quinta-feira, 5 de março de 2015
O SERIAL KILLER DA RUA DO ARVOREDO
Porto Alegre, 18 de abril de 1864, 10 horas da manhã.
O Chefe de Polícia da cidade, Dario Rafael Callado, não consegue deixar de resmungar. Ha dias a cidade está tensa e perplexa com uma série de desaparecimentos. O último foi de um menino de apenas 14 anos, José Ignácio, caixeiro (espécie de ajudante) de outro desaparecido, o comerciante português, Januário Martins Ramos da Silva.
A pressão da população, e até das autorizados, para que a policia encontrasse respostas estava se tornando insuportável.
Por isso, enquanto o carro sacolejava pelas pedras da Rua do Cotovelo (atual Riachuelo), em direção à rua da Ponte (atual Borges de Medeiros), o chefe de polícia resmungava o que poderia ser uma oração, pedindo ajuda do céu.
Alguns moradores da Rua do Arvoredo (atual Fernando Machado) relataram que um cachorrinho preto, idêntico ao do menino desaparecido, havia ficado por dias latindo na porta de uma residência e dormido ao relento, como se esperasse o retorno de seu dono, até que, misteriosamente, o próprio cachorrinho sumira. Quem sabe a polícia dava uma olhada? Talvez fosse o cachorro querendo chamar a atenção, enfim... lá se fora Dario Rafael, mas sem muitas esperanças de encontrar qualquer coisa além de um vira-lata inconveniente.
Ao chegar na Rua do Arvoredo (era conhecida assim pelas inúmeras árvores centenárias em praticamente toda sua extensão) o carro da polícia estacionou na frente do endereço indicado.
Ninguém veio atender e com uma ordem judicial nas mãos, o agente público forçou a entrada e penetrou em seus sombrios recintos.
Após duas horas de investigações o sentimento de toda a equipe era horror e repugnância.
Um cadáver foi encontrado no porão, em avançado estado de putrefação. A vítima, mais tarde, foi reconhecida por um brinco que usava. Tratava-se do açougueiro alemão Carlos Klaussner, antigo proprietário daquela mesma residência, onde mantinha um açougue. Seu corpo havia sido retalhado, com a cabeça e membros separados do corpo.
Nos fundos da casa, num poço desativado, foi encontrado o corpo do taverneiro Januário Ramos da Silva e de seu caixeiro, igualmente esquartejados. Junto aos dois o cadáver do cãozinho preto rasgado da garganta ao ventre.
Foram encontrados ainda, vários objetos de uso pessoal dos desaparecidos, além de restos humanos nunca devidamente identificados.
José Ramos, ex-inspetor de polícia de Santa Catarina, que teria comprado (ou alugado) a casa, foi localizado e preso. No mesmo dia, na cadeia, confessou todos os crimes além de apontar sua companheira Catharina Palse, como cúmplice.
A polícia passou a ligar os fatos e a montar o macabro quebra-cabeça.
José Ramos, chegou a Porto Alegre um ano antes e alugou (ou comprou) a residência de Carlos Klaussner, que continuou gerenciando um açougue no térreo do local.
Catarina era uma bela moça recém chegada à capital. Descobriu-se depois que, com apenas 12 anos, assistiu a morte de toda sua família pelas tropas russas que invadiram seu país, a Hungria. Sobreviveu, mas foi agredida e estuprada por vários homens. Aos 15 anos, casou-se com Peter Palse, e ambos resolveram vir para o Brasil. Ainda no navio seu marido se suicidou, e a jovem se viu sozinha em um país que não conhecia. Provavelmente, chegou ao Rio de Janeiro antes de se transferir para Porto Alegre.
No início de 1864, José Campos e Catarina Palse conheceram-se e, aparentemente, apaixonaram-se. Passaram a viver juntos na Rua do Arvoredo.
José Ramos gostava de ostentar cultura. Era comum vê-lo nos espetáculos do Teatro São Pedro, recém inaugurado. Gostava de música e era ávido leitor de jornais e livros. Trajava-se de forma sóbria e elegante. Porém, sobre a aparência simpática e bem falante escondia-se um serial killer tenebroso.
Segundo uma versão, ele teria confessado após algumas taças de vinho, ao alemão, seu desejo de matar, desde que não fosse descoberto. Bêbado, o Klaussner teria brincado que, como açougueiro ele sabia perfeitamente como fazer os corpos das vítimas desaparecerem sem deixar pistas. Bastaria transformá-los em linguiça.
Infelizmente, a conversa de bêbados tornou-se uma armadilha fatal.
José Ramos, mentiroso e inteligente, atraia homens, em sua maioria imigrantes alemães sem parentes na cidade e com algum bem que pudesse ser roubado, até o endereço na rua do Arvoredo. Os homens eram bem acolhidos pela bela Catharina que, num macabro ritual, servia um belo prato de comida ao visitante. Após o jantar era levado até a poltrona na sala. Ela saía e Ramos entrava no recinto armado de um machado. A vítima era massacrada com golpes na cabeça, sem chance de defesa.
Depois, no porão, o corpo era esquartejado, cortado em fatias e o açougueiro Klaussner fazia linguiças. Os ossos eram queimados ou jogados no rio Guaíba.
Com um macabro prazer, José Ramos vendia apenas para a elite e por um bom preço, as linguiças que, em pouco tempo originou uma clientela fiel.
Por algum motivo, Ramos e Klaussner brigaram e esse foi morto pelo ex-policial. O corpo foi totalmente retalhado, mas Ramos descobriu que não sabia fazer as linguiças, então, a vítima foi escondida no porão, onde acabaria sendo localizada delatando o crime.
Na Porto Alegre do século XIX os escândalos que atingiam as elites eram, rapidamente, escondidos, por isso, o chefe de Polícia foi exonerado, provavelmente por não aceitar encobrir os fatos e o inquérito passou a ser vago nos pontos mais macabros.
Seria duro demais para nossa aristocracia reconhecer ter consumido carne humana com voracidade.
Quais as reais motivações de José Ramos e Catharina Palse?
Vingança? Ódio? Desprezo? Dinheiro, apenas?
Infelizmente, o medo da verdade foi maior que a vontade de esclarecer os fatos, e os Crimes da Rua do Arvoredo permanecerão para sempre envoltos numa espessa capa de mistérios e segredos.
O número verdadeiro de vítimas nunca foi revelado.
Prof. Péricles
NOTAS:
01. Suspeita-se que José Ramos tenha chegado a Porto Alegre por estar fugindo de um crime hediondo. Ele teria assassinado o próprio pai.
02. A linda Catharina Palse, lavou todas as manchas de sangue que ficaram na casa, usufruiu dos ganhos ilícitos dos crimes, já que foi vista adquirindo roupas caras e joias, possivelmente do dinheiro das vítimas, respondeu como cúmplice e foi condenada a 13 anos e quatro meses de prisão. Cumpriu na íntegra sua pena. Pouco tempo depois foi recolhida nas ruas muito doente. Passou anos num hospício. Possivelmente se suicidou em 1891 sendo enterrada como indigente no cemitério da Santa Casa.
03. José Ramos seria condenado a forca ou prisão perpétua, mas solicitou alistamento na Guerra do Paraguai e prometeu silêncio sobre seus crimes, o que lhe garantiu indulto. Sobreviveu à guerra, retornou a Porto Alegre, por onde perambulou, sem amigos, até morrer alguns anos depois, provavelmente de tuberculose.
04. José Ramos e Catharina Palse, que se saiba, jamais se reencontraram depois da prisão.
05. O assassinato do caixeiro, o menino José Ignácio, foi o único sem propósitos premeditados, sendo caracterizado como queima de arquivo, assim como seu fiel cachorrinho.
06. Charles Darwim, naturalista britânico relatou os crimes da rua do arvoredo num seminário, para exemplificar como o homem, em sua psique, ainda está próximo da bestialidade.
07. O endereço exato da casa maldita foi, deliberadamente esquecido, havendo apenas indicações de sua localização, ao lado das escadarias (FOTO).
08. Segundo o historiador Décio Freitas, autor de um livro sobre o assunto, “O Maior Crime da Terra”, os processos estão incompletos, faltam folhas, é de difícil leitura e as folhas faltantes nos autos são, justamente, as que poderiam dar algum indício sobre a veracidade das tais linguiças, ou não.
segunda-feira, 2 de março de 2015
CHEIRO DE ROSAS
Ela disse pra ele que não iria chorar.
Seu projeto de mulher moderna incluía uma resistência às lágrimas, como se elas representassem aquela fragilidade feminina que ela abominava.
Ele começou algo que deveria ser um sorriso, mas ficou suspenso e preso a um olhar para o cigarro entre seus dedos.
Não fora bem isso que havia planejado, embora nunca planejasse nada mesmo.
Ela o olhou com aquele jeito tão dela, de quem gritar calada.
E agora, pensou ele enquanto dava uma tragada que servia como fuga, para ganhar mais um tempo para pensar.
Deveria dizer “te amo, não vá”? Mas... não amava.
Deveria dizer “eu vou contigo”? Mas... não queria ir.
O que diria nessa hora seus heróis imaginários. Seu modelo de homem seguro que ele tentava criar pra si?
Nenhum herói imaginário assaltou seus pensamentos com alguma fórmula mágica.
E ele ficou do jeito que estava, olhando a brasa consumir lentamente o cigarro.
De certa forma, tudo já tinha sido dito, na note passada.
Ela arrumou os cabelos daquela maneira que nenhuma mulher repete e sorriu.
Aproximou-se e uma de suas mãos tocou seu peito.
Ele sentiu levemente a dor pela mordida bem ali, na noite anterior.
Ele não lembra bem se houve o beijo, aliás, houve, mas não lembra do gosto.
Talvez despedida não tenha gosto ou tenha gosto de nada.
Mas ficou o cheiro. Aquele leve cheiro de rosas que ela emanava, como se fosse dela, vindo de sua essência e não apenas um perfume que se joga ao corpo após o banho.
Ainda lembra de sua última frase, “não desista de seus sonhos””.
Então ela se afastou.
Por alguma razão ele não teve coragem de vê-la partir, como se, ao não vê-la sumir ela jamais sumisse de verdade de sua vida, como a criança que pensa que não vendo vovô morto, vovô jamais morrerá.
E ela continuou se afastando misturada aos últimos passageiros que pegavam o mesmo ônibus.
Ele nunca mais a viu.
Ao menos em realidade, pois em sonhos continuou aparecendo e mordendo seu peito, no mesmo lugar, trazendo o mesmo cheiro de rosas, provocando a mesma leve dor, por algum tempo.
Até que os sonhos foram rareando, e também desapareceram.
Ele fez história, depois casou e teve filhos, foi um bom cidadão.
Ela fez a história e foi vista pela última vez em algum canto de uma suja delegacia daqueles tempos sujos.
Sua alma permanece viva entre os cipós e igarapés e parece que o vento quando sopra sussurra seu nome.
Faz parte de uma estatística inacabada, dos desaparecidos, num país que evita encontrar seus fantasmas para não ter que explica-los.
Ele ainda fuma e vê em todas as brasas a mesma brasa que usou para ganhar tempo como se se fosse a mesma e jamais se apagasse.
Talvez por isso nunca tenha pensado em parar de fumar.
“Não desista dos teus sonhos”.
Ele sorri amargo enquanto sente o cheiro de rosas.
Prof. Péricles
sábado, 28 de fevereiro de 2015
CATARINA, A RAINHA
Em 1580 Portugal ficou sem Rei. D. Sebastião morrera jovem dois anos antes, sem deixar herdeiros e seu tio-avô D. Henrique, um ancião, vivera apenas 2 anos com a coroa.
Filipe II, rei da Espanha e primo-irmão de D. Sebastião pretendeu a Coroa e o povo lusitano estremeceu, pois, considerava ser inadmissível ser governado por um rei estrangeiro, ainda mais da vizinha e arquirrival, Espanha.
Mas, você sabe, o que vale é dinheiro e no capitalismo lucro não tem pátria. A classe mercantil seduzida pela oportunidade de participar dos negócios das minas espanholas na América e seu ouro interminável, apoiou lipe (assim mesmo, cheios de intimidades).
Seguiram-se 3 reis, três Filipes, Filipe II, Filipe II e Filipe IV, e 60 anos que os modernos portugueses chamam de “Domínio Espanhol” o período em que Portugal, literalmente, perdeu a independência.
Quando Filipe IV morreu os mercadores portugueses chegaram à conclusão que o negócio de vender o país já não era mais rendoso (afinal, a Espanha derrotada pelos ingleses já não era aquela fonte de ouro toda) e resolveram recuperar a autonomia.
Seguiu-se uma guerra entre Portugal e Espanha de fácil previsão: Portugal seria derrotado.
Para que isso não acontecesse a nobreza lusitana pediu socorro aos ingleses e, esses, bonzinhos como sempre, aceitaram apoia-los na guerra, porém, exigiam o casamento de uma das filhas do rei de Portugal com o seu próprio rei, Carlos II.
Carlos II queria muito o casamento. Primeiro porque a princesa em questão, Catarina, era uma gatinha (dizia a Caras da época que era a Princesa mais bela de todas as princesas da Europa). Depois porque, o dote exigido era irrecusável. Na verdade, foi o maior dote que se tem notícias na Europa.
Seu valor era altíssimo e incluía a posse da cidade de Tanger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia. Podemos dizer que, a partir da aceitação dos portugueses, a Inglaterra tornou-se um império enquanto o império português perdeu para sempre seu esplendor.
Foi um autêntico golpe do baú em grande estilo e justificaria uma infinidade de piadas sobre a pouca inteligência dos patrícios.
A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.
Para a linda Catarina de Bragança (gravura) era como entrar no inferno.
Fora educada numa das cortes mais elegantes e cultas e passaria a sobreviver numa corte (a inglesa) rude e atrasada para os padrões da época.
Apesar disso, e das saudades que carregaria para sempre de sua terra e de sua gente, Catarina não se prostrou num canto do palácio para chorar as pitangas. Ao contrário, foi a luta para transformar o seu, então, novo mundo.
Mesmo sendo hostilizada o tempo todo (principalmente pelas mulheres), por ser linda (entendeu agora?) e por ser estrangeira, Catarina, não desistiu e teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses.
Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.
Catarina adorava chupar uma laranja e foi ela quem introduziu essa fruta, que recebia em cestos enviados por sua mamãe, nas frias terras inglesas.
O mais britânico dos costumes (não, não estou falando em torcidas se matando nos estádios) o chá das 5, surgiu do hábito de Catarina de organizar reuniões com amigas (e inimigas, queridas, claro) nesse horário, para saborearem chá, numa espécie de trégua que só mulher entende.
Gata como só ela, introduziu a saia curta. Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés de lancha das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas e mais ódios.
Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar e nem por isso deixou de ser admirada pela feminilidade, ao contrário, parecia ainda mais linda.
Coisa que ela abominava nos ingleses era o hábito de comer com as mãos, inclusive o Rei, embora o garfo já fosse conhecido. Claro que quem manda em casa é o homem, mas, Catarina tanto incomodou (provavelmente com dor de cabeça crônica e ameaças de chamar a mamãe pra morar com ela) que o rei acabou ordenando que todos comecem com garfo e faca.
A Rainha Catarina foi uma mulher que fez do limão uma limonada. Tratou de mudar o mundo que ameaça lhe oprimir trazendo beleza, luz e civilidade para então cinzenta e rude Inglaterra.
A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi batizado em sua homenagem e ainda existe uma associação, a “Friends of Queen Catherina” para relembrar seus feitos e sua glória.
Morreu em 25 de novembro de 1705, aos 67 anos, cercada, como sempre, por uma legião de admiradores e de invejosas.
Prof. Péricles
OS BONITOS E O FIM DA HUMANIDADE
Thomas Malthus, economista e demógrafo britânico preocupava-se com o crescimento populacional humano em relação as condições naturais do planeta para abastecer os novos membros. Em 1797 publicou uma série de ideias alertando para a importância do controle da natalidade, afirmando que o bem estar populacional está intimamente relacionado com o crescimento demográfico do planeta. Segundo essas ideias, enquanto a população cresce numa progressão algébrica (exponencial) os recursos alimentares crescem numa progressão aritmética e, um dia, não haveria alimentos para todo mundo.
Malthus concluía alertando sobre a necessidade do controle da natalidade e isso o tornou um dos mais odiados inimigos da igreja.
O tempo amainou o alarme da Malthus. Guerras, doenças e novas condições econômicas trataram de diminuir o ritmo alucinante do crescimento populacional, enquanto que, novas descobertas e tecnologias aumentaram a produção de alimentos.
O problema maior, entretanto, parece ser a incapacidade humana de distribuir de forma justa o que é produzido.
As elites sociais e as elites geopolíticas continuam sendo a maior ameaça quando se debruça sobre a questão demográfica e se relaciona essas questões a sobrevivência humana.
Vejam, por exemplo, a interessante pesquisa feita pelo pesquisador John Calhoun.
Em 1972, ele decidiu construir um paraíso para ratos, com belos edifícios e alimento ilimitado (foto). Ele introduziu oito ratos a essa população.
“Universo 25” era o nome da caixa gigante, projetada para ser uma “utopia roedora”.
Dividido em “praças principais” por sua vez subdivididas em níveis, com rampas indo até os “apartamentos”, o Universo 25 era um lugar maravilhoso, sempre abastecido com comida, mas que logo começou a ficar apertado demais.
Tendo iniciado com oito ratos, quatro machos e quatro fêmeas, o Universo 25 chegou ao dia 560 com uma população de 2.200 animais. Em seguida, diminuiu de forma constante até a extinção irrecuperável.
Durante os terríveis dias dessa população de pico, a maioria dos ratos gastava cada segundo que vivia na companhia de centenas de outros ratos. Eles se reuniam nas principais praças à espera de ser alimentados e, ocasionalmente, atacavam uns aos outros. Poucas fêmeas levavam suas gestações a termo, e as que faziam pareciam simplesmente esquecer seus bebês. Às vezes, abandonavam um filhote enquanto o estavam carregando, deixando que caísse.
Os poucos espaços isolados da enorme caixa abrigavam uma população que Calhoun nomeou de “Os Bonitos”. Geralmente guardada por um macho, as fêmeas e os poucos machos no interior do espaço não se reproduziam, lutavam ou faziam qualquer coisa a não ser comer e dormir. Quando a população geral começou a diminuir, os bonitos foram poupados da violência e da morte, mas tinham perdido completamente o contato com os comportamentos sociais, incluindo ter relações sexuais ou cuidar de seus filhotes.
Os “apartamentos” no final de cada corredor tinham apenas uma entrada e saída, tornando-os fáceis de guardar. Isso permitiu que os machos mais territoriais e agressivos limitassem o número de animais em cada aposento, superlotando o resto da caixa, enquanto isolava os poucos “bonitos” que viviam em uma sociedade “normal”.
Em vez de um problema de população, pode-se argumentar que o Universo 25 tinha um problema de distribuição justa. O que também poderia muito bem acontecer conosco, uma vez que os humanos são mestres em desigualdade.
O experimento de fato parece um sinal assustador. Se a fome não matar todo mundo, as pessoas vão destruir a si mesmas, de acordo com os nossos ratos modelos.
Da mesma forma que os ratos, as elites nas sociedades humanas, longe de se preocupar com o todo, parecem ligadas apenas em aumentar seus privilégios às custas da crescente exclusão.
Os criados dos bonitos, em nosso mundo-rato, são os membros de uma pretenciosa classe média que, embora jamais vá ocupar os apartamentos exclusivos, e jamais vá fazer parte de seu mundo, serve aos propósitos dos “bonitos”, combatendo os pobres, os “feios”, para manter a falsa impressão de superioridade.
Assusta aos bonitos e causa ódio em seus lacaios ver filhos de pobres cursando ensino superior, viajando de avião, dirigindo seu próprio carro e vencendo eleições.
Seja como for, esse experimento bizarro e temeroso pode ser uma prévia do que vai acontecer com a humanidade se permitirmos a morte dos nossos sonhos de igualdade e de construção de uma sociedade mais justa.
O resultado é a extinção, de mil maneiras possíveis.
Divirta-se, enquanto pode no nosso "universo 25".
Prof. Péricles
Fonte de consulta: HypeScience.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
DE BRAÇOS ABERTOS
É mais confortável pensar que apenas a repressão pode ter algum efeito de contenção ao tráfico de drogas e que, apenas com punição se é capaz de coibir o consumo que já virou, autêntico flagelo mundial.
Mas essa visão embasada apenas nos rigores da Lei e da força da repressão, é simplista, na medida em que reduz todo o problema ao seus aspecto de crime e ilegalidade, e é superada pelos números que nos indicam que, o consumo de drogas no mundo não se reduziu nem mesmo com ameaças radicais como a pena de morte.
Outras ideias, porém, tem mostrado avanços que nos permitem um otimismo renovador.
Uma dessas ideias é o enfrentamento da questão a partir da diminuição dos danos, da não exigência da suspensão do consumo e da atenção social e emocional ao dependente.
Exemplo disso é o Programa “De Braços Abertos” criado pela prefeitura de São Paulo com o objetivo específico de combater o patético drama conhecido por todos como “Cracolândia”.
Leia as informações abaixo sobre os resultados apresentados nesse primeiro ano de programa (2014).
Ah... não se pergunte porque nunca leu ou ouviu nada sobre isso... a notícia é muito boa e o prefeito de São Paulo é Fernando Haddad (PT). Entendeu agora?
“Há um ano, a equipe do prefeito Fernando Haddad (PT) colocava em prática uma ação na Cracolândia que acendeu o sinal vermelho de críticos Brasil afora. O “De Braços Abertos” rendeu discussões fervorosas sobre a legitimidade de um programa que, numa análise simplória, dá comida e renda a usuários de drogas que não necessariamente se comprometem a suspender o vício.
Pela primeira vez, no entanto, a cidade de São Paulo assistiu ao governo local trabalhar o “resgate social dos usuários de crack por meio de trabalho remunerado, alimentação e moradia digna”, não com “intervenções violentas”.
Um ano depois, eis o resultado: a chamada Cracolândia perdeu território no Centro de São Paulo, e o fluxo de usuários que consomem crack a céu aberto no local foi reduzido em 80%.
Além disso, presença mais ostensiva do poder público na região tem impactado também nos números relativos à segurança pública. A Polícia Militar registrou diminuição de 80% nos roubos de veículos e de 33% no furto a pessoas em relação ao ano anterior, antes da implantação do programa, e efetuou número 83% maior de prisões por tráfico de entorpecentes.
Dos 453 cadastrados hoje no programa, 63% são homens (286) e 37% mulheres (167). Desse total, há seis adolescentes e 30 crianças. Elas são encaminhadas para creches e escolas da rede municipal e para os Centros para Crianças e Adolescentes (CCA) para atividades no contra turno.
Entre os beneficiários, 290 são do município de São Paulo, 63 de outras cidades do estado, 99 de outros estados e um estrangeiro.
As equipes de assistência social estimam que cerca de 70% chegaram a passar pelo sistema prisional. Cinco têm ensino superior completo e outros nove, incompleto; 70 completaram o ensino médio, e outros 13 não foram alfabetizados. Do total de cadastrados, 18 ingressaram em cursos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Os participantes hoje residem em sete hotéis da cidade. Segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, há 50 pessoas que, apesar de não morarem nos hotéis, continuam no programa – há pessoas que voltaram para as famílias, mas continuam nas atividades no programa e outras que optaram por viver em Centros de Acolhida fora da região.
Atualmente 21 beneficiários estão em processo de autonomia e trabalhando fora do programa. Dezesseis deles foram contratados em agosto de 2014 pela empresa Guima Conseco para prestar serviços em equipamentos públicos municipais. Eles recebem R$ 820 por mês, vale refeição de R$ 9,10 por dia, cesta básica no valor de R$ 81,33 e vale transporte.
Outros 321 trabalham no serviço de varrição de ruas e limpeza de praças e, destes, 100 participam de cursos de capacitação, como cursos de estética e beleza, jardinagem e inclusão digital. A remuneração é de R$ 15 por dia, mais três refeições.
Há ainda um grupo de 75 participantes em processo de inserção nas frentes de trabalho, que por ora residem nos hotéis e recebem assistência social, psicológica e em saúde, mas não recebem remuneração.
Os números da Polícia Militar apontam para queda na criminalidade entre 2013, quando ainda não existia o programa, e 2014. Em 2014 a PM registrou 17 furtos de veículos e 392 furtos a pessoas, enquanto em 2013 os números foram 34 e 582, respectivamente – uma queda de 50% e 33%. As prisões por tráfico de entorpecentes realizadas pela PM saltou de 96, em 2013, para 176 em 2014, um acréscimo de 83% no número de registros.
Ao longo do último ano foram realizadas 6.344 abordagens pela Guarda Civil Metropolitana na região, em apoio ao trabalho da Polícia Militar, e 319 prisões, das quais 91 com crack. No total, a GCM apreendeu 2.486 pedras de crack. Somente em três das maiores apreensões ocorridas em julho, por exemplo, foram apreendidas 513 pedras e, junto aos traficantes, mais de R$ 10 mil.
Segundo as equipes de assistência social, desde o início das ações, 113 pessoas deixaram o programa por motivos diversos.
Fonte: Jornal GGN
Com informações da Prefeitura de São Paulo
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
LÍBIA? QUE LÍBIA?
Há males que veem para o bem, dizia minha vó. Mas, nem sempre.
Em 2011 a Líbia era o mais próspero país do norte da África. Ao contrário dos seus vizinhos, a população jovem não fugia para a Europa em busca de emprego. Encontrava colocação no próprio país. A nenhum líbio era permitido viver sem ter um teto e o próprio governo se encarregava disso, fruto do grande trauma do período colonial em que as propriedades eram garantidas através de desapropriações, apenas aos estrangeiros, enquanto o líbio comum morava em cabanas. Todos os jovens ao casarem recebiam uma quantia, em dinheiro, bem interessante, para iniciarem a vida.
A Líbia não era um paraíso, possuía problemas ancestrais e modernos, mas era um modelo de dar inveja a qualquer de seus vizinhos.
Sim, claro, a situação política não primava pela democracia.
Muamar Kadhafi, que um dia foi chamado de "cachorro louco" por Ronald Reagan, tamanha era a aversão que provocava no ocidente, estava no poder desde 1969, governando como ditador.
Nem todo ditador é Médici ou Pinochet cuja a simples lembrança provoca repugnância. Há Solano Lopes e Getúlio Vargas, ditadores que foram amados por seus povos. Kadhafi era mais do segundo grupo do que do primeiro.
No calor da “Primavera Árabe” em fevereiro de 2011, surgiram protestos de rua contra Kadhafi e por mais democracia. O movimento insurgente que se originou não era forte o suficiente para derrubar o ditador já que, a maior parcela da população manteve-se neutra ou em apoio a ele. A maior parte das forças armadas, por exemplo, continuou fiel ao presidente.
Entretanto, os Estados Unidos, que já alguns anos queria fritar Kadhafi em pouca banha, viu nisso a sua grande oportunidade. Convocou sua gangue, a OTAN e acionou seu departamento de marketing, a ONU, para, primeiro, armar os insurgentes (que não deu certo porque as forças oficiais continuaram no controle da situação) e depois, invadiram diretamente o país através de uma coligação formada pelas forças militares dos Estados Unidos, sua fiel Inglaterra e a França.
Aqui no Blog, denunciamos em alguns textos essa farsa montada pelos norte-americanos. Recebemos críticas contundentes, principalmente do público fiel ao noticiário oficial.
Entre os meses de fevereiro e agosto de 2011, cerca de 60 mil pessoas morreram numa autêntica guerra civil. No final desse mês, os “rebeldes” tomaram Trípoli em outubro Kadhafi foi morto, como um “cachorro louco”.
A bela Líbia passou a ser governada pelo CNT (Conselho Nacional de Transição) que nada decidia sem o ok dos países da coligação. O petróleo, ah! O petróleo líbio! tornou-se o mais barato comprado pelo ocidente.
Hoje, a Líbia é um trapo se comparada a ela mesma nos tempos de Kadhafi.
O governo fantoche obedece o grande pai branco de Washington com devoção.
Milhares de pessoas se matam todos os dias num conflito tribal que parecia ter sido superado mas que voltou com ódios antigos.
O Estado Islâmico possui campos de treinamento, estoque e inteligência ao norte do país.
A Al Quaeda do falecido Osama, domina o centro e o sul. O governo não domina nada.
Uma guerra fratricida se aproxima e os Estados Unidos, a OTAN e a ONU não estão nem aí pois não serão seus cidadãos que morrerão e porque o petróleo (ah! O petróleo) continua barato.
Nenhum chefe de estado do ocidente deixa de dormir com problema de consciência.
E eu, aqui atrás do teclado me pergunto, aquela galera que apoiava o noticiário global, se dizia defensores da democracia e me xingava, lembra disso?
Não. Não são seus filhos, maridos, amigos ou parentes que estão nessa situação.
Líbia? Que Líbia?
Agora é férias, carnaval, BBB...
Prof. Péricles
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