Por Apóllo Natali
Getúlio Dornelles Vargas chamou o cara e disse: vai ter uma revolução e eu quero que você fabrique bombas para mim. O homem que era especialista em fazer bombas, respondeu: eu vou fazer só uma bomba e é para te matar.
Getúlio Dornelles Vargas então arremessou o interlocutor ao solo com um empurrão e ordenou: levem esse sujeito para ser torturado. Concluída a tortura, o homem da bomba foi solto e se arrastou pelas ruas do Rio de Janeiro com o corpo em petição de miséria, tendo ainda debaixo das unhas os estiletes que os torturadores não quiseram se dar ao trabalho de tirar.
Bem antes disso, o tal do bombardeiro (cujo ofício, como se nota, é mesmo lidar com bombas) já havia sido preso e torturado a mando de Getúlio Dornelles Vargas, descoberto que foi fabricando bombas em sua própria residência.
Seu segredo veio à tona após uma explosão em sua casa. Sua mulher e a filha de nove anos sofreram sérias queimaduras nas costas. Foram levadas presas para um convento por ordem de Getúlio Dornelles Vargas. Lá eram arrastadas pelos cabelos e xingadas de comunistazinhas pelas freiras.
O cara que fabricava bombas era teimoso e colocou uma de sua autoria no vagão de um trem onde viajaria Getúlio.
De repente apareceu gritando um velho que, pela aparência desgrenhada, ninguém daria um centavo por ele.
Falou resfolegando para o bombardeiro e seus amigos agachados a uma certa distância do trem: alguém do Partidão [o Partido Comunista] nos denunciou. Precisamos tirar essa bomba daí logo para que ninguém nos identifique.
Era uma bomba à base de nitroglicerina. Pode explodir com uma respiração mais forte, um chacoalho ou mudança de temperatura. Olha o perigo de explosão fora de hora na fornalha Rio 40 graus (que era aquele vagão) antes de Getúlio Vargas entrar nele!
Outros amigos do Partidão chamados às pressas para tirar a bomba demoravam muito para chegar. Estavam aflitos os três ou quatro bombardeiros escondidos com as mãos apertando os ouvidos. Ufa, a bomba foi retirada e Getúlio Dornelles Vargas só morreu em 1954, por conta própria.
O bombardeiro de Getúlio Dornelles Vargas se chamava Francisco Romero.
O neto dele, já antigo trabalhador na construção civil, mora num bairro vizinho ao meu, em São Paulo. Ele me contou esta história às 11h30 do dia 16 de janeiro de 2016.
Sei que os doutos historiadores exigirão depoimentos de outrem e/ou quaisquer registros do passado, coincidentes em algum (uns) ponto (s) com estas lembranças, para se decidirem a encaixar o pequenino personagem Francisco Romeiro num cantinho da biografia de Getúlio Dornelles Vargas; lamentavelmente inexistem, ou nem o neto os tem, nem eu os encontrei.
Pensei numa foto do avô e família, esta sim disponível, mas logo aquilatei que não seria suficiente.
O seu falar fluía tranquilo e pausado. Ouvindo-o, não duvidei em momento algum da veracidade do que ele me narrava. E você, caro leitor ou prezada leitora, o que concluiu deste relato?
Apóllo
Natali foi o primeiro redator da antiga Agência Estado, foi redator da Rádio
Eldorado, do Estadão e do antigo Jornal da Tarde. Escreve atualmete para
diversos sites e blogs de notícia, como o Observatório da Imprensa.
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