de dados em sistemas secretos de informação. Antes de iniciar os primeiros vazamentos em Hong Kong e fugir para a Rússia, ocupava o posto de analista de infraestrutura na Booz Allen & Hamilton, contratada pela NSA supostamente para prestar serviços de consultoria estratégica. Sob essa fachada, a Booz Allen conseguiu contratos com setores públicos de vários países, entre eles o Brasil, durante o mandato de FHC. Aqui, a consultoria participou oficialmente da formulação dos programas Brasil em Ação e Avança Brasil, que nunca saíram do papel, além de ter auxiliado nas privatizações promovidas pelos tucanos na década de 1990 e na reestruturação do sistema financeiro nacional.
A crise pegou o Palácio do Planalto de surpresa, em parte por culpa da estrutura herdada, primeiro por Lula, depois por Dilma, do Sistema Brasileiro de Inteligência, o Sisbin. O órgão central desse sistema, a Agência Brasileira de Inteligência, deveria cuidar de informar diretamente a Presidência da República sobre a movimentação de espiões estrangeiros no País. A Abin não tem, porém, acesso direto ao Planalto desde o governo FHC, quando foi criado o Gabinete de Segurança Institucional, estrutura militarizada comandada desde sua instalação, em 1999, por oficiais do Exército.
As Forças Armadas anunciaram poucos dias atrás a intenção de aposentar os Mirage a partir do fim deste ano. A compra de novos aviões de defesa foi adiada inúmeras vezes durante a administração de Lula, apesar de um acordo prévio fechado com os franceses.
Os caças F-18 são superiores às aeronaves concorrentes, mas os EUA têm restrições para a transferência de tecnologia, item até agora considerado fundamental pelo governo brasileiro no processo de compra. Não se sabe se Dilma manterá as diretrizes do antecessor ou mudará os critérios de escolha. Washington nutre esperanças de alterar a perspectiva de Brasília. Resta saber se as recentes revelações da espionagem de Tio Sam vão atrapalhar o lobby americano.
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