sábado, 24 de agosto de 2013
VAMPIROS
Todos conhecem as estórias de vampiros, imortalizadas na literatura fantástica e nos filmes de Hollywood. Certamente você não acredita que esses seres noturnos, imortais enquanto se alimentarem de sangue humano existam ou um dia existiram não é?
Pois saiba que no leste europeu essas criaturas são muito fortes no imaginário popular e de grande interesse histórico.
No mês passado, julho/2013, para a construção de uma estrada na cidade polonesa de Gliwice, foi removido um daqueles cemitérios seculares que só a Europa tem. Logicamente, com toda a preocupação histórica que também só a Europa tem, uma equipe de arqueólogos, antropólogos e historiadores acompanharam os trabalhos.
Foram desenterrados 43 esqueletos presumivelmente dos séculos XV ou XVI e com eles um mistério: 17 dos esqueletos tinham as cabeças separadas do corpo e colocadas entre as pernas e as mãos do falecido. Junto à cabeça algumas pedras empilhadas.
Na Polônia, outros sepultamentos idênticos já foram localizados antes e significam práticas comuns daquela época de enterrar vampiros e impedir que retornassem à vida. O inédito da situação é a quantidade. Nunca tantos “vampiros” enterrados num mesmo cemitério.
O assunto chamou atenção da mídia europeia e fez renascer velhos medos na região, como, por exemplo, evitar transitar em certas estradas durante a noite.
A descoberta do cemitério de Gliwice, entretanto, não é a primeira descoberta desse tipo.
Só na Bulgária, descobriram-se até ao ano passado mais de 100 sepulturas de presumíveis "vampiros", a maior parte em regiões rurais. Em Sozopol, uma das cidades turísticas búlgaras mais famosas do Mar Negro, foram encontrados dois esqueletos que tinham sido perfurados com estacas de ferro, prática anti-vampírica que os arqueólogos dizem ter sido comum até ao início do século XX, especialmente nos países do Leste, nos Balcãs e eslavos.
Embora a maior parte destas ossadas esteja datada entre os séculos XI e XVI, a explicação para o fenômeno da fobia aos vampiros, relaciona-se com a cristianização destes territórios ocorrida entre os séculos XI e XII. Bruxas, espíritos malignos, entre outros seres que representariam a antítese de Cristo e que serviam igualmente como bodes expiatórios para as epidemias que atacavam as comunidades, eram assim alvo de suspeita, sendo muitos executados e "presos às sepulturas".
O Brasil não tem tradição de casos vampirescos, mas, analisando nossa história levamos alguns bons sustos.
Teríamos que decepar a cabeça ao sepultar muitos coronéis dos tempos da República Velha. Conspiradores notórios contra a ordem democrática também deveriam ser presos aos ataúdes. E o que dizer de alguns mortos fardados, e outros não fardados, responsáveis por prisões e sequestros, torturas e desaparecimentos?
Poderíamos ter certeza que esses vampiros não retornariam à vida política do país, senão no mesmo corpo, nas velhas idéias fascistas e nos privilégios que defenderam e nos poderes que representaram?
Sem dúvida, não temos os mesmos medos, as mesmas fobias dos europeus do leste, e não encontraremos corpos decepados em nossos cemitérios, mas, temos muitos esqueletos ainda no armário da memória. Variam os tipos de vampiros, desde os que sugam sangue até os que sugam sonhos. Há os que temem crucifíxos e os que temem reconhecer de que lado estavam. Dos que só morrem com estacas no peito até os que só morrerão quando seus crimes forem devidamente julgados.
Não temos Gliwice, mas temos Araguaias e Rio-centros. Não temos Dráculas, mas temos Fleurys.
Enquanto o Brasil não enterrar seus mortos seus vampiros continuarão perambulando nas sombras de sua história.
Prof. Péricles
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