domingo, 5 de julho de 2015

A METAMORFOSE





Por Luis Fernando Veríssimo



Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano. Começou a mexer suas patas e viu que só tinha quatro, que eram grandes e pesadas e de articulação difícil. Não tinha mais antenas.

Quis emitir um som de surpresa e sem querer deu um grunhido. As outras baratas fugiram aterrorizadas para trás do móvel. Ela quis segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu segundo pensamento foi: "Que horror... Preciso acabar com essas baratas..."

Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu instinto. Agora precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina da sala para cobrir sua nudez.

Saiu pela casa e encontrou um armário num quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se bonita. Para uma ex-barata. Maquiou-se.

Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua personalidade. Adotou um nome: Vandirene.

Mais tarde descobriu que só um nome não bastava. A que classe pertencia? Tinha educação? Referências?

Conseguiu a muito custo um emprego como faxineira. Sua experiência de barata lhe dava acesso a sujeiras mal suspeitadas. Era uma boa faxineira.

Difícil era ser gente... Precisava comprar comida e o dinheiro não chegava.

As baratas se acasalam num roçar de antenas, mas os seres humanos não. Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes, resolvem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai dar ? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho.

Vandirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada.

Filas no Instituto Nacional de Previdência Social. Pouco leite. O marido desempregado... Finalmente acertou na loteria. Quase quatro milhões!

Entre as baratas ter ou não ter quatro milhões não faz diferença. Mas Vandirene mudou. Empregou o dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde põe o pronome. Subiu de classe. Contratou babás e entrou na Pontifícia Universidade Católica.

Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado em barata. Seu penúltimo pensamento humano foi: "Meu Deus! A casa foi dedetizada há dois dias!".

Seu último pensamento humano foi para seu dinheiro rendendo na financeira e que o safado do marido, seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel.

Não pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu cinco minutos depois, mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida.

Kafka não significa nada para as baratas...




quarta-feira, 1 de julho de 2015

PAÍS DA INCLUSÃO SOCIAL



Por Paulo Nogueira direto do Diário do Centro do Mundo



Foi com satisfação especial que vimos Marieta Severo viralizar no DCM.

O texto sobre a enquadrada que ela deu sobre Fausto Silva, de autoria de Kiko Nogueira, já foi lido por mais de 1 milhão de pessoas, no momento em que escrevo.

No Facebook, o artigo recebeu, até aqui, 106 000 curtidas, uma raridade para qualquer site em qualquer país.

Por conta disso, o DCM teve, ontem, uma de suas maiores audiências: 1,6 milhão de acessos.

O texto, fora sua carreira no DCM, foi reproduzido em vários outros sites. Tem sido uma constante: a repercussão de nossos artigos para além dos nossos domínios.

“Kiko mitou”, brincamos aqui.

O que nos agradou, mais que tudo, foi o conteúdo que mereceu tantos aplausos: Marieta, ao responder a Fausto Silva, desfez o discurso manipulador, cínico e desonesto da Globo e das demais grandes empresas de mídia.

O Brasil não é o paraíso que a Globo pintava na ditadura militar, mas definitivamente está longe de ser o inferno descrito pela mídia.

Com todos os percalços dos últimos anos, o país melhorou substancialmente em sua grande chaga: a desigualdade social.

A mídia, com seus interesses sinistros, esconde de seus leitores que o maior problema nacional é a desigualdade. Isso porque seus donos, riquíssimos, se beneficiam da desigualdade.

Em vez de erguer a voz contra a iniquidade, a mídia fala obsessivamente em corrupção – porque este truque funcionou em 1954, com Getúlio, e em 1964, com Jango.

Escândalos, a maior parte deles amplificados ou simplesmente inventados, ocupam a maior parte do noticiário. O alvo é sempre o PT, como antes foram Getúlio e Jango.

O paradoxo, aí, é que a mídia é visceralmente corrupta: vive descaradamente do dinheiro público. Fez do Estado sua babá.

Não contentes com os bilhões em publicidade, financiamentos em bancos públicos a juros maternos e outras mamatas, as empresas de jornalismo ainda sonegam impostos – certas da impunidade.

Faustão veio, diante de Marieta, com o clichê obtuso do “país da desesperança”, algo que tem um apelo extraordinário para analfabetos políticos que batem panelas e vestem camisas da seleção em manifestações estimuladas pela mídia.

E Marieta rebateu com a inclusão social, que a mídia finge não ter importância nenhuma como se fôssemos a Suécia ou a Dinamarca.

Marieta viralizou porque ela falou por muitos brasileiros que já não suportam mais tanta empulhação.

Foi a mesma coisa que ocorreu quando Boechat mandou Malafaia procurar uma rola. Quantos de nós não gostaríamos de dizer uma coisa dessas para Malafaia?

Marieta trouxe a inclusão social para a conversa – e este foi seu maior mérito.

O Brasil avançou no campo social – mas muito menos do que deveria.

Lula e Dilma fizeram mais que seus antecessores desde Getúlio, mas muito menos do que o necessário para que o Brasil deixe de ser sinônimo de desigualdade.

“Brasil da desesperança”, para usar a expressão de Fausto Silva, é aquele que a plutocracia predadora construiu.

O resto, como escreveu Shakespeare, é silêncio.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

O NAZISTA ERA JUDEU



Enquanto esperava para subir ao palco do auditório de uma escola em Budapeste, Csanad Szegedi andava apreensivo pelo corredor. Mas ao subir ao palco, em meio aos aplausos dos estudantes, não conteve o sorriso.

Szegedi o ex-militante neonazista húngaro não poderia ser uma pessoa mais diferente nos dias de hoje: há três anos, ele era um dos membros mais ativos do Jobbik, partido nacionalista húngaro de tendência neonazista e posicionamento marcado pelo antissemitismo.

Szegedi descobriu ser judeu em 2012.

Não fosse o suficiente para abandonar suas posições radicais, a avó dele sobreviveu aos horrores nazistas do campo de concentração de Auschwitz.

Ele foi educado como protestante pelos pais, apesar da origem judia de sua mãe.

Ao saber de sua origem judia, ele deu as costas para um passado de intimidações e intolerância. Vice-líder do Jobbik, Szegedi foi ainda fundador da “Guarda Húngara” uma milícia que tinha como hábito marchar uniformizada por bairros de Budapeste com presença de comunidades ciganas.

Juntos com os judeus, os povos nômades eram “acusados” pelo Jobbik por problemas atávicos da sociedade húngara. Uma plataforma que encontrou ressonância suficiente para eleger Szegedi membro do Parlamento Europeu, em 2009.

Na Hungria, estima-se que apenas entre 50 mil a 120 mil dos 10 milhões de habitantes são judeus. Mas calcula-se que, antes da Segunda Guerra Mundial, a população chegava a 800 mil – centenas de milhares foram deportados para campos de concentração.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o partido não expulsou Szegedi quando ele revelou seu passado. O líder do Jobbik pensou em usar Szegedi como prova de que a legenda não era puramente antissemita.

Szegedi se converteu ao judaísmo ortodoxo. Viajou para Israel e fez uma visita a Auschwitz.

Ela também pôs fogo em cópias de sua autobiografia, “Eu Acredito na Ressurreição do Povo Húngaro”.

Hoje, Szegedi se dedica a dar palestras em escolas contra os perigos da intolerância.
E para tentar explicar a cultura judaica de forma a enfrentar estereótipos. Isso inclui descrições bem-humoradas do ritual da circuncisão. Ou o fato de que sua avó nos meses de verão usava um curativo no braço para esconder a tatuagem com um número de identificação, feita em prisioneiros de campos de concentração nazistas.

– O partido pode ter adotado uma postura mais para o centro, mas ainda está cheio de pessoas que se filiaram por causa de suas posições radicais, pelo nacionalismo e extremismo. Há um limite para o quão moderado o partido pode ser. Não penso mais numa vida política – disse o ex-militante a jornalistas da agência britânica de notícias BBC.

Szegedi critica o discurso antissemita na Hungria, mas ao mesmo tempo defende seus compatriotas. Para ele, é uma consequência do que chama de paradoxo do nacionalismo húngaro.

– Temos orgulho de nossas conquistas, mas não examinamos as conquistas de outros povos (que fazem parte da sociedade húngara). Temos medo de que sua cultura possa ser tão rica como a nossa – concluiu”.

Não poderia ser mais didático. O caçador, perseguidor de judeus, descobre-se ele próprio ser um judeu. O caçador se torna caça.

Seria interessante se tal fenômeno ocorresse mais frequentemente para modificar a cultura dos intolerantes.

Por exemplo, membros de uma classe média brasileira, supostamente superior aos que consideram mais pobres e ignorantes, despertassem num belo dia, dependendo da bolsa família para garantir a sobrevivência.

Ou se prolixos autores de argumentos contra as cotas nas faculdades despertassem negros, antes do ano 2000.

Infelizmente poucos Szegedis conseguirão aprender em tempo que, a intolerância é irmã do egoísmo e mãe de todo totalitarismo.


Prof. Péricles

Fonte: Correio do Brasil

sábado, 27 de junho de 2015

ATENAS E A DEMOCRACIA



A decantada democracia ateniense, sabe-se, não foi fruto de uma só mente genial. Foi, isso sim, o resultado de um processo de transformações de sua sociedade.

Até os séculos VII e VI a.C. a política de Atenas era controlada por sua elite agrária os “Eupátridas” ou “bem nascidos” como era comum no mundo antigo.

Entretanto quanto mais seu porto era movimentado e as mercadorias negociadas vinham dos mais distantes pontos de origem, mais a classe comerciante, os demiurgos, enriquecia e consequentemente, passava a reivindicar parcela do poder.

A democracia ateniense nasceu dessas pressões políticas pelo poder entre os demiurgos e a elite agrária.

Seus personagens marcantes foram legisladores e políticos que representaram, em diferentes momentos, inovações e reformas que levaram ao apogeu da democracia no século V a.C. no governo de Péricles.

Drácom, em 621 a.C. estabeleceu um conjunto de leis escritas que substituíram as leis orais que, invariavelmente beneficiavam apenas aos eupátridas. Embora a elite mantivesse o poder tornava-se muito mais difícil a manipulação legal em favor de seus interesses e abria um manancial de oportunidades futuras aos demais atenienses, antes marginalizados juridicamente.

Vinte e sete anos depois, em 594 a.C. diante da crescente pressão política, um novo legislador se destaca, Sólon. Entre as várias reformas que promoveu, Sólon acabou com a escravidão por dívidas, adota novas instituições políticas.

A Eclésia foi a mais sensacional das inovações, pois fazia o papel de executivo, sendo uma espécie de Assembleia onde as decisões mais importantes para a cidade eram decididas pelos cidadãos em voto direto, levantando a mão, após a audiência de diferentes debatedores.

O Conselho dos Quinhentos (Bulé) funcionaria como Legislativo no lugar do Areópago, instituição mais antiga e controlada pela aristocracia.

Já o Helieu era o Judiciário, sendo composto por juízes, para julgar os cidadãos atenienses de acordo com as leis escritas.

Mas as elites agrárias não aceitaram passivamente as novidades e usaram todo seu poder causando agitações e instabilidades.

No seio dessas agitações surgem os tiranos (que não quer dizer malvados, e sim, aquele que chega ao poder por outro meio que não eleito). Entre os tiranos destaca-se Psistrato que trouxe algumas vantagens para uma nova aristocracia que buscava ocupar o espaço da antiga e tradicional elite.

O recuo que beneficiou as elites provocou uma grande mobilização popular, e montado nesse apoio das ruas, Clístenes chega ao poder em 510 a.C.

Em seu governo, os atenienses passavam a ser divididos em dez tribos (poderíamos chamar de partidos) que escolhiam seus principais representantes políticos. Todo ateniense tinha por direito filiar-se a uma determinada tribo na qual ele participaria na escolha de seus representantes políticos no governo central. Dessa maneira diminui acentuadamente a distância entre os mais e menos abastados na participação da vida política ateniense.

Além disso, Clístenes (chamado de o pai da democracia) criou o ostracismo, medida que buscava (e conseguiu) romper a corrente de Tiranos que se sucediam no poder. O ostracismo bania por dez anos o indivíduo que fosse considerado uma ameaça à normalidade democrática, embora tomasse o cuidado de reconhecer o direito do banido de manter sua propriedade privada em Atenas.

Apesar do brilhantismo de um regime que valorizava o “governo do povo” e do ineditismo de suas ações, a democracia direta dos gregos nunca foi realmente do povo. Isso porque, pelo conceito de cidadania adotado, só homens livres de pai e mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade, eram considerados cidadãos.

Mulheres e estrangeiros, independentemente do tempo que residissem na polis, não possuíam nenhum tipo de participação política.
Destacando ainda que, apesar de tudo, na base do trabalho continuou sendo utilizado o trabalho escravo, calcula-se que apenas 10% da população participava de fato da vida e das disputas políticas de Atenas.

Prof. Péricles

quarta-feira, 24 de junho de 2015

TERRORISMO BRANCO E CRISTÃO



Por José Inácio Werneck, de Bristol (EUA)


No dia 17 de junho de 1822, pouco antes da Independência do Brasil, um ex-escravo, Denmark Vesey, que havia comprado sua liberdade ao ganhar dinheiro em uma loteria, chefiou uma rebelião de negros contra a minoria branca em Charleston, no estado da Carolina do Sul.

Sim, minoria branca. Naquele ano, mais negros do que brancos viviam na Carolina do Sul, mas os brancos, donos de extensas propriedades rurais, tinham o poder nas mãos: as armas, a polícia, o Exército, o governo.

Um dos negros, Denmark Vesey, carpinteiro e pastor leigo de uma Igreja Presbiteriana negra, a Emmanuel Church, liderou uma rebelião de escravos, com o intuito de chegar ao porto, apossar-se de navios e zarpar para o Haiti, que tinha se tornado uma República Negra, depois de se tornar independente da França.

Alguns negros, talvez por medo, delataram a rebelião antes que ela se iniciasse ao primeiro minuto de 17 de junho. Denmark Vesey e dezenas de seus cúmplices foram enforcados, muitos outros negros sentenciados a longas penas.

Incendiada ou destruída mais de uma vez por brancos, a Emmanuel Church foi finamente reconstruída em definitivo na década de 1880.

Ela é a mais histórica igreja negra dos Estados Unidos e nela importantes líderes, como Martin Luther King Jr., discursaram.

Há ainda o interessante detalhe de que ela se situa em pleno centro de Charleston, que é até hoje ocupado por mansões de ricas famílias brancas, descendentes dos antigos donos de escravos.

A Carolina do Sul é também um estado que até hoje faz tremular em seus mastros a bandeira da Confederação – a bandeira do poder branco e separatista do sul dos Estados Unidos, cujas tropas foram derrotadas pelas tropas da União, do governo federal chefiado por Abraham Lincoln.

É impossível começar a entender o atentado deste 17 de junho em Charleston sem entender também que até hoje muitos brancos no sul dos Estados Unidos não se conformam com a derrota da Confederação. Eles são racistas, pertencem a grupos de “superioridade branca” e querem se separar do resto do país.

Dylann Storm Roof, de 21 anos, o confesso assassino, é um produto deste meio.

Será simples coincidência que ele escolheu um 17 de junho – a mesma data da frustrada revolta de Denmark Vesey – para assassinar nove negros durante um “Estudo da Bíblia” na Emmanuel Church?

Durante décadas os cristãos brancos da Carolina do Sul não permitiam a existência de “igrejas negras”. Eles exigiam que uma maioria dos participantes fosse de brancos, para a Igreja poder funcionar.

Os pastores brancos ensinavam que a escravidão dos negros havia sido determinada por Deus e que os negros deveriam se conformar com sua sorte.

Hoje, as igrejas negras funcionam, mas a mentalidade de muitos cristãos brancos em estados do sul dos Estados Unidos – como as duas Carolinas, Mississippi, Alabama – não mudou muito.

Esta semana, alguns dias antes do massacre em Charleston, um artigo “op-ed” no New York Times revelava algo muito interessante: embora os americanos tenham medo do “terrorismo islâmico”, a grande maioria de atentados terroristas nos Estados Unidos é praticada por grupos de “superioridade branca” – esmagadoramente constituídos por cristãos.

Grupos que defendem ferozmente o direito de portar armas de fogo.

São pessoas como Dylann Storm Roof, que posava em sua página no Facebook com um casaco exibindo as bandeiras dos regimes de “apartheid” na África do Sul e na antiga Rodésia (hoje Zimbabwe).

Este é um terrorismo irracional, como os outros terrorismos. A única diferença é que a maioria da imprensa americana não tem a coragem de chamá-lo por seu nome próprio.


José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

sábado, 20 de junho de 2015

DEIXAR PRA LÁ É SER CÚMPLICE


“Tem coisas, meu filho, que todos sabem, mas deixamos pra lá pois um dia a casa cai”.

Nunca esqueci dessa frase que ouvi quando muito jovem.

Ela me dava sensações diferentes.

Afirmava que o erro sempre será castigado, mas, ao mesmo tempo, indicava uma passividade e um distanciamento como se, justiça não fosse construída por nossos esforços, mas pelo destino.

Lembrei dela assim que tomei conhecimento das primeiras denúncias contra a FIFA e a prisão de alguns de seus dirigentes, inclusive do brasileiro José Maria Marin.

Todos que acompanham futebol nesse país desconfiavam que a FIFA (e a CBF) fosse foco dinamizador de interesses difusos e corruptos.

Entre os que gostam de futebol até mesmo em inocentes “rodinhas” de discussão o assunto CBF-FIFA-Corrupção era sempre levantado, geralmente acompanhado de piadinhas soltas.

Denunciadas, mas, jamais atacadas. E por aí já se vão décadas.

Afinal, será mesmo que só o destino é capaz de destruir certas safadezas, quando as safadezas mesmo bem conhecidas, são “bem feitas”? Ou as safadezas se consolidam como bem feitas por nossa omissão e tradição de alienados?

É revoltante ter que torcer para o FBI diante do “deixa pra lá”.

O futebol, é coisa séria. Diria, uma das coisas mais sérias do Brasil, cujo povo é capaz de transportar para a produção do trabalho de segunda-feira sua alegria ou decepção pelo resultado do seu time no domingo.

Para milhões de brasileiros, o futebol é o melhor programa de fim de semana, regulando humores e até mesmo, relações sociais.

Quantos poupam valores significativos de suas economias para poderem assistir um jogo importante do seu clube?

O imperador Otávio dizia que o plebeu não perturba a ordem constituída se tiver “pão e circo”.

E o futebol, definitivamente, é o maior circo do mundo. Aquele que congrega o maior número de assistentes, aqui denominados de torcedores.
Sua administração, portanto, deveria ser uma questão de estado.

A lisura dos campeonatos e dos seus dirigentes deveria ser inquestionável.

E isso, em nome de todos aqueles que dedicam boa parte de sua vida envolvidos com essa imensa paixão.

Definitivamente, tem coisas que “deixar pra lá” nos torna cúmplices.

A democracia e os procedimentos honestidade pressupõem a participação da cidadania e não sua alienação.

Conforme a polícia norte-americana o pior lugar para alguém ser atacado por um homicida, é o lugar cheio de gente e de testemunhas, visto que o usual é que todos sempre deixem para alguém a função desagradável de chamar a polícia.

No caso da CBF/FIFA o testemunho sem ação superou todos os recordes.


Prof. Péricles