quarta-feira, 22 de agosto de 2012

ONDE JAZ A ESPERANÇA



Ei você... você mesmo com essa cara de esperto, esse jeito de incompreendido, esse ar de desdém.
Sim, você cara pálida, que se acha entendido, rebelde de fim de semana que se queixa que a vida é complicada é uma viagem.
Sabe a quem pertence o mundo? Quem comanda o trem?
Não de boca aberta na janelinha iludido com a paisagem.
Não.
Falo da direção do comboio...
É meu amigo, reflita comigo e sussurre, também.
Podemos estar sendo vigiados por alguém, quem sabe.
Pois, te digo amigo, escuta o que eu digo e reflita... faz bem.
Existem muitos covardes. Os donos das engrenagens e da informação.
Só pensam em si e são, ricos, muito ricos, não são?
Você já os viu nos mercados? Fatiam entre si esse enorme mundão.
Não se acham superiores, se entendem menores, e por isso trabalham, enquanto nós viajamos.
Você já os viu nos gabinetes, nos palácios, nas bancas, você já os viu, convenhamos.
Se encastelam nas estruturas mais podres, como cupins nas tábuas sem cores e de lá manipulam à vontade.
Enquanto nós, os puros e libertários guardamos os sonhos nos armários, eles definem a liberdade e trabalham pra manter seu poder.
Será que vai doer?
Vai doer na minha alma me despir da teoria, trocar de utopia, e trabalhar por vintém?
Trabalhar pelo bem, claro.
Pelo bem da maioria, sem esperar qualquer prêmio.
Quando chegará o dia que te se sinta povo também?
O povo essa multiface, faceta anônima de mil histórias...
Eles se queixam das dores, mas que são eleitores.
Eleitores receio, que negociam favores e se corrompem aos quilos.
Mas que soltam suspiros com a corrupção no seu meio.
Sim, eu sei, esta história é antiga.
E daí?
Trabalhe, como formiga, seja de novo criança,
Mas não esqueça jamais.
Que a luta é aqui. Onde morre tua gente,
Covarde e valente
Onde jaz a esperança.

Prof. Péricles

domingo, 19 de agosto de 2012

JULIAN ASSANGE


Julian Assange fundou o WikiLeaks, um site genial, capaz de encontrar despachos e mensagens secretas de várias áreas diplomáticas, particularmente dos Estados Unidos.

Um fofoqueiro de marca maior, sem dúvida, e pior, um fofoqueiro capaz de tornar público comentários constrangedores da metrópole sobre o resto do mundo. Sabe aqueles comentários da gente fina sobre pobre dito na proteção das maciças paredes de suas mansões? Desagradáveis, desagradáveis...

Ficamos sabendo o que Nixon pensava de Médice, coisa que deve ter estremecido muita gente dentro da farda. Soubemos também o que Israel pensa realmente dos palestinos, algo assim como uma epidemia de barata que deve ser exterminada, e outras coisinhas mais.

Em pouco tempo tornou-se o inimigo público número 1 do Tio Sam e de todos os seus sócios e admiradores e/ou puxa-sacos.

A vingança, prato preferido da culinária dos irmãos do norte mais do que o hamburger, foi logo tramada.

Trataram de manipular um daqueles casos de acusação de estupro na Suécia, e estupro na Suécia é algo de menor credibilidade do que palavra de bebum prometendo não beber mais no dia seguinte.

Usando essa acusação que com certeza passou pelos gabinetes de Washington, a Suécia pede sua extradição (Assange está em Londres) e, claro, já está tudo acertado com os norte-americanos para que a tal extradição seja só uma voltinha em Estocolmo antes de ser recambiado, aí sim, para seu verdadeiro destino, os esteites, onde possivelmente lhe aguarde uma condenação à pena de morte por crime contra a segurança nacional.

Vendo o circulo se fechar Julius Assange se refugiou na embaixada do Equador, em Londres.

Embora Quito tenha fornecido asilo, considerando o refugiado um perseguido político, o governo da Inglaterra se nega a permitir que se retire para o Equador e inclusive, já ameaçou, por escrito (segundo o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño) invadir a embaixada equatoriana.
Assange permanece na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho.
Vinte policiais britânicos continuam de guarda em frente ao edifício da representação diplomática, que se transformou em uma prisão.

Se Assange arriscar sair da embaixada, será imediatamente preso.

Entre vários aspectos curiosos desse caso, duas questões se destacam.

Primeiro, porque a Inglaterra que deu asilo político para uma dos maiores assassinos da história sul-americana, o general chileno Augusto Pinochet e apoiou o ditador a ponto de desafiar uma decisão judicial de um juiz espanhol e que exigia do mundo civilizado respeitasse às decisões de sua Corte, não respeita, agora, as decisões diplomáticas e institucionais dos outros?

Segundo, onde anda a mídia brasileira, ardorosa defensora dos direitos democráticos da divulgação da notícia e dos direitos de informação? A liberdade de expressão é só a deles? Por onde andam os meios de comunicação brasileiros, tão incansáveis na luta pelo respeito aos atos instituídos que não noticia além de duas linhas de fim de página o que está acontecendo em Londres? São dois meses de um drama quase sem divulgação na terra em que qualquer questionamento ao papel da imprensa é interpretado como heresia.

E o que está acontecendo em Londres é simplesmente o maior desafio do direito à informação nas novas tecnologias contra os velhos mecanismos de repressão e de manutenção do monopólio da informação.

É. Pensando bem, dá pra entender o silêncio de nossos paladinos.

Plim-plim pra vocês.

Prof. Péricles

sábado, 18 de agosto de 2012

NOVO PRAZO

Pessoal, atendendo pedidos de alunos, especialmente os candidatos ao vestibular, o Blog manterá suas atividades até as férias de verão, quando do concurso da UFRGS.

Assim, a partir dessa semana voltaremos às atividades normais.

Abraços,

Péricles

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

CHEGANDO AO FIM

Caros amigos e amigas.

Nosso Blog sairá do ar no fim desse mês de agosto.
Um série de motivos nos levam a isso: poucos acessos, falta de tempo para uma maior dedicação, enfim, várias coisas.
Ainda estaremos por aqui em agosto.
Quem desejar aproveitar para copiar algum texto de interesse, sinta-se à vontade.
Beijos e abraços,

Prof. Péricles

terça-feira, 31 de julho de 2012

A FUGA DO REI


A fuga do Rei

Uma noite de Junho, em 1791, entre onze horas e meia-noite, o rei, a rainha e as suas duas crianças escaparam, disfarçados, das Tulherias, fizeram uma travessia palpitante através de Paris, rodearam a cidade no norte para leste e atingiram, afinal, uma carruagem de viagem, que os estava esperando na estrada de Châlons. Fugiam para o exército do leste.

O exército do leste era “leal”, isto é, os seus generais e oficiais estavam, pelo menos, preparados para trair a França em favor do rei e da corte. Eis afinal um pouco de aventura ao gosto da rainha! Pode-se figurar a deliciosa excitação do pequeno grupo, à medida que os quilômetros passavam e a distância aumentava entre eles e Paris.

Adiante, sobre as colinas, estavam a reverência, as curvaturas profundas e os solenes
beija-mãos.

Depois, a volta para Versalhes. Alguns tiros sobre a turbamulta de Paris – artilharia, se necessário. Algumas execuções – não, porém, da espécie de gente que afinal importa. Um Terror Branco, por alguns meses. Depois, tudo, de novo, estaria bem.

Talvez Calonne pudesse também voltar, com expedientes financeiros novos. Não estava ele, agora mesmo, trabalhando por conseguir o apoio dos príncipes
alemães? Havia uma porção de castelos a reedificar, mas o povo, que os queimara, dificilmente se poderia queixar se a tarefa de sua reconstrução lhe pesasse um pouco mais opressivamente sobre os seus ombros sujos...

Todas estas brilhantes antecipações foram cruelmente destruídas, aquelas. O rei fora reconhecido proprietário da estação em Sainte-Menehould pelo proprietário
da estação de muda e , enquanto descia a noite, as estradas de leste ressoavam sob o galope dos mensageiros que acordavam a população das zonas circunvizinhas
e procuravam interceptar os fugitivos.

Na aldeia de Varennes de Cima haviam sido reservados cavalos novos para o descanso das parelhas – o jovem oficial encarregado havia, porém, desistido de esperar o rei, durante a noite, e tinha ido dormir – e nesse ínterim, por uma meia hora, o pobre rei, disfarçado de criado, discutia em Varennes de Baixo com os seus postilhões, os quais, esperando encontrar as mudas para os cavalos nesta aldeia, recusavam-se a seguir adiante.

Afinal consentiram em partir. Mas era muito tarde. O pequeno grupo encontrou o proprietário da muda de Sainte-Menehould – que havia passado a cavalo, enquanto os postilhões discutiam – acompanhado de certo número de valorosos republicanos de Varennes a esperá-lo na ponte, entre as duas partes da vila. A ponte estava defendida por barricadas. Os mosquetes foram apontados para a carruagem: “Os vossos
passaportes!” O rei rendeu-se sem luta. O pequeno grupo foi levado para a casa de certo funcionário da vila. “Bem”, disse o rei, “aqui me tendes!” Observou também que estava com fome. No jantar, louvou o vinho, “excelente vinho”. O que disse a rainha, não foi registado.

Havia tropas realistas nas proximidades, mas não houve tentativa de libertar o rei. Os sinos começaram a tocar e a vila, para guardar-se contra qualquer surpresa, reacendeu a sua iluminação pública...

Um carro carregado de realeza, mas em profundo desalento, voltou a Paris e foi recebido por imensa multidão – em silêncio. Fizera-se correr entre a multidão
que seria castigado todo aquele que insultasse o rei, e morto qualquer um que o aplaudisse...

Foi somente depois dessa proeza louca que a idéia de república apossou-se do espírito francês.


Wells, H.G In: História Universal, vol7. Cia. Ed. Nacional, São Paulo, 1968.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A BURGUESINHA NUA


Na vida tem certas coisas que parecem que são, você jura ... mas não são.

Quem nunca confundiu abacaxi com ananás?

Quem nunca chamou alguém pelo nome pra verificar, sem graça, que a pessoa era outra?

Quem nunca trocou a data de aniversário das namoradas?

Pois, quem vivia na França na segunda metade do século XVIII, e assistiu os momentos dramáticos da Revolução Francesa, com certeza, poderia jurar que se tratava de um movimento dos pobres, dos oprimidos, em busca de igualdade e da liberdade.

Afinal, quem empunhava aquele porrete não era o moço funcionário do armazém? E aquele senhor lá na frente, exaltado, não era o agricultor humilde da fazendola próxima?

Igualdade, Liberdade, Fraternidade!

A emoção de ver homens e mulheres, jovens e velhos nas ruas, armando barricadas e lutando contra as forças do Rei fizeram circular histórias, como a da misteriosa e linda mulher de seios nus (depois identificada como a Liberdade) lutando lado a lado com o povo.

Centenas juravam tê-la visto.

Quando os habitantes de Marselha chegaram a Paris para se juntar à luta, parecia, poderia jurar que parecia, a união de pobres em busca da sua vez.

Parecia, mas não era.

Na verdade, quem chegava ao poder a partir dessas lutas emocionantes, era a burguesia, que, naquele momento histórico, pertencia a um status menor, um status de terceiro estado, sendo explorada pela nobreza no andar de cima.

Foram 10 loucos anos revolucionários em que, logo após galgar o poder a mais alta burguesia tratou de limitar o espaço dos mais pobres, urbanos ou dos campo.

A Reforma agrária jamais aconteceu de fato. A reforma fiscal beneficiou apenas os que tinham dinheiro e a igualdade deve ter morrido na guilhotina em alguma noite escura, sem testemunhas.

Quando sonhadores como Gracchus Babeuf, lideranças da ralé, perceberam, a cortina já havia se fechado, o show havia terminado e o povo ficado de fora.

Quando os canhões de Napoleão impuseram o fim da revolução, a única mudança social fora a mudança de inquilinos do andar de cima.

A Igualdade e a fraternidade permaneceram belas palavras, sedutoras e ilusórias, e muitos morreram velhinhos sem entender onde elas haviam se perdido.

A moça dos seios nus? Não era a Liberdade coisa nenhuma... era uma burguesinha assanhada, prometendo o que não daria e que só existia na imaginação dos iludidos.

Prof. Péricles