quinta-feira, 13 de agosto de 2015

AGOSTO O MÊS QUE SE ARRASTA


Por Gilberto de Souza

Nem todo brasileiro tem a sensatez de torcer para um time como o Botafogo, mas todos, com certeza, sabem quanto custa ganhar a vida, em tempos bicudos como hoje. Quem vibra com as vitórias e amarga as derrotas do Alvinegro carioca, mesmo na segundona, guarda consigo a força de quem precisa lutar, e muito, para seguir adiante e superar as mais amargas provações.

O jogo é claro. A regra é essa. Mas, na política, as medidas do campo são diferentes.

Como em um final de campeonato, o país mais uma vez se dividiu – nas últimas eleições – entre os homens e mulheres do time que perdeu com o uniforme do new deal norte-americano, iludidos pelas lorotas de Hollywood, as novelas globais; e o escrete vitorioso que votou com a proposta de um país mais justo, pela desconcentração da renda, por uma comunicação mais democrática.

Esta última parcela dos eleitores foi majoritária e elegeu a presidenta Dilma Rousseff para um novo mandato de quatro anos.

A vitória de Dilma transformou os derrotados em maus perdedores, em seres raivosos e dispostos a explodir até a sede do Instituto Lula, por exemplo.

Tornaram-se atores ideais na pantomima de um eventual golpe de Estado, aplicado a partir do Judiciário e sustentado por um Congresso que representa o momento em que foi eleito, durante a divisão de um país separado pelas forças reacionárias da ultradireita e o eleitorado de esquerda que contou com a força de centro do PMDB, hoje transformado em árbitro da partida.

Meses após a vitória nas urnas, acuada por uma ação enfática do Judiciário na Operação Lava Jato contra o seu partido, o PT, a presidenta Dilma tropeça em obstáculos, colocados de propósito pela conjuntura político-econômica, e voa na direção de seus piores inimigos ao concordar com um ajuste fiscal implacável.

Nesse momento, perde o chão – o chão de fábrica, o chão da militância – e se vê diante da matilha fascista, pronta a lhe estraçalhar até os ossos.

Assustada, encastela-se no Palácio do Planalto. Rodeada por um ministério amorfo e avesso ao risco – cada qual de olho apenas em seus pequenos poderes e carguinhos de ocasião – Dilma vê o tecido social se esgarçar no jogo de forças em que pesa a governabilidade do país.

Inerte diante dos riscos que corre a democracia brasileira, a presidenta da República se presta a responder, cabisbaixa, aos insultos da turba. Em um discurso tísico, admite que ‘aguenta a pressão’.

A mídia conservadora, alinhada aos setores mais reacionários da sociedade brasileira, cumpre fielmente o papel de incitar a malta alimentada com os restos do ‘american dream‘, para uma manifestação no próximo dia 16 deste agosto que não termina.

Tem-se notícia de que o paquiderme federal moveu-se, alguns milímetros, para garantir o farnel publicitário aos cofres das Organizações Globo, em troca de um efêmero editorial antigolpe. Não é nada, não é nada, assemelha-se ao carrasco declarar que perdeu o gosto em seu ofício. Se for verdade, é muita coisa. Mas a chance de ser mentira é imensa. Então, não será nada mesmo.

E assim, agosto segue sem que o Botafogo jogue o futebol dos sonhos de sua torcida, sem que a presidenta eleita pelo povo inicie, de fato, a sua administração, e sem que o seu governo – a despeito das saúvas de direita – demonstre ao povo brasileiro que, como qualquer brasileiro, sabe o quanto custa sustentar uma família.

Agosto, historicamente, é um mês que custa a passar.


Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do jornal Correio do Brasil.

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