A tortura como forma de eliminação do inimigo, obtenção de informação, maneira de impor o temor entre outros objetivos macabros, não é novidade na história humana. Foi praticada por egípcios, mesopotâmios e grandes impérios da antiguidade, com destaque para o Império de Roma. Foi, também, prática comum na Idade Média, especialmente pela Igreja, que, aliás, inovou, criando técnicas de tortura que serviram de inspiração para a maioria dos torturadores que vieram depois. A Inquisição foi pródiga de crueldade e homens como Torquemada marcaram seus nomes na história da desumanidade.
No Brasil e na América Espanhola colonial, tortura foi usada como praxe principalmente para coibir qualquer tipo de oposição aos desejos da metrópole.
O líder índio peruano, Tupac Amaru, por exemplo, foi esfolado vivo antes da execução fatal.
Em nosso país, no século XX, a tortura foi amplamente praticada nos dois maiores períodos ditatoriais que vivemos: do Estado Novo (1937-1945) e do regime militar (1964-1985), banalizando-se e sendo institucionalizada neste último.
A “ideologia” da tortura teve como base a Lei de Segurança Nacional, alicerçada no pensamento de que havia um “inimigo interno” a derrotar. A pátria deveria ser defendida de comunistas, homens que comiam criancinhas, pregavam o ateísmo e destruíam as igrejas e os conceitos familiares.
Essa doutrina, nascida na França e adotada pelos Estados Unidos, foi aplicada no Brasil com fervor, e segundo seus seguidores, justificava o uso da tortura.
O governo militar jamais admitiu que houvesse tortura no Brasil, o presidente Castelo Branco chegou a negar publicamente a existência de truculência em seu governo. De certa forma, podemos até concluir, passados 26 anos do fim da Ditadura e tantas evidências e histórias dramáticas depois, que o uso da tortura é o que mais incomoda e envergonha os defensores daqueles tempos, especialmente, entre os militares.
Certo, porém é que, não será negando sua existência que poderemos fechar as cicatrizes que o uso da tortura deixou no país.
Apresentamos a seguir, algo nada agradável, mas, infelizmente histórico: os métodos de tortura utilizados pela Ditadura Militar e seu aparato de repressão. Não estão listadas todas as formas utilizadas,evidente, apenas, as mais tristemente celébres.
Lembramos ainda que, os métodos de tortura variavam entre tortura física e tortura psicológica, e ainda que, tais métodos receberam nomes simbólicos e, na maioria das vezes, irônicos.
PAU-DE-ARARA: O preso era posto nu, abraçando os joelhos e com os pés e as mãos amarradas. Uma barra de ferro era atravessada entre os punhos e os joelhos. Nesta posição a vítima era pendurada entre dois cavaletes, ficando a alguns centímetros do chão. A posição causava dores e atrozes no corpo. O preso ainda sofria choques elétricos, pancadas e queimaduras com cigarro. Este método de tortura já existia na época da escravidão, sendo utilizado em várias fases sombrias da história do Brasil.
CADEIRA DO DRAGÃO: Os presos eram sentados nus em uma cadeira elétrica, revestida de zinco, ligada a terminais elétricos. Uma vez ligado, o zinco do aparelho transmitia choques a todo o corpo do supliciado. Os torturadores complementavam o mecanismo sinistro enfiando um balde de metal na cabeça da vítima, aplicando-lhe choques mais intensos.
CHOQUESELÉTRICOS:O torturador usava um magneto de telefone, acionado por uma manivela, conforme a velocidade imprimida, a descarga elétrica podia ser de maior ou menor intensidade. Os choques elétricos eram deferidos na cabeça, nos membros superiores e inferiores e nos órgãos genitais, causando queimaduras e convulsões, fazendo muitas vezes, o preso morder a própria língua. As máquinas usadas nesse método de tortura eram chamadas de "maricota" ou "pimentinha".
BALÉ NO PEDREGULHO: O preso era posto nu e descalço em local com temperatura abaixo de zero, sob um chuveiro gelado, tendo no piso pedregulhos com pontas agudas, que perfuravam os pés da vítima. A tendência do torturado era pular sobre os pedregulhos, como se dançasse, tentando aliviar a dor. Quando ele "bailava", os torturadores usavam da palmatória para ferir as partes mais sensíveis do seu corpo.
TELEFONE: Entre as várias formas de agressões que eram usadas, uma das mais cruéis era o vulgarmente conhecido como "telefone". Com as duas mãos em posição côncava, o torturador, a um só tempo, aplicava um golpe violento nos ouvidos da vítima. O impacto era tão violento, que rompia os tímpanos do torturado, fazendo-o perder a audição.
AFOGAMENTO NA CALDA DA VERDADE: A cabeça do torturado era mergulhada em um tambor, balde ou tanque cheio de água, urina, fezes e outros detritos. A nuca do preso era forçada para baixo, até o limite do afogamento na "calda da verdade". Após o mergulho, a vítima ficava sem tomar banho vários dias, até que o seu cheiro ficasse insuportável. O método consistia em destruir toda a auto-estima do torturado.
AFOGAMENTO COM CAPUZ: A cabeça do preso era encapuzada e afundada em córregos ou tambores de águas paradas e apodrecidas. O prisioneiro ao tentar respirar, tinha o capuz molhado a introduzir-se nas suas narinas, levando-o a perder o fôlego, produzindo um terrível mal-estar. Outra forma de afogamento consistia nos torturadores fecharem as narinas do preso, pondo-lhe, ao mesmo tempo, uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca, obrigando-o a engolir água.
MAMADEIRA DE SUBVERSIVO: Era introduzido na boca do preso um gargalo de garrafa, cheia de urina quente, normalmente quando o preso estava pendurado no pau-de-arara. Usando uma estopa, os torturadores comprimiam a boca do preso, obrigando-o a engolir a urina.
SORO DA VERDADE: Era injetado no preso pentotal sódico, uma droga que produz sonolência e reduz as inibições. Sob os efeitos do "soro da verdade", o preso contava coisas que sóbrio não falaria. De efeito duvidoso, a droga pode matar.
MASSAGEM: O preso era encapuzado e algemado, o torturador fazia-lhe uma violenta massagem nos nervos mais sensíveis do corpo, deixando-o totalmente paralisado por alguns minutos. Violentas dores levavam o preso ao desespero.
GELADEIRA: O preso era posto nu em cela pequena e baixa, sendo impedidos de ficar de pé. Os torturadores alternavam o sistema de refrigeração, que ia do frio extremo ao calor exacerbado, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. A tortura na "geladeira" prolongava-se por vários dias, ficando ali o preso sem água ou comida.
As mulheres, além de sofrer as mesmas torturas, eram estupradas e submetidas a realizar as fantasias sexuais dos torturadores. Poucos relatos apontaram para os estupros em homens, se houveram, muitos por vergonha, esconderam esta terrível verdade.
O modelo de tortura empregado pelos órgãos de informação da ditadura militar chegou a ser exportado para alguins países asiáticos, onde governos repressivos assumiram o poder. Curiosamente, países que adotaram regimes socialistas, como o Camboja, foram os que "importaram" os métodos da direita brasileira.
O Brasil precisa tratar suas feridas. É necessário, é urgente, que a população brasileira saiba, tudo o que realmente aconteceu no período negro da ditadura militar. Sem sentimentos de vingança, que nada constroem, mas num sentido de justiça e de reparação das memórias, PARA QUE ISSO NUNCA MAIS ACONTEÇA NO BRASIL.
Prof. Péricles
Fonte: http://www.torturanuncamais-rj.org.br
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