sexta-feira, 25 de maio de 2012

TORCER CONTRA



Pior do que perder é ganhar, torcendo contra.

A situação do “torcedor contra” é penosa e cruel.

Imagine o nazista francês que torcia para que o exército alemão invadisse a França e acabasse com os judeus do país, mas, no bate papo do bar tinha que se fazer de patriota... “Malditos chucrutes, bastardos”, mas lá no íntimo vibrando com cada nova notícia do front dando conta do avanço do rich. Era um feliz se fazendo de infeliz.

Ou do Udenista que rezava todas as noites para o Deus da Pátria e Liberdade, para que a política nacionalista de Getúlio Vargas desse errado “Papai do Céu, faça que a Petrobrás não passe de um postinho de gasolina, faça Papai do Céu...” Mas que nada, lá estava a Petrobras se consolidando e com aquele ruidoso apoio popular. “Malditos patriotas!”

Torcer contra tira o sono e envelhece porque, no fundo no fundo, é um sentimento secreto de inveja e de rancor pelo sucesso dos outros e das convicções alheias. Que importa se o país está melhor se seu orgulho está ferido?

É como ser casado com uma mulher linda e desejar do fundo do coração que todos achem a moça um bagulho. Que adora compara-la com outra, mais bonita, mesmo que distante. “Tu é linda meu amor, mas o rosto da Cameron Dias...”

Assistimos diariamente nos meios de comunicação um desfile de “torcedores contra”. Uma fila interminável que mal conseguem disfarçar a alegria pelo menor sinal de que a economia brasileira tenha diminuído seu ritmo. Qualquer indício de dificuldade é um alento. São proprietários de casas na praia, mas, detestam a marolinha e torcem pela tsunami.

Vale tudo para justificar suas “opiniões imparciais”.

Maior nível de pleno emprego, aumento do consumo, crescimento da classe média não são indicadores confiáveis... maior dificuldade para comprar carro importado sim, esse é importante indicador. Dia desses a manchete de abertura do Jornal Nacional foi “O sonho do carro importado mais distante do brasileiro”.

Caramba! Não se dá uma notícia impactante assim, sem preparar antes, os milhões de miseráveis desse país que devem ter ficado inconsoláveis.

O “torcedor contra” anda tão desesperado no Brasil, que deve estar em crise existencial.

Por exemplo, a velha bandeira defendida por anos da necessidade de diminuir os juros é inesperadamente substituída por uma defesa intransigente da manutenção dos juros altos para controlar a inflação.

Assim, o que servia antes, não serve mais, ou serve, mas ele torce para que não sirva.
Chego a me compadecer dos “economistas contra”. Aparecem na tela com gráficos coloridos, cheios de retórica acadêmica e de malabarismos técnicos para dizer que, tudo aquilo que o brasileiro pobre mais valoriza como emprego, comida e contas pagas não existe, é propaganda do governo e os dados (e aí manipulam números surreais nervosamente) mostram que eles, e não milhões de brasileiros estão certos.
São os Maias das previsões de dezembro.

Pior do que perder é ganhar, torcendo contra.

Imagine o torcedor da arquibancada tendo que levantar impulsionado pela vizinhança para comemorar um gol, sendo que no seu íntimo queria que o gol fosse do outro time.
Definitivamente o “torcedor contra” é um infeliz.

Prof. Péricles

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