sábado, 8 de novembro de 2014

DIFERENÇAS QUE ENCORAJAM



Embora não seja um pensamento unânime, cresce o número de brasileiros que entendem estar havendo um planejamento para golpear o mandado da recém eleita presidenta Dilma Roussef.

Segundo alguns, já existe, nos subterrâneos do poder, um projeto de conspiração.

Essa conspiração seria alimentada, externamente por empresas supranacionais interessadas na exploração dos lucros do pré-sal brasileiro e por organizações norte-americanas que temem o surgimento de novas hegemonias e, internamente por sócios desses interesses externos além das forças políticas mais sectárias do país – o grande latifúndio e o grande capital, assustado com o crescimento político de seus “subalternos”.

No texto anterior, vimos algumas semelhanças de hoje com o período pré-golpe de 1964 e, ficamos alarmados em perceber que não são poucos esses sinais. Isso, que não nos detivemos mais tempo na análise que poderia incluir uma crise na Petrobras em janeiro de 64 e ainda, o desejo do presidente João Goulart de criar um programa de bolsa família nos moldes que existia na França.

Entretanto, existem diferenças nos dois contextos, interno e externo, que, nos permitem o otimismo de acreditar que o final não será o mesmo.

A começar pelo contexto internacional. Embora hoje, haja um movimento forte vindo do exterior que busque frear o avanço das esquerdas na América Latina, não existe, nem de perto, a urgência assustadora dos tempos da Guerra Fria. Em 1962 Estados Unidos e União Soviética quase deflagraram a terceira Guerra Mundial com a crise dos mísseis em Cuba. Era recente a oficialização do sistema socialista na ilha de Fidel e os nervos estavam em pandarecos em Washington. Por isso, um fazendeiro, articulador e de centro, como Jango, era visto por lá como um “perigoso comunista”. Hoje, o cenário mundial não permitiria o mesmo apoio das potencias capitalistas, particularmente da Europa, a um golpe no Brasil.

Outra grande diferença é a própria situação econômica do Brasil. Enquanto nos anos 60 o Brasil atravessava uma grave crise inflacionária que se iniciara no governo JK e se ampliava por seu atrelamento ao capital privado internacional, hoje, o Brasil passa por uma situação econômica, que, apesar de não ser confortável, está longe de ser crítica. O crescimento econômico dos últimos anos, por menor que seja, é significativo diante da estagnação econômica os países ricos e da recessão vivida por alguns países importantes da economia mundial. A inflação, como sempre, exige atenção, mas, não se percebe sinais de descontrole.
O Brasil hoje atraí mão-de-obra, o que é muito representativo em se tratando de estabilidade econômica. E, o mais importante, apresentamos índices de desemprego abaixo de 5% o que é considerado pela ONU como emprego pleno.

Nosso povo também mudou muito desde 64.

Se naquela época havia a lembrança de uma ditadura que “tinha sido boa para o trabalhador” que foi o Estado Novo Varguista (1937-1945), hoje, temos a recordação dolorosa da Ditadura Militar e de seus crimes contra a liberdade, a dignidade e os direitos humanos.

Embora os reacionários de ontem sobrevivam na mesma mentalidade dos reacionários de hoje, não é de se acreditar que a maioria do povo brasileiro possa apoiar um golpe, e estamos nos referindo também aos eleitores da oposição ao atual governo.

Finalmente, mas não por fim, é de se lembrar que na década de 60 o conhecimento sobre a própria situação era bastante restrita, sendo o Brasil, um país ainda de características rurais e com meios acanhados de divulgação das idéias políticas e de chamamento ao debate. Atualmente, vivemos tempos de internet onde a informação se divulga e se expande com a velocidade de um clic. As mentiras e malícias, por isso, são mais difíceis de serem desmascaradas.

Sem sombra de dúvidas, existem fumaças no ar. Mas, podemos acreditar que o ranço autoritário se deva muito mais à perda de uma eleição disputadíssima e a perdedores pouco afeitos à democracia.

As diferenças com o passado são reais e nos permitem encarar futuro com ânimo e coragem. Animados pela alegria da construção de uma sociedade mais justa e com a coragem dos que sabem que as forças conservadoras e do atraso não podem jamais serem subestimadas, mas que, jamais, conseguirão impedir o avanço da história.

Prof. Péricles

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