sábado, 28 de fevereiro de 2015

CATARINA, A RAINHA


Em 1580 Portugal ficou sem Rei. D. Sebastião morrera jovem dois anos antes, sem deixar herdeiros e seu tio-avô D. Henrique, um ancião, vivera apenas 2 anos com a coroa.

Filipe II, rei da Espanha e primo-irmão de D. Sebastião pretendeu a Coroa e o povo lusitano estremeceu, pois, considerava ser inadmissível ser governado por um rei estrangeiro, ainda mais da vizinha e arquirrival, Espanha.

Mas, você sabe, o que vale é dinheiro e no capitalismo lucro não tem pátria. A classe mercantil seduzida pela oportunidade de participar dos negócios das minas espanholas na América e seu ouro interminável, apoiou lipe (assim mesmo, cheios de intimidades).

Seguiram-se 3 reis, três Filipes, Filipe II, Filipe II e Filipe IV, e 60 anos que os modernos portugueses chamam de “Domínio Espanhol” o período em que Portugal, literalmente, perdeu a independência.

Quando Filipe IV morreu os mercadores portugueses chegaram à conclusão que o negócio de vender o país já não era mais rendoso (afinal, a Espanha derrotada pelos ingleses já não era aquela fonte de ouro toda) e resolveram recuperar a autonomia.

Seguiu-se uma guerra entre Portugal e Espanha de fácil previsão: Portugal seria derrotado.

Para que isso não acontecesse a nobreza lusitana pediu socorro aos ingleses e, esses, bonzinhos como sempre, aceitaram apoia-los na guerra, porém, exigiam o casamento de uma das filhas do rei de Portugal com o seu próprio rei, Carlos II.

Carlos II queria muito o casamento. Primeiro porque a princesa em questão, Catarina, era uma gatinha (dizia a Caras da época que era a Princesa mais bela de todas as princesas da Europa). Depois porque, o dote exigido era irrecusável. Na verdade, foi o maior dote que se tem notícias na Europa.

Seu valor era altíssimo e incluía a posse da cidade de Tanger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia. Podemos dizer que, a partir da aceitação dos portugueses, a Inglaterra tornou-se um império enquanto o império português perdeu para sempre seu esplendor.

Foi um autêntico golpe do baú em grande estilo e justificaria uma infinidade de piadas sobre a pouca inteligência dos patrícios.

A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.

Para a linda Catarina de Bragança (gravura) era como entrar no inferno.

Fora educada numa das cortes mais elegantes e cultas e passaria a sobreviver numa corte (a inglesa) rude e atrasada para os padrões da época.

Apesar disso, e das saudades que carregaria para sempre de sua terra e de sua gente, Catarina não se prostrou num canto do palácio para chorar as pitangas. Ao contrário, foi a luta para transformar o seu, então, novo mundo.

Mesmo sendo hostilizada o tempo todo (principalmente pelas mulheres), por ser linda (entendeu agora?) e por ser estrangeira, Catarina, não desistiu e teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses.

Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.

Catarina adorava chupar uma laranja e foi ela quem introduziu essa fruta, que recebia em cestos enviados por sua mamãe, nas frias terras inglesas.

O mais britânico dos costumes (não, não estou falando em torcidas se matando nos estádios) o chá das 5, surgiu do hábito de Catarina de organizar reuniões com amigas (e inimigas, queridas, claro) nesse horário, para saborearem chá, numa espécie de trégua que só mulher entende.

Gata como só ela, introduziu a saia curta. Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés de lancha das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas e mais ódios.

Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar e nem por isso deixou de ser admirada pela feminilidade, ao contrário, parecia ainda mais linda.

Coisa que ela abominava nos ingleses era o hábito de comer com as mãos, inclusive o Rei, embora o garfo já fosse conhecido. Claro que quem manda em casa é o homem, mas, Catarina tanto incomodou (provavelmente com dor de cabeça crônica e ameaças de chamar a mamãe pra morar com ela) que o rei acabou ordenando que todos comecem com garfo e faca.

A Rainha Catarina foi uma mulher que fez do limão uma limonada. Tratou de mudar o mundo que ameaça lhe oprimir trazendo beleza, luz e civilidade para então cinzenta e rude Inglaterra.

A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi batizado em sua homenagem e ainda existe uma associação, a “Friends of Queen Catherina” para relembrar seus feitos e sua glória.

Morreu em 25 de novembro de 1705, aos 67 anos, cercada, como sempre, por uma legião de admiradores e de invejosas.

Prof. Péricles

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