quinta-feira, 4 de junho de 2015
QUANDO O HORROR ENLOUQUECE
Era 29 de abril de 1945.
Um destacamento da 20º Divisão Blindada do 7º Exército norte-americano marcha em direção a Dachau, um campo de concentração localizado a 20 quilômetros de Munique.
Já próximo do objetivo, encontram um comboio de 39 vagões abandonado. As margens da estrada de ferro jazem cerca de 800 corpos. Eram prisioneiros que haviam sido transferidos do campo de Buchenwald e que não sobreviveram à viagem.
O quadro é terrível. Alguns corpos mantinham os olhos abertos e neles se podia ler o horror dos últimos momentos. Todos, esqueléticos e maltrapilhos.
Percebe-se a indignação e o ódio tomando conta de todos os combatentes.
O destacamento segue em frente, agora com os ânimos predispostos à vingança.
Ao entrarem em Dachau, a primeira imagem é de um homem amarrado a um porte, sendo devorado por três dobermann, famintos. O homem já está morto, com as vísceras expostas, além de órgãos vitais como os pulmões e o coração.
Horrorizados, os soldados matam os cães a tiros.
Numa rápida revista, encontram câmaras de gás e fornos prontos para queimar os cadáveres.
Esses fatos horripilantes foram relatados pelo médico-anestesista comandante Willey, então com 30 anos, através de carta à sua esposa escrita em 08 de maio de 1945 e recentemente descoberta por sua filha Clarice no sótão da casa de seus pais.
A carta foi reproduzida na íntegra pelo Daily Mail e o ABC.
Além de relatar seu mal estar pessoal (teve vômitos ao ver o homem sendo devorado), Willey relata ainda, a histeria que se abateu sobre os militares.
Segundo ele, enquanto o coronel Felix Sparks manteve os nervos no lugar e tentou fazer seus homens agirem com naturalidade e profissionalismo, a maioria, liderada pelo comandante Bill Walsh, perdeu completamente o sangue-frio, provocando um verdadeiro massacre dos homens da SS que estavam no campo e caíram prisioneiros.
"Vamos apanhar aqueles cães nazis! Não façam prisioneiros! Não deixem nenhum SS vivo!" teria dito Walsh.
Segundo o médico, foi um massacre sem sobreviventes.
Num determinado momento, 50 soldados da SS foram alinhados numa parede. O Coronel Sparks ordenou aos seus homens que apontassem as metralhadoras, mas que não abrissem fogo. Mas de repente, um dos americanos disparou, contrariando as ordens do superior. Sparks arrastou-o da zona de fogo e questionou o soldado sobre o porquê de ter desobedecido às suas ordens. "Eles estavam a tentar fugir", mentiu o soldado. Mais tarde, veio a descobrir-se que o soldado havia seguido as ordens de Walsh, o comandante descontrolado.
Tudo foi assistido pelos sobreviventes daquele campo - que tinham sido transferidos de Auschwitz no início de 1945 - que aplaudiram a tudo e até participaram em alguns assassinatos.
O médico afirma que um soldado americano, chorando muito, disparou durante quatro minutos sobre corpos mortos dos soldados alemães.
Enquanto o Coronel Sparks, ia de um lado para outro tentando impedir os assassinatos, o anestesista a tudo assistia como que incapaz de reagir. Segundo ele “Deus me perdoe, mas vi aquilo sem que a emoção me perturbasse depois de saber das ações que as bestas da SS tinham feito".
Em outro trecho ele conta que os soldados americanos obrigaram alguns membros da SS a permanecerem durante horas na posição de saudação nazi antes de dispararem a queima-roupa, matando a todos.
O alto comando das forças norte-americanas reconheceu o massacre de Dachau e muitos oficiais foram expulsos do exército depois da guerra. Não foi o caso do Coronel Sparks que teve seu esforço para impedir o massacre reconhecido.
O comandante Bill Walsh não foi punido, pois, exames posteriores revelaram estar em estado de histeria e descontrole emocional.
A carta do médico, descoberta e divulgada tantos anos depois dos fatos, serve, para, além de mais uma vez exemplificar as atrocidades cometidas pelos nazistas, demonstrar que massacres ocorreram dos dois lados.
Mas, diante das circunstâncias que envolviam os fatos, quem somos nós para julgar. Não é mesmo?
Prof. Péricles
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