quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

COLAVAM NAS PROVAS E SE JULGAM PROFESSORES



Havia um personagem num programa humorístico, se não me engano, no “Viva o Gordo” que, diante de um questionamento sobre qualquer bobagem que dizem, repetia o refrão “não discuto com leigos, não discuto com leigos”.

Quando se é leigo sobre determinado assunto e saímos por aí a falar francamente sobre o que não entendemos bem, facilmente cometemos erros bizarros, e, até mesmo, ridículos.

Claro que ter opinião é um direito de todos nós, mas, o perigo é, precipitadamente, se formar convicção sobre qualquer coisa sem ter uma gama mínima de informação de quem entende melhor do assunto, para balizar nossa opinião.

Se mesmo assim, insistimos em expor o que pensamos, ao mesmo tempo em que exercemos um direito assumimos riscos e por isso, é necessário estarmos abastecidos de humildade para reconhecer que sabíamos pouco daquilo que ora expúnhamos e que, falamos bobagem.

Por isso é tão superficial analisar o procedimento alheio, já que, geralmente, ao fazer isso, estamos trazendo os nossos valores, as nossas impressões sobre algo e não as impressões e vivências do alheio.

Certa vez, em 2003, um político nordestino, num evento festivo de recepção ao recém-empossado presidente Lula, fez um inflamado discurso contra os paulistas e sua pretensa arrogância em relação ao restante do Brasil, em especial, ao nordeste. Pobre homem imprudente. Ao responder ao discurso Lula não só discordou dos termos agressivos utilizados com ainda defendeu o povo paulistano que o recebeu quando migrou de Pernambuco para a Paulicéia desvairada, enquanto o político nordestino, no outro lado do palanque não sabia onde se enfiar.

Isso que dá, geralmente, quando se mete a impor os seus valores a outro sem conhecer o que lhe vai no íntimo.

Isso é particularmente conflitante quando pessoas defendem suas simpatias ou antipatias políticas pessoais usando argumentos pretensamente históricos.

É muito importante ressaltar que história é ciência, não é opinião.

A história possuí método científico e exige provas para suas conclusões, mesmo não sendo essas provas empíricas que alguns julgam serem as únicas provas válidas.

Os diferentes narradores dos fatos históricos, não devem, mas podem enfatizar, conforme suas paixões determinados aspectos dos fatos narrados, mas jamais deturpa-los conforme suas próprias ideias, isso porque, história não é estória, é ciência.

Por exemplo, quando alguém antipetista, tenta esconder seus preconceitos contra esse partido, afirma categoricamente que nunca se viu corrupção igual aos dos tempos do PT, ou que na Ditadura Militar não havia corrupção, esse alguém comete um patético erro de julgamento histórico.

Um indignado leitor do Blog, dia desses, para contrariar a opinião exposta em alguns artigos afirmou que não se rotula algo de direita e esquerda pelos princípios ideológicos ou de práxis, mas pelo “tamanho e poder” do governo, sendo esquerda quem defende o estado interventor na economia e direita o governante que é contra (?).

Disse mais, o leitor indignado. Disse que o golpe de 1964 não foi um golpe já que a Constituição permitia a “intervenção militar” (??) e, na sequência de seu surto, que já havia grupos de guerrilha no Brasil, antes mesmo de 1964 (certamente referia-se aos grupos de defesa organizados pelas ligas camponesas de Francisco Julião, desconhecendo completamente as enormes diferenças entre esses grupos de defesa e seus objetivos com os objetivos de grupos de guerrilha).

As redes sociais tornaram-se, nesse aspecto, armas de tortura ao professor de história e a todo aquele que a estuda e quer bem à veracidade dos fatos.

Expandem-se convicções aos borbotões sem a menor preocupação com a honestidade.

Defendem-se pontos de vistas a partir de citações que jamais foram citadas, estatísticas que jamais foram realizadas ou conceitos que nunca foram emitidos, com o propósito de fazer valer o seu ponto de vista.

E isso, não é apenas errado, é capcioso.

Parafraseando Churchil, nunca tantos que odiavam tanto estudar história opinaram tanto sobre algo que não estudaram direito, mas tornaram-se doutores.

Faríamos bem, todos nós, se respeitássemos um pouco mais a ciência dos fatos e a veracidade das conclusões históricas.

Quanto ao indignado leitor do Blog lhe foi dado uma visão mais coerente daquilo que ele defendia e, certamente ainda defende porque, quem quer se recusar a entender, simplesmente, não entende.

E por aí ficamos, sem impor nada, já que, como dizia o grande Jô Soares, “não se discute com leigos”, e, embora jamais nos furtemos de colaborar com os que querem saber mais, nos incomodam os que sabem menos, colavem nas provas, e hoje se julgam professores.



Prof. Péricles

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