sábado, 16 de agosto de 2014

AMOR, DIVINO AMOR PROFANO



Eles se amavam profundamente. Talvez amor nenhum tenha sido maior, se pudéssemos hierarquizar esse sentimento extraordinário.
Entretanto, por uma imposição do pai, ela casara-se com um homem a quem não nutria nada além de simpatia.

Assim, seu amor era impossível, mas, irresistível, e mesmo sabendo estarem agindo de forma errada, encontravam-se e amavam-se até o limite que seus corpos permitiam.

Um amor alucinado, possuído, exasperado...

Um dia, porém, foram descobertos, e, pior, surpreendidos em pleno ato do mais profundo amor.

Vergonha. Completa vergonha.

Ela esperava que ele assumisse todas as conseqüências e ficasse com ela para sempre. Mas, ele, fraco ou covarde, não fez isso. Deu-lhe as costas e tratou de defender seus interesses.

Tornaram-se irreconciliáveis.

Ela era Afrodite (para os gregos) ou Vênus (para os latinos).

Ele era Ares (para os gregos) ou Marte (para os latinos).

Ela, deusa do amor e da beleza, era tão linda, supremamente linda e perfeita, que provocou a fúria de outras filhas de Zeus (Atena e Vesta) que exigiram que Afrodite tivesse alguma desgraça, e dessa forma, foi forçada pelo pai a casar com Hefesto (Vulcano), o coxo, o deus mais feio do Olimpo, com suas marcas e cicatrizes no rosto.

Marte era o deus da guerra. Originalmente um deus da terra. Posteriormente deus da morte, das batalhas sem fim.

A união do amor e da guerra insere-se perfeitamente na forma de ver a vida dos gregos e, por herança, dos latinos.

O drama eterno da vida. A união de duas tragédias, a morte e o amor, que não são opostos, mas, ao contrário, complementam-se.

Tiveram uma filha e quatro filhos, frutos do louco amor que os unia.

No período mais belo e pacífico tiveram Harmonia, Cupido e Eros. Nos momentos de crise tiveram Deimos (o Pânico) e Fobos (o medo).

Numa espécie de Romeu e Julieta da Antiguidade Clássica, Afrodite e Ares (ou Vênus e Marte), foram representados em estátuas e monumentos inúmeros.

O museu de Florença e o museu Capitolino, reproduzem essa ligação. Os romanos gostavam de fazer-se representar com as suas mulheres, e usando os atributos de Marte e Vênus; era uma alusão à coragem do homem e à beleza da mulher.

Vários arqueólogos pensam que a Vênus de Milo estava ao lado da estátua de Marte. A arte dos últimos séculos ligou igualmente as duas divindades e, num encantador quadro do Louvre, le Poussin mostra-nos o deus da guerra, esquecido dos seus atributos e do seu papel, sorrindo para a deusa, enquanto os cupidos brincam tranqüilamente com as armas, no meio de risonha paisagem.

Apesar de todas as tragédias, o amor sempre foi maior, mas nem por isso o final feliz está garantido.

Assim como nós, seres humanos, somos os responsáveis pelo nosso destino, a partir de nossas opções e responsabilidades, os deuses também são responsáveis pelo final de suas histórias.

E a história dos dois deuses mais apaixonados do Olimpo tem o final de suas escolhas.

Afrodite (Vênus), transformando o seu amor em ódio, rogou uma praga para que Marte se apaixonasse por todas as mulheres que visse, tornando-se assim um deus constantemente apaixonado, mas abandonado.

Por outro lado, ela permaneceu apaixonada apenas por um, mas sendo de todos e de ninguém.

Prof. Péricles

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