sábado, 31 de agosto de 2013
HERÓIS
Até o fim da Guerra Fria a direita teve heróis destacados. Pessoas que em nome da liberdade (do capital) enfrentavam o dragão da maldade e o eixo do mal (URSS) e inspiravam com seu exemplo de coragem a generais e ditadores de todos os tamanhos, em todas as partes do planeta, a resistirem contra o avanço do “comunismo internacional”.
Margareth Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, foram seus últimos heróis, mas antes muitos outros como Theodoro Roosevelt, Woodrow Wilson, Flancklin Roosevelt, J.M. Kanes, além do interminável Adam Smith, povoavam a galeria de seus mitos.
Mas, e agora, quais são os heróis da direita?
O velório cercado de escárnio e xingamentos de Thatcher doeu nos neoliberais. Antes dela, Reagan morreu discursando para eleitores invisíveis totalmente massacrado pelo Mal de Alzheimer, esquecido numa casa de repouso.
Os profetas do neoliberalismo já não vendem seus livros assim como os autores que alardeavam “a história acabou”.
Quem são os heróis da direita num tempo em que a direita não consegue mais esconder sua sujeira embaixo do tapete? Num tempo em que as novas tecnologias fazem circular a informação e diminuir o número de ingênuos?
Saddam Hussein foi morto, seu país ocupado e seu petróleo espoliado, o Afeganistão foi invadido, mas seu povo não teme menos o invasor do que temia os Talibãs.
O desequilíbrio do poderio bélico dessas guerras foi tamanho que nenhum heroizinho tipo Rambo foi capaz de produzir.
Como criar heróis com esses Snowden da vida abrindo a boca e contando que, os bandidos dos filmes de espiões na verdade falam inglês e moram em Washington?
Como fazer de Obama um mito se sua administração desencanta cada vez mais os que dele esperavam a solução de todos os problemas?
Dá para eternizar memórias se os malditos esquerdistas teimam em diminuir as desigualdades sociais e criar políticas de inclusão criando novos mitos como Hugo Chaves, Evo Morales, Lula?
Agora mesmo, pressionados pela crise em seu mundo metropolitano, os EUA começam a assumir a face mais negra da exclusão e da desigualdade, aquelas coisas mesquinhas que eles gostariam de esconder do mundo.
Não há como impedir que as pessoas saibam de coisas como o que está acontecendo na cidade de Colúmbia, no Estado da Carolina do Sul.
Nessa cidade foi aprovada por unanimidade uma Lei denominada de “Resposta Emergencial aos Sem-Teto”.
A "humanitária" resposta aos sem-teto é que cerca de 1518 mendigos serão obrigados a se esconderem na periferia da cidade ou serão presos. Isso, é Lei. E o “pior” é que muitos desses mendigos são inexperientes de vida na rua já que, vitimados pela crise, até a pouco tempo tinham bons empregos e belas casas.
Cadê os heróis da direita conservadora e reacionária? Que tempos são esses em que o mocinho se despe de seu disfarce, mas não de seu orgulho, escondendo mendigos em bairros suburbanos.
Definitivamente isso não dá um roteiro de um bom filme em que os Estados Unidos vendam a imagem de guardiães da igualdade e da justiça.
Prof. Péricles
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
DE BRAÇOS ABERTOS
Por Mário Maestri,
A insurreição de associações profissionais e de milhares de médicos e estudantes de medicina contra a chegada dos colegas cubanos tem registrado despudoradamente o abismal nível de desumanização produzido pela mercantilização da saúde no Brasil. Os milhões de brasileiros desassistidos surgem como referências imateriais na retórica cínica que defende qualidade do serviço médico que a população brasileira desconhece, seja na área pública e, comumente, igualmente na privada.
No frigir dos ovos, defendem apenas a restrição do número de médicos, em prol da manipulação safada das leis do livre-mercado. Com menos médicos, melhores negócios! E a população que se lixe! Sob a escusa da excelência da formação e das prestações médicas, defendia-se, ontem, a restrição do número de universidades de medicina e, hoje, o monopólio corporativo do ato médico e o embargo à chegada de profissionais do exterior, com destaque para os cubanos, socialistas e, horror dos horrores, não poucos negros!
(...) Entretanto, não é menos certo que os médicos cubanos e estrangeiros salvarão a vida e mitigarão as penas urgentes de milhões de desassistidos, mesmo quando eventualmente não dispuserem das instalações condizentes, como também denunciado. Instalações que certamente serão por eles reivindicadas. Tudo isso enquanto se discute, produtiva ou improdutivamente, com boas intenções ou malevolamente, sobre as soluções estruturais futuras, de longo fôlego.
Os médicos estrangeiros enviados para os cafundós sociais e geográficos do Brasil atenderão brasileiros desconhecedores de serviços médicos mínimos, aos quais têm direito constitucional. Ampliarão a consciência desses brasileiros sobre o valor e a necessária luta por serviço público universal de qualidade. Certamente outros dois motivos da oposição visceral da indústria, de associações e de profissionais da saúde que se locupletam com sua mercantilização.
Por tudo isso e por muito mais, os médicos cubanos – e de outras nacionalidades – devem ser recebidos com festa, com fogos de artifício e braços abertos! Mas atenção. Nosso abraço deve ser o da população agradecida e não o do urso aproveitador!
Os médicos cubanos não são mercenários da medicina, apenas preocupados com a remuneração material. Não são igualmente missionários que se alimentam de princípios morais e políticos – se é que existe tal gente. São trabalhadores especializados que exercerão suas atividades no Brasil. Portanto, encontram-se necessariamente submetidos e protegidos pelas leis trabalhistas nacionais – mesmo que elas sejam pernetas e limitadas.
Os cubanos devem receber a mesma remuneração que os demais estrangeiros. É reivindicação dos trabalhadores, consagrada pela legislação atual, que ao “mesmo trabalho” cabe a “mesma remuneração”. Não importando as diferenças de sexo, raça, idade e nacionalidade. Nenhum casuísmo justifica o desrespeito desse princípio. Pouco importa o que recebem seus companheiros em Cuba, já que eles viverão e trabalharão no Brasil, e não na ilha do Caribe. Aos médicos cubanos cabe a bolsa de dez mil reais, paga diretamente pelo governo brasileiro.
Se aceitarmos o princípio da missão estrangeira, teríamos que concordar com que governos africanos enviassem trabalhadores contratados, recebendo por eles seus salários das autoridades brasileiras, e pagando-os abaixo do estipulado pela legislação nacional. Não impugna a terrível analogia o fato de que ela tenha sido proposta por interessados em sabotar a vinda dos médicos cubanos, e não em defender seus direitos.
Mas é igualmente indiscutível o direito do Estado cubano de ser remunerado pelos médicos que formou, enquanto trabalham no Brasil, ou caso queiram aqui permanecer. Qualquer coisa diversa seria explorar a esfera pública da sociedade cubana. Essa indenização deve recair totalmente sobre o Estado brasileiro, que se negou a financiar a formação dos trabalhadores da saúde que necessitamos dramaticamente. E não sobre os médicos cubanos. (...)
Mário Maestri é historiador e professor do PPGH da UPF
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
O MITO DO POVO JUDEU
Por Miguel Urbano Rodrigues - O Diário, Portugal
Uma chuva de insultos fustigou em Israel Shlomo Sand quando publicou um livro cujo título- «Como foi inventado o povo judeu * - desmonta mitos bíblicos que são cimento do Estado sionista de Israel.
O mito étnico contribuiu poderosamente para o imaginário cívico. As suas raízes mergulham na Bíblia, fonte do monoteísmo hebraico. Tal como a Ilíada, o Antigo Testamento não é obra de um único autor. Sand define a Bíblia como «biblioteca extraordinária» que terá sido escrita entre os séculos VI e II antes da Nossa Era. O mito principia com a invenção do «povo sagrado» a quem foi anunciada a terra prometida de Canaã.
Carecem de qualquer fundamento histórico a interminavel viagem de Moisés e do seu povo rumo à Terra Santa e a sua conquista posterior. Cabe lembrar que o atual território da Palestina era então parte integrante do Egipto faraónico.
A mitologia dos sucessivos exílios, difundida através dos séculos, acabou por ganhar a aparência de verdade histórica. Mas foi forjada a partir da Bíblia e ampliada pelos pioneiros do sionismo.
Os desmentidos da arqueologia perturbaram os historiadores Ficou provado que Jericó era pouco mais do que uma aldeia sem as poderosas muralhas que a Bíblia cita. As revelações sobre as cidades de Canaã alarmaram também os rabinos. A arqueologia moderna sepultou o discurso da antropologia social religiosa.
O desenvolvimento da tecnologia do carbono 14 permitiu uma conclusão. Os grandes edifícios da região Norte não foram construídos na época de Salomão, mas no período do reino de Israel.
«Não existe na realidade nenhum vestígio - escreve Shlomo Sand-da existência desse rei lendário cuja riqueza é descrita pela Bíblia em termos que fazem dele quase o equivalente dos poderosos reis da Babilonia e da Pérsia». «Se uma entidade política existiu na Judeia do seculo X antes da Nossa Era, acrescenta o historiador, somente poderia ser uma microrealeza tribal e Jerusalém apenas uma pequena cidade fortificada».
É também significativo que nenhum documento egípcio refira a «conquista» pelos judeus de Canaã, território que então pertencia ao faraó.
A historiografia oficial israelense, ao erigir em dogma a pureza da raça, atribue a sucessivas diásporas a formação das comunidades judaicas em dezenas de países.
A Declaração de Independência de Israel afirma que , obrigados ao exilio , os judeus esforçaram-se ao longo dos seculos por regressar ao país dos seus antepassados. Trata-se de uma mentira que falsifica grosseiramente a Historia.
A grande diáspora é ficcional, como as demais. Apos a destruição de Jerusalém e a construção de Aelia Capitolina somente uma pequena minoria da população foi expulsa. A esmagadora maioria permaneceu no país.
Qual a origem então dos antepassados de uns 12 milhões de judeus hoje existentes fora de Israel?
Uma abundante documentação reunida por historiadores de prestígio mundial revela que nos primeiros seculos na Nossa Era houve maciças conversões ao judaísmo na Europa, na Asia e na Africa.
No Imperio Romano, o judaísmo também criou raízes,mesmo na Italia. O tema mereceu a atenção do historiador Cassius e do poeta Juvenal .
Na Cirenaica, a revolta dos judeus da cidade de Cirene exigiu a mobilização de várias legiões para a combater.
Mas foi sobretudo no extremo ocidental da Africa que houve conversões em massa à religião rabínica. Uma parcela ponderável das populações berberes aderiu ao judaísmo e a elas se deve a sua introdução no Al Andalus.
Nos passaportes do Estado Judaico de Israel não é aceita a nacionalidade israelense. Os cidadãos de pleno direito escrevem «judeu». Os palestinos devem escrever «árabe», nacionalidade inexistente.
Ser cristão, budista, mazdeista, muçulmano, ou hindu resulta de uma opção religiosa, não é nacionalidade. O judaísmo também não é uma nacionalidade.
Em Israel não há casamento civil. Para os judeus, é obrigatório o casamento religioso, mesmo que sejam ateus.
O livro de Shlalom Sand sobre a invenção do Povo Judeu é, além de um lucido ensaio histórico, um ato de coragem.
Aconselho a sua leitura a todos aqueles para quem o traçado da fronteira da opção de esquerda passa hoje pela solidariedade com o povo mártir da Palestina e a condenação do sionismo.
sábado, 24 de agosto de 2013
VAMPIROS
Todos conhecem as estórias de vampiros, imortalizadas na literatura fantástica e nos filmes de Hollywood. Certamente você não acredita que esses seres noturnos, imortais enquanto se alimentarem de sangue humano existam ou um dia existiram não é?
Pois saiba que no leste europeu essas criaturas são muito fortes no imaginário popular e de grande interesse histórico.
No mês passado, julho/2013, para a construção de uma estrada na cidade polonesa de Gliwice, foi removido um daqueles cemitérios seculares que só a Europa tem. Logicamente, com toda a preocupação histórica que também só a Europa tem, uma equipe de arqueólogos, antropólogos e historiadores acompanharam os trabalhos.
Foram desenterrados 43 esqueletos presumivelmente dos séculos XV ou XVI e com eles um mistério: 17 dos esqueletos tinham as cabeças separadas do corpo e colocadas entre as pernas e as mãos do falecido. Junto à cabeça algumas pedras empilhadas.
Na Polônia, outros sepultamentos idênticos já foram localizados antes e significam práticas comuns daquela época de enterrar vampiros e impedir que retornassem à vida. O inédito da situação é a quantidade. Nunca tantos “vampiros” enterrados num mesmo cemitério.
O assunto chamou atenção da mídia europeia e fez renascer velhos medos na região, como, por exemplo, evitar transitar em certas estradas durante a noite.
A descoberta do cemitério de Gliwice, entretanto, não é a primeira descoberta desse tipo.
Só na Bulgária, descobriram-se até ao ano passado mais de 100 sepulturas de presumíveis "vampiros", a maior parte em regiões rurais. Em Sozopol, uma das cidades turísticas búlgaras mais famosas do Mar Negro, foram encontrados dois esqueletos que tinham sido perfurados com estacas de ferro, prática anti-vampírica que os arqueólogos dizem ter sido comum até ao início do século XX, especialmente nos países do Leste, nos Balcãs e eslavos.
Embora a maior parte destas ossadas esteja datada entre os séculos XI e XVI, a explicação para o fenômeno da fobia aos vampiros, relaciona-se com a cristianização destes territórios ocorrida entre os séculos XI e XII. Bruxas, espíritos malignos, entre outros seres que representariam a antítese de Cristo e que serviam igualmente como bodes expiatórios para as epidemias que atacavam as comunidades, eram assim alvo de suspeita, sendo muitos executados e "presos às sepulturas".
O Brasil não tem tradição de casos vampirescos, mas, analisando nossa história levamos alguns bons sustos.
Teríamos que decepar a cabeça ao sepultar muitos coronéis dos tempos da República Velha. Conspiradores notórios contra a ordem democrática também deveriam ser presos aos ataúdes. E o que dizer de alguns mortos fardados, e outros não fardados, responsáveis por prisões e sequestros, torturas e desaparecimentos?
Poderíamos ter certeza que esses vampiros não retornariam à vida política do país, senão no mesmo corpo, nas velhas idéias fascistas e nos privilégios que defenderam e nos poderes que representaram?
Sem dúvida, não temos os mesmos medos, as mesmas fobias dos europeus do leste, e não encontraremos corpos decepados em nossos cemitérios, mas, temos muitos esqueletos ainda no armário da memória. Variam os tipos de vampiros, desde os que sugam sangue até os que sugam sonhos. Há os que temem crucifíxos e os que temem reconhecer de que lado estavam. Dos que só morrem com estacas no peito até os que só morrerão quando seus crimes forem devidamente julgados.
Não temos Gliwice, mas temos Araguaias e Rio-centros. Não temos Dráculas, mas temos Fleurys.
Enquanto o Brasil não enterrar seus mortos seus vampiros continuarão perambulando nas sombras de sua história.
Prof. Péricles
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
ACRE, O PREÇO DE UM CAVALO
No final do século XIX havia grande confusão acerca dos limites entre Brasil, Bolívia e Peru. Segundo se sabe, as demarcações, muitas vezes, eram feitas por cartógrafos que nunca sequer haviam estado na região. Terra quente e chuvosa onde predominava a floresta densa, habitada por índios de várias tribos e um e outro branco, as vezes boliviano, as vezes brasileiro.
Entretanto, o advento da indústria automobilística trouxe a necessidade da borracha para fazer os pneus e, como ainda não havia sido inventada a borracha sintética, o produto natural, vindo das seringueiras, tornou-se, em pouco tempo, um produto valioso e cobiçado.
Milhares de brasileiros vindos, especialmente do nordeste em busca de uma vida melhor, invadiram a região do atual acreana.
Segundo o próprio governo brasileiro, o Acre pertencia à Bolívia, mas, se fez de cego e surdo diante da crescente invasão.
Quando o governo boliviano percebeu a grana que estava em jogo, tentou marcar presença. Pobre e fragilizado por uma guerra, a Guerra do Chaco, contra o Paraguai pôde apenas fazer um péssimo negócio, trazendo um consórcio de empresas de capital inglês e americano para extrair a borracha, além de instalar uma base militar.
Porém, em todos aqueles anos de abandono por parte do governo da Bolívia, a região já “falava português” e os movimentos seguintes foram de instabilidade e troca de tiros em 1902, na chamada “questão acreana” em que os brasileiros foram liderados pelo gaúcho Plácido de Castro e os bolivianos levaram evidente desvantagem.
Foram então abertas negociações que terminariam com a assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903.
Muito menor que o Brasil, e muito mais pobre, a Bolívia foi prejudicada nesse Tratado. Por ele o Acre foi incorporado ao território brasileiro em troca de 2 milhões de libras (hoje seria algo em torno de 400 milhões de reais), algumas terras no Mato Grosso e a promessa da construção de uma estrada de ferro que auxiliaria o transporte de produtos bolivianos (a Bolívia não tem saída direta para o mar). O Brasil ainda pagou uma indenização de 110 mil libras esterlinas pela rescisão do contrato aos gringos do consórcio Bolivian Syndicate.
O presidente boliviano Evo Morales, costuma dizer que seu país deu o Acre, uma região 3 vezes maior que a Suíça, ao Brasil em troca de um cavalo. Realmente, ao final das negociações foi dado um belo cavalo brasileiro ao presidente Aniceto Arce. Comenta-se que preso ao lado inferior da sela, havia um maço de dinheiro ao nobre presidente, num evidente ato de corrupção.
O Tratado de Petrópolis teve seus documentos oficiais classificados como de segredo de estado, e mesmo hoje, 110 anos após sua assinatura, ainda é vedado aos historiadores e demais interessados.
Seria, segundo muitos, um dos motivos pelo qual o Itamarati é visceralmente contrário a Lei que atualmente tramita no Congresso, que acaba com o “sigilo eterno” dos documentos oficiais.
Certamente, neles poderíamos entender melhor as cláusulas não escritas que levaram a um dos negócios mais escusos da América Latina, e quanto, afinal “custou” aquele cavalo.
Prof. Péricles
domingo, 18 de agosto de 2013
O DIA QUE O MUNDO ACABOU
Os norte-americanos adorariam que a vida toda fosse como foram os anos 20 para eles. Enquanto a Europa saía alquebrada da I Guerra Mundial (1914-1918) com sua agricultura arrasada, sua indústria em frangalhos e dívidas externas (inclusive com os EUA) imensas, os Estados Unidos saíram dela vencedores e sem marcas debatalhas em seu território e com a economiasmais pujante do que nunca.
Nesse período, especialmente entre 1924 a 1929, conhecido como “Big Business” prédios antigos foram substituídos por arranha-céus e o mundo invejou profundamente a nação do norte, surgindo, inclusive a expressão “American Way of Life” para designar o modo americano de viver e progredir.
Consumiam de tudo, do útil ou supérfluo, boates lotadas todas as noites, sucessos imortais no cinema, o blues e o Jazz acompanhado de letras mais do que otimistas. Aliás, o otimismo era tamanho, que até se tentou acabar com uma doença, o alcoolismo, através de uma Leia, a “Lei Seca”.
Essa nação parecia representar a vitória definitiva da economia liberal (aquela que o governo interfere o mínimo na economia e por isso atua também o mínimo nas questões sociais).
Acreditasse que a catástrofe começou alguns anos antes de 1929, mas ninguém percebeu. Tanto que em 3 de setembro, o jornal The New York Times” anunciava um não recorde na Bolsa de Valores que havia virado paixão nacional, com investidores de todos os tamanhos.
Na semana que começou na segunda 21 de outubro, observadores notaram um número um pouco maior de ações postas à venda, mas ninguém deu muita importância, acreditando ser apenas uma flutuação natural.
Foi então que o mundo financeiroyankeacabou.
Na quinta-feira, dia 24 de outubro de 1929, o pregão da Bolsa já abriu num clima tenso. Uma enxurrada de ações começaram a ser postas à venda. Logo atingiu 6.091.870 títulos. Esse volume imenso puxou pra baixo as ações em geral (lei da oferta e da procura), desesperados, investidores colocavam suas ações a venda por preços cada vez menores, numa espiral enlouquecida que se auto-alimentava e acelerava cada vez mais.
Às 11:30 daquele dia, milhares de pessoas aglomeravam-se nas proximidades de Wall Street numa imensa nuvem de desesperados. Corria a notícia de boca em boca (notícia verdadeira) que onze conhecidos especuladores haviam se suicidado. Ao meio dia, finalmente, alguém tomou uma atitude e mandou fechar as portas da Bolsa de Nova York para evitar uma invasão iminente e uma tragédia humana de grande dimensão.
Claro que o governo deveria ter intervido para evitar o pior. Mas a economia era liberal, lembra? Governo jamais interferia na economia, etc. etc.
Na noite daquele dia que entrou para a história com o nome de “quinta-feira Negra” 3bancos estavam quebrados.
Ainda viria a segunda-feira negra (28 de outubro) e a terça-feira negra (29 de outubro) que concretizaria o colapso de todo o sistema financeiro do paí,saté então, uma ilha de progresso e prosperidade invejada pelo mundo inteiro. Iniciava-se um período chamado de “A Grande Depressão Econômica” que só seria realmente resolvida com o início da segunda guerra mundial em 1939.
Nesse período, milhares de pessoas que antes dispunham de excelente salário, foram para a fila do sopão doado pelo governo. Centenas de pessoas cometeram suicídio forçando o governo a implantar uma campanha de valorização e preservação da vida. Nos filmes de Chaplin, os bacanas tiram o lugar de Carlitos na fila dos desempregados. Os E.U.A. conheceram investidores, antes poderosos perambulando a esmo pelas ruas e até um caso trágico de um desses se jogando no rio Hudson, não sem antes comover e fazer chorar a todos que estavam próximos.
O mundo inteiro sentiu esse abalo.
Na Alemanha começa o caos econômico que levaria o Partido de Hitler a ganhar as eleições de 1933. No Brasil o café apodreceria nos portos à espera dos antigos compradores que não mais comprariam favorecendo as articulações que levaram à Revolução de 30.
As causas da catástrofe geram polêmicas até hoje. Resumidamente, para nosso maior entendimento poderíamos dizer que o que houve foi que, pelo completo afastamentodo Estado na economia, ocorreu uma superprodução de capitais. Uma superprodução de papel e ações. A vida ensinou que até riqueza quando produzida em excesso, gera problemas e tragédias.
Prof. Péricles
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
É O CRESCIMENTO DA RENDA, ESTÚPIDO
Uma economia que fez a renda média da sociedade dobrar em 17 anos não pode estar à beira do abismo
Embora tenha durado apenas o tempo de uma flor de manacá, a exposição do aumento dos índices de IDHM dos municípios do Brasil na mídia precisa ser recuperada. Talvez tenha sido a notícia mais importante do ano para os analistas que procuram olhar o Brasil sob a ótica das mudanças estruturais de nossa sociedade.
Os números são impressionantes e mostram um país que passa de uma posição vergonhosa no campo de desenvolvimento social para a companhia de sociedades mais justas e ricas. Mas essas informações entram em choque com o clima de que estamos próximos de um desastre e que tomou conta de boa parte dos agentes econômicos --empresários e financistas-- nos últimos meses.
Não é possível que uma economia que fez com que a renda média real da sociedade dobrasse em 17 anos esteja à beira do abismo, mesmo que os resultados nos últimos três anos sejam decepcionantes.
Em 1993, a renda média anual do brasileiro era --a valores reais de 2012-- de R$ 5.016,00, equivalentes ao câmbio também de 2012 a US$ 2.500. Em 2010, 17 anos depois, esse número atingiu R$ 10.884,00, ou seja, próximo de US$ 5.500. Um aumento de mais de 100% no período, o que corresponde a uma taxa anual composta de 4,7%.
Mesmo se tomarmos como base a renda média de 1994, início do período do real, os números chamam a nossa atenção. Nesses 16 anos, entre o início do período de estabilidade de nossa moeda e o fim do ciclo de crescimento em 2010, o aumento real da renda média do brasileiro chegou a 64%, ou seja, cresceu a uma taxa anual de 3,14%.
Todo economista sabe --ou deveria saber-- que o fator mais importante por trás das mudanças sociais é o crescimento econômico por um prazo longo. Importa menos a taxa anual de crescimento e mais a duração do período em que esse crescimento se sustenta.
Uma segunda verdade em que acredito é a que nos diz que o principal --e mais difícil-- fator por trás do crescimento econômico sustentado é o aumento da renda real das famílias. Isso é verdade principalmente em uma sociedade de cigarras como a nossa, em que o consumo representa mais de 2/3 do PIB (Produto Interno Bruto).
Por isso, os dados do Pnud da ONU, publicados recentemente, não surpreenderam a equipe de economistas da Quest Investimentos. Afinal, o quadro inicial das apresentações institucionais aos nossos clientes, desde 2007, apresenta um gráfico da renda real calculada pelo IBGE entre 1978 e 2013 e mostra, por meio de uma linha de tendência, seu comportamento nesse período.
Em 1979, último ano do milagre econômico dos militares, a renda real anual era de R$ 7.464,00. Em 1993, fim do período em que tivemos uma hiperinflação histórica, o brasileiro médio ganhava anualmente apenas R$ 5.016,00. Ou seja, uma queda de mais 30% em 14 anos. Podemos contar essa mesma terrível história dizendo que, nesse período negro, o brasileiro empobreceu em média mais de 2% ao ano.
A mais importante conseqüência desse longo período de crescimento que tivemos depois do Plano Real pode ser vista --a olho nu-- em uma fotografia da sociedade brasileira dividida em classes de renda. Ela também faz parte, desde 2006, das apresentações da Quest como um de seus pontos centrais.
Para chegar a ela, dividimos os brasileiros em apenas duas classes de renda: na primeira estão aqueles que estão inseridos na economia de mercado, ou seja, têm carteira de trabalho assinada, acesso a crédito bancário e no comércio e estão protegidos por programas sociais como aposentadoria, seguro-desemprego e outros que não o Bolsa Família.
Na outra classe, estão os brasileiros que vivem na informalidade e não têm acesso às instituições do mundo formal.
Em 1993, os brasileiros da classe formal representavam um terço da população, ficando o grupo informal com os outros dois terços. Hoje temos a situação oposta, ou seja, dois terços vivem no mundo formal e o outro terço no informal. Uma mudança extraordinária e muito difícil de ser encontrada na história das nações emergentes como a nossa.
Peço agora ao leitor que volte ao título desta coluna.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 70, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Consultor de economia para grandes grupos empresariais. Escreve às sextas-feiras, a cada 14 dias coluna na Folha de S. Paulo
domingo, 11 de agosto de 2013
10 DIAS MALDITOS NA HISTÓRIA BRASILEIRA
1. 20 de novembro de 1694: é morto Zumbi, líder da resistência de Palmares, mais importante quilombo da história do Brasil. A morte de Zumbi representou diretamente, o fim do próprio quilombo destruído por Domingos Jorge Velho. Indiretamente representou bem mais. Foi o fim das esperanças de uma negociação que acabasse com a escravidão abjeta e que a Coroa mudasse sua visão sobre as terras recuperadas após as invasões holandesas. Palmares se localizava na serra da Barriga, atual estado de Alagoas e essa data foi escolhida para celebrar o dia da consciência negra no Brasil.
2. 08 de novembro de 1799: São executados pela forca os quatro principais líderes da Revolta dos Alfaiates, ou Conjuração Baiana. Esse movimento foi extremamente popular reunindo inclusive lideranças negras, de ex-escravos. Suas principais exigências eram: Proclamação da independência, Abolição da escravatura, Proclamação da República, Diminuição dos impostos, abertura dos portos e fim do preconceito racial. Se tivesse obtido sucesso o país estaria mais perto de ser um país dos pobres e não dos poderosos como acabou sendo com a independência dirigida pelas elites.
3. 19 de maio de 1817: tropas portuguesas entram em Recife e encontram a cidade abandonado. Os rebeldes da Revolta dos Padres ou Insurreição Pernambucana, iniciada em março daquele ano, se rendem. Movimento extremamente nacionalista que repudiava o vinho português e incentivava o consumo de cachaça brasileira, o da farofa, o ritmo de tambores na música e que imaginou um Brasil brasileiro, chegou a dominar a província por 100 dias. Foi a última tentativa de se criar um país popular. Cinco anos depois, D. Pedro e a aristocracia escravagista iriam proclamar a independência que valeu.
4. 23 de agosto de 1840: morre o último rebelde nos igarapés do Pará pondo término à Cabanagem, movimento de revolta da população mais pobre dessa Província brasileira, que carecia de tudo. A grande infelicidade do movimento foi perder seu líder, o Padre Batista Campos, num acidente enquanto se barbeava. Os rebeldes tomaram Belém e surpreenderam pela determinação, mas as intrigas,divisões e oportunismos entre suas lideranças foram fatais e maior causa de sua derrota. Calcula-se que 40% da população do Pará (antes dos acontecimentos a população total era de 100 mil habitantes) tenham morrido nos combates. Duas tribos indígenas os Murás e os Mauês foram extintas.
5. 13 de dezembro de 1864: O Paraguai declara Guerra ao Brasil dando início a um conflito que iria extrapolar as questões estratégicas, tornando-se, no final, um verdadeiro massacre a esse país que até hoje não se recuperou completamente. No final da guerra, sob comando de Conde D’eu, genro do Imperador, houve de tudo. Decapitações, fuzilamentos da população civil e massacre de crianças. Para o Brasil, segue uma dolorosa lembrança de um tempo em que nosso país se tornou juiz e carrasco de um povo inteiro.
6. 24 de agosto de 1954: Madrugada. Diante da iminência de ser derrubado pelos militares, o presidente do Brasil, em pleno exercício do mandato, Getúlio Vargas, comete suicídio. Era o fim de uma crise que iniciara dia 5 daquele mês com o atentado da Rua Toneleros que feriu o jornalista e opositor de Vargas, Carlos Lacerda e matou o major do exército Vaz Monteiro. O suicídio chocou o país e o mundo. Definitivamente, não era a melhor forma, de terminar a “Crise de Agosto”.
7. 31 de março de 1964: Às 3 horas da manhã o General Olimpio Mourão Filho iniciou o movimento de suas tropas localizadas em Minas Gerais, em direção ao Rio de Janeiro. Era o início do golpe militar de 1964 que depôs o presidente João Goulart, o Jango, e instituiu no poder uma ditadura que durou 20 anos, aumentou a dependência econômica do país, cassou mandatos, perseguiu opositores, prendeu e matou em nome de algo etéreo denominado “Segurança Nacional” que exigia a luta contra os “comunistas” e “subversivos”, isso é, todo aquele que fosse contra a própria ditadura.
8. 13 de dezembro de 1968: Conhece o ditado que diz que nada está tão ruim que não possa ficar pior? Pois o regime militar que extinguira a frágil democracia no Brasil e sofria a resistência heróica de trabalhadores e principalmente, de estudantes, promoveu um golpe dentro de si mesma, nessa data, com a assinatura pelo General-Presidente Arthur da Costa e Silva do AI-5 (Ato Institucional nº 5). A partir da entrada em vigor desse repulsivo expediente jurídico criado nos quartéis, toda e qualquer atividade ficava proibida, (a simples reunião de mais de três pessoas poderia ser considerada reunião política). Os mecanismos de repressão policial-militar tipo DOPS, SNI, DOI-CODI etc. passavam a ter poderes ilimitados em suas ações, permitindo prisões sem mandatos e tortura. A delação foi incentivada. Funcionários públicos demitidos, gente presa e morta sem acusação formal e alguns, desaparecidos até hoje já que o regime jamais assumiu suas prisões e execuções.
9. 21 de abril de 1985: logo depois do Fantástico, na Rede Globo, é anunciado pelo porta-voz Antônio Brito, a morte de Tancredo Almeida Neves que, apesar de eleito indiretamente no ano anterior, representava a volta do país à normalidade política, já que sua posse e o fim do mandato do último General-Presidente, João Figueiredo, decretavam o fim da Ditadura Militar. Político mineiro, Tancredo que sempre militara no MDB durante a ditadura, havia baixado o hospital exatamente na véspera da posse. Fala sério, depois de vinte anos de ditadura o civil eleito morrer sem assumir... ninguém merece.
10. 15 de março de 1990: Toma posse oficialmente do cargo da Presidência da República, Fernando Collor de Melo, eleito em outubro de 1989. Collor tinha 5% de intenção de voto quando a campanha começou, mas foi maquiado e produzido pelos meios conservadores de comunicação, especialmente a Rede Globo de Televisão, para vencer, a qualquer custo. Sua eleição não pode ser questionada em sua lisura, mas foi lamentada profundamente por todos aqueles que sofreram na Ditadura Militar e esperavam pela volta das eleições presidenciais livres (a última havia sido há 29 anos). Apesar de se dizer representante do moderno, Collor representava as coisas mais ultrapassadas de nossa história, como o coronelismo, a manipulação da informação e a soberba dos poderosos. Como se já não bastasse, a vitória de seu modelo político significou a chegada do neoliberalismo ao poder e tudo aquilo que dele se temia e, infelizmente, se confirmou: desnacionalização da economia, privatizações às escondidas, desmoralização do serviço público e de seus servidores.
Prof. Péricles
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
OS 8 MELHORES GOVERNANTES DO BRASIL
A seguir uma lista dos “melhores”. Cada um deles nos leva a boas discussões em outro fórum. Aqui, tratamos apenas de realçar alguns pontos. Confira se você concorda com “Os 8 Melhores Governantes do Brasil”:
1 – Mem de Sá: Foi o terceiro governador-geral do Brasil. Veio pra cá para resolver os problemas que o governador anterior, Duarte da Costa, não conseguira resolver. Chegou em 1558 e por aqui ficou até sua morte em 1572. Sentindo-se doente passou os últimos anos pedindo ao Rei para voltar para casa, em Portugal, mas por sua enorme competência o rei ficou enrolando. Graças a ele e seu sobrinho, Estácio de Sá, os franceses foram expulsos. Proibiu a escravidão indígena e assim pacificou os índios. Combateu como pôde a bandidagem dessas terras habitadas por bêbados, homicidas, estupradores e criminosos de toda a espécie. Prendendo ou enforcando os principais desordeiros. Combateu também, a antropofagia e o homossexualismo, que hoje não seria politicamente correto, mas, na época afetava muito a cultura indígena. No seu governo foi fundada a cidade do Rio de Janeiro.
2 – Mauricio de Nassau: Entre 1637 e 1644. Funcionário dos holandeses que haviam invadido o Brasil. Em sua administração a parte do Brasil comandada por ele (Pernambuco e arredores) progrediu enormemente. Era apaixonado pela beleza da terra brasileira que chamava de “Nova Holanda”. Valorizou a produção do açúcar, aumentou o porto de Recife, embelezou Olinda, criou estradas, trouxe artistas que tornaram o Brasil conhecido na Europa e no Mundo. Quando foi embora, o Brasil ficou mais triste e a os holandeses começariam a ser expulsos do nordeste.
3 – Marquês do Pombal: Sebastião José de Carvalho e Melo jamais pisou em solo brasileiro. Mas, na condição de uma espécie de primeiro-ministro do rei D. José I, administrou as terras brasileiras entre 1750 e 1777. É uma figura polêmica, mas sem dúvida, um notável administrador. Foi ele, por exemplo, que reconstruiu Lisboa completamente destruída por um terremoto em 1755. Por aqui, foi ele o principal mentor e artífice do Tratado de Madri (1750) que definiu como brasileiras (portuguesas) as terras além de Tordesilhas que configuram o Brasil, praticamente como é hoje. Incorporou o Rio Grande do Sul ao restante do território, expulsou os jesuítas de língua espanhola que mandavam por aqui. Tentou criar uma rede escolar no Brasil que não tinha nada nessa área além da boa vontade dos padres. Sua idéia era criar 500 escolas, mas teve que desistir porque não apareceram nem 500 professores dispostos a trabalhar por aqui. Algo assim parecido com os médicos e as nossas carências na saúde de hoje em dia.
4 – D. João VI: Filho de mãe louca, casado com uma mulher que lhe odiava profundamente e o traia com todos, pai de dois filhos, um que amava e a política lhe tirou (D. Pedro) e outro que o odiava tanto quanto a mãe e que sempre pretendeu o trono (D. Miguel). Teve que correr de Portugal e disso nunca se recuperou se julgando um covarde. No final da vida perdeu quase todos os poderes para uma revolução liberal, a Revolução do Porto de 1820. D. João VI vivia em depressão. Como não havia prosac naquele tempo, comia compulsivamente, até guardando coxinhas de galinha no bolso da casava. Tornou-se obeso, amargo e infeliz. Mas não era incompetente como a historiografia oficial tenta lhe definir. No Brasil entre 1808 e 1820, anexou a Cisplatina (Uruguai) ao território brasileiro, criou o Banco do Brasil, calçou as cidades da capital, criou o Jardim Botânico, a Biblioteca Nacional e muitos outros melhoramentos.
5 – Padre Diogo Antônio Feijó: Naquele curioso período entre um Imperador e outro, que chamamos de Período Regencial (1831-1840) foi o Regente único entre 1835 a 1837. Racista, reacionário e violento, o Padre Feijó recebeu o apelido de “o padre de ferro” por sua obstinada luta contra os movimentos que ameaçavam a unidade nacional com várias províncias buscando a independência (Rio Grande do Sul, Bahia, Para, Maranhão). Fundou o Partido Liberal que junto com o Conservador, governou o Brasil por todo o Segundo Reinado. Criou a Guarda Nacional que daria origem ao coronelismo. Morreu cego, numa cadeira de rodas, mais amargo do que nunca, porém orgulhoso de que o Brasil, muito por sua causa, continuava do mesmo tamanho.
6 – Mal. Floriano Vieira Peixoto: era vice e quando o Presidente Deodoro da Fonseca renunciou em 1891 deveria providenciar novas eleições. Mas, ao contrário assumiu plenamente o cargo e governou até 1894. Positivista, defendia a industrialização e por isso, a classe dominante brasileira, os produtores de café, lhe fizeram obstinada oposição. Mas foi rígido em suas idéias. Jamais tirou o eterno palito de dentes da boca, mesmo quando falava com os poderosos. Todo o domingo jogava gamão na praia de Copacabana com os amigos e qualquer um podia falar com o Presidente. Foi chamado de “o consolidador da República”, pois com mão de ferro derrotou duas revoltas da Armada (Marinha de Guerra), a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (Chimangos e Maragatos) e várias conspirações de quartel incentivadas pelos aristocratas. Era odiado pelos ricos e amado pelos miseráveis. Morreu um ano após deixar o governo e levou milhares de pessoas, todos pobres, para o seu enterro.
7 – Campos Sales: paulista, foi o primeiro presidente a combater seriamente a dívida externa brasileira através de um programa chamado “Funding Loan” onde uniu todas as dívidas num condomínio, decretou moratória por dois anos e estabeleceu uma política de austeridade nos gastos do governo. Cortou o cafezinho e criou uma Lei sobre os selos que provocou o ódio da população e o apelido de “Campos Selos”. Estruturou o poder das oligarquias da República Velha criando a chamada “política dos governadores”. Governou na passagem do século, de 1898 a 1902.
8 – Getúlio Dorneles Vargas: Talvez a figura mais polêmica da história do Brasil. Poderia constar na lista dos piores se sua atuação fosse vista apenas pelo lado ditador e populista. Mas, pela sua atuação como estadista e por ter de fato encaminhado o Brasil para a industrialização, criando uma indústria de base, além de promover, de um jeito ou de outro, a legislação trabalhista no Brasil (CLT), a política sindical e a estatização do monopólio do petróleo com a fundação da Petrobras em 1953, merece estar, também, na lista dos melhores. Governou como líder de uma revolução vitoriosa entre 1930 a 1934, designado pela Constituição de 1934 a 1937, como ditador entre 1937 a 1945 e finalmente como presidente eleito entre 1951 até seu suicídio em 1954. Na história do Brasil deu nome a uma época, a Era Vargas.
Concorda comigo? Discorda?
Mande para o Blog sua opinião ou sugestão. Experimente fazer a sua própria lista.
Abraços,
Prof. Péricles
terça-feira, 6 de agosto de 2013
OS 10 PIORES GOVERNANTES DO BRASIL
Jânio e a Indecisão |
Caramba, são tantos os candidatos que fica difícil fazer uma seleção. Assim não dá.
Mas, a partir de muito esforço, aspirinas e horas com o analista, criamos, a pedido de nossos alunos, a lista dos 10 maiores bolas foras da história administrativa do Brasil.
A lista é pessoal, portanto, sujeita às críticas e sugestões. Os nomes estão apresentados por ordem cronológica e não de incompetência, pois aí já seria uma missão impossível...
OS 10 PIORES GOVERNANTES DO BRASIL
1. Duarte da Costa: Segundo Governador-Geral do Brasil pode ser considerado exemplo de incompetência administrativa. Em sua administração que foi de 1553 a 1558 provocou tanto os índios que estes, pela primeira e última vez, se uniram contra os portugueses. Os franceses invadiram a Baia da Guanabara e se não bastasse, seu filho e o primeiro bispo do Brasil D. Pero Fernandes Sardinha, brigaram em público provocando o maior barraco. O bispo morreu de forma misteriosa.
2. D. Pedro I: conseguiu o milagre de, em apenas 9 anos tornar-se de herói nacional em vilão detestado por quase todos. Fechou a Constituinte e impôs uma Constituição nos moldes dos maiores ditadores. Reprimiu um movimento com extrema brutalidade (Confederação do Equador) exigindo a execução de um padim adorado pelos nordestino (Frei Caneca). Perdeu a Cisplatina (Uruguai) numa guerra quase sem batalhas e provavelmente, mandou matar um jornalista que pegava no seu pé (Líbero Badaró). Ainda achou tempo para se envolver com toda a mulherada da corte e da senzala tendo mais de 50 filhos bastardos, segundo pesquisas.
3. Mal. Deodoro da Fonseca: Proclamou a República só para impedir que o cara que lhe roubara a namorada, o senador Pinheiro Machado, o fizesse. Colocou um amigo inteligente, mas que não sabia nada de economia, Rui Barbosa, como Ministro da Fazenda e por causa disso o Brasil sofreu a crise econômica do Encilhamento. Sem paciência. Puxou a velha espada e tentou fechar o Congresso, mas foi vaiado pelos companheiros, ameaçado pela Marinha e renunciou.
4. Hermes da Fonseca: Presidente do Brasil de 1910 a 1914. Gaúcho de São Gabriel mas odiava o Rio Grande do Sul quase tanto quanto o Rio Grande do Sul o desprezava. Inventou artifício jurídico para colocar interventores nos estados em que não gostava dos governadores e chamou isso de “Política de Salvação Nacional”. O que conseguiu foi uma crise enorme, uma revolta de um padre muito doido (Padre Cícero) no Ceará e, acabrunhado, teve que voltar atrás e pedir perdão.
5. Washington Luis: de nome bem brasileiro foi presidente do Brasil de 1926 a 1930. O Brasil havia mudado, a crise da bolsa de NY em 1929 acabara de vez com o café brasileiro, o povo, o exército, o mundo, queria mudanças e mesmo assim insistiu com as fraudes para manter a República Velha. Quase jogou o país numa Guerra Civil e acabou, humilhantemente sendo convencido a vazar do poder e se exilar na Europa.
6. Eurico Gaspar Dutra: Presidente de janeiro de 1946 a janeiro de 1951. Esse militar simpatizante do fascismo integralista conseguiu em um só governo jogar fora todas as divisas acumuladas por Vargas no período da 2ª Guerra Mundial. Eleito com apoio dos donos de cassinos, proibiu os jogos de azar no país. Aderiu decididamente ao bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos na Guerra Fria e o país tornou-se subserviente à essa nação estrangeira.
7. Juscelino Kubitschek de Oliveira. Endeusado pela direita brasileira, JK governou o Brasil de 1956 a 1961. Ofereceu um plano de metas que não cumpriu. Abriu as fronteiras do país para o capital internacional e as transnacionais. Acabou com as ferrovias em nome das rodovias que representavam a “modernidade”. Criou uma bomba-relógio inflacionária que explodiria no governo dos outros. Perto da corrupção para a construção de Brasília o que dizem que rola de corrupção nas obras da Copa é brincadeira de criança.
8. Jânio Quadros: dispensa maiores comentários. Eleito Presidente com uma plataforma conservadora que prometia o combate à corrupção, que seria varrida do país, e adorado por milhões de brasileiros, Jânio ficou apenas 7 meses no cargo (de janeiro a agosto de 1961), renunciando sem nenhuma explicação plausível. A crise gerada por sua renúncia não provocou uma Guerra Civil, mas bateu no poste (a Campanha da Legalidade). Conseguiu de forma inédita, desagradar os conservadores (se reaproximou da URSS, condecorou Guevara) e os liberais.
9. Os Governos Militares: devem ser vistos em bloco, pois, os próprios generais que adotaram o título de presidente reconheciam ser apenas soldados do regime no cargo. Os governos militares criaram crises financeiras notáveis, inflação em patamares inéditos na América do Sul e aumentaram de forma avassaladora as desigualdades sociais. Entretanto, usando artifícios mirabolantes como o “Milagre Brasileiro” tentaram convencer a nação que o Titanic ainda flutuava. Além disso, especialmente entre 1969 e 1974, desenvolveram a mais criminosa repressão já vista no Brasil e a isso chamaram de “Guerra”.
10. Fernando Collor de Melo: Entre 1990 e 1992 representou a chegada do neoliberalismo no poder. Iniciou as privatizações, algumas, nunca devidamente esclarecidas, e foi derrubado de forma humilhante por um processo de impeachment.
Eu sei, eu sei que está faltando muita gente, mas ela só comportava dez. Quem discordar da lista esteja a vontade para enviar seus comentários à esse Blog. Faça você também a sua lista.
Prof. Péricles
domingo, 4 de agosto de 2013
DEMOCRACIA, A HISTÓRIA DE UMA MENTIRA - FINAL
Há uma confusão evidente entre democracia e eleições. Ocorre até mesmo uma inversão de causa e efeito quando se acredita que as eleições sejam a causa primeira para que exista democracia, e não uma conseqüência desta.
As eleições por si mesmas não atestam nada, muito menos que exista democracia.
Em Atenas os cidadãos levantavam as mãos para votar. Era a chamada Democracia direta, participativa, mas já vimos que nem por isso a democracia ateniense era real.
O voto, aliás, isoladamente, não representa muita coisa.
No Brasil Império (1822-1889), a Constituição de 1824 estabeleceu eleições para deputados e senadores. O voto era censitário, ou seja, votava apenas quem comprovasse renda, no caso, 100 Contos de Réis/ano. Isso excluía a grande maioria da população, mas por incrível que pareça, era considerado democrático pois estimularia as pessoas a trabalharem mais e a ganharem mais...
Quando foi proclamada a República no Brasil (1889), a Constituição de 1891, eliminou o voto censitário e o substituiu pelo voto universal. Voto universal, que beleza! Podiam votar todos os brasileiros... homens, maiores de 18 anos, alfabetizados e com juízo em ordem... e mais uma vez a grande maioria dos brasileiros estava excluída (só as mulheres eram algo como 50% do total da população).
Em ambos os casos nesse período de 112 anos (1822 a 1934) existiam eleições, mas nem por isso, existia democracia.
Além disso, de que adianta haver eleições se os eleitores não estiverem preparados para escolher? Se a opinião é formada pela propaganda, pela mídia, ou por qualquer das partes interessadas diretamente no resultado das eleições, o voto resultante é democrático?
Se democracia é a expressão da liberdade a partir do exercício da cidadania de cada um respeitando-se o direito da maioria, talvez devêssemos atentar para o fato de que não existe liberdade sem educação, não a educação formal, mas a educação para a própria liberdade.
Será que sabemos ser livres? Será que as aves já nascem voando ou precisam da educação das alturas para os primeiros vôos?
É preciso educação para a liberdade. É preciso entender até onde vão os nossos direitos e onde começam os direitos dos outros. É preciso fazer brotar em nós mesmos, em nosso íntimo, o respeito pelas necessidades alheias além, muito além, das nossas próprias necessidades. A educação para a liberdade jamais virá de governantes, pois isso implica repensar valores e conceitos que a cultura judaico-cristã e capitalista encravou em nossas almas. Assim sendo, um processo íntimo e doloroso, mas sem o qual, não existe liberdade e sem liberdade não existe democracia.
Se as ovelhas não forem educadas sobre as leis da natureza acabarão sempre elegendo os lobos.
É necessário entender que a democracia é uma obra em construção interna e que seus pilares estão na educação para a igualdade. Aceitar a idéia simples de que nem sempre temos razão e mesmo quando ela está do nosso lado, não temos o direito de impor a nossa visão das coisas, pois, o início da nossa liberdade está exatamente no respeito à liberdade do outro.
Não se vive num estado democrático e jamais haverá liberdade se um só continuar escravo da ignorância, do preconceito e do egoísmo. Não se vive a democracia enquanto alguns se jactarem de ser "formadores de opinião".
Enquanto os povos acreditarem numa sociedade justa vinda de cima para baixo fruto do mérito paternalista de um governo bonzinho, o “discurso de Péricles” continuará predominando e sendo um instrumento para produzir a ilusão de igualdade mantendo as desigualdades, e a democracia continuará sendo a história de uma mentira.
Prof. Péricles
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