segunda-feira, 29 de junho de 2015
O NAZISTA ERA JUDEU
Enquanto esperava para subir ao palco do auditório de uma escola em Budapeste, Csanad Szegedi andava apreensivo pelo corredor. Mas ao subir ao palco, em meio aos aplausos dos estudantes, não conteve o sorriso.
Szegedi o ex-militante neonazista húngaro não poderia ser uma pessoa mais diferente nos dias de hoje: há três anos, ele era um dos membros mais ativos do Jobbik, partido nacionalista húngaro de tendência neonazista e posicionamento marcado pelo antissemitismo.
Szegedi descobriu ser judeu em 2012.
Não fosse o suficiente para abandonar suas posições radicais, a avó dele sobreviveu aos horrores nazistas do campo de concentração de Auschwitz.
Ele foi educado como protestante pelos pais, apesar da origem judia de sua mãe.
Ao saber de sua origem judia, ele deu as costas para um passado de intimidações e intolerância. Vice-líder do Jobbik, Szegedi foi ainda fundador da “Guarda Húngara” uma milícia que tinha como hábito marchar uniformizada por bairros de Budapeste com presença de comunidades ciganas.
Juntos com os judeus, os povos nômades eram “acusados” pelo Jobbik por problemas atávicos da sociedade húngara. Uma plataforma que encontrou ressonância suficiente para eleger Szegedi membro do Parlamento Europeu, em 2009.
Na Hungria, estima-se que apenas entre 50 mil a 120 mil dos 10 milhões de habitantes são judeus. Mas calcula-se que, antes da Segunda Guerra Mundial, a população chegava a 800 mil – centenas de milhares foram deportados para campos de concentração.
Ao contrário do que se poderia imaginar, o partido não expulsou Szegedi quando ele revelou seu passado. O líder do Jobbik pensou em usar Szegedi como prova de que a legenda não era puramente antissemita.
Szegedi se converteu ao judaísmo ortodoxo. Viajou para Israel e fez uma visita a Auschwitz.
Ela também pôs fogo em cópias de sua autobiografia, “Eu Acredito na Ressurreição do Povo Húngaro”.
Hoje, Szegedi se dedica a dar palestras em escolas contra os perigos da intolerância.
E para tentar explicar a cultura judaica de forma a enfrentar estereótipos. Isso inclui descrições bem-humoradas do ritual da circuncisão. Ou o fato de que sua avó nos meses de verão usava um curativo no braço para esconder a tatuagem com um número de identificação, feita em prisioneiros de campos de concentração nazistas.
– O partido pode ter adotado uma postura mais para o centro, mas ainda está cheio de pessoas que se filiaram por causa de suas posições radicais, pelo nacionalismo e extremismo. Há um limite para o quão moderado o partido pode ser. Não penso mais numa vida política – disse o ex-militante a jornalistas da agência britânica de notícias BBC.
Szegedi critica o discurso antissemita na Hungria, mas ao mesmo tempo defende seus compatriotas. Para ele, é uma consequência do que chama de paradoxo do nacionalismo húngaro.
– Temos orgulho de nossas conquistas, mas não examinamos as conquistas de outros povos (que fazem parte da sociedade húngara). Temos medo de que sua cultura possa ser tão rica como a nossa – concluiu”.
Não poderia ser mais didático. O caçador, perseguidor de judeus, descobre-se ele próprio ser um judeu. O caçador se torna caça.
Seria interessante se tal fenômeno ocorresse mais frequentemente para modificar a cultura dos intolerantes.
Por exemplo, membros de uma classe média brasileira, supostamente superior aos que consideram mais pobres e ignorantes, despertassem num belo dia, dependendo da bolsa família para garantir a sobrevivência.
Ou se prolixos autores de argumentos contra as cotas nas faculdades despertassem negros, antes do ano 2000.
Infelizmente poucos Szegedis conseguirão aprender em tempo que, a intolerância é irmã do egoísmo e mãe de todo totalitarismo.
Prof. Péricles
Fonte: Correio do Brasil
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