segunda-feira, 11 de junho de 2012
UM SER MESQUINHO
Muitos foram os sonhadores de uma sociedade humana justa.
Afinal, somos um ser gregário que, fisicamente limitados, só sobreviveu por que se uniu, formou coletividades e dividiu o trabalho.
Então, se evoluímos tanto em termos de tecnologia vindo da pedra, passando pelo metal, desenvolvendo a agricultura, a indústria. Se já fomos à lua e nos aproximamos de Marte, se já fazemos transplante e descobrimos e controlamos o mundo microscópio, se inventamos o computador, se tudo isso já fizemos, por que somos incapazes de criar uma sociedade minimamente justa, onde não predomine o número de excluídos?
Na Idade Média se acreditou que a sociedade justa não seria possível por vontade divina. Afinal, Deus que tudo havia feito e tudo sabia, criara os homens dividindo-os entre os que rezavam, os que guerreavam e os que trabalhavam. Se essa era a sua vontade, quem poderia desafiá-la, diziam homens como Jean Bodin.
Na Idade Moderna, mesmo sonhadores iluministas mais humanistas como Rosseau, desistiam de seus sonhos acreditando numa natural diferença dos seres em sua capacidade de adquirir, manter e acumular patrimônios. Era o dogma da propriedade privada prevalecendo sobre a utopia de uma sociedade igualitária.
Na Idade Contemporânea Marx dizia que tudo isso, vontade divina, capacidade de acumular bens, tudo, era balela assim como balela eram as utopias sem politização e proclamou a necessidade da organização das massas estruturadas num partido e numa práxis revolucionária, para estabelecer a sociedade igualitária do proletariado. Mas, o socialismo real perpetrado no século XX levou a ditaduras ainda piores que as ditaduras das desigualdades.
Então, será impossível criar uma sociedade justa? Tantos pensadores, tantas teorias e obras...
Pois vou responder essa questão, tão profundamente analisada por honoráveis pensadores.
A sociedade justa é impossível e sabe por quê?
Porque o ser humano é mesquinho, e pobre por dentro.
Porque as criaturas que tem um pouquinho lutam desesperadamente para esse pouquinho continuar sendo a diferença em relação aos que não têm nada.
Veja o caso brasileiro, por exemplo.
Depois de 20 anos de Ditadura que economicamente nos chafurdou no atraso. Depois de décadas perdidas entre inflação descontrolada e pagamento interminável e impagável da dívida externa. Depois de tudo isso, finalmente entramos num período de desenvolvimento. Desenvolvimento real não interessa se de 20, 12, 8 ou 2 por cento, mas real, dentro de um cenário em que os países ricos estagnaram no zero.
Esse desenvolvimento, porém, só foi possível porque houve distribuição da riqueza, que impulsionou o pleno emprego e alavancou o consumo. Isso se comprova ao verificar o crescimento da classe média e a diminuição do número de pessoas em estado de pobreza e de miséria absoluta.
Então, o que vemos? Uma euforia solidária e um sentimento de cumplicidade?
Não.
O que se vê é gente reclamando desses tempos de tantos carros nas ruas. De tanta gente nas lojas fazendo aumentar as malditas filas. De tanta gente na praia. De tanta gente, nordestinos, negros, desdentados, principalmente, exigindo cidadania.
Há no ar um ódio muito mal disfarçado por um governo que tornou os miseráveis, consumidores.
Bons eram os tempos em que dar esmola era demonstração de status.
Bom era quando se podia olhar o mar de casebres, balançar a cabeça compadecido e dizer com cara de escândalo “Oh meu Deus, que absurdo!”.
Não que não mais existam favelas ou miseráveis pois a pobreza não desaparece como por milagre assim como os dentes permanentes não renascem. Mas a cantinela é de ultraje pela redução da desgraça.
A sociedade justa e igualitária imaginadas por Marx, Bakunin, e tantos outros não é possível e jamais será possível por causa da nossa pobreza de dentro enquanto eles pensaram apenas na pobreza de fora.
Se é verdade que a sobrevivência só foi possível porque somos um ser gregário, também é verdade que nossa desgraça só é possível porque somos um ser egoísta.
O homem que ser feliz, mas feliz sozinho, tendo o máximo possível de miseráveis que lhe invejem a fartura!
Prof. Péricles
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