terça-feira, 16 de outubro de 2012
QUEM COM FERRO FERE
A violenta miséria, o abando do poder público e os desmandos dos latifundiários criaram o cangaço, e a figura do cangaceiro varreu o sertão num misto de banditismo e heroísmo na memória nacional.
É a velha Lei da violência que gera violência.
Na década de 70, em determinado momento, sentindo-se à vontade na “guerra” que empreendia contra as organizações de luta armada, a Ditadura Militar resolveu que os presos políticos deveriam ficar detidos junto com os presos autores de crimes comuns. Julgavam que, dessa forma estariam impondo uma certa humilhação ao inimigo, acabando com qualquer “privilégio”.
Conforme declaração dos fundadores do Comando Vermelho foi a partir daí que nasceu o crime organizado no Brasil. Não que os prisioneiros políticos tivessem dado a idéia e feito cursinho, mas pela observação e imitação que eles, ditos criminosos comuns, fizeram da organização e da inteligência dos grupos políticos.
Diz o dito popular que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Dentro dessa lógica, tentando humilhar a Ditadura criou um monstro.
Mas, parece que o Estado demora a aprender com seus erros, ou não se importa.
Vinte anos depois do massacre do Carandiru (outubro/1992), especialistas no assunto ouvidos pela BBC Brasil concluíram que foi essa tragédia humana inominável que resultou na morte de 111 homens sob a tutela do estado, um dos mais importantes nascedouros do PCC (Primeiro Comando da Capital) a mais estruturada facção criminosa de São Paulo.
O PCC foi criado por um grupo de presos em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia de Taubaté pouco menos de um ano depois do massacre do Carandiru.
Os principais objetivos da facção eram combater os maus tratos no sistema prisional e evitar novos massacres como o de 1992, segundo o jornalista Josmar Jozino, autor de três livros sobre o PCC, entre eles “Xeque-mate, o Tribunal do Crime e os Letais Boinas Pretas” (Ed. Letras do Brasil).
Cobrando mensalidades de seus “associados”, a organização criou uma rede de apoio aos criminosos, que inclui contratação de advogados e apoio financeiro às suas famílias.
A facção também expandiu suas ações para fora dos presídios. Passou a controlar parte do tráfico de drogas em São Paulo, fazer parcerias com facções de outros Estados, alugar armas para ações criminosas e até assumiu o controle de rotas internacionais de entrada de entorpecentes no país.
No momento em que a violência urbana assusta a todos e, em que sobre a temática se debruça a sociedade civil buscando soluções, seria interessante a reflexão sobre a ação e a reação, sobre o ferir com o ferro e por ele ser ferido.
Parece evidente que o preço de uma sociedade mais humana e menos violenta seja ações do poder público mais humanas e menos violentas, que inclui o entendimento da violência como um fenômeno social inserido no elenco das consequências das desigualdades e das várias formas de violência contra a cidadania.
Enquanto isso não acontecer e as autoridades entenderem que a violência se resolve com violência, continuaremos reféns do crime e vivendo como assustados sobreviventes, cada vez mais protegidos sobre grades, no lugar dos criminosos. As empresas de segurança privada continuarão faturando alto e os meio de comunicação tendo farto material para as suas indignações diárias.
Prof. Péricles
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