terça-feira, 21 de julho de 2015

VÍRUS CUNHA



Por Mário Augusto Jakobskind

Os jornalões e os telejornalões estão apresentando o Brasil mergulhado no abismo. As edições diárias mostram um quadro catastrófico, sendo que alguns colunistas não escondem o objetivo de detonar a Presidenta Dilma Rousseff.

O quadro é de crise política estimulada pela mídia conservadora, como pode se verificar através de vários exemplos.

Na edição do último domingo, Élio Gaspari, herdeiro dos arquivos do coronel Golbery do Couto e Silva e do general Ernesto Geisel repete diversas vezes o que tinha dito na edição do dia anterior o presidente reeleito do PSDB, Aécio Neves Cunha.

Élio Gaspari, parecendo ter baixado nele o espírito maligno do coronel Golbery, perguntou inúmeras vezes em sua coluna se Dilma conseguirá completar o mandato de quatro anos. Golbery, o eterno golpista, não faria melhor.

Na mesma linha, o imortal Merval Pereira diariamente reproduz reflexões que objetivam convencer os leitores que Dilma Rousseff não vai resistir por muito tempo. Para ele, o governo chegou ao fim.

Nos telejornalões o noticiário não fica muito atrás em matéria de apresentar o país em crise violenta e sem perspectiva. É a tal coisa, como o papo catastrófico tem se repetido constantemente, o telespectador acaba convencido de que o Brasil caiu mesmo no abismo.

É a técnica de Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda do III Reich nazista com a utilização da técnica de que uma mentira repetida várias vezes acaba virando uma verdade.

Fazendo dobradinha com o noticiário catastrófico, na área política, além de Aécio Neves Cunha, um outro Cunha, o Eduardo, que preside a Câmara, visivelmente passou dos limites. Tornou-se um câncer político a ser removido. E sob pena de se não o for acabar tornando-se uma metástase que fere de morte todo o corpo político.

Os dois Cunhas, segundo o noticiário, têm se encontrado, o que é um mau sinal para a democracia brasileira.

Neves Cunha até hoje não se conforma com a derrota sofrida no segundo turno presidencial, em outubro do ano passado. Já o presidente da Câmara dos Deputados conseguiu, através de manobra torpe que os parlamentares aprovassem, mudando de opinião em menos de 12 horas, a redução da maioridade penal para 16 anos.

Eduardo Cunha subverteu o regimento que impede a votação de um projeto derrotado numa mesma legislatura. Graças a esse jogo sujo, a vingança venceu e se isso prevalecer na votação no Senado e novamente na Câmara, os menores entrarão nas prisões com canivetes e facas e lá vão se especializar no uso de revólveres e metralhadoras.

A manobra de Cunha, segundo o próprio, teve por objetivo satisfazer a opinião pública apoiadora da redução da maioridade penal por estar envenenada pelo espírito de vingança, com o apoio da mídia conservadora.

Na verdade, Eduardo Cunha se empenhou em causa própria, porque em sua campanha, segundo a revista Galileu, ele obteve financiamentos empresariais dos mais diversos, inclusive da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), produtora e comercializadora de cervejas. Ambev, por sinal, de propriedade de Jorge Paulo Lemann, acusado de financiador de um esquema golpista.

Nesse sentido, cabe uma pergunta que não quer calar: sendo Eduardo Cunha um notório evangélico, como se explica ele ter aceitado que uma entidade cervejeira tenha doado um milhão de reais para a sua campanha? Pode ser que para neutralizar esse apoio Cunha tenha aceitado, como consta também da Galileu, 550 mil reais da Coca Cola e assim sucessivamente.

Como se não bastasse, ainda segundo a revista Galileu, Eduardo Cunha em abril do ano passado foi o relator de uma medida provisória que perdoava dois bilhões de reais dos planos de saúde. E meses depois o mesmo Cunha recebeu para a sua campanha doação de 500 mil reais por parte da Bradesco Saúde e Vida e Previdência, um dos maiores planos de saúde do Brasil.

Eduardo Cunha, como Aécio Neves Cunha, tem um objetivo primordial, o poder a qualquer preço. Eduardo agora quer porque quer que o Parlamentarismo volte à ordem do dia, não bastasse a rejeição dessa forma pelos eleitores em duas oportunidades, em 1963 e na década de 90.

É por aí que passa a atual crise brasileira, que remete (como farsa) também a 1954 e 1964, quando empresários e militares se uniram, primeiro para detonar Getúlio Vargas, golpe evitado com o sacrifício heróico do Presidente e dez anos depois com a derrubada do Presidente constitucional Jango Goulart.

Aí, vale repetir, esteve em cena o Coronel Golbery do Couto e Silva, que doou seus arquivos para o jornalista Élio Gaspari.


Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil).

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