segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
SOCIALISMO, COMUNISMO E OUTROS SONHOS
As origens do socialismo são belas. Nasceram do desejo de justiça e liberdade aos menos favorecidos.
As primeiras propostas foram dos chamados “socialistas utópicos”. Pensadores que defendiam a criação de um modelo social menos desumano, porém, sem saber bem como construir uma sociedade assim, suas propostas esbarravam no impraticável, tornando suas idéias algo como que sonhadoras.
O “capitalismo bonzinho” não poderia mesmo ser ponto de partida para nada mais concreto.
Os anarquistas, cujos pensamentos geraram uma infinidade de variáveis teóricas, apregoavam, basicamente, um estado sem poder central, enraizado na fraternidade e no respeito ao direito do próximo. Como promover a fraternidade, eles não sabiam bem.
Porém, valores burgueses como propriedade privada, exército, nacionalismo, lei e religião, eram tão questionados pelos anarquistas que estes não foram vistos apenas como sonhadores e, contra eles, levantaram-se os ódios mais profundos do capital.
A dupla Marx e Engels difere-se dos utópicos exatamente porque basearam suas conclusões na observação histórica da formação das sociedades.
Partindo da premissa que o mundo em que viviam (o século XIX) não era justo e no desejo de demonstrar como seria uma sociedade igualitária, indicaram o que, consideravam ser, o caminho para a construção de um mundo melhor.
Primeiro Marx desmontou a forma clássica de interpretação da história, demonstrando que o que move as civilizações para frente não era a vontade iluminada de soberanos, os desejos particulares ou a bondade da busca do bem maior, mas, sim, a luta de classes entre os que habitam o andar de cima do prédio social contra os interesses dos que habitam andares inferiores, tão violenta quanto silenciosa.
Nesse contexto, proprietário e escravo, patrício e plebeu, senhores e servos, eram atores do mesmo espetáculo interpretado inúmeras vezes na história.
Num trabalho imortal do intelecto humano, Marx comparou a sociedade a um prédio e explicou o que era a infraestrutura (os pilares da obra do prédio), redefinindo o que seria salário, trabalho, capital, propriedade. Também demonstrou quais eram as superestruturas sociais (o acabamento do prédio) e quais suas funções na manutenção da ordem burguesa o papel da religião, do patriotismo, da guerra, de nacionalismo.
Marx e Engels demonstraram que, apesar de moraram no mesmo prédio, as pessoas não eram iguais e demonstraram sociológicamente, o que as tornavam diferente.
Especialmente interessante na visão marxista é o papel e a representatividade do governo e da própria democracia, sendo o governo muito mais um comitê que representa os interesses dos poderosos do que um órgão representativo do todo e a democracia uma fumaça que confunde o foco dos mais pobres.
Depois, especialmente em “O Manifesto Comunista” editado pela primeira vez em 1848, o historiador e sociólogo Karl Marx aponta (não prevê no imensurável) criticamente, historicamente, quais seriam os passos futuros da humanidade.
Para ele, sendo a mola propulsora do mundo o modo dialético onde uma situação, um tese, inexoravelmente se esgota dando lugar a uma antítese, uma nova situação, o capitalismo, pela própria criação da miséria que lhe é inerente seria desafiado num futuro próximo, donde ocorreria uma das seguintes situações – o proletário organizado em um partido operário forte e consciente, por ser esmagadora maioria, chegaria ao poder de forma revolucionária, jamais pela democracia burguesa (desconstruindo o velho e criando o novo), gerando a ordem proletária de organização social, ou, os capitalistas se reorganizariam em novas ordens gerando reformas (mantendo o velho e mudando apenas a roupagem).
Se tudo desse certo e os proletários organizados e politizados chegassem ao poder, o que teríamos primeiramente seria uma sociedade em que boa parte da propriedade seria estatizada atingindo de morte a propriedade burguesa, e a sociedade seria governada por esse partido representativo das massas.
A Ditadura do proletário, na verdade, significaria o poder da maioria sobre o estado, e não o contrário, o estado acima de todos, como apregoam os menos informados.
A existência de governo e de estado, e nisso marxistas e anarquistas concordavam, ainda seria a manutenção das estruturas arcaicas de poder, por isso, num segundo estágio, com a ampliação da igualdade, da responsabilidade compartilhada e do entendimento que todos, no mundo inteiro são iguais, assistiríamos o nascimento da sociedade comunista, o paraíso na terra, segundo Marx, onde não haveriam governos, fronteiras, nacionalidades e exércitos.
A teoria assustou, como não poderia deixar de ser, os donos do capital. Mas, por algum tempo permaneceu apenas uma teoria.
O que mudaria o mundo, para sempre, seria o dia que a teoria, pela primeira vez seria posta em prática.
Isso aconteceu a partir de outubro de 1917, na Rússia, mas já é outro assunto.
Prof. Péricles
domingo, 28 de dezembro de 2014
MÁSCARA NEGRA
“Quanto riso, oh, quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando
pelo amor da Colombina,
No meio da multidão”
Na marchinha do Carnaval de 1967 de autoria de Ké Kéti e Pereira Matos, Máscara Negra refere-se aos disfarces de carnaval, as máscaras que escondem sentimentos e que caem no final da grande festa.
Pois o ano de 2014 que está se encerrando funcionou, de certa forma, como um grande baile em que, ao final, muitas máscaras que compõem a mitologia que o brasileiro faz de si mesmo, se dissolveram.
A começar pelo mito do brasileiro patriota, que ama sua terra acima de qualquer coisa.
Foi ano de Copa do Mundo de futebol no Brasil e muitos desses “brasileiros patriotas” foram vistos torcendo contra a Copa do Mundo, que, por ser um evento internacional, representaria um enorme fiasco para a nação tupiniquim. Pior, muitos desses torceram contra uma das mais sagradas instituições do imaginário patriótico, a seleção canarinho, já que, imaginavam que a conquista do hexa favoreceria a reeleição do governo atual.
Outra máscara miseravelmente espezinhada foi a do sujeito liberal, sem preconceitos. “No Brasil”, dizem os hipócritas, “não existe racismo nem homofobia”.
Em busca de seus direitos políticos os grupos homoafetivos, negros, indígenas e quilombolas, entre outros, foram à luta e tiveram contra si candente e às vezes, grosseira manifestação reacionária. Alguns políticos no exercício de cargo eletivo e outros na condição de candidatos manifestaram sua reprovação à igualdade entre gêneros, o menosprezo a negros, índios, quilombolas, mulheres de pouca roupa ou ainda a oposição ferrenha às cotas raciais. Como que incentivados pelo despudor de seus representantes, muitos abandonaram o discurso politicamente correto e adotaram como canto de guerra as expressões mais chulas do ódio.
No grande baile de 2014, a galera que torceu contra a Copa e a que assumiu a postura do preconceito se juntou a outras legiões que foram desmascaradas, como a turma que apóia à ditadura militar e tudo aquilo que ela representa como seqüestro, estupro, torturas e mortes patrocinadas pelo estado.
Outro duro revés no nacionalismo foi a turma dos puxa-saco dos Estados Unidos que desde 1953 odeiam a Petrobras e entendem que quem sabe mesmo explorar nossas riquezas e ganhar dinheiro com elas são os norte-americanos, um povo que não conhece corrupção e que usa a “saudável” pena de morte contra bandido.
É claro que as máscaras nunca esconderam suficientemente esses sentimentos. A medonha face do reacionário sempre foi bem conhecida, mas, não deixou de ser um carnaval assistir a queda das máscaras negras.
2014, um ano para ficar na história como o ano das máscaras perdidas.
“Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô,
Que te abraçou e te beijou meu amor”
Prof. Péricles
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
A HISTÓRIA DO ÓDIO NO BRASIL
Por Fred Di Giacomo
"Achamos que somos um bando de gente pacífica cercados por pessoas violentas”. A frase que bem define o brasileiro e o ódio no qual estamos imersos é do historiador Leandro Karnal.
A ideia de que nós, nossas famílias ou nossa cidade são um poço de civilidade em meio a um país bárbaro é comum no Brasil.
Nós odiamos e amamos com a mesma facilidade. Dizemos que “gostaríamos de morar num país civilizado como a Alemanha ou os Estados Unidos, mas que aqui no Brasil não dá para ser sério.” Queremos resolver tudo num passe de mágica.
Se o político é corrupto devemos tirar ele do poder à força, mas se vamos para rua e “fazemos balbúrdia” devemos ser espancados e se somos espancados indevidamente, o policial deve ser morto e assim seguimos nossa espiral de ódio e de comportamentos irracionais, pedindo que “cortem a cabeça dele, cortem a cabeça dele”, como a rainha louca de Alice no País das Maravilhas.
Ninguém para 5 segundos para pensar no que fala ou no que comenta na internet.
Grita-se muito alto e depois volta-se para a sala para comer o jantar. Pede-se para matar o menor infrator e depois gargalha-se com o humorístico da televisão. Não gostamos de refletir, não gostamos de lembrar em quem votamos na última eleição e não gostamos de procurar a saída que vai demorar mais tempo, mas será mais eficiente.
Somos uma grande família, onde todos se amam. Ou não?
Leandro Karnal diz que os livros de história brasileiros nunca usam o termo guerra civil em suas páginas. Preferimos dizer que guerras que duraram 10 anos (como a Farroupilha) foram revoltas. Foram “insurreições”. O termo “guerra civil” nos parece muito “exagerado”, muito “violento” para um povo tão “pacífico”.
A verdade é que nunca fomos pacíficos. A história do Brasil é marcada sempre por violência, torturas e conflitos. As decapitações que chocam nos presídios eram moda há séculos e foram aplicadas em praça pública para servir de exemplo nos casos de Tiradentes e Zumbi. As cabeças dos bandidos de Lampião ficaram expostas em museu por anos.
Em 30 anos, tivemos um crescimento de cerca de 502% na taxa de homicídios no Brasil. Só em 2012 os homicídios cresceram 8%. A maior parte dos comentários raivosos que se lê e se ouve prega que para resolver esse problema devemos empregar mais violência. Se você não concorda “deve adotar um bandido”.
Não existe a possibilidade de ser contra o bandido e contra a violência ao mesmo tempo. Na minha opinião, primeiro devemos entender a violência e depois vomitar quais seriam suas soluções.
Por exemplo, você sabia que ocorrem mais estupros do que homicídios no Brasil? E que existem mais mortes causadas pelo trânsito do Brasil do que por armas de fogo? Sim, nosso trânsito mata mais que um país em guerra. Isso não costuma gerar protestos revoltados na internet.
Mas tampouco alivia as mortes por arma de fogo que também tem crescido ano a ano e se equiparam, entre 2004 e 2007, ao número de mortes em TODOS conflitos armados dos últimos anos.
E quem está morrendo? 93% dos mortos por armas de fogo no Brasil são homens e 67% são jovens. Aliás, morte por arma de fogo é a principal causa de mortalidade entre os jovens brasileiros.
Quanto à questão racial, morrem 133% mais negros do que brancos no Brasil. E mais: o número de brancos mortos entre 2002 e 2010 diminuiu 25%, ao contrário do número de negros que cresceu 35%.
É importante entender, no entanto, que essas mortes não são causadas apenas por bandidos em ações cotidianas. Um dado expressivo: no estado de São Paulo ocorreram 344 mortes por latrocínio (roubo seguido de morte) no ano de 2012. No mesmo ano, foram mortos 546 pessoas em confronto com a PM.
Esses números são altos, mas temos índices ainda mais altos de mortes por motivos fúteis (brigas de trânsito, conflitos amorosos, desentendimentos entre vizinhos, violências domésticas, brigas de rua, etc.). Entre 2011 e 2012, 80% dos homicídios do Estado de São Paulo teriam sido causados por esses motivos que não envolvem ação criminosa. Mortes que poderiam ter sido evitadas com menos ódio.
É importante lembrar que vivemos numa sociedade em que “quem não reage, rasteja”, mas geralmente a reação deve ser violenta. Se “mexeram com sua mina” você deve encher o cara de porrada, se xingaram seu filho na escola “ele deve aprender a se defender”, se falaram alto com você na briga de trânsito, você deve colocar “o babaca no seu lugar”. Quem não age violentamente é fraco, frouxo, otário. Legal é ser ou Zé Pequeno ou Capitão Nascimento.
Nossos heróis são viris e “esculacham”
Se tivesse nascido no Brasil, Gandhi não seria um homem sábio, mas um “bundão” ou um “otário”.
O discurso de ódio invade todos os lares e todos os segmentos. Agora que o gigante acordou e o Brasil resolveu deixar de ser “alienado” todo mundo odeia tudo.
O colunista da Veja odeia o âncora da Record que odeia o policial que odeia o manifestante que odeia o político que odeia o pastor que odeia o “marxista” que odeia o senhor “de bem” que fica em casa odiando o mundo inteiro em seus comentários nos portais da internet.
O discurso de ódio invade todos os lares e todos os segmentos.
Precisamos parar para respirar e pensar o que queremos e como queremos. Dialogar. Entender as vontades do outro. O Brasil vive um momento de efervescência, vamos usar essa energia para melhorar as coisas ou ficar nos matando com rojões, balas e bombas? Ou ficar prendendo trombadinhas no poste, torturando pedreiros e chacinando pessoas na periferia? Ou ficar pedindo bala na cabeça de políticos? Ficar desejando um novo câncer para o Reinaldo Azevedo ou para o Lula? Exigir a volta da ditadura? Ameaçar de morte quem faz uma piada que não gostamos?
Se a gente escutasse o que temos gritado, escrito e falado, perceberíamos como temos descido em direção às trevas interiores dos brasileiros às quais Nélson Rodrigues avisava que era melhor “não provocá-las. Ninguém sabe o que existe lá dentro.”
Será que não precisamos de mais inteligência e informação e menos ódio?
Quando vamos sair dessa infantilidade de “papai bate nele porque ele é mau” e vamos começar a agir como adultos? Quando vamos começar a assumir que, sim, somos um povo violento e que estamos cansados da violência? Que queremos sofrer menos violência e provocar menos violência?
Somos um povo tão religioso e cristão, mas que ignora intencionalmente diversos ensinamentos de Jesus Cristo. Não amamos ao nosso inimigo, não damos a outra face, não deixamos de apedrejar os pecadores. Esquecemos que a ira é um dos sete pecados capitais.
Gostamos de ficar presos na fantasia de que vivemos numa ilha de gente de bem cercada de violência e barbárie e que a única solução para nossos problemas é exterminar todos os outros que nos cercam e nos amedrontam.
Mas quando tudo for só pó e solidão, quem iremos culpar pelo ódio que ainda carregaremos dentro de nós.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
PAPAI NOEL E A COCA-COLA
Em meados do século IV, quando a Igreja começava a ficar realmente poderosa, uma coisa irritava profundamente seus líderes. A teimosia do povo em não abandonar as sacrílegas festas pagãs. Logo a Igreja percebeu que não adiantava nadar contra a maré. O povo curtia suas festas e ponto final. Era algo como o governo hoje querer acabar com o carnaval.
Foi então que os homens da Igreja tiveram uma idéia. Ao invés de combater as festas mundanas por que não trazê-las para a própria Igreja, alterando suas tendências heréticas e dessa forma, controlar melhor o alarido do populacho?
Alguém teve a idéia de aproveitar a farra do “Natalis Solis Invicti”.
“O Nascimento do Sol Invencível” era uma festa animada, em que se comemorava desde tempos imemoriais a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte. Muito popular caía sempre entre os dias 21 a 25 de dezembro.
O evento escolhido pela Igreja para ser comemorado nessa época foi o nascimento de Jesus, e o dia, que deveria ser fixo, o 25 de dezembro.
Pronto, nascia assim o natal, que se transformaria com o tempo na maior festa religiosa cristã.
O primeiro natal foi comemorado no ano 354 em Roma.
Cinco séculos depois os alemães introduziram a árvore natalina como uma das atrações do natal. Já o hábito da troca de cartões de natal nasceu na Inglaterra por volta do século XIX.
Já a lenda do Papai Noel, teve origem na Turquia, no mesmo século da introdução da festa em Roma. Nessa cidade vivia um homem da fé cristã, Nicolau Taumaturgo, que, pelo que diz a lenda, costumava doar parte de sua fortuna pessoal aos necessitados, geralmente, de forma anônima. Para a Igreja Católica, um santo, São Nicolau.
Papai Noel, você sabe, vive no Pólo Norte com Mamãe Noel. Fabrica brinquedos o ano todo em sua fábrica mágica auxiliado por inúmeros elfos e na noite de natal sobrevoa o mundo num trenó voador puxado por renas fantásticas.
Mas, a lenda não surgiu pronta. Ela foi se transformando com o tempo e muito do Papai Noel de hoje em dia devemos a Coca-Cola.
Antigamente, Papai Noel era representado com um semblante triste, mas propício a um santo do que aquele velhinho alegre que ri “ho-ho-ho”. Suas vestes eram escuras, próprias para alguém que vive na neve, geralmente verde-escuro.
Quem teve a idéia, pela primeira vez de um Papai Noel mais light e sorridente foi um cartunista alemão chamado Nast que, em 1886 desenhou papai Noel vestindo roupas vermelhas com detalhes brancos, cinta e botas pretas.
Pois, em 1931 a Coca-Cola utilizou a coincidência das cores do Papai Noel com sua própria logomarca e espalhou cartazes e outdoors com Papai Noel de Vermelho e tomando Coca-cola. Foi um enorme sucesso que atravessou fronteiras e mudaria para sempre a imagem do bom velhinho.
Até hoje Papai Noel anda por aí fantasiado de Coca-Cola.
Ainda hoje as crianças se encantam com a lenda. Adultos se esforçam para mante-la viva, todos se recordam de seu tempo, e poucos recordam daquele que, teoricamente deveria ser o mais lembrado, Jesus.
Talvez o marketing da Coca-Cola seja mais forte que o marketing da figura meiga de Jesus, afinal, em tempos de consumo onde faturar é lei, Papai Noel vende, Jesus não vende.
Provavelmente haveria espaço para a alegria infantil e para a reflexão necessária se houvesse entre as pessoas, essa vontade.
Refletir sobre a imortal filosofia de Jesus e sua moral revolucionária.
Não, ninguém quer estragar seus festejos, justos e merecidos que coroam um ano de trabalho que se encerra.
Nem se quer que entre o consumo de perus e castanhas se recorde que 12,9 milhões de crianças morrem a cada ano no Brasil, antes dos 5 anos de idade. Nem que 40% da população mundial vivem em situação de extrema pobreza e que 9% das crianças do mundo inteiro morrem de fome ou de doenças ligadas a miséria.
Isso talvez faça mal à digestão.
Mas, lembrando aquele aquém a festa deveria ser oferecida, reserve um espaço, um cantinho que seja, do seu tempo, para pensar sobre os abandonados da sorte, os entulhos do capitalismo.
Não se resolverá o problema das injustiças sociais e da miséria, mas, combatendo o “nem to aí” e domando seu egoísmo comprometendo-se a um ano de 2015 mais fraterno e comprometido, sua ceia ficará, com certeza, mais gostosa.
Não existe, nem existirá, tempero mais gostoso do que a solidariedade.
FELIZ NATAL!
Prof. Péricles
domingo, 21 de dezembro de 2014
CUBA ANTES DE FIDEL
O general e presidente do México, José de la Cruz Porfírio Diaz, certa vez disse, “Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
Essa afirmação que hoje em dia é dito popular naquele país, cabe muito bem a Cuba.
A distância geográfica entre Cuba e a Flórida (EUA) é de cerca de 90 quilômetros, algo como a distância entre Poro Alegre e Osório, ou, uma freeway, como dizem os gaúchos.
A grande nação do norte sempre esteve muito íntima da história cubana e dela foi protagonista.
Cuba foi descoberta por Cristóvão Colombo, em 1492. Localiza-se no mar do Caribe, na América Central. Possui algo em torno de 111 mil km2, pouco mais que o tamanho de Santa Catarina e Pernambuco.
Desse pequeno território, apenas 27,63% é agriculturável.
Por 400 anos foi uma colônia espanhola. E teve uma complicada conquista de independência, que contou ao longo dos anos, com muitos heróis.
Em 1868 o rico latifundiário criolo (nativo filho de espanhóis), Carlos Manuel Céspedes, liderou a primeira Guerra de independência. Contando com apenas 200 homens, Céspedes obteve algumas vitórias iniciais e anunciou a liberdade de todos os escravos que se unissem ao exército revolucionário. Num segundo seu exército passou a contar com 12 mil homens.
Entretanto, a libertação dos escravos prejudicava os interesses dos outros latifundiários. Como sabemos a classe dominante não tem nenhum patriotismo quando seus interesses são atingidos e o heróico Céspedes acabou traído e derrotado na guerra que durou até 1878.
Outro herói cubano foi José Marti, um menino que com apenas 16 anos foi preso por fundar um jornal revolucionário, o “La Patria Libre”. Deportado, viveu em vários países e fundou um Partido para angariar recursos para promover uma nova luta pela independência.
Retornou a Cuba e deu início a segunda guerra de independência (1895-1898). José Marti morreu logo no primeiro mês do conflito.
No final da Guerra, considerando forte a possibilidade de não conseguir derrotar os espanhóis, os cubanos aceitaram o auxilio dos Estados Unidos, que, na época, se esforçavam para expulsar do continente os resquícios coloniais europeus que prejudicavam sua expansão imperialista.
Os Estados Unidos declararam guerra contra a Espanha originando a chamada “Guerra Hispano-Americana”.
Em 1898, a decadente Espanha é derrotada e abandona suas últimas colônias do continente (Cuba, Poro Rico) e os Estados Unidos ocupam Cuba de onde só se retiraram em 1902, depois que a Constituição Cubana é aprovada contendo a “Emenda Platt”, instrumento que reconhecia o direito dos Estados Unidos invadirem Cuba se seus interesses fossem ameaçados, de ditarem normas que considerassem de segurança nacional e ainda, reconhecia a posse de áreas cubanas como foi o caso da Base Militar de Guantánamo, que existe até hoje.
E a Emenda Platt será usada sem pudor como ficou evidente dez anos depois, em 1912, quando os Estados Unidos invadiram a ilha para derrotar negros e pobres que se rebelavam contra as oligarquias e lutavam por um país mais justo.
Era apenas o início de uma longa história em que os Estados Unidos sempre considerarão Cuba uma espécie de seu "quintal".
Esse maquiavélico instrumento valerá até a Constituição liberal cubana de 1940, mas, antes, terá a garantia de proteção de seus interesses em um governo corrupto e aliado estabelecido no poder desde 1933, com o presidente Fulgêncio Batista.
Porém, Cuba já estava reduzida a um anexo de seu vizinho americano. As propriedades mais produtivas, as belas mansões de praia e praticamente todas as indústrias, pertenciam a cidadãos norte-americanos.
O inglês predominava sobre o espanhol e Cuba era chamada de “colônia de férias” pelos ricos e pela classe média dos Estados Unidos.
Diante da exploração de seu país de forma tão opressora em perfeita sintonia com um governo cooptado, a revolta não parava de crescer entre os nacionalistas cubanos, especialmente, entre a juventude, e dessa maneira a revolução socialista começou no movimento estudantil.
Um brilhante estudante de Direito chamado Fidel Alejandro Castro Ruiz, iria liderar esse movimento patriótico de rebeldia, e, da Serra Maestra, fazer nascer uma Cuba realmente livre e dos cubanos.
Mas isso... já é outra história.
Prof. Péricles
Texto dedicado a minha prima Silvia Gagliardi Rocha
sábado, 13 de dezembro de 2014
MEU BRASIL VARONIL
Ao longo da nossa história, o Brasil assistiu os mais horrendos massacres de brasileiros.
O crime dessa gente? Ser pobre e pretender uma vida mais digna dentro do seu próprio país.
O Brasil adora matar brasileiros e seu exército, se especializou em eliminar o “inimigo interno” da nação.
Entenda-se como “nação” a ordem dominante dos privilegiados. Das classes mais ricas e que detinham o poder econômico e político.
A Cabanagem, por exemplo, foi um movimento que aconteceu no Pará, entre 1835 e 1840. Foi uma típica revolta de pobre contra a sua própria miséria.
O nome do movimento vem dos seus protagonistas, gente miserável que habitava cabanas de palafitas, a beira dos rios e igarapés. O sentimento de abandono dos mestiços e índios foi o combustível que levou a tragédia.
Em meio ao abandono surge a idéia de independência de um país que não os enxergavam.
No início, os cabanos chegaram a tomar Belém e colocar um dos seus na presidência da província. Mas, o analfabetismo era um problema só superado pela desinformação e, aqueles brasileiros esfarrapados não sabiam o que fazer com o poder.
Contra a ousadia de gente tão “poderosa” o governo brasileiro usou a perícia de seu exército combinada até com forças mercenárias. O massacre foi imenso. Cerca de 40 mil mortos numa população de 100 mil habitantes, muitos, executados com as mãos amarradas.
A “paz” se impôs pelo sangue e pelo terror e o Brasil superou essa “grave ameaça” a sua integralidade territorial. A vida dos sobreviventes voltou à realidade das cabanas, da miséria e da malária.
Já em 1838 começava no Maranhão a “Balaiada”. Outro movimento de miseráveis revoltados contra o abandono do governo de seu país.
Seus líderes eram fazedores de balaios, artesão de mãos vazias e de estômagos famintos, Raimundo Jutaí, bandoleiro analfabeto e seus homens, Cosme Bento e um ex-escravo que comandava outros ex-escravos e escravos fugidos.
O maior crime dessa gente era ser contra o monopólio político de um pequeno grupo de fazendeiros que agiam como se fossem donos da província e das pessoas.
O governo brasileiros uniu o exército do Maranhão com exércitos de outras províncias sob o comando do heróico Luís Alves de Lima e Silva “o pacificador” que traria a paz dos cemitérios para a região.
A “guerra” terminaria em 1841 com mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos, a morte de seus sonhos e mais uma vitória do glorioso exército brasileiro e da elite local por ele protegida.
Os massacres de brasileiros parece não perturbar a consciência nacional. Heróis são tratados como criminosos e bandidos como heróis.
A alegação de que o que aconteceu nos anos de chumbo da Ditadura Militar foi uma guerra é, técnica, moral e politicamente, insustentável diante da lógica dos fatos.
Numa guerra se enfrentam dois exércitos profissionais cujo ofício último é a preparação de seus componentes para a guerra. Tais exércitos são mantidos pelos impostos pagos pelos contribuintes, dispõem de toda a informação e a mobilidade oficial de um órgão do estado.
Nada sequer semelhante se aplica aos grupos guerrilheiros que lutaram contras as forças repressivas civis e militares da ditadura.
Dizer que o que houve foi uma guerra é a mesma coisa que chamar os massacres da Cabanagem e a Balaiada de guerra.
O Brasil é um país que confunde sua elite com nação, pobres com inimigos e massacres com guerras.
Uma juventude inteira que ousou lutar contra o fascismo hoje, é lembrada pelos que jamais tiveram coragem para sair as tocas, como bandidos e assaltantes de bancos.
Falta apenas transformar torturadores em nome de rua.
Assim caminha a covardia nacional.
Prof. Péricles
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