segunda-feira, 12 de setembro de 2016

FORA TEMER E O CORAÇÃO PARTIDO

Era um burburinho terrível. Ele suado com a camisa “Fora Temer” amarrotada velha de guerra.


A caminhada seguia firme na direção do centro da cidade para se unir a outras caminhadas na esquina democrática da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros.


Nova ação. Novo capítulo no movimento que promete não parar até atingir seus objetivos. Gente determinada e guerreira.


Foi então que seus olhos cruzaram.


Oh céus! Ele era capaz de jurar que ouviu até uma trilha sonora quando enxergou seus olhos.


Ela estava dentro do ônibus e o olhava... sim, era para ele que aqueles olhos azulados miravam.


Ele sentiu aquela pressão no peito que desde garoto o acometia diante do olhar de mulher bonita de olhos azulados.


Procurou alguma definição filosófica para interpretar o que sentia naquele instante, mas a única coisa que lhe veio à cabeça foi “uau”!


Ela era a mulher de sua vida, com certeza. E se não fosse deveria ser.


Por alguns instantes abandonou a luta política e esqueceu os companheiros que continuaram caminhando e cantando enquanto ele ouvia a canção.


Ficou estático, apenas olhando aquelas duas safiras azuladas por detrás daquele vidro do busão.


Era o seu momento mágico. A sua visão do Olimpo.


Fora Temer. Fora Porto Alegre. Fora tudo.


Foi então que ela ergueu um pouco mais a cabeça e lhe sorriu... Minha Nossa Senhora Protetora dos Embasbacados... o sorriso lhe arrancou um arrepio na espinha e uma coceira na orelha direita, outro sinal de apaixonite que tinha desde criança.


Ela continuou sorrindo e... começou a se erguer, sim, ela estava se erguendo para lhe olhar melhor... talvez.... e então...


Ela esticou sua própria camisa onde ele pode ler “Tchau Querida”!


Pelos deuses! O mundo lhe caiu sobre a cabeça e congelou.


O ônibus lentamente começou a se mover e ele ainda viu seu quase amor erguer a mão lhe apontando apenas o dedo médio.


Sim, uma desilusão amorosa dói companheiro!


Viu o ônibus se afastar e levar a sua deusa-demoníaca enquanto ouvia ao longe a voz dos amigos lhe chamavam à realidade.


Juntou sua dignidade caída na calçada e disse para si mesmo “é isso, a luta continua, oras se continua”.


As desilusões que esperem melhor momento.


As safiras azuladas devem ser falsas e o busão tomara que estrague.


E saiu gritando com a força da indignação: “Fora Temer”, “Não Vai ter golpe, vai ter luta”.




Prof. Péricles

domingo, 11 de setembro de 2016

MATAR E MORRER POR ALÁ


Por Rui Martins



Elas são adolescentes, boas alunas no colégio, mas de repente caem na rede dos islamitas do EI, que pretendem ter criado um Califado ou Estado Islamita.

O aliciamento de jovens ingênuas é feito segundo a mesma tática das seitas, a diferença está no objetivo – geralmente as seitas propõem meditação, espiritualidade ou ações humanitárias, enquanto os islamitas, vindos do ramo sunita-salafista muçulmano propõe às jovens alistadas nas suas fileiras um casamento com um namorado (chamado príncipe), encontrado nas redes sociais, tão logo cheguem na Síria ou Iraque, e a participação em atentados ou se tornar mártir ou mulher-bomba kamikaze.

Le Ciel Attendra (O Céu Esperará), filme ficção francês inspirado numa situação real, de Marie Castille Mention-Schaar, é um dos primeiros sobre o desvio de adolescentes, baseado numa série de encontros com jovens alistadas no exército do Estado Islâmico e com mães e pais desesperados ao constatarem a fuga de suas filhas rumo à Síria.

O filme focaliza duas adolescentes: Sonia, presa pela polícia francesa antes de atravessar a fronteira na rota para a Turquia, de onde iria para a Síria com mais duas amigas, doutrinadas principalmente pelo Facebook por rapazes islamitas de boa conversa, aliciadores de jovens.

Essas jovens ao chegarem na Síria serão casadas à força com soldados de Daesch (nada a ver com seus príncipes prometidos), ou transformadas em bombas-humanas ou torturadas e degoladas no caso de resistência ou de começarem a chorar pedindo para voltar.

A outra é Melanie, que burlando a vigilância da mãe, mentindo e simulando, conseguiu embarcar para Istambul e de lá para a Síria e Iraque, desaparecendo sem deixar traços.

Não sendo documentário, o filme reconstitui o quadro das mães desnorteadas, que não se perdoam por terem se deixado enganar por suas filhas, nunca tendo sequer desconfiado da conversão de suas filhas para o islamismo extremista. Sonia trancava-se no quarto para vestir a burca e tinha levado seu violoncelo ao porão, pois os extremistas islamitas, como os talibãs, são contra todo tipo de música.

Embora o filme não trate do alistamento de rapazes, existe igualmente um grande número deles convertidos e partindo para a Síria em busca de aventuras. Alguns se transformam em pouco tempo em temíveis assassinos, vídeos divulgados pela televisão mostrou como responsáveis pelos reféns degolados, outros enviam fotos via Internet portando uma Kalachnikov ou em cenas de combate.

Entre garotas e rapazes convertidos e transformados em combatentes, somando-se os da Bélgica, onde a influência de imãs salafistas é maior, com França, Alemanha, mesmo Portugal, e Inglaterra, o número é de milhares, um certo número deles já mortos.

A França criou recentemente um Centro de Prevenção para orientar os pais, porém é difícil o controle dos jovens fanatizados por Internet.

Na busca de sua identidade e do absoluto, os adolescentes acreditam nas mentiras que lhes são contadas, nas versões de complôs mostrando o mundo nas mãos dos inimigos de Alá.

A versão mais comum é de que vivemos o fim do mundo e que esses jovens poderão salvar suas famílias tornando-se combatentes.

As doutrinas apocalípticas sempre conseguem seguidores, mesmo entre os cristãos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O NOSSO CANTINHO



Nada é mais íntimo do que o “nosso cantinho”. Aquele santo esconderijo dos problemas e das rotinas do dia a dia, onde jogamos o tênis em qualquer lugar, dormimos no sofá e fazemos xixi com a porta aberta.

Na minha época ansiávamos em ter grana e idade suficientes, ou só idade mesmo, para poder sair da casa dos país em busca do “nosso cantinho”.

Pode ser o mais humilde, simples, feio, mas que seja nosso. 

Altar secreto para receber colegas, amigos e principalmente, amigas.

Ah, o nosso cantinho! Onde somos genuinamente nós mesmos e onde tudo a nossa volta, a decoração ou a bagunça, revela um pouco de nossa personalidade.

Lula, no Palácio da Alvorada, sentia-se no “seu cantinho”.

Dava para perceber pelo sorriso franco e pela agilidade com que movia-se entre as antessalas e corredores do poder.

Tinha aquela desenvoltura de quem está em casa. De quem está no seu refúgio.

Aquela desenvoltura que só mesmo a democracia pode estabelecer através de milhões de votos feito procurações autorizando o direito de habitação ao vencedor de uma eleição presidencial.

FHC não demonstrava a mesma desenvoltura embora fosse um morador legítimo do Palácio, talvez porque não ficasse à vontade no papel que exerceu, ou como exerceu. Talvez sentisse que outros, morassem em andares acima e que esses outros mandassem mais na casa do que ele próprio.

Dilma, sentia-se bem, mas manteve aquele jeito de quem está apenas de passagem e tem mais com o que se preocupar do que com a decoração da casa. Dilma não era recatada e do lar, era da guerra de movimento e sentia-se melhor circulando entre as trincheiras.

Mas, definitivamente, o Palácio da Alvorada jamais será o “cantinho” de Michel Temer.

Talvez por não ter as milhões de procurações que legitimam o poder, sinta-se um grileiro, um posseiro que expulsou o legítimo proprietário.

Temer mostra-se desconfortável.

Imagino à noite indo buscar um copo d’agua na cozinha, tateando no escuro, não sabendo bem onde fica a chave de luz e dando topada com a canela em tudo que é móvel.

Ele não é dali. Ele não deveria estar ali, e sabe disso.

Sabe que jamais poderá jogar o tênis em qualquer lugar, ou fazer xixi de porta aberta pois, assim como é ilegítima sua hospedagem, é também, muito provavelmente, temporária.

E, o “nosso cantinho” nunca é temporário, quando legítimo.





Prof. Péricles

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DO LUTO À LUTA


Por Maria Fernanda Arruda

Inevitável a tristeza e a dor pela traição cometida, pela certeza de que as instituições políticas e os políticos apodreceram e exalam o odor de catacumbas.

Que sejam sete dias de luto fechado, ou o tempo que o ânimo de cada um solicite. Mas, passemos do luto para dias de luta.

Em 1964 as elites brasileiras foram orientadas a caricaturar um golpe de força, fantasiando-o de “revolução”, de tal sorte que as instituições políticas usassem a máscara que cobriria as feições medonhas da ditadura.

Hoje, atoladas no formalismo jurídico, que precisa o quanto antes ser substituído pela verdade, as mesmas elites, já senhoras do Congresso Nacional, assumem a mentira militante, senhoras dos meios de comunicação há muito tempo.

Em 2018 teremos eleições, e a vontade do povo terá que ser lavrada em ata e cumprida; ou então os canalhas, canalhas, canalhas farão cair as suas máscaras.

Não há tempo a perder: à luta, camaradas! Formemos os nossos batalhões. E que se ponha em primeiro lugar a palavra da presidenta, pois ela será a Estrela Guia.

O Brasil paga o preço de 20 anos de Ditadura, de aviltamento do ensino, de despolitização de gerações. Uma tarefa miserável, que os meios de comunicação aprofundaram. O Brasil paga ainda o preço das terríveis injustiças sociais, que os governos trabalhistas de Lula e Dilma atenuaram muito, mas que não puderam solucionar em tão pouco tempo enfrentando toda a oposição das elites.

O resultado está agora exposto aos olhos de todos nós: o Congresso Nacional, fazendo-se o abrigo da canalhice, foi eleito por nós. Esse o problema que nos desafiará a analisar, a encontrar a sua solução. 

O que deve ser a Democracia no Brasil? Ela deve e precisa seguir os cânones construídos séculos atrás? A nossa Democracia deve necessariamente repousar no Estado composto de três poderes independentes? Como compatibilizar o Capital e a Liberdade dos Povos?

O novo mundo político precisa nascer democrático, isso é, precisa ser construído pelo povo. E a nós, o que competirá fazer? Dar-lhe condições para sua conscientização, uma tarefa imensa e um desafio estarrecedor. Não com heroísmos quixotescos, mas a modéstia que nossas competências permitam. Primeira proposta para um ponto de partida: a reforma política.

Todos precisamos ser apóstolos competentes e eficientes, anunciando uma boa-nova, descoberta com e por todos. A perseguição patológica dos canalhas se faz a grande força que colocará Dilma como líder condutora.

Temos necessidade de governantes, não de negociadores de “governabilidade”. E ai fica muito claro que a responsabilidade por erros passados e pela sua correção, com a eliminação das causas, não seja atribuída a Lula, a Dilma, ao PT, a alguns outros partidos políticos, mas seja assumida por nós.

Ensinar ao povo que todo poder vem de sua vontade e que só poderá ser exercido em seu nome é desafio imenso, a ser assumido humildemente, dia após dia, de mãos dadas por todos os que foram privilegiados pela possibilidade de ter consciência e agir guiados por ela.

Precisamos ser milhões e milhões, o mais rapidamente possível.



Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

TEMER E A VINGANÇA DE HEFESTO



Hefesto era filho de Zeus e de Hera.


Nasceu muito feio, com problemas nas pernas e aparência de anão.


Hera, sua mãe, ficou muito envergonhada de ter um filho deficiente e o jogou no mar, recém-nascido.


Mas foi recolhido e salvo pela dôce ninfa do mar Tétis, mãe do herói Aquiles, que o criou com todo amor.


Hefesto se tornaria deus do fogo, da metalurgia e dos vulcões (Vulcano, em latim).


Tempos mais tarde foi reconhecido como filho de Hera, e a deusa, arrependida, fez de tudo para que o filho feioso voltasse para o Olimpo, seu verdadeiro lar.


Ele não quis voltar imediatamente, mas sabia que seria impossível resistir à pressão dos deuses (inclusive de Dionísio que o embebedou de vinho para convencê-lo).


Mas, antes de dar o braço a torcer resolveu fazer uma pequena vingança contra sua mãe.


Construiu, então, um lindo trono de ouro e mandou entregá-lo à mamãe. Hera, exultante de felicidade, sentou no trono, mas nele, havia milhares de fios transparentes que a seguraram de uma forma que nenhum deus conseguiu soltar.


Chamado com urgência, Hefesto foi ao Olimpo e, antes de libertar sua mãe, aproveitando sua imobilização, usou todo o tempo do mundo para dizer tudo o que tinha trancado na garganta, assim, magoando e humilhando a deusa desnaturada.


O vice-presidente que traiu a parceira política que deveria proteger dentro do correto numa aliança política, finalmente está sentado no trono que, agora sabemos, sempre desejou.


Mas, já deve ter descoberto que milhares de fios invisíveis o prenderão à sua culpa e que, muitos, irão querer amassa-lo com verdades que talvez, ele preferisse não ouvir.


Ele já disse que não aceitaria ser chamado de golpista, mas, já está tendo que ouvir os gritos das ruas que, aos milhares, e de forma crescente, assim o definem.


Já retumbam em seus ouvidos críticas de parceiros de traição, como no PSDB, onde Aécio Neves já reclama de maior diálogo para as reformas que pretende impor ao país.


Estarrecido, já ouve a reação dos trabalhadores e suas centrais sindicais contra a terceirização do trabalho que prometeu fazer aos empresários, cúmplices do golpe.


Terá que ver escrito com tintas cada vez mais fortes o jargão que já toma o país de norte a sul “Fora Temer”.


Michel Temer descobrirá que está preso a fios invisíveis de forma que não poderá, nem mesmo, tapar os ouvidos ou fechar os olhos com as mãos, como aconteceu com Hera, que teve que ouvir todas as verdades que seu filho tinha a dizer.


E esse será apenas um dos castigos reservado aos traidores que terá que provar.



Prof. Péricles

sábado, 3 de setembro de 2016

VITÓRIA DE PIRRO


Quando a direção do PC do B escolheu a região do Araguaia para implantar a guerrilha rural como forma de luta contra a Ditadura Militar, o fez por questões estratégicas, evidentemente. Além de possuir uma geografia onde predominava a selva, cenário ideal para uma guerrilha, também contava o fato de ser uma das regiões mais pobres do Brasil e onde os habitantes eram terrivelmente explorados, sendo expulsos de suas terras por grileiros e capangas.

Além da revolta a Guerrilha levou a politização.

Por isso, depois que o movimento foi definitivamente vencido e extirpado pela força das baionetas (entre 1972 e 1973) um fenômeno aconteceu.

Primeiro se abateu sobre a região e as pessoas um silêncio de pavor. As forças militares e paramilitares implantaram tamanho medo entre os caboclos que ninguém, por um bom tempo, ousava falar na guerrilha e nos guerrilheiros mortos.

Depois, com o passar do tempo, o pavor foi dando lugar a uma enorme revolta. Uma revolta diferente, esquematizada e consolidada pela luta e pela derrota, que serviu como mestra.

Como consequência, formou-se no Araguaia um bolsão de lutas e e revindicações sociais que fazem da região um dos focos de maior resistência à exploração em nosso país.

Lá surgiram sindicatos e organizações como a dos presos e torturados pelo exército durante a guerrilha (uma das táticas dos militares foi prender as pessoas em quantidades e tortura-las para não ajudar a guerrilha). Também se criaram instrumentos de resistência e estruturação do MST.

Isso parece indicar que o povo marginalizado e explorado, quando aprende coisas participação e resistência, nunca mais aceita a exploração anterior.

A vitória dos militares, teve um alto custo e se revelou uma vitória de Pirro.

O rei Pirro, do Épiro, obteve uma vitória militar sobre os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C. Ao receber as notícias da batalha e perceber o grande número de perdas humanas teria dito que "outra vitória como esta e estaremos perdidos".

Os golpistas de hoje acreditam que, depondo Dilma e fabricando fatos contra a pessoa de Lula através de casuísmos jurídicos apagarão da memória do país os feitos sociais positivos dos governos de ambos.

Pensam eles que será possível retornar ao patamar anterior em que o povo elegia presidentes em cima de planos falaciosos e enganadores.

Acreditam que nosso povo mais humilde esquecerá os benefícios de programas sociais como o “Bolsa Família” ou “Mais Médicos”, mas estão enganados.

Nossa gente mais distante da educação formal, mas formado na educação da vida não tardará a perceber a diferença entre um governo nacionalista e social de um governo supra nacionalista, privatista e neoliberal.

Por isso, embora aparentemente estejam hoje ganhando, o tempo mostrará que uma coisa é conquistar o poder com o apoio das forças mais poderosas do país, outra é manter esse poder e que algumas vitórias trazem amarguras maiores do que as derrotas.

Mostrará também que nosso povo mudou, e nunca mais será o mesmo.

Quanto a Dilma, sugere-se frase de Fidel Castro diante do tribunal que o julgou após o atentado ao Quartel de Moncada em 1953: “não me importo com seus juízos, a história me julgará”.



Prof. Péricles