terça-feira, 15 de agosto de 2017

RACISTAS AMADORES


Eles são tipicamente americanos. A extrema-direita americana se juntou e saiu em furiosa passeata, para revolta mundial. Não faltaram vozes que gritaram forte contra aqueles racistas agrupados e os males terríveis que representam. Foi tão cruento que ele, ninguém menos do que ele, Donald Trump, saiu a dar declarações, dizendo ser desprezível o movimento; justo ele, ícone do racismo, ninguém acreditou em um por cento da sinceridade de suas palavras, mas vá lá, falou institucionalmente, como Presidente dos Estados Unidos da América. 
Eles são os supremacistas, neologismo não reconhecido, ao menos, no dicionário que acabo de consultar.
Eles, aqueles porcos racistas americanos devem morrer de inveja porque não-racistas brasileiros têm, faz quase quinhentos anos, suas babás negras, em uniformes brancos, para cuidar de seus rebentos, sem que houvesse necessidade de formalizar-se esse vínculo de emprego, porque não era emprego, era apenas trabalho.
Ah, aqueles racistas sórdidos americanos devem sonhar com uma escola exclusiva, privada e cara, em que o negro seja, no máximo, o tio da cantina, jamais um professor ou mesmo um aluno. Pois, chorem, americanos racistas idiotas, temos isso aqui, em nossa democracia mega-racial, escolas privadas e não precisamos por isso mesmo nos preocupar com a escola pública, já que essa gentinha não vai estudar muito mesmo na vida.
Seria um sonho para aqueles nazis americanos que a polícia de lá prendesse ou matasse mesmo os negros inconvenientes. Pois bem, já fazemos isso aqui há tempos, sem que ninguém mais se escandalize. Aliás, a palavra de policial, aqui, sorry, Racist America, é suficiente para condenar os pretos abordados na rua, sem qualquer motivação, apenas por atitude suspeita.
Tudo que lhes preencheria o domingo era ver pretos miseráveis serem atingidos por jatos d’água gelada, numa madrugada de inverno. Se isso lhes aquecesse a alma, bastaria que viessem a São Paulo e assistissem a esse espetáculo, patrocinado pela Prefeitura e sua operosa Guarda Civil, com direito a uma performance extra de nosso alcaide, que derrubou paredes de casa ocupada por gente que mal tinha o que comer.
Racistas Americanos! Deve ser horrendo a eles ver a grana dos impostos brancos, direcionada a comprar comida para a criançada filha dos pretos que insistem em ter direitos. Mal sabem eles que, nesse Brasil verde-amarelo, nosso prefeito mandou cortar fundo a merenda na creche, de um jeito que provocaria risadinhas entre os racistas americanos: para prevenir a obesidade infantil, ele disse. Ele não é engraçadinho? Nós aqui, já estamos tão acostumados com esse seu senso humor, que nada, mas nada dissemos. Quando muito, jogamos um ovo na testa dele e é só.
Não penduramos negros enforcados, que horror. Optamos por outra estratégia, seus racistas ignorantes! Construímos uma doutrina da Guerra ao Tráfico, só para isso: invadir comunidades de gente preta e passar fogo em quem for possível. Vale tudo: de feto a criança, todos são pretos, quase pretos, ou vivem como pretos, com direito a carro blindado, a que chamamos carinhosamente de caveirão. Elegemos deputados, temos programas de televisão, humanos direitos, enfim, sabemos fazer a coisa e, claro, sabemos botas a culpa de tudo até na Venezuela.
Nós odiamos vocês, americanos racistas. Odiamos tanto que lutamos ferozmente contra essa coisa horrorosa de colocar cota para pretos em que tudo que é lugar, desde faculdades até concursos públicos, menos, claro, para os concursos perigosos, como os da magistratura e ministério público, em que a meritocracia ainda manda mais alto, ora essa. Não brincamos com fogo, rapazes.
Professores negros, médicos negros, engenheiros negros, arquitetos negros, advogados negros, promotores de justiça negros, juízes negros, já fizemos nossa parte por aqui e não corremos esse risco! Não sofremos desse mal aqui no Brasil, racistas de mierda!
Nessa crise em que vivemos, por culpa do PT, bem que o Itamaraty poderia fazer uma campanha publicitária, com nosso super-prefeito paulistano, sorridente, com pulôver nas costas, com seu arzinho de genro preferido, com aquele rostinho de trabalhador que ele possui, chamando o bravo turista americano e seus dólares de prata:
  “Venha para o Brasil. Aqui o racismo deu certo”
Uma globeleza bem que poderia ilustrar o folder. Seria o máximo. Eles, os racistas americanos morreriam de inveja. Amadores!

 Roberto Tardelli é Advogado. 

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