quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O MITO DO POVO JUDEU


Por Miguel Urbano Rodrigues - O Diário, Portugal

Uma chuva de insultos fustigou em Israel Shlomo Sand quando publicou um livro cujo título- «Como foi inventado o povo judeu * - desmonta mitos bíblicos que são cimento do Estado sionista de Israel.

O mito étnico contribuiu poderosamente para o imaginário cívico. As suas raízes mergulham na Bíblia, fonte do monoteísmo hebraico. Tal como a Ilíada, o Antigo Testamento não é obra de um único autor. Sand define a Bíblia como «biblioteca extraordinária» que terá sido escrita entre os séculos VI e II antes da Nossa Era. O mito principia com a invenção do «povo sagrado» a quem foi anunciada a terra prometida de Canaã.

Carecem de qualquer fundamento histórico a interminavel viagem de Moisés e do seu povo rumo à Terra Santa e a sua conquista posterior. Cabe lembrar que o atual território da Palestina era então parte integrante do Egipto faraónico.

A mitologia dos sucessivos exílios, difundida através dos séculos, acabou por ganhar a aparência de verdade histórica. Mas foi forjada a partir da Bíblia e ampliada pelos pioneiros do sionismo.

Os desmentidos da arqueologia perturbaram os historiadores Ficou provado que Jericó era pouco mais do que uma aldeia sem as poderosas muralhas que a Bíblia cita. As revelações sobre as cidades de Canaã alarmaram também os rabinos. A arqueologia moderna sepultou o discurso da antropologia social religiosa.

O desenvolvimento da tecnologia do carbono 14 permitiu uma conclusão. Os grandes edifícios da região Norte não foram construídos na época de Salomão, mas no período do reino de Israel.

«Não existe na realidade nenhum vestígio - escreve Shlomo Sand-da existência desse rei lendário cuja riqueza é descrita pela Bíblia em termos que fazem dele quase o equivalente dos poderosos reis da Babilonia e da Pérsia». «Se uma entidade política existiu na Judeia do seculo X antes da Nossa Era, acrescenta o historiador, somente poderia ser uma microrealeza tribal e Jerusalém apenas uma pequena cidade fortificada».

É também significativo que nenhum documento egípcio refira a «conquista» pelos judeus de Canaã, território que então pertencia ao faraó.

A historiografia oficial israelense, ao erigir em dogma a pureza da raça, atribue a sucessivas diásporas a formação das comunidades judaicas em dezenas de países.

A Declaração de Independência de Israel afirma que , obrigados ao exilio , os judeus esforçaram-se ao longo dos seculos por regressar ao país dos seus antepassados. Trata-se de uma mentira que falsifica grosseiramente a Historia.

A grande diáspora é ficcional, como as demais. Apos a destruição de Jerusalém e a construção de Aelia Capitolina somente uma pequena minoria da população foi expulsa. A esmagadora maioria permaneceu no país.

Qual a origem então dos antepassados de uns 12 milhões de judeus hoje existentes fora de Israel?

Uma abundante documentação reunida por historiadores de prestígio mundial revela que nos primeiros seculos na Nossa Era houve maciças conversões ao judaísmo na Europa, na Asia e na Africa.

No Imperio Romano, o judaísmo também criou raízes,mesmo na Italia. O tema mereceu a atenção do historiador Cassius e do poeta Juvenal .

Na Cirenaica, a revolta dos judeus da cidade de Cirene exigiu a mobilização de várias legiões para a combater.

Mas foi sobretudo no extremo ocidental da Africa que houve conversões em massa à religião rabínica. Uma parcela ponderável das populações berberes aderiu ao judaísmo e a elas se deve a sua introdução no Al Andalus.

Nos passaportes do Estado Judaico de Israel não é aceita a nacionalidade israelense. Os cidadãos de pleno direito escrevem «judeu». Os palestinos devem escrever «árabe», nacionalidade inexistente.

Ser cristão, budista, mazdeista, muçulmano, ou hindu resulta de uma opção religiosa, não é nacionalidade. O judaísmo também não é uma nacionalidade.

Em Israel não há casamento civil. Para os judeus, é obrigatório o casamento religioso, mesmo que sejam ateus.

O livro de Shlalom Sand sobre a invenção do Povo Judeu é, além de um lucido ensaio histórico, um ato de coragem.

Aconselho a sua leitura a todos aqueles para quem o traçado da fronteira da opção de esquerda passa hoje pela solidariedade com o povo mártir da Palestina e a condenação do sionismo.





Um comentário:

Jairo disse...

Fica a pergunta no ar: Em que podemos nos basear então quanto ao antigo testamento, e suas "estórias" com a revelação deste livro??