quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
MANDELA E O FAROL
Algumas pessoas nascem para ser farol.
O farol, você sabe, ilumina as trevas por mais densas que elas sejam.
Porém, ao pé do farol, tudo é muito escuro.
Algumas pessoas nascem para se farol. Iluminam a escuridão de seus povos com uma luz persistente que não se apaga, mesmo diante da maior das tempestades.
Levam seus contemporâneos a dias mais seguros, embora a nave esteja sendo engolida pelo mar.
São protagonistas de seu tempo, artífices dos tempos futuros.
Eles próprios, porém, estão condenados as águas mais profundas e à escuridão, ao pé do farol.
Nelson Mandela foi um homem farol.
Com sua luz radiante atravessou os sangrentos anos em que seu povo era diariamente massacrado nas ruas.
Diariamente humilhados, desprezados, estrangeiros dentro de seu próprio país.
Sua marca registrada foi a rebeldia, a não aceitação da injustiça covarde.
Mas a ele estava reservado quase trinta anos de prisão solitária entre paredes frias e insalubres.
Tiraram a liberdade e lhe deram uma tuberculose.
Tiraram os anos mais jovens e lhe deram a solidão.
Mas, apesar de acorrentado ao pé do farol, não conseguiram tirar sua luz.
Mandela sobreviveu aos anos intermináveis de prisão. Seu nome virou hino entoado por seu povo, embora amaldiçoado pelos inimigos e manchado como terrorista pela mídia internacional, incluindo a brasileira.
Combateu primeiro como militante da luta armada, depois como político e negociador e finalmente sendo símbolo de resistência pacífica.
Combateu a um dos mais tirânicos e cruéis dos sistemas políticos da história, o apartheid.
Esse sistema forjado pelos holandeses na África antes de sua expulsão na Guerra dos Bôers, e posteriormente instituído pelos ingleses, tinha o apoio internacional dos Estados Unidos e das potências capitalistas aliadas.
Impedia qualquer tipo de miscigenação de forma constitucional. Casamento entre tipos raciais distintos era punido com a prisão dos cônjuges. Presença de negro em ambiente de branco era passível de longo tempo na prisão.
O apartheid, com todo apoio que sempre teve dos Estados Unidos e seus parceiros na exploração da principal riqueza nacional da África do Sul, a extração de diamantes, só caiu pela luta do Congresso Nacional África, partido clandestino liderado por Mandela, e pelas derrotas diante das tropas cubanas na luta pela independência de Angola e Moçambique e Rodhesia (atual Zimbabue).
Como prisioneiro condenado a prisão perpétua, virou mártir e espinho que sangrava diariamente a alma do execrável regime que privilegiava 5 milhões de brancos e jogava na marginalidade 20 milhões de negros.
Mas, também virou esperança e era citado como oração toda vez que as forças pareciam faltar a sua gente.
Presidente do País após sepultar o apartheid, Mandela governou de 1994 a 1999, e não apenas evitou o revanchismo e o esperado banho de sangue, como ainda promoveu a unificação e a pacificação de todos os sul-africanos, brancos e negros. Graças a ele, que tinha todos os motivos possíveis para uma vingança, o esperado “banho de sangue” não aconteceu.
Nelson Mandela morreu hoje, 05 de dezembro de 2013, aos 95 anos.
Agora, com a África do Sul pacificada, finalmente ele pode subir ao ponto mais alto do farol, para se tornar eternamente luz.
Prof. Péricles
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