As melhores
ideias foram utilizadas para as piores aberrações.
Algumas
sofreram metamorfose tão grande que se inverteram, se não no conteúdo, em sua
forma.
O
Cristianismo, por exemplo.
A ideia
original, o ponto de partida da doutrina cristã é a solidariedade e a
igualdade.
Talvez
nenhuma outra doutrina tenha destacado tanto a prática da tolerância
A cena
descrita nos evangelhos em que Jesus confrontado pela observância da lei que
determinava apedrejar as prostitutas, apresenta uma das mais belas respostas
que se tem notícia na história humana.
O
atire a primeira pedra aquele que não pecou é a expressão máxima do “questione
a ti mesmo, assuma teus próprios erros” ou, simplesmente, como se diz no Rio
Grande “te enxerga”.
No
entanto, posterior a seu nascimento, o cristianismo se tornou propriedade do
estado e de um clero profissional que se formou em torno de sua popularidade.
A
Igreja deformou de tal maneira a ideia inicial do cristianismo que, na Idade
Média justificava a intolerância com a invenção do pecado, financiou campanhas
de terror baseada na tortura e na fogueira. O clero profissional criou um
exército para impor a sua visão das coisas e as Cruzadas promoveram massacres
terríveis, piores até do que o ocidente costuma acusar os muçulmanos.
Nada
poderia ser mais intolerante e por isso, menos cristão.
Com
certeza, se pudesse, Jesus diria para os cruzados e papas se enxergarem antes
de agredir, não com pedras, mas com o aço das espadas.
O
capitalismo também.
Nasceu
de um sonho diante do desespero.
Homens
sem esperança diante das obrigações feudais que lhes tornavam a vida impossível
encontraram no comércio à longa distância a centelha de luz para iluminar suas
trevas feudais e no lucro honesto uma nova forma de viver e buscar ser feliz.
Lendo
obras como “A Riqueza das Nações” de Adam Smith, o papa do liberalismo,
percebe-se claramente a preocupação com o humano. A vontade de que o novo
sistema trouxesse vida melhor para todos, donos dos meios de produção e meros
trabalhadores, até porque os fundadores do capitalismo eram isso mesmo,
trabalhadores.
Entretanto,
a ideia original do capitalismo foi distorcida por visões encasteladas no
egoísmo mais cruel, cuja preocupação sempre foi a concentração da riqueza,
tornando o rico cada vez mais rico e o pobre que se lixe.
O
maior holocausto da terra que foi o massacre dos povos ameríndios em nome do
lucro do estado e das classes mercantis europeias, além da escravidão, foram
justificadas (até pela Igreja) como um mal necessário diante da imposição do
civilizado (e capitalista) sobre o selvagem e inútil (entrave ao capital).
Igual
o cristianismo, tornou-se algo distante e distorcido do próprio início.
O
socialismo também.
Desde
os utópicos a ideia era a construção de uma sociedade mais justa.
Marx e
Engels lapidaram com talento científico o sistema que nascia do mais humano e
cristão dos desejos: a igualdade.
Ao
despojar os seres da propriedade privada, os fundadores do socialismo jamais
pensaram em punir os ricos, mas, de superar a pobreza.
Da
mesma forma, ao conceituar a religião como o ópio do povo, eles, como
cientistas, referiam-se à religião oficial e dogmática, instrumento utilizado
para a exploração e não a qualquer conceito teológico.
Aliás,
de várias maneiras percebesse ser o socialismo muito mais próximo das ideias do
cristianismo do que mesmo, o Capitalismo, na medida em que prega o total
despojamento de qualquer instrumento que permita a exploração do homem pelo
homem.
Mas, premido
por suas limitações históricas o socialismo, se apresentou alguns êxitos,
também deu origem aos mais bizarros ditadores e a ditaduras cruéis que, assim
como massificou a propriedade massificou também as criaturas e a liberdade.
Tanto
o cristianismo como o capitalismo e o socialismo, eram belos em essência e
foram indevidamente reescritos por quem os utilizou a seu proveito.
Assim
também ocorre com os movimentos que, de forma justa e democrática expressam
oposição e contrariedade ao governo do PT, mas que se tornaram instrumentos
utilizados por defensores de ditaduras, homofóbicos e religiosos radicais.
Intolerantes
que cultivam o ódio como prática, sem nenhum pudor.
Por
isso, é bom manter-se atento à bandeira que se empunha e a máscaras que se
prende ao rosto.
É bom
ter certeza que expressam e defendem realmente o que pensamos e sentimos ou se o melhor ao convite para ingressar na turba não seria o gaudério e sincero "te enxerga".
Prof.
Péricles
Um comentário:
Péricles,
não conhecia teu Blog.
Parabéns, artigos interessantes com assuntos dos mais variados.
Boa Professor.
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