domingo, 3 de agosto de 2014
ANTROPOCENTRISMO
A maioria das coisas que sabemos sobre os deuses da mitologia grega, chegou até nós escritas pelo poeta Hesíodo, que viveu em algum momento entre 700 e 600 anos antes de Cristo.
Para Hesíodo em primeiro lugar houve o caos, que é o caos, mas é alguma coisa, ou seja, mais do que o nada.
Em seu livro, Hesíodo nos diz que no princípio havia Gaia (a Terra) e a noite (a escuridão). Noite, aliás, é uma palavra que em todos os idiomas começa com “N” que representa infinito, seguida da palavra “oito” que, deitado, também simboliza o infinito.
Havia também o Tártaro (inferno), Eros (o desejo) e Érebo (a escuridão do inferno).
Urano, filho de Gaia, reinava sobre o caos.
Durante seu reinado ante o infinito, surgem as montanhas, os mares, o éter e o dia.
Urano foi destronado por seu filho, Cronos, a divindade do tempo.
Cronos inaugura um novo tempo. Os titãs (que eram poucos e se dividiam entre entidades femininas e masculinas) e novos deuses iniciam o povoamento da Terra.
Foi uma espécie de vale tudo em que não havia a monogamia e a variação de parceiros era fundamental para a própria existência.
Cronos se casou com sua irmã Reia e deu origem à linhagem que mais tarde ocuparia o monte Olimpo. Hipérion, um dos titãs, foi pai de Hélio, deus do Sol, e Eros da aurora. A geração dos filhos dos titãs permeia toda a mitologia futura.
Zeus, filho de Cronos, tal como ele mesmo, Cronos, fizera a seu pai, destrona o progenitor e inaugura uma nova era divina.
O novo soberano, ao lado de seus irmãos Posêidon, Hera, Hades, Héstia e Deméter, teve seu poder desafiado pelos titãs, liderados por Cronos numa batalha que hoje se conhece como Guerra Cósmica ou Titanomaquia.
Para vencer os poderosos titãs e seu pai, Zeus libertou os ciclopes, que viviam no Submundo desde os tempos em que foram exilados por Urano. Eles eram excelentes ferreiros e criaram armas mágicas para os deuses. Zeus ganhou os raios do céu, Posêidon, um tridente com o qual podia provocar tempestades e terremotos e armas forjadas para cada deus.
Um dos líderes dos titãs era Atlas.
Nascido de um titã e uma ninfa, Atlas governava Atlântida. Os deuses decidiram puni-lo e acabar com toda sua raça. Enviaram uma inundação e a ilha foi varrida do mapa, mas ele continuou lutando. Quando afinal os titãs foram derrotados, os deuses fizeram Atlas carregar o céu para sempre.
Portanto, assim como outros povos, notadamente os autores do Antigo Testamento, os gregos definiam a criação a partir do caos, e o surgimento do homem muito posterior à definição da existência, traçada por forças inteligentes da natureza, indefiníveis.
Como o homem não suporta o indefinível e, como fazem as crianças, criam definições onde lhe falta a compreensão, os gregos explicaram a ordem possível do impossível, com a elaboração de divindades, que, apesar de indecifráveis mantém alguma aparência humana.
A grande contribuição da cultura helênica está no seu antropocentrismo.
Estando o homem no centro de todas as explicações, e sendo a medida para mensurar todas as coisas, ao contrário dos hebreus que teorizaram um Deus perfeito e uma raça humana eternamente pecadora, para os gregos os deuses são falhos, cometem erros, são orgulhosos e tudo aquilo que nos caracteriza como criaturas pensantes e falíveis.
Já, o homem, mesmo com todas as suas fraquezas, mantém as características dos deuses.
Ao contrário do divino explicar as emoções e os medos humanos, o humano, seus limites e emoções, explicam o divino.
De certa forma, deuses e heróis são o próprio homem imaginado na condição de criador, algo que o homem sempre quis ser, e jamais conseguiu, pois tudo o que faz é transformar o já existente.
Ódio, ciúmes, vingança, desejo, elevados a infinita potenciação.
A infidelidade compulsiva de Zeus, o orgulho de Apolo, a vaidade de Afrodite, os ciúmes de Hera, o rancor de Ares, toda a condição humana está exposta no panteão do Olimpo e nos seus heróis, semi-heróis e coadjuvantes.
Dessa forma, quando entramos no mundo dos mitos da Grécia, devemos ter em mente que estamos trilhando, não o caminho do macro cosmos que irá nos trazer as descobertas da vida, mas, no micro cosmos que nos trás a descoberta de nós mesmos.
Não estamos trilhando caminho nas estrelas, mas apenas caminhando em nossa própria condição humana.
Prof. Péricles
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