terça-feira, 11 de agosto de 2015
QUANDO CALVINO MATAVA EM GENEBRA
Por Santiago
Vocês sabiam que os protestantes também mataram gente na fogueira durante o período da Renascença?
Pois é – na família Rebés sempre se falou de um personagem heróico que seria um dos nossos antepassados: o teólogo, filósofo, médico, cientista e humanista Miguel Servet y Revés, que nasceu no ano 1511 e foi morto por João Calvino na fogueira em 1553, em Genebra, com apenas 42 anos de idade.
Meu irmão mais velho Odilon Abreu, falecido , pesquisou bastante sobre a biografia de Servet e um primo de Barcelona, da parte dos Rebés que não emigraram, me falou muito sobre esse possível pentatetravó.
Os Rebés da Catalunha eram muito rebeldes e teimosos, por isso eram chamados de Revés, os que fazem tudo ao contrário, grafia que passou depois para Rebés, com B. E o Servet era o próprio “al revés”, depois de queimar o filme com a igreja católica fugiu para França para escapar da fogueira. Assim mesmo foi “queimado em efígie” como se dizia, ou seja, os padres botaram fogo na sua imagem e nos seus livros teológicos, como forma simbólica de reforçar a sua condenação.
Mas Servet não era um ateu e nem um não religioso, era sim um fiel que ousava discutir alguns aspectos do cristianismo, no caso resolveu questionar a Santíssima Trindade na obra “De Trinitatis Erroribus”, mexendo num dogma para os católicos e para os reformistas de Calvino, o bonzinho.
Servet manteve com Calvino uma polêmica rebatendo o protestante em escritos.
Calvino, o bondoso, prometeu que se Servet viesse a Genebra, de lá não sairia vivo. E foi o que aconteceu, Servet fugindo da França, passou em Genebra e foi reconhecido, preso e mandado vivo para a fogueira, por ordem de Calvino, que se justificava dizendo que matar um herege era uma forma sublime de agradar a Deus.
Contam que usaram lenha verde para intensificar a tortura e que Servet ainda pode dizer ao seu carrasco que, já que lhe roubaram o dinheiro, podiam pelo menos terem comprado lenha seca.
Servet descreveu com exatidão a pequena circulação entre pulmão e coração, muito antes de William Harvey, que alguns tem como o descobridor. O teólogo-cientista achava que a verdadeira essência da alma estava no sangue purificado pelo sopro vital do ar nos pulmões. Ele via na ciência o bom caminho para decifrar as coisas do espírito.
Em tempos de temas como blasfêmia, execuções bárbaras em nome de Deus, crescimento de seitas obscurantistas com enorme poder político, sempre é bom lembrar desses gênios que morreram porque ousaram pensar “al revés” daquilo que o poder estabelecido determina.
Santiago, artista gráfico e cartunista ilustrador gaúcho, premiado diversas vezes no Brasil, Uruguai, na Europa e no Japão, com exposições nos Estados Unidos e Canadá.
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