quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O PROFESSOR DE DENIZARD



Ele nasceu antes da Revolução Francesa, em 12 de janeiro de 1746, na bela Zurique, Suíça.

Ainda muito criança aprendeu sobre as dificuldades da vida, vendo a mãe empobrecida batalhando pelo sustento diário, após a morte de seu pai.

Certa vez, um menino rico do colégio o desdenhou por não ter pai e o chamou de ralé.

Naquela época, na França, o nascimento ditava a forma como as pessoas eram tratadas e não os valores da dignidade e da personalidade, mas, seus estudos sempre foram prioridade para sua mãe.

No país de Calvino, recebeu instruções e dogmas do calvinismo, mas jamais se confessou ser de qualquer religião. Dizia apenas ser cristão.

Naqueles tempos conspiratórios, onde os ventos vindos de França sussurravam sobre uma revolta contra o Rei, os jovens inflamavam-se rapidamente, e Johann Heinrich Pestalozzi, já na Universidade, entra para o grupo de Lavater, o poeta, que defendia reformas liberais. Mas, em 1781, após a morte de um amigo por questões políticas, desencanta-se e abandona o partido e a vida política definitivamente.

Casou-se uma única vez, aos 23 anos.

Em 1798, aos 52 anos, assiste as tropas comandadas por Napoleão Bonaparte invadir seu país.

Seus olhos atentos perceberam um número cada vez maior de órfãos da guerra vagando no Cantão (estado) de Unterwalden,principalmente às margens do Lago de Lucerna.

Ele também perdera o pai muito criança, mas essas crianças, a maioria delas, perdera pai, mãe, lar e identidade e perambulavam sem abrigo e comida, sendo quase todos não alfabetizados.

Johann ocupou, clandestinamente, um convento abandonado após as ruinas da guerra e levou tantas crianças abandonadas quanto pode para lá. Dedicou-se aos pequenos com extrema devoção e foi nessa experiência que nasceu o revolucionário “método pedagógico Pestalozzi”.

Em 1799 os invasores franceses ocuparam o convento para instalar um hospital e Pestalozzi e suas crianças tiveram que abandonar o seu “esconderijo”, mas conseguiu licença para manter uma escola em Burgdorf, para onde se transferiram e lá ficaram por 5 anos, até 1804.

A permissão para criar uma escola e manter seus órfãos deu-se, provavelmente, por já ser naquela época uma pessoa conhecida. Havia escrito em 1780 “As Horas Noturnas de Um Ermitão” e em 1781 “Leonardo e Gertrudes” um conto sobre os esforços de uma mulher bondosa para reformar sua casa, sua praça e sua cidade, que já trazia muitos aspectos de sua visão pedagógica. Ambos os livros, mas especialmente o segundo, considerado sua obra prima, fizeram enorme sucesso na Suiça e na França.

Nesse período, em Burgdorf, escreve “Como Gertrudes Ensina Suas Crianças onde usa a personagem Gertrudes para explicar suas ideias sobre educação.

O método Pestalozzi era revolucionário para a época (e para algumas escolas, até hoje) na medida em que prioriza a educação integral não limitada pela absorção de conteúdos via informações. Em sua pedagogia a escola deveria ser uma extensão do lar das crianças oferecendo segurança, amor e afeto junto com a informação (na época as escolas eram extremamente frias havendo uma enorme distância entre ensino e afeto).

Inspirado nos tempos em que sofria bulling por ser pobre e na sua enorme experiência como educador que educa enquanto vive o dia a dia (no convento e na sua escola), Pestalozzi discordava de outros pedagogos que supervalorizavam a razão e o conhecimento científico.

Para ele, na voz de Gertrudes “só o amor tem a força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral, e possibilitar que cada um encontre dentro de si mesmo a essência divina que lhe dá verdadeira liberdade”.

O processo educativo, ensinava, deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça (intelectual), a mão (físico) e o coração (afetivo ou moral).

Em 1805, todas as suas crianças já estavam encaminhadas e a salvo do abandono e Pestalozzi mudou-se para Yverdon, onde, nos próximos vinte anos se dedicaria integralmente a aprimorar e divulgar seu método de ensino e educação.

Sua casa tornou-se famosa pois era visitada constantemente por homens poderosos como o ministro das relações exteriores da França Talleyrand e a culta Madame de Stael.

Foi citado em obras de importantes pensadores seus contemporâneos.

Aceitou vários educadores como discípulos e entre os mais notáveis figura a pessoa extraordinária de Denizard Rivail, o Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita.

Seus últimos anos foram de tristeza pelas disputas de egos e ódios entre professores de sua escola que diziam ter, cada um, entendido melhor as lições do mestre.

Em 1825 escreveu seu último trabalho “O Canto do Cisne” e aos 81 anos, faleceu em 17 de fevereiro de 1827.

O velho mestre jamais escondeu que os anos mais felizes de sua vida não foram como escritor e professor consagrado, mas os anos passados com os órfãos de Stans quando, segundo ele, aprendeu a amar e entender melhor as dores de seus semelhantes.

Ele ensinou que educação só se faz com o coração e que fazemos tudo melhor (inclusive aprender) quando gostamos do ambiente em que vivemos e somos bem tratados.

Johann Heinrich Pestalozzi, um revolucionário da educação.

Obrigado, querido mestre.


Prof. Péricles

Nenhum comentário: