quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CONTA DIREITO ESSA HISTÓRIA


Filho de Professor de História Antiga, o judeu Marc Léopold Benjamim Bloch nasceu na França em 06 de julho d 1886.

Desde muito jovem demonstrou talento para o estudo, em especial para as ciências sociais e a história.

Lutou na I Guerra Mundial, sendo condecorado por heroísmo em batalha após grave ferimento.

Depois da guerra foi para a Universidade de Estrasburgo, onde conheceu Lucien Febvre que seria seu amigo pessoal e parceiro intelectual pelo resto da vida.

Na época de Bloch o estudo de história estava amordaçado às circunstâncias do fato. Produzir conhecimento em história era apenas descrever os fatos como eles pareciam ter ocorrido, sem maior preocupação com análise contextual ou futura.

Era como você contando a história do seu casamento apenas focando a cerimônia desapegada dos fatos que levariam o divórcio mais tarde.

Juntos, Bloch e Febvre, fundaram, em 1929, a revista “Annales d’Histoire Économique ET Sociale” que trouxe uma nova abordagem da história. Nessa abordagem o fato é mostrado como conseqüência do contexto social, político e econômico de seu tempo, compreensível a partir de uma análise econômica e social.

A revista alcançou sucesso mundial, dando origem a uma nova forma de “contar a história”, que foi chamado de Escola dos Annales.

A partir dessa nova mentalidade, Bloch publicou em 1939, aquela que é considerada sua obra prima “A Sociedade Feudal” (ele até hoje é considerado o maior medievalista de todos os tempos). Nessa obra se promove uma renovação na compreensão do feudalismo.

Definitivamente estava sepultada a história meramente seqüencial dos fatos, nomes e datas para dar lugar a uma nova história preocupada com a relação do homem, a sociedade e o tempo, sendo os fatos, conseqüências e não causas.

Em junho de 1940 a França se rende ao invasor nazista. Bloch participará da resistência francesa que fará amarga a vida dos alemães em território francês. Mas, foi capturado, barbaramente torturado e fuzilado em 16 de junho de 1944, nos subúrbios da pequena cidadezinha francesa de Saint-Didier-de-Formans.

Após a Guerra, amigos e admiradores publicaram post-mortem “Apologia da História ou O Ofício do Historiador”, outro clássico da área.

Por tudo isso Marc Bloch sempre será uma referência nos estudos de história. Sem nenhuma dúvida um dos maiores intelectuais de nosso tempo, e para muitos, o maior historiador do século XX.

Assim, é muito triste quando se percebe que, no Brasil, o estudo de história, em muitas cabeças e instituições, permaneça anterior a Marc Bloch e sua obra.

Ainda é muito comum ouvir de aluno que história é só “decoreba”.

Esse pensamento expressa a idéia errônea da história apenas factual e estática.
Reflete também a forma que foi ensinada história a esse aluno.

Exemplo do quanto esse raciocínio pode ser prejudicial é a idéia existente na cabeça de muitos brasileiros sobre a Ditadura militar como uma seqüência de fatos (lamentáveis), mas que “devem permanecer no passado” como se a sua influência nefasta ainda não se faça sentir na política nacional e na sua ética. Nessa maneira de pensar a Ditadura é algo passado que não diz nada a quem não viveu a sua época.

Por isso, assim como antes de pensar em mudar o mundo devemos pensar em mudar a nós mesmos, não há dúvidas que antes de repensar as mudanças no sistema de ensino do Brasil, deve o historiador e o professor de história mudar a maneira de relatar os fatos históricos, fornecendo elementos e exigindo mais interpretação e envolvimento do que, meramente, conhecimento formal.

E aos alunos é sagrado o direito de cobrar de seus professores - “conta direito essa história”.


Prof. Péricles
Fontes:
http://www.marcbloch.fr/bio.html

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