domingo, 30 de novembro de 2014
CONTAGIOSO E SEM VACINA
Outro dia, caminhando pela rua, encontrei um sonho perdido.
Disse-me, ofegante, que estava procurando seu dono, uma criança distraída, que cresceu muito depressa e o perdeu junto com muitos outros iguais a ele.
Aliás, esse é um grande problema da atualidade.
Sonhos perdido já se contam aos milhões. Alguns muito antigos já sem esperança de retornar aos corações que os pariu. Outros, sonhos rebeldes, não se conformam com a indiferença e com a rotina que dizem ser inerente ao amadurecimento. Questionam os corações vazios e pensam fazer Greve de Sonhos, por tempo indeterminado, até que o mais velho volte a sonha como sonhava quando jovem.
Acho que o governo deveria fazer alguma coisa.
Existe sociedade protetora dos animais, orfanatos para crianças abandonadas, albergues para o povo de rua, asilos para os velhos, mas não existe qualquer tipo de instituição que adote, alimente, renove, os sonhos perdidos.
Há os mais tradicionais como os de voar, que foram abandonados em pleno vôo por quem deixou de acreditar que isso é possível.
Tem os de ser bombeiro, policial, jogador de futebol... uma fila de sonhos que não tem arquivo que dê conta.
Outros são os mais perdidos entre os perdidos. Sonhos de adulto.
Como o de amar eternamente sua parceria, ou de ter filhos, de ser feliz para sempre, de viajar pra longe ou conhecer todas as praias do mundo.
Pior é que os sonhos de adultos, além de perdidos são agredidos diariamente pela áspera realidade sem graça de um mundo baseado no ter e na competição.
Sonhos assim deveriam ser protegidos por uma espécie de Lei Maria da Penha, pois é inadmissível fazer sofrer sonhos de viajar pra lua ou amar profundamente alguém que também lhe ame profundamente.
Atualmente os que mais preocupam, são os sonhos teimosos.
Sonho teimoso é um caso complicado.
Sabe aquele sonho de uma sociedade mais justa, de fraternidade, de um mundo sem explorados e exploradores?
Pois é. São os sonhos teimosos.
Seus donos foram presos, torturados, mortos, mas eles, de alguma forma, escapuliram dos calabouços e encontram sempre novos hospedeiros.
Alimentaram corações de sonhadores e revolucionários por séculos e continuam por aí, desaforados, desafiando a realidade formal do poder financeiro e insistindo em respirar na alma de cada sonhador que não vê a felicidade como algo que se compre por metro ou por quilo.
Não quero ser alarmista, mas ao que tudo indica, sonhos assim contagiam mais que o ebola e por mais que os grilhões se renovem, insistem em habitar cada vez mais corações.
Não existe vacina nem terapia, pois parece ser impossível, apesar dos esforços dos opressores, impedir que os sonhos existam.
A terapia é acalenta-los como crianças estimadas, acolhe-los no coração e permitir que durmam em nossa consciência para que vivam eternamente em estado de letargia.
Viver é preciso, mas sem sonhar não se vive, ou se vive, mas sem cores.
Bons sonhos.
Prof. Péricles
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