sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

SOMOS TODOS ASTRONAUTAS



Viajando nessa nave incansável, no seu rodopiar maluco sobre sua estrela e sobre si mesma, somando dias, contando tempo e envelhecendo pois faz parte do ensinamento.

Alguns sem enxergar além de seu umbigo, não se importam além dos seus interesses não ousam nem acrescentam.

Outros se endureceram, mas não perderam a ternura jamais acreditando num futuro mais cúmplice.

Há os que percebem o real sentido de sua viagem e buscam escalar os seus mais loucos sonhos, como desbravadores, pioneiros em terras desconhecidas. Também tem os que preferem o recolhimento sobre si mesmo, o recesso do indefinido apostando apenas no concreto, que na verdade, na verdade, é mais inconstante que o grão de areia no deserto.

Muitas vezes o olhar queimado pelas fogueiras das horas que a tudo aniquila, se recolhe entre as estrelas e o questionamento do significado da vida desponta com desapontamento. Mas, nem por isso na primeira madrugada tudo deixa de reiniciar afoito quando até fazemos amor, alguns como famintos e desesperados, outros porém fartos e saciados.

Somos meninos e meninas viajantes de uma estrada cujas curvas são apenas miragens. Rumamos para o infinito, cada um com sua máscara preferida. Há princesas e príncipes, guerreiros e covardes, e também mendigos e loucos mambembes donos de calçadas. Existem as bruxas e os fantasmas, existem reis, as baronesas, os sem terra e os sem consciência.

No grande carnaval da vida, todos querem experimentar todas as máscaras, mas poucos, vão além da primeira experiência.

E juntos, nesse momento de aparente recomeço nos juramos melhores daqui pra frente. Puro engano, pois só se melhora por dentro e com tempo, e não na simples troca de roupa dos anos, como por encanto.

Somos astronautas voando juntos pelo cosmos. Tolos nem mesmo nos conhecemos preferindo o isolamento de nossos casulos. Não nos curtimos, não nos sorrimos, não trocamos poesia nem brincamos de esconde-esconde, muito menos nos amamos, e quando amamos queremos a propriedade com papel passado, testemunha e tudo.

Somos astronautas num louco vôo de mariposa que busca a luz, mesmo sendo ela nosso final de vôo.

Que em 2013 todos os amigos que nos prestigiaram tenham tempo e vontade para tecer planos de crescimento humano como a aranha tece a teia, pois na verdade estamos todos interligados e somos um, e não milhões.

Sejamos mais serenos e mais fraternos. Que a sensibilidade nos permita o choro, pois só não chora quem nunca viveu de verdade.

Desejo a todos, muitos banhos de chuva, muito cheiro de terra molhada nas narinas, muitos amores mesmo que dêem em nada. Muitas risadas de piadas idiotas e tempo jogado fora com os amigos. Desejo muitos e muitos atrasos no serviço devido o excesso de carinho e de amor com a pessoa amada.

Que tenhamos no olhar a inocência das crianças, e que realmente nos importe a felicidade alheia, e que nos comova a dor dos outros.

FELIZ 2013, e muito obrigado por sua companhia.

Prof. Péricles

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - FIM



A Revolução Federalista terminou com a vitória política e militar completa dos Chimangos Republicanos. O poder de Júlio de Castilhos não sofreria mais contestações.

As lideranças maragatas foram duramente perseguidas e, muitos acabaram mortos ou se exilando no Uruguai.

Júlio de Castilhos se manteria no poder até 1898, ano em que abandonou a vida política, tendo o cuidado, entretanto, de assegurar a posse de seu sucessor Borges de Medeiros (foto).

Borges de Medeiros governaria o Estado por trinta anos (até 1928) tendo apenas um pequeno lapso fora do poder entre 1909 e 1913.

Durante o governo de Borges de Medeiros o Rio Grande do Sul se consolidou com 3ª maior oligarquia nacional. Embora nenhum gaúcho chegue à presidência da República (Hermes da Fonseca, nascido em São Gabriel e Presidente entre 1910 e 1914 não representava o grupo gaúcho), o estado era uma espécie de eminência parda no poder, representado por Pinheiro Machado, senador de livre Trânsito no poder.

Apesar da sincronia com o poder federal o estado permaneceu sendo predominantemente positivista, ao contrário do restante do país de características liberais.

Nos anos que se seguiram o Brasil e o Rio Grande do Sul conheceriam mudanças importantes, principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nesse período, envolvida em combates, a Europa diminuiria drasticamente sua produção industrial de bens, abrindo espaço para o crescimento industrial em outros pontos da terra. Um desses pontos foi o Brasil.

A indústria que surgiu aqui era uma indústria simples, de bens de consumo (diferentemente da indústria de base da Era Vargas), e em dois estados houve possibilidades reais para o seu crescimento: São Paulo graças ao acúmulo de capital e infraestrutura gerado pelo café e o Rio Grande do Sul, por sua visão positivista favorável a esse tipo de economia.

O estado gaúcho vê surgir as primeiras metalúrgicas (Bertha) e indústrias de bens (Wallig e Renner). Cresce a população urbana composta por operários da indústria e diversifica-se o comércio.

Porém, o Rio Grande do Sul ainda é um estado governado pelos mesmos setores que haviam vencido a Revolução Federalista, representados por Borges de Medeiros. Estes novos estamentos sociais não encontram no velho caudilho, qualquer representatividade. Por isso, irão se apoiar numa figura que representará as novas idéias, os novos tempos.

Essa figura será o veterano político Joaquim Francisco de Assis Brasil e o seu Partido Federalista.

Nas eleições de 1922, as forças que disputariam o governo do estado estavam claramente postadas: de um lado o PRR do eterno Borges de Medeiros e do outro Assis Brasil, representando as novas forças econômicas.

A campanha se desenrolou com extrema violência, sendo os partidários de Assis Brasil perseguidos, agredidos e alguns mortos.

Além de anti-democrática a vitória de Borges de Medeiros provocaria ainda, inúmeras acusações de fraude.

Os tambores da guerra voltaram a ser ouvidos nos Pampas e em todas as estâncias.

Os velhos maragatos iriam colocar novamente o lenço vermelho no pescoço, dando origem a uma segunda Revolução Federalista, a Revolução Assisista de 1923.

A 2ª Revolução Federalista ou Revolução Assisista iria transcorrer durante todo o ano de 1923, findando apenas com a assinatura do Pacto de Pedras Altas em 14 novembro daquele ano (foto).
Por esse pacto, Borges de Medeiros cumpriria seu mandato, mas seria afastado da vida política no final de 1928,
Isso possibilitaria ascensão de Getúlio Vargas como Presidente do Rio Grande do Sul, o que o lançaria, dois anos depois ao poder supremo da Presidência da República como líder da Revolução de 30.
Mas isso, já é outra história.


Prof. Péricles

domingo, 23 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - OS MITOS (2)


Gumercindo Saraiva é considerado um dos maiores estrategistas da Revolução Federalista (1893/1895) ocorrida no Rio Grande do Sul. Certamente, o mais destacado militar entre os Maragatos.

Após uma batalha vencida pelos lenços vermelhos, Gumercindo, como estrategista que era, passou em revista o campo de batalha. Sozinho, no lombo de seu cavalo, percorreu o terreno onde se dera o entrevero, buscando entender melhor, o que fizera de correto e o que poderia ter sido feito melhor.

Um pouco além as forças dos Chimangos batia em retirada. Haviam perdido o confronto, mas ainda assim, levavam consigo alguns prisioneiros. Um desses prisioneiros, olhando para trás, reconhecendo a figura quase mítica de seu líder, exclamou, baixo, porém audível, “o general”!

Os Chimangos estancaram. Quem? O prisioneiro não repete, nega a informação involuntária, mas é tarde. Os federalistas já sabiam que, aquele senhor montado a cavalo, absolutamente sozinho, era Gumercindo Saraiva, caudilho responsável pela resistência e pelas vitórias maragatas.

Fiel ao ódio e a total falta de cavalheirismo, que caracterizaram aquele conflito, um atirador de elite foi enviado o mais próximo possível do homem a cavalo. Na distância de um tiro, o soldado chimango fez pontaria, calma e demoradamente e então, disparou.

O projétil atingiu Gumercindo no abdômen. Ele se curvou para a frente, mas agarrou a crina de sua montaria, e não caiu. Enquanto o atirador se afastava, feliz e sorrateiro, Gumercindo foi alcançado por suas ordenanças. O pânico se estabeleceu. O ferimento era gravíssimo.

Sendo a estratégia federalista (maragatos), o deslocamento constante, para evitar o certo dos republicanos (chimangos), em número muito maior, ao meio da tarde já se encontravam longe de onde acontecera a batalha, Gumercindo perdia muito sangue e também a consciência. Ao cair da noite, entre revoltados e desesperados, seus homens perceberam que o Patrão Velho chamava o velho caudilho para os Pagos celestes. Gumercindo Saraiva estava morto.

Seu corpo foi enterrado numa cova à beira da estrada, em local não identificado. Foi coberto com terra entre soluços disfarçados de seus guerrilheiros (pois Maragato não chora), que inconscientemente percebiam que a guerra estava sendo perdida ali. Em seguida, partiram como o General teria ordenado, mas agora, numa montaria muito mais solitária, acompanhada apenas, pelo clarão da lua. Não puderam nem mesmo colocar uma cruz na sepultura improvisada, para não chamar a atenção do inimigo.

O inimigo, aliás, reforçado por outras tropas, chegou logo no primeiro canto do Quero-Quero naquele ponto da estrada. Seguiam a pista deixada pelos cavalos dos maragatos, e sabiam do grave ferimento de seu comandante. Olhos atentos em qualquer indício de parada, ou movimento estranho. Foi então que um batedor percebeu a terra remexida, no início de uma curva.

Excitados pela possibilidade do que poderiam encontrar, desenterraram a cova, com as próprias mãos. Ao retirar o último punhado de terra que recobria o rosto do morto, urraram de prazer.

Impulsos cruéis levaram a que se decapitasse a cabeça do defunto, que foi, em seguida, colocada numa caixa de chapéu. Um emissário, usando o mais rápido cavalo disponível, voou para Porto Alegre. Missão: entregar a carga macabra ao Presidente do estado e líder máximo republicano: Júlio de Castilhos. Em dois dias no lombo do tordilho o mensageiro atinge o Palácio governamental.

A coisa que Júlio de Castilhos mais queria, era saber da prisão ou morte de Gumercindo Saraiva, ciente do seu valor como líder militar e estrategista. Porém, Júlio de Castilhos, jornalista e político positivista, não pertencia às batalhas, dirigidas pelo seu estado-maior. Não se contaminara pela barbárie e pelo sadismo daquela guerra. Sua civilidade estava intacta. Por isso, longe de se rejubilar com o “presente”, se horrorizou diante da visão bestial e jogou para distante a caixa com a cabeça, já em decomposição. Em seguida, recuperado do susto, ordenou a seu secretário que levasse dali aquele inominável “troféu” e o enterrasse com todo o respeito que o falecido merecia.

A partir daqui, os fatos se confundem com as lendas. A cabeça do comandante, jamais foi enterrada, ou se foi, o local de seu repouso, jamais foi revelado. Dizem os velhos guerreiros que Gumercindo ressurgiu da morte devido à grave ofensa que seu corpo insepulto sofrera. Dizem os sobreviventes daqueles tempos de ódio, que Gumercindo Saraiva vaga pelas noites de Porto Alegre, procurando sua cabeça e vingança.

Por isso, forasteiro, observe o silêncio das ruas do centro antigo. Da Duque de Caxias ao Mercado Público. Da Praça D. Feliciano ao Gasômetro. Na Riachuelo (Rua da Ponte), na General Câmara (Rua do Ouvidor), na Caldas Júnior ou na Borges de Medeiros. Se a sensação de ser observado acelerar teu coração, ou se um arrepio, sem motivo aparente, percorrer a tua espinha...evite olhar para trás. Se o fizer, talvez veja, entre as brumas noturnas que vem do Guaíba, um homem, com um chapéu na mão e encoberto por um velho ponche. Não estranhe se ele estiver sem cabeça. Nesse caso, não corra, nem grite. Faça a saudação dos maragatos e tente seguir o seu caminho... talvez consiga.

Prof. Péricles
Texto postado no Blog em 04/2011

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - OS MITOS



No cemitério de Santa Tecla, aproximadamente a oito quilômetros de Bagé, está enterrado uma das figuras mais conhecidas da Revolução Federalista. Adão Latorre, tenente-coronel do Exército uruguaio e oficial maragato na Revolução Federalista.

Nos tempos de ódio que antecederam a tempestade, muitos crimes foram cometidos devido às velhas rixas.

Uma delas ocorreu quando o Coronel Republicano Manoel Pedroso depois de atear fogo na Estância do Limoeiro degola os pais de Adão Latorre. Com o objetivo de vingar seus pais, Adão Latorre se apresenta como voluntário aos rebeldes maragatos.
Na célebre batalha do Rio Negro, o coronel Pedroso estava entre chimangos feito prisioneiros.

Ao perceber as intenções de execução dos Maragatos, ocorreu segundo João Maria Colares, em “História de Bagé”, o seguinte diálogo:

- Cel. Pedroso: Adão, quanto vale a vida de um homem valente e de bem?
- Adão Latorre: De bem... não sei. A vida de um homem vale muito, a tua não vale nada porque está no fio de minha faca e não há dinheiro que pague.
- Cel. Pedroso: Pois então degola “negro filho da puta”. Dito isso segurou-se a um arbusto, levantando a cabeça para facilitar a tarefa ao inimigo.

Dizem ainda que o Coronel pediu a Adão para que entregasse um anel de seu uso a uma filha residente em Pelotas, segundo informações foi cumprido o feito por Adão Latorre.

Segundo as histórias que se contam á noite, no chiar da chaleira, naquele dia Adão Latorre matou, além do coronel que jurara matar, mais 300 prisioneiros republicanos e no drama da guerra que se seguiria, se tornaria o maior de todos os degoladores. Até seus companheiros se constrangiam com sua presença, dita, maldita e condenada.

Latorre sobreviveu a Revolução Federalista e nos anos seguintes viveria de forma tranqüila e pacata nas terras de seus pais.

Em 1923 ao estourar a segunda revolução Federalista (Revolução Assisista) novamente pegaria em armas, ao lado dos maragatos de Assis Brasil.

Segundo consta, o maior degolador do Rio Grande, então com 80 anos, foi fuzilado numa emboscada armada pelo Major Antero Pedroso, irmão de Manoel Pedroso. Logo depois, seu corpo foi decapitado.

Foi enterrado sem qualquer cerimônia no cemitério de Santa Tecla onde se encontra até hoje, juntamente com seu irmão, o major João Latorre.

Adão Latorre, o maior degolador do Rio Grande do Sul, produto do ódio e dos horrores de uma guerra que banhou o estado de sangue.

Prof. Péricles

domingo, 16 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - TRAUMAS DE GUERRA



Bagé, 23 de novembro de 1893. Fumaças ainda predominam no ar e brotam dos corpos de combatentes mortos.

Às margens do Rio Negro (atualmente território de Hulha Negra) ainda ouve-se gemidos. É final de tarde e os Maragatos, com seus lenços vermelhos, acabaram de vencer a importante batalha do Rio Negro.

Entre mortos e feridos 300 Chimangos estão amarrados e imobilizados. Sobreviventes derrotados da batalha eles agora são prisioneiros de guerra, amontoados em um cercado (mangueira de pedra) para o gado que o povo chamaria mais tarde de “O Potreiro das Almas”.

Durante aquela tarde, até os últimos raios de sol, um a um, aqueles 300 homens serão degolados. Trezentos corpos, alguns, inteiramente sem cabeça irão ser abandonados no charco fétido entre o estrume do gado.

O povo da região afirma categoricamente que o lugar é amaldiçoado e em certas noites sem lua ainda se ouve o barulho da carne sendo estraçalhada e de gritos de pavor. Ninguém, até hoje, fica muito tempo próximo ao Potreiro das Almas.

Pouco mais de quatro meses depois, na Batalha do Boi Preto em 5 de abril de 1894, 250 prisioneiros maragatos são degolados em represália ao massacre do Rio Negro. Muitos foram, ainda, torturados antes da execução.

Desde então a degola e seu ritual macabro tornaram-se rotina e a contabilidade dos degolados, um elemento da guerra.

Pelo menos 10 mil pessoas morreram na Revolução Federalista, além de um incontável número de feridos. Alguns milhares foram degolados após serem feitos prisioneiros.

Com o tempo surge a triste figura do degolador, militar que carregava consigo a adaga de ceifar vidas. Marchava no meio da coluna para se defender dos franco atiradores. Era odiado pelos inimigos e temido e abandonado até pelos companheiros que diziam ser, o degolador, um ser das sombras. Homens do campo, rudes, acostumados a carnear animais, os degoladores se tornaram símbolos dessa guerra e suas histórias repetidas nas conversas de fogo de chão nos galpões de campanha.

Na degola convencional à moda gaúcha, a vítima, ajoelhada, tinha as pernas e mãos amarradas, a cabeça estendida para trás e o degolador com a destreza adquirida nas lides do campo, executava dois profundos cortes na jugular provocando dois esguichos de muita pressão. O sangue saltava por alguns metros. Quando a raiva preponderava o talho era profundo fazendo a cabeça manter-se sobre os ombros apenas por um fio de pele.

Na moda dos Maragatos, denominada de “Gravata Colorada” a faca cortava fundo a carne de orelha a orelha num talho em forma de meia lua. Depois, a língua era puxada para baixo ultrapassava o corte, ficando exposta ao lado de fora da garganta.

A Revolução Federalista, sem dúvidas, deixou traumas que ainda hoje o Rio Grande tenta esquecer.

Prof. Péricles

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - OS LÍDERES



Ele sempre surpreendeu.

Num tempo em que política era feita por homens velhos, geralmente de barbas e cabelos brancos, ele, apesar de jovem, exercia uma liderança inédita e surpreendente.
Formou-se advogado pela Faculdade de Direito de São Paulo, mas atuou como se fosse jornalista, inclusive dirigindo o Jornal “A Federação” que fazia campanha pela republica e pela abolição da escravatura, em pleno exercício da monarquia.

Nascido em Vila Rica (hoje Júlio de Castilhos), distrito de Cruz Alta em 29 de junho de 1860, Júlio Prates de Castilhos foi presidente do Rio Grande do Sul, líder maior do PRR (Partido Republicano Rio-grandense) e defensor fervoroso das idéias positivistas que faria questão de permear a Constituição do estado, da qual foi o principal autor. Constituição, aliás, conhecida como a única constituição positivista do mundo.

Ao longo da Revolução Federalista, encarnaria a face dos Chimangos, ou Pica-paus, da qual foi o grande vencedor, graças ao apoio do governo central e das tropas enviadas pelo presidente Floriano Peixoto.

Agora surpreendia novamente.

Enquanto todos esperavam que após a vitória militar no conflito ele fosse estabelecer um longo período no poder, anunciava sua renuncia em favor do seu discípulo, Borges de Medeiros, e ainda, sua retirada da vida pública.

Ninguém entendeu.

Só ele entendia bem.

Só ele sabia o quanto amava sua esposa, acometida de depressão profunda com grave tendência ao suicídio.

Teria que optar entre a vida dedicada à política ou a dedicação à esposa doente que só encontrava nele motivo de sossego e um pouco de paz.

Então, ele renunciou, e foi pra casa. Afinal, amava muito aquela mulher que fora sua segunda namorada e da qual nutria um ciúme só por eles conhecido.

Mas, o destino às vezes é irônico e cruel.

Os médicos só descobriram um câncer na garganta de Júlio de Castilhos quando já estava em fase terminal. Numa desesperada cirurgia feita em casa mesmo, ele acabaria falecendo em 24 de outubro de 1903, com apenas 43 anos.

Honorina, sua esposa, perambulou como uma sombra pela casa por dois anos, vindo a se suicidar em 1905.

A influência de Júlio de Castilhos e do positivismo no estado do Rio Grande do Sul, é de certa forma, imensurável, sendo, um dos mais importantes fatores da formação política dos gaúchos.

Antes que esqueça, a casa em que viveram Castilhos e Honorina, ainda está no mesmo lugar, Rua Duque de Caxias, 1231, e é um dos museus mais interessantes da cidade.
Visite. Mas vá de dia.



Gaspar da Silveira Martins nasceu no Departamento de Cerro Largo em 5 de agosto de 1835.

Foi uma brilhante estrela política gaúcha no período da segunda metade do governo de D. Pedro II.

Em 1865 fundou o jornal “A Reforma” que acabaria se tornando órgão oficial dos federalistas gaúchos.

Deputado provincial e Deputado geral foi ainda, Senador pelo Rio Grande do Sul e ministro da Fazenda do Império do Brasil de 1880 a 1889.

Após a proclamação da república defendeu a adoção do sistema parlamentarista enquanto os republicanos do PRR postulavam um presidencialismo forte e centralizado.

Seria o grande chefe local, a maior força política do estado não fosse seu inimigo histórico: Júlio de Castilhos.

Lutou muito para que não houvesse conflito armado, mas, foi voto vencido, e acabaria se tornando o maior líder político dos federalistas (Maragatos).

Mulherengo inveterado, Gaspar Martins estava sempre envolvido em paixões avassaladoras.

Morreu inesperadamente em 23 de julho de 1901, na cama, com uma nova namorada, provocando assim, seu último escândalo no estado.

Prof. Péricles

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - ORIGENS



As rivalidades que embasaram a Guerra Gaúcha de 1893 a 1895, não ocorreram de um dia pro outro. Elas foram gestadas cuidadosamente no ventre das radicalidades ao longo de décadas.

Essas rivalidades foram aquecidas ao longo de guerras renhidas como a Guerra de Independência da Cisplatina (Uruguai) em 1828, as intervenções nas Províncias Unidas do Prata (Argentina e Uruguai) e na Guerra do Paraguai (1870-1875).

Também, durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) as divisões se cristalizaram dando origem a um ódio crescente entre grupos permanentemente rivais.

Para os Farroupilhas (liberais federalistas), os Caramurus (imperiais) eram egoístas e traidores. Para os Caramurus os Farroupilhas eram arrogantes e aliados de estrangeiros.

O fim da Revolução Farroupilha, ao contrário de unir os gaúchos, reaqueceu uma divisão que jamais seria sanada pacificamente. As diferenças entre caudilhos só se fez crescer e jamais foi objeto de qualquer tratado de pacificação.

Não houve o surgimento de qualquer terceira via e os extremos continuaram se afastando.

Dessa forma, o Rio Grande passou a acalentar o seu pior pesadelo.

Quando ocorreu a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 o estado que vivia um clima de ódio disfarçado explodiu em disputas renhidas e declaradas.

Desavenças de opiniões misturadas a desavenças pessoais.

Por três anos o poder foi disputado palmo a palmo e ao final desse período, graças ao apoio que vinha da identidade política com os governos militares no poder no Rio de janeiro desde a proclamação da República (Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto), o grupo do jornalista Júlio de Castilhos fundador do PRR (Partido Republicano Riograndense), positivista dos quatro costados, se consolidou no poder.

O outro grupo, liderado por Gaspar Silveira Martins, havia fundado o Partido Federalista. Muitas de suas lideranças estavam exiladas no Uruguai sob acusação de serem anti-republicanos e simpatizantes da monarquia. Para o grupo de Gaspar Martins, Júlio de Castilhos era um ditador que deveria ser impedido de se perpetuar no poder.
Restava o caminho das armas, e os Federalistas logo não hesitariam em optar por essa solução.

Os demônios do ódio, da Guerra e da morte, esfregaram as mãos, pois o verde dos pampas em breve se tingiria de sangue.

A Guerra civil denominada de “Revolução Federalista” começou em fevereiro de 1893 e só acabaria em agosto de 1895.

Em pouco tempo esse terrível enfrentamento também chamado de “A Revolta da Degola” iria criar marcas profundas na história do Rio Grande do Sul e de sua gente.
Marcas tão profundas que dariam origens à fortes características políticas desse estado, observáveis ainda hoje.

Prof. Péricles

domingo, 9 de dezembro de 2012

O CÉU É UMA FESTA


No dia 5 de dezembro último, na espaçosa e bem cuidada área da recepção do jardim celestial, todos queriam saber de que se tratava aquela enorme reunião. Só gente boa. Almas puras e corações sem susto.

A festa foi organizada pelo “Cavaleiro da Esperança”, Luiz Carlos Prestes e Olga Prestes, auxiliados pelo baiano Jorge Amado junto com a esposa Zélia e outras almas atéias.

Karl Heinrich Marx e Frederich Engels mantinham-se sempre juntos. Marx trazia um calhamaço de papéis debaixo do braço e viam-se na capa, tratar da analise do sistema da capitalista no Paraíso Celeste e insinuações da revolução que acabaria com a divisão em classes anjos, arcanjos, serafins e querubins. E já iniciava o manifesto comunista: “Trabalhadores de todo o céu, uni-vos”...

Kautsky unia-se Lenin e caminhavam com passos firmes, abraçados com Mao e Erneto Che Guevara, acompanhado de perto de Carlos Marighella. Afanasiev mais ouvia do que falava.

Ouvi uma voz vindo lá do fundo que dizia: “Esses velhos comunistas tinham muita resistência em falar sobre suas vidas, mas não é possível entender a História sem conhecer os militantes comunistas de todo o mundo”

E acompanhavam o entusiasta Juscelino, contemporâneos brasileiros João Goulart, Miguel Arrais, Armando Ziller, Temperani Pereira, Darci Ribeiro, Raul Riff, Waldir Pires, Brizola, Clodsmith Riani, Hercules Correa, Dante Pelacani, Samuel Wainer, Francisco Mangabeira, José Jofily, Celso Furtado, Caio Prado Junior, Marechal Osvino Ferreir Alves, Josué de Castro, João Pinheiro Neto, Djalma Maranhão, Roberto Morena, Amauri Silva, Neiva Moreira, Ferro Costa, Francisco Julião, Pelópidas Silveira, Bocayuva Cunha, Adão Pereira Nunes, Eloy Dutra, Marco Antonio, João Amazonas, Maurício Grabois, Max da Costa Santos, Roland Corbisier, José Aparecido de Oliveira, Rubens Paiva, Florestan Fernandes, Paulo de Tarso e outros que não identifiquei na hora.

Hobsbawn, ainda em fase de adaptação, acabara de chegar no dia 1º de outubro deste ano, ajeitava os óculos e falava de seu projeto de escrever “Era da eternidade”.

Sempre próximos, Ho Chi Min, Kim Il-sung e tentava pronunciar algumas palavras em português, para saudar o novo hóspede.

Allende trazia entre outros e outras, Neruda, Vitor e Violeta Parra, Mercedes Sosa, a turma de “Los imarenhos e convidou até Peron e Evita Peron que disseram que não perderia nunca esta oportunidade de estar com este grande homem.

Numa outra ala, sorriam juntos Astrogildo Pereira, Agildo Barata, Graciliano Ramos e Saramago, num portunhol de fazer gosto aos moradores da fronteira do Brasil com o Uruguai.

Franz Fanon lembrava para os presentes os rápidos contatos quando Niemeyer esteve pela primeira na Argélia, quando Fano, escrevia “Os condenados da Terra”, e lutava na Frente de Libertação Nacional.

O céu – hoje - é uma festa! Só festa e alegria.

Anuncia-se a chegada do arquiteto brasileiro que pretende mudar completamente a arquitetura celestial e acabar com a mesmice que ali impera. Oscar Niemeyer chega com a experiência de 105 anos mudando a paisagem de todo o mundo. Agora veio para mudar, também, o céu. Pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, na certa revolucionará a paisagem tradicional do céu.

E o céu também. Observem. É esperar para ver que infinitas obras ali farão o Mestre.

Para esta solenidade, pedi aos meus dois irmãos que lá revivem, o Vercy e o Vécio, para me representaram, junto ao Oscar Niemeyer. Mas, me aguardem. Não chegarei para essa grande festa de dezembro, mas ainda teremos muito que festejar: Fidel Castro prepara a viagem e quer uma festa de arromba com salsa, rumba e samba.

Pretende reunir o que há de melhor com base no “Buena Vista Social Club" e os mejores de Cuba: Compay Segundo, Celina & Reutilio, Ibrahim Ferrer, Silvio Rodriguez, Ernesto Lecuona, Pablo Milanes, Omara Portuondo, César Portillo de la Luz e Chucho Valdes.

Penso que seria uma excelente oportunidade para encontrar tanta gente boa. E todos reuniram-se para exaltar a memória do grande arquiteto e combatente comunista de tantas décadas, de mais de um século.

Claro que a multidão movimentava frenética e alegremente e me deixou sem registrar presença de muitas pessoas interessantes que compareceram ao grande evento celestial que há muito não se via.

Verly, 05-12-12

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O GÊNIO DAS CURVAS




A regra geralmente prepondera sobre o inusitado.

As paralelas percorrem o universo até o infinito, lado a lado sem jamais se tocarem. E previsível e monótono.

O mais fácil sempre é o conforto. O de sempre, pois, apresentam resultados já conhecidos e esperados.

Filósofos gastaram suas vidas demonstrando a lógica matemática dos sólidos, as regras perfeitas dos ângulos e o que esperar de cada combinação aritmética.

O mais fácil é esperar pelo estabelecimento dessas fórmulas lógicas e viver como as paralelas, na certeza da previsibilidade infinita.

Por isso, o novo assusta. O pioneiro encanta, embora invejosos se apressem em dizer que tudo é muito simples, esquecendo que o simples antes da primeira vez, não havia sido tentado.

A linha reta é a mais séria de todas as formas.

Não admite brincadeiras, é soturna, sóbria e sem rodeios.

A linha reta não transgride à sua função, não permite soberba ou devaneios, é sólida e completa.

Já a curva é uma transgressão.

No seu molejo ela brinca no espaço, seduz a qualquer sobriedade, pinta e borda, vai e vem.

Enquanto a reta é homem, a curva é mulher.

A curva é incoerência que faz sentido ao mundo das formalidades. É devassidão, é conquista e desafio. A curva é sorriso.

A arquitetura antes de Oscar Niemeyer era reta.

Retratava a conquista e o poder.

Era econômica, prática e dura.

Oscar Niemeyer brincou com as formas, introduziu as curvas e inventou a leveza arquitetônica. Fez rir o mundo sombrio das construções.

Foi o novo. O Imprevisível. Trouxe a expectativa do resultado.

Com ele as paralelas finalmente se tocavam e o infinito era logo ali.

Inédito, pioneiro, gênio.

É claro que teve sorte, como todos os gênios.

Assim como Colombo teve a sorte de receber três naus para realizar seus sonhos, Niemeyer teve uma cidade inteirinha para construir. E, como criança num quarto cheio de brinquedos, ele brincou e brincou até se empanturrar, fazendo prédios, monumentos, igrejas e tudo o mais que faz parte de uma cidade a ser feita a partir de seus desenhos no papel. Enquanto algumas crianças brincavam de montar seus fortes ele os construiu.

Oscar Niemeyer foi o maior brincalhão da arquitetura.

Ele partiu levando consigo seus 104 anos de vida plenamente vivida e deve agora estar envolvido em outros projetos.

Repare bem, pode reparar se acha que estou mentindo.

Erga os olhos pro céu e confira se desde ontem, as nuvens não estão mais curvas, mais belas, e mais engraçadas.

Oscar Niemeyer morreu às 21:55 hs. de quarta-feira, 05 de dezembro de 2012, 10 dias antes de completar 105 anos. Foi o arquiteto que recebeu do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a missão de construir Brasília em sua arquitetura. Era comunista militante do PCB, amigo de Luis Carlos Prestes. Teve que se exilar do país durante a Ditadura Militar. É reconhecido no mundo inteiro como um dos maiores gênios da arquitetura moderna mundial.

A esse grande brasileiro nós lançamos um beijo no ar, e temos certeza que, após algumas voltas e piruetas, entre algumas leves curvas, ele chegará ao seu destino.

Prof. Péricles

CAMINHOS PERIGOSOS



Um artigo de Wladimir Pomar

À medida que o tempo passa, vão ficando evidentes contradições mais agudas na situação política brasileira. Por um lado, o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma aparecem como favoritos para as eleições presidenciais de 2014. Por outro, na economia, na sociedade e na política se acumulam evidências de que os detentores do poder econômico, dos meios de comunicação e do aparato de Estado estão manobrando com o propósito de reverter a situação em que se encontram.

A queda, mesmo insignificante, da taxa de juros; o aumento, mesmo incompleto, do emprego formal; a redução, mesmo leve, das taxas de eletricidade; o esforço, mesmo parcial, para reduzir os custos das obras públicas; a decisão, mais firme, de combater a corrupção política, através da extinção do financiamento privado das campanhas eleitorais, tudo isso parece haver acendido a luz vermelha nos círculos ideológicos mais influentes daqueles reais detentores do poder, fazendo-os procurar caminhos que lhes permitam acabar com a experiência, mesmo apenas levemente reformista, de governos centrais dirigidos pelo petismo.

O primeiro e mais relevante desses caminhos, consiste naquilo que alguns autores estão chamando de judicialização da política, e eu prefiro chamar de criminalização da política e da ação dos partidos. A política e os partidos passam a ser julgados não mais pelo povo, mas por juízes que, no chamado processo do mensalão, se arrogaram o direito de mudar a natureza do crime cometido, desdenhar provas, atropelar a Constituição e os procedimentos legais instituídos e se colocar acima dos demais poderes republicanos. E se alguém pensa que o STF se contentará em dar um exemplo apenas com esse julgamento, talvez se engane redondamente. Tudo indica que o poder judiciário, sob a tutela da alta corte, se empenhará em substituir o Congresso com normas e leis que intensifiquem a criminalização da política e a paralisia do governo dirigido pelo PT, através do levantamento de novos casos de corrupção, reais ou forjados, que envolvam o ex-presidente Lula, a presidenta Dilma e o PT.

O segundo caminho vem consistindo na multiplicação das derrotas do governo na Câmara e no Senado, derrotas infligidas principalmente por parcelas dos partidos que constituem a base do próprio governo, a exemplo do Código Florestal e da divisão dos royalties do pré-sal. Com a assunção do PMDB à presidência das duas casas do Congresso, cresce a possibilidade de que tais derrotas se intensifiquem, a não ser que Dilma se curve às exigências dos aliados, a exemplo do que já vem ocorrendo na aceitação passiva e na assimilação de que há uma nova classe média no país, que merece atenção prioritária do governo.

O terceiro caminho consiste na paralisia ou redução significativa dos investimentos privados, a pretexto da crise internacional, do alto custo dos salários, da alta carga de impostos, ou de outros motivos secundários, nenhum deles sendo relacionados à redução dos lucros máximos que o poder de monopólio garantia para as grandes corporações financeiras, industriais, agrícolas e comerciais. Como a elevação dos investimentos, especialmente na infraestrutura, indústria e agricultura de alimentos, é a chave para o crescimento e para a geração de empregos, embora alguns setores do governo não deem a atenção devida a isso, as previsões de crescimento de 3% a 4%, em 2013, podem ser frustradas.

O quarto caminho parece consistir em revigorar a insegurança pública, através de chacinas descontroladas, quase certamente realizadas como ação diversionista para ocultar disputas internas nas polícias locais, associação com milícias e traficantes e outras correntes da criminalidade. O que traz à tona a contradição entre as taxas de desemprego oficiais e a grande massa populacional, sem acesso à educação e à qualificação profissional, incapaz de procurar emprego e cuja única opção consiste em servir como soldados do tráfico e do crime. Os casos de explosão de insegurança pública em São Paulo e em Santa Catarina talvez não sejam os únicos, nem os últimos.

Esses caminhos parecem desligados ou disparatados. No entanto, quem se der ao trabalho de acompanhar a pauta do Partido da Grande Mídia pode concluir que eles estão intimamente relacionados, na perspectiva de corroer pelas beiras, e também por dentro, a experiência de governo do PT, de modo a fazer que ele desabe por seus próprios erros. Talvez não seja por acaso que, nos últimos tempos, tenham se multiplicado as publicações da A Arte da Guerra, de Sun Zi, o mestre dessa arte de vencer a guerra induzindo o inimigo a cair em armadilhas, desgastar-se e ser levado à derrota, sem necessidade de travar qualquer batalha decisiva.

Nesse sentido, os promotores da criminalização da política estão provocando o PT a cair na armadilha de realizar uma defesa aberta dos réus julgados pelo STF, de modo a associá-lo umbilicalmente à suposta compra de votos de parlamentares e abrir canais para envolver o ex-presidente Lula e o partido, como um todo, na mesma teia que lhes permitiu julgar e condenar vários dirigentes do partido e aliados. Na verdade, talvez a melhor defesa dos condenados consista numa tática de ataque aberto, público, constante e intenso ao sistema eleitoral de financiamento privado das campanhas eleitorais, no qual o caixa dois é recorrente e não há qualquer indício de repúdio efetivo a ele pela Justiça.

Nessas condições, o PT se encontra numa encruzilhada. Ou sai da defensiva com uma tática correta, ou se arrisca a soçobrar. O mesmo diz respeito a ele e ao governo Dilma quanto à economia e à conjuntura política. O PT e seus membros no governo precisam discutir, em conjunto, os problemas estruturais que emperram o desenvolvimento econômico e social no ritmo que a maior parte da sociedade necessita, a exemplo do poder de monopólio de um grupo de corporações empresariais sobre o conjunto da economia, dos gargalos que impedem o crescimento dos investimentos e dos empregos da grande massa da população que está fora do mercado de trabalho e dos aspectos macroeconômicos que incidem negativamente sobre a economia. Ou não terão nada a dizer para as camadas populares e médias da população, nem para mobilizá-las para as mudanças, mesmo as capitalistas, que só serão realizadas se a burguesia sentir que PT e governo possuem um apoio social firme e explícito, e que este apoio pretende avançar nas reformas democráticas e populares.

Quando se confirmou a vitória de Dilma, em 2010, todos sabíamos que seu governo seria, ao mesmo tempo, continuidade do governo e com novas mudanças baseadas no que havia sido conquistado. Os caminhos para essa mudanças estão se tornando cada vez mais perigosos, mas o maior perigo consiste em não enfrentá-los.

Por Wladimir Pomar, no Correio da Cidadania

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PRESSA, MUITA PRESSA



Dizem que o mundo feudal era lento e rural e que o capitalismo trouxe a dinâmica.

Então a Revolução industrial trouxe a pressa.

Temos pressa, talvez esse devesse ser o epitáfio de todos nós.

Temos pressa de crescer, de casar, de se formar na faculdade, de ganhar dinheiro.

Pressa de tudo e na correria da vida massificamos as coisas pra facilitar.

A isso chamamos rotina.

Rotina de marido/esposa, rotina de profissional, rotina de visitar os amigos e parentes.

Rotina de amar. Ama-se com pressa e com rotina até que o amor acabe, e nem ao menos percebemos quando.

De tanto viver em rotina, a vida se torna rotineira. As coisas sempre as mesmas, os horários sempre iguais.

A pressa de viver não nos permite olhar a paisagem e diante da chuva enxergamos apenas as gotas d1agua, pois não há tempo para entender sua essência.

Se o vento sopra na noite, pensamos na roupa para usar amanhã no trabalho. Não ouvimos sua poesia e não entendemos suas palavras. Certamente você sabe que o vento fala, não é?

Lembramos de tudo, do horário do ônibus, dos compromissos, da agenda. Só não lembramos de viver.

Na ânsia rotineira engolimos fins de semana com pressa e quase nos engasgamos esperando a segunda-feira.

Gastamos nossos dias jovens, nossos sonhos, nossos ideais até que nada sobre além do que a rotina permite ser.

Um bebê de 10 meses morreu, após ser esquecido pelo pai em um carro, no bairro de Água Limpa, em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro.

O pai, gerente de vendas Clóvis Mantila, deveria ter levado a filha Manuela para uma creche, mas esqueceu a criança no banco traseiro do carro, que ficou estacionado.

Ele chegou a ser detido, mas foi liberado após pagamento de fiança. A menina Manuella Mantila Sueth foi levada para o hospital, mas já chegou sem vida, com sinais de asfixia.

O pai contou na delegacia que se esqueceu da filha porque não tinha o hábito de levá-la à creche. Ele disse que só lembrou que havia esquecido do bebê no carro quando a mãe telefonou questionando a ausência de Manuella na creche.

O que aconteceu então foi uma quebra da rotina. Algo que não era rotineiro não foi registrado por Clóvis e sua mente simplesmente esqueceu a filha enquanto se ocupava do trabalho rotineiro. E trabalhou como sempre enquanto a filha morria.

Clóvis foi indiciado por homicídio culposo, mas, com certeza não haverá pena suficientemente dolorosa para provocar maior dor do que a que ele já deve estar sentindo e que carregará pelo resto de sua vida, pela morte causada por ele mesmo, da pequena Manuella.

Manuella morreu de pressa. Manuella foi vítima da rotina. Foi enterrada no cemitério Portal da Saudade.

Talvez esse seja o nome correto para nossa própria mortalha, porque, no fundo, no fundo, em algum lugar de alguma dobra da alma, entre horários de pico e bater de ponto, devemos ter saudade de nós mesmos, do tempo em que banho de chuva era um compromisso e pisar com pés descalços na terra era um prazer.

De um tempo pra não fazer nada e quando não havia pressa.

Prof. Péricles

sábado, 1 de dezembro de 2012

HISTORIADORES


A recente aprovação do projeto de regulamentação da profissão de historiador no Senado Federal, no último dia 7, tem gerado algumas controvérsias que, do nosso ponto de vista, derivam de certas incompreensões e até mesmo do desconhecimento do texto do projeto.

Alguns têm alegado que a regulamentação conduzirá ao cerceamento da liberdade de expressão daqueles que, mesmo não sendo historiadores de formação, escrevem sobre o passado. Neste sentido, citam, inclusive, nomes de grandes intelectuais que produziram e continuam produzindo verdadeiros clássicos da historiografia brasileira.

Outros afirmam que a necessidade de formação específica levará à falta de professores de história no ensino fundamental, já que hoje muitos ministrantes desta disciplina realizaram outros cursos de graduação, como pedagogia, ciências sociais e filosofia.

Sobre o primeiro argumento contra o projeto, ele só é manifestado por quem não conhece o seu teor. Em nenhum momento foi proposto que historiadores profissionais tenham exclusividade na formulação e divulgação de narrativas históricas.

Jornalistas, cientistas sociais, diplomatas, juristas, economistas e todos os cidadãos poderão continuar a produzir conhecimento histórico - e esperamos que isso aconteça, pois só a partir de perspectivas diferentes e multidisciplinares conseguiremos fazer avançar a historiografia brasileira que, por sinal, é bastante consistente e tem grande reconhecimento internacional.

Além disso, advogar esta exclusividade aos historiadores profissionais seria atentar contra as liberdades democráticas, o que não é o caso aqui. Prova disso é que o projeto foi apoiado por todas as lideranças partidárias do Senado, demonstrando que ele não tem um viés político-partidário específico.

Quanto ao segundo argumento, defendemos sim que os professores de história realizem alguma etapa de sua formação em história (na graduação ou na pós-graduação), já que acreditamos que nossos alunos do ensino básico devem ter o direito de aprender com docentes qualificados e possuidores de conhecimentos e habilidades específicas nas áreas que lecionam.

Isso não é desmerecer professores de outras disciplinas, mas reconhecer que cada campo disciplinar implica a aquisição de saberes específicos, mesmo que em diálogo com outros âmbitos de conhecimento. (No caso dos professores de história, por exemplo, a atenção às múltiplas temporalidades, a crítica e a interpretação dos documentos, a atualização historiográfica, a atenção às relações entre história acadêmica e história ensinada etc.).

De qualquer forma, esta especialização do corpo docente não se dará de uma hora para outra. Afinal, a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação prevê que, quando não há professores formados nas disciplinas específicas, devem ser aproveitados professores com outras formações e só, em último caso, professor sem nenhuma formação.

Isso não impede, contudo, que, a médio e longo prazo, continuemos lutando pela qualificação e especialização de nossos professores, sem deixar de estimular, é claro, o saudável diálogo interdisciplinar.

Ou seja, o projeto não veda a ninguém o direito de escrever sobre história nem pretende impor de uma hora para outra a especialização a todos os docentes. Apenas quer assegurar a presença de historiadores profissionais em espaços dedicados ao ensino e à pesquisa científica em história, para que esses possam, em colaboração com outros estudiosos, contribuir para o avanço da área.

Paulo Paim é senador pelo PT-RS, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado e autor do projeto de lei citado no artigo.
Fonte: Jornal da Ciência


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PERIGOS DA URNA ELETRÔNICA


“Quem vota não decide coisa alguma. Quem conta os votos decide tudo”
Joseph Stalin

Se Stalin disse ou não disse, não posso garantir. A frase virou folclore. Para que alguma eleição signifique alguma coisa, os que contam os votos têm de ter mais respeito pela integridade da democracia, do que ânsia de poder.

Dos tempos de Stalin até hoje, a tecnologia mudou. Com máquinas de votar eletrônicas, que não deixam marcas impressas e são programadas por programas proprietários, o resultado de uma eleição pode ser decidido de véspera. Os que controlam o programa podem programar as máquinas para elegerem (as máquinas, não os eleitores) o candidato que o programador deseje eleger. As máquinas eletrônicas de votar não são transparentes. Quando se vota em máquina eletrônica, não se sabe em quem se está votando: só a máquina sabe.

Os mesmos que podem roubar a eleição podem facilmente meter “especialistas” nas televisões, que se porão a explicar que a divergência entre as pesquisas de boca de urna e os votos contados está “na margem de erro”, ou “não tem significado estatístico” ou, então, aconteceu porque as pesquisas de boca de urna ouviram mais (ou menos) mulheres, ou mais (ou menos) uma ou outra minoria racial ou mais (ou menos) membros de um ou do outro partido.

Em artigo fascinante para Harper’s Magazine (26/10/2012), Victoria Collier observa que, com o advento da moderna tecnologia “emergiu todo um bravo novo mundo de falcatruas eleitorais”.

A velha fraude de urnas era localizada e de curto alcance. As máquinas eletrônicas, hoje, permitem fraudar eleições em escala estadual e nacional. Além disso, em votações eletrônicas não há urnas cheias de votos a serem encontradas em fundos de quintal na Louisiana. Com programas proprietários, os proprietários dos programas decidem: a contagem dos votos indicará o número previsto no programa proprietário.

As duas primeiras eleições presidenciais nos EUA no século 21 têm história vergonhosa. A vitória de George W. Bush sobre Al Gore foi decidida pelos Republicanos na Suprema Corte dos EUA, que mandaram suspender a recontagem de votos na Florida.

Em 2004, George W. Bush venceu na contagem de votos, embora as pesquisas de boca de urna indicassem vitória de John Kerry.

A era do roubo eletrônico de votos, diz Collier, “começou com Chuck Hagel, milionário desconhecido que concorreu a uma cadeira no Senado, por Nebraska, em 1996. Hegel começou muito atrás, na disputa com o popular governador Democrata, eleito dois anos antes por uma avalanche de votos. Três dias antes das eleições, contudo, o jornal Omaha World-Herald mostrou eleição apertadíssima, com 47% dos eleitores preferindo cada um dos candidatos. David Moore, então editor-gerente do Instituto Gallup, disse ao jornal que Não é possível prever o resultado”.

A vitória de Hagel na eleição geral, sempre referida como “uma reviravolta”, garantiu a cadeira no Senado aos Republicanos, pela primeira vez em 18 anos.

Poucos norte-americanos sabiam, até poucos dias antes das eleições, que Hagel fora presidente da empresa fornecedora das urnas eletrônicas que, a seguir, estariam contando votos para ele mesmo: a Election Systems & Software (então chamada American Information Systems). Hagel deixou a empresa duas semanas antes de declarar-se candidato. Mas não se desfez de milhões de dólares em ações do McCarthy Group, grupo proprietário da empresa ES&S. E Michael McCarthy, fundador da empresa parceira, trabalhava como tesoureiro de campanha de Hagel.

Quando a Suprema Corte Republicana impediu a recontagem de votos na Florida e decidiu a eleição entre George W. Bush e Al Gore nas eleições presidenciais em 2000, a resposta dos Democratas foi não protestar, para não abalar a confiança dos norte-americanos na democracia. John Kerry também aceitou e calou em 2004, apesar da vasta diferença entre as pesquisas de boca de urna e os votos acumulados em meio eletrônico. Mas como os norte-americanos poderemos confiar na democracia, se nem há votos para ver e contar e a eleição não é transparente?

Vejam só! Por todo o planeta, transações de trilhões de dólares acontecem diariamente, e raramente há algum problema. Se se pode contar dinheiro onlineaté os centavos, claro que se podem contar votos online. O único problema é que há interesses políticos gigantescos “programados” em cada urna ou máquina de votar eletrônica.

Em 2005, a Comissão Federal para Reforma Eleitoral não partidária, concluiu que a integridade das eleições estava comprometida pela ação de quem controlou a programação. A propriedade privada da tecnologia de votação é absolutamente incompatível com eleições transparentes.

País sem eleições transparentes é país sem democracia.


Paul Craig Roberts – Institute for Political Economy
“U.S. Elections: Will the Dead Vote and Voting Machines be Hacked?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

domingo, 25 de novembro de 2012

EDUCARE


Faz-se grande confusão entre educação e conhecimento formal.

Talvez a maioria das pessoas quando fala em educação pense apenas no professor, no giz, quadro negro, horários, etc.

Nada mais confuso do que essa visão.

Educação é muito mais do que rotinas estudantis.

O filósofo Sócrates falava em “educare”, termo que deu origem à “educação”, num sentido bem diferente do tradicional.

Educare queria dizer “tirar de si, fazer brotar”. Ou seja, a educação se realiza através de um processo que tem incentivadores, mas que vem de dentro do educando e não de fora pra dentro.

Aquela imagem do professor que despeja seu enorme saber num depósito vazio que é a cabeça dos alunos é uma imagem tosca e distante do verdadeiro educare.

Nesse contexto a família é o principal fator da promoção da educação. Os parentes, amigos, a escola, a sociedade, a vida. Tudo é educação. Uma piada, uma frase, um exemplo, tudo promove a formação da pessoa. Tudo conspira para sua construção como indivíduo.

Aqui no Rio Grande do Sul, uma importante rede de televisão está promovendo uma campanha em que questiona o porquê de termos uma educação de tão baixa qualidade, classificada como a 88ª no cenário de todos os países. Questiona como se estivesse de fora, apenas transmitindo dúvidas das pessoas, e apontando o dedo inquisidor numa completa impessoalidade.

É importante campanhas assim, sem dúvida, mas seria mais interessante se o próprio veículo de comunicação iniciasse questionando a si mesmo, a qualidade de sua programação o comprometimento dela no processo educativo.

Qualquer professor seria capaz de escrever um livro sobre a influência da televisão sobre seus alunos.

Muitas vezes, todo um trabalho sobre, por exemplo, combate à intolerância é destruído em questão de segundos numa piada ou num bordão.

Aulas inteiras contra posturas de valor reprovável, bulling, homofobia, são arrasadas por um filme ou uma cena de novela.

Faz apenas algumas semanas, num programa televisivo noturno de final de domingo desenvolveu-se uma série de informações sobre como ampliar os efeitos do crack absolutamente inútil e contraproducente.

Educar é fazer brotar qualidades e valores que já existem na pessoa. É favorecer o encaminhamento dessas qualidades e desses valores na construção da cidadania, da liberdade e da felicidade da pessoa.

O conhecimento formal faz parte, mas que não é de forma isolada, a educação. É um complemento.

Ao professor de história, por exemplo, que pretenda também ser um educador interessa muito mais favorecer o despertar no aluno o gosto pela realidade dos fenômenos que compõem a história da humanidade e de seu país, do que, simplesmente avaliar sua capacidade de memória para guardar informações sobre o conteúdo.

Somos todos educadores e somos todos discípulos.

Não são apenas os professores os chamados a esse desafio. Somos todos nós.

E você, está fazendo algo pela educação?


Prof. Péricles

sábado, 24 de novembro de 2012

PINTORES DA NOITE

Ela olhou pra mim como quem está prestes a fazer uma grande revelação e disse “sabe, eu nunca te contei, mas, detesto cachorros”.

Comecei a rir baixinho distraído. Mas o riso foi crescendo e ela, escorando a cabeça no meu ombro foi me acompanhando, e quando vimos as gargalhadas já não podiam ser contidas.

Ergui os olhos pras estrelas e perguntei pra uma delas: mas do que mesmo estou rindo?

Do fato de estar pendurado no alto de um poste numa dessas madrugadas de Porto Alegre?

Ou da escada velha que rangia e que ainda por cima, teve que ser inclinada entre o muro da calçada e o poste por dentro do terreno?

Talvez fosse dos dois cachorros furiosos que babavam de ódio por não poder nos alcançar e que ansiavam por nossa queda?

Ou do jeito de madame daquela guria com tinta nos ombros e na testa me sussurrando ter medo de cachorros?

Até hoje não sei.

Eram tantas coisas que precisavam de respostas e tantas respostas que não valiam à pena naqueles tempos.

Só sei que nossas gargalhadas calaram os cachorros como se nem eles entendessem, afinal, qual era a graça da situação grotesca.

Quando paramos de sacolejar de tanto rir, a escada diminuiu seu rangido, e continuamos a gloriosa tarefa de prender no poste, com arame pouco resistente, mais uma placa pintada à mão com a sigla de nosso partido.

Não só uma sigla, não senhor! Muito mais que isso. Um sentimento de resistência materializado na forma de três letras recém pintadas no quintal da casa de algum companheiro de sonhos.

Descemos altivos diante da indignação dos cachorros e recolhemos o material restante, pois era preciso ter pressa, pois outros postes nos esperavam, outros cachorros talvez, e com certeza, o sol, não demoraria.

A polícia odeia a hora entre o fim da madrugada e o início da manhã, e chamávamos esse momento de, a hora boa.

Os cachorros odeiam escadas e ela odiava cachorros. E eu achava graça. Uma graça que carecia de argumentos mas que transbordava de dor e de energia.

Que nos importam os vadios da madrugada que vagueiam embriagados?

Não estavam, com certeza, mais embriagados do que nós, em nossos desatinos.

Lá, em cima do poste, vendo a cidade “do alto” a gente desafiava a repressão, os medos, os ventos do inverno, os cachorros e o destino.

As vezes, virávamos artistas e pintávamos muros.

Muros estreitos e largos. Inteiros e lascados. Muros simpáticos e carrancudos. De casas, de cemitérios, de colégios. Muros de ruela e de avenidas.

Tinta vermelha de cheiro forte, artesanal, feita por nós mesmos, em balde que abraçávamos para que não derramasse enquanto a velha kombi sacudia sobre as ruas de uma Porto Alegre adormecida. "Cuidado gente, a tinta é cara"...

Pintávamos palavras de ordem. Pintávamos ultimatos. Pintávamos desafios de forma altiva, e imaginávamos Picasso pintando Guernica.

Ela, como ninguém desenhava nossos símbolos.

Ao contrário de Picasso, não podíamos assinar nossas obras. Mas no outro dia... ah no outro dia ninguém podia impedir o orgulho que sentíamos ao ver expostas nos muro da cidade em cores fortes com a tinta que ainda nos fedia, o nosso trabalho noturno. Depressa, dizia em silêncio ao mundo, leiam antes que eles apaguem.

Talvez seja assim mesmo.

Quando nos tiram os livros inventamos arte.

Quando nos tiram as montanhas, escalamos escadas que rangem.

Quando nos tiram oportunidades descobrimos talentos, e somos Picassos que pintam Guernicas com tinta barata em muros estreitos.

Quando nos tiram a graça rimos de nós, rimos a sós, e rimos das dores.

Mas nunca... nunca jamais, deixamos de rir, pois, muitas vezes, em nosso riso, mais do que em mil manifestos, está a força de nossa resistência.

Prof. Péricles

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

PIADAS INFAMES NA AULA DE HISTÓRIA



01) Certa noite, desesperado, um prisioneiro polonês de um campo de concentração nazista, tenta fugir e é perseguido de perto por um guarda alemão.

O prisioneiro polonês começa a escalar uma cerca de arame farpado enquanto o guarda alemão calmamente faz pontaria. O prisioneiro já está quase no topo da cerca e o guarda com o fuzil engatilhado prestes a disparar quando ouve uma voz que vem “de cima”.

- Não atire soldado, não atire. Esse polonês que estás prestes a alvejar um dia será o Papa da Igreja Católica.

Sem tirar o olho da mira o soldado retruca:

- E eu com isso? O que eu ganho?

E a voz cansada responde:

- Ok, ok. você será o Papa depois dele.





02) Viajam no mesmo vagão de trem, Reagan, Clinton e George Bush. De repente a locomotiva pára no meio do nada. Ronald Reagan acusa os funcionários de fazerem parte do eixo do mal e demite a todos.

Evidentemente o trem não se move.

Então Clinton, chama todas as estagiárias da companhia e promete promoção se fizerem o trem andar.

Mais uma vez, o trem permanece imóvel.

Então Bush levanta, fecha as cortinas da janela e anuncia.

- Pronto, o trem está andando.





03) Durante a Segunda Guerra Mundial, um navio português tinha que passar pelo estreito de Gibraltar. O problema é que de um lado do estreito tropas britânicas armadas até os dentes vigiavam a praia e do outro lado, na África, tropas nazistas apontavam seus canhões. E agora, o que fazer?

Foi então que o capitão português teve uma brilhante idéia: mandou pintar a bombordo a bandeira da Inglaterra e a estibordo a bandeira da Alemanha.

E assim fez, e assim ultrapassou o perigoso estreito. Houve uma estrondosa saudação de ambos os lados. Aplausos e elogios.
Emocionado, sem conter a euforia do sucesso, e desejando ouvir mais aplausos o capitão ordena “alto... meia volta volver, vamos passar novamente ora pois”.

Dizem que até hoje procuram restos do navio.




04) Durante uma revolta estudantil no Vaticano pedindo por uma Igreja mais progressista e menos conservadora, um Bispo olha pra outro e diz:

- Olha lá aquele jovem querendo deturpar nossa moral e tradição.
- Qual (pergunta o outro)
- Aquele bonitinho com corpo de atleta.

Prof. Péricles

terça-feira, 20 de novembro de 2012

IDENTIDADE INDÍGENA


No período pré-colonial, a bebida era mais um entre tantos aspectos que faziam parte do abismo cultural que separava os índios dos europeus que pisavam em terras brasileiras. "As festas nativas, repletas de embriaguez, eram um espaço fundamental para a expressão das visões de mundo indígenas e para a realização de eventos importantes, como celebração de casamentos ou vitórias de combates. Tais práticas contrastavam completamente da forma como os europeus acreditavam ser o correto relacionamento com o álcool e com autocontrole. Eram dois mundos etílicos completamente diferentes, com lógicas mentais e práticas sociais desenvolvidas ao longo de milênios", conta o pesquisador João Azevedo Fernandes, autor de Selvagens Bebedeiras: álcool, embriaguez e contatos culturais no Brasil Colonial (séculos XVI-XVII).

No livro, o pesquisador compara o significado da bebida para as populações européias e para os indígenas brasileiros, mostrando a distância entre ambos. Em 1751, por exemplo, o inglês William Hogarth fazia clara distinção entre o "bom álcool", representado pela cerveja, consumida pelos ingleses há séculos e considerada como tornando as pessoas saudáveis, amistosas, felizes e produtivas, e a "catástrofe provocada pela popularidade das bebidas destiladas, no caso o gim, de péssima qualidade, entre as massas urbanas".

No Brasil colonial, a cerveja era feita, basicamente, da fermentação da mandioca e do milho, principalmente entre os tupinambás. O modo de fermentação, entretanto, era um tanto peculiar: cabia às mulheres da tribo mascar as raízes, que eram cuspidas em uma vasilha. A massa mascada era mais tarde colocada para ferver com água e a mistura era guardada em outras vasilhas, enterradas para a fermentação.

Segundo João Fernandes, a relação das mulheres com a fermentação e a produção da bebida não era apenas um privilégio, mas também uma relação com sua sexualidade e seu papel na gestação. Conforme explica, entre esses indígenas, o cauim podia ser comparado ao sêmem. "Para os tupi araweté, o sêmen dos homens ‘fermenta’ na barriga das mulheres, produzindo as crianças. Isso mostra a grande importância que a bebida fermentada tinha em sua estrutura sociológica. A fermentação era vista como uma operação mágica, capaz de transformar alimentos em substâncias que alteravam a consciência humana."

O fato de serem as mulheres as responsáveis por essa tarefa especial lhes conferia uma aura de respeito: afinal, tratava-se de uma função importante, pois as bebidas eram parte essencial dos rituais, desde casamentos a funerais. "O cauim era, por exemplo, fundamental nas cerimônias matrimoniais, que, para os homens era considerado como uma modificação de status, que os transformava em adultos completos." Segundo o pesquisador, a bebida alcoólica também tinha um papel privilegiado, sendo oferecida até ao inimigo aprisionado, que mais tarde seria morto e devorado pela tribo, numa prática de canibalismo ritual.

Mas festas regadas a bebida alcoólica dos nativos acabaram sendo um obstáculo ao domínio do colonizador. "Durante e após as cauinagens, os europeus percebiam que seus mecanismos de controle iam sendo desafiados pelos índios que, quando embriagados, pareciam, aos olhos dos europeus, possuídos por alguma espécie de força demoníaca, originada das jarras e cuias onde as bebidas espumavam", conta o pesquisador. Como forma de dominação, os colonos europeus dirigiram primeiramente seus esforços em eliminar essas festas. "E também se utilizaram das próprias festas, valendo-se da bebedeira dos índios, para instigá-los uns contra os outros. Infiltrados entre os índios e bebendo com eles, os portugueses os incitavam a guerrear contra seus inimigos tradicionais."

Junto com as ações dos missionários, que lutavam contras as cauinagens, pretendendo tornar o índio civilizado, a introdução de outras bebidas, como a cachaça, por exemplo, foi, pouco a pouco, enfraquecendo os antigos rituais indígenas. "O fim dessa história todos já conhecemos bem: os índios tiveram suas tradições, e com elas suas bebidas, atacadas e praticamente deixadas de lado. Com tudo isso, eles foram finalmente lançados ao mundo moderno, não como homens civilizados, mas como ícones de uma diferença extrema, distantes de sua realidade e símbolo da vida a que foram submetidos", finaliza o pesquisador.

Fonte: FAPERJ - Danielle Kiffer

domingo, 18 de novembro de 2012

MENTIRA EM NOVA BRÉSCIA



Nova Bréscia é uma pequena cidade gaúcha de colonização italiana com pouco mais de 3 mil habitantes, localizada a poucos quilômetros de Porto Alegre.

Além de ser famosa como a terra dos melhores churrasqueiros do Estado é conhecida também por organizar o Festival da Mentira.

Todo o ano se realiza esse festival, levando grande público à cidade e distribuindo prêmios, que podem ser um porco, um boi e até mesmo dinheiro.

Os participantes são julgados, não apenas pelas mentiras que contam (que deve ter algo de real e algo de humor) como também pela postura e pela forma de tentar convencer os jurados de que está dizendo a verdade.

Pois, uns cinco anos atrás assisti um desses festivais. E não esqueço, até hoje, a apresentação do vencedor.

Começou falando pra indiada de Nova Bréscia que por volta do século VI a V AC (eles riram achando que era mentira que primeiro vinha o 6 e depois o 5), numa cidade baguala de outras querências (coisa longe mesmo, mais ou menos quatro meses de cavalo) chamada Atenas surgiu uma forma de viver em grupelho chamada de Democracia.

A tal democracia tinha nos miolo a idéia de que todos as criaturas dos deuses (sim, eles acreditavam em mais de um, na verdade em muitos e muitas porque tinha deusas também) tinham os mesmos direitos. Assim, tudo que era importante pros índios era votado em praça pública, que eles chamavam de Eclésia.

A platéia arregalou os óios de surpresa. Um deles, um macanudo mais velho, empurrou o chapéu pra cima da testa e me perguntou “mas e funcionava essa cosa”?
Em cima a resposta, mas claro paisano, funcionava, todos eram iguais e podiam votar menos as prendas. E quem não era filho de um deles também. Ah e os escravos porque tinha escravos por lá.

Pra que... Caíram na risada que foi um barulhão.

Mas continuou o causo...

Pois não é que a tal democracia foi pulando no tempo daqui e dali se aperfeiçoando até que teve uma recauchutagem loca de buena lá pelas bandas de uma tal de França. Mas foi uma peleia daquelas. Um maleva de um rei, um tal de Luiz 16 não queria saber da dita e esperneou que nem porco antes da castração... e aí, tiveram que cortar a cabeça dele, como faziam os maragatos... mas valeu a pena.

(Risadas)

- Valeu à pena matar o rei?
Pois foi. E depois que apearam o rei do trono, um bando de defensores da democracia, os Jacobinos se acamparam no poder...

- e daí as prenda puderam votar né?

Bem... ainda não. Mas defenderam a democracia e a liberdade como bugio defendendo a cria.

Imagina que tiveram que matar só em um ano mais de 3 mil na guilhotina, uma adaga pesada que caia no pescoço do condenado e zap....

- Mataram 3 mil pela liberdade?

Isso mesmo, se o cuera não fosse democrático zap...

(Mais risadas)

E foi a democracia e a liberdade que rechearam a Constituição dos chimangos lá do norte, os Estados Unidos, só que mantiveram a escravidão...

- Mas me conta índio velho, essa tal de democracia já veio pro Brasil?
Mas claro, vocês não sabiam? Claro que veio, só que demorou um bocadito...

- Demorou?

Sim, primeiro teve 67 anos de monarquia que o rei nunca apeava do poder só se morresse, depois uma tal de República Véia que durou 40 anos em que os coronéis trapaceavam com voto de cabresto, fraudes, compra de votos, curral eleitoral e usavam até jagunço pra não perder eleição.

- Coronel? Mas aqui no Rio Grande não tem esse Coronel...

Não, mas aqui tinha os caudilhos que é quase a mesma cosa, que ganhavam todas as eleições democráticas mesmo que tivessem que degolar a indiada inimiga à moda gravata colorada em nome da democracia.

- Bueno, mas depois veio o Getúlio e a democracia, certo?

Não é bem assim. Primeiro Getúlio e mais 15 anos sem nenhumazinha eleição pra presidente... Getúlio até criou um tal de Estado Novo no lugar.

- Ala-puxa tchê e quando afinal chegou a tal de democracia pra esses pagos do Patrão Velho?

Bem, teve o Jânio, mas ele renunciou e aí devia democraticamente assumir o vice, João Goulart, mas esse os milicos não queriam.

- E daí?

E daí os milicos chutaram os baldes puxaram os trabucos e fizeram o povo virar manada na tal de Ditadura Militar que durou mais uns 20 anos sem eleição.

(Risadas e mais risadas)

Foi então que o patrão do CTG deu um murro na tabua do galpão e disse:

Pois chega gaudério, chega, o prêmio é teu, mas para de contar tanta mentira que ninguém agüenta mais. Desde quando pode ter democracia que quase ninguém vota, tem escravos e o povo vira gado e ainda mata mais de 3 mil?

E foi essa a mentira vencedora!

Embora seja verdade.

Vocês acreditam em democracia não é?

Prof. Péricles

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

HUGO CHAVES - NUMA VISÃO DA DIREITA


Se as liberdades e o sufrágio universal estão assegurados, a democracia, garantida, e os cidadãos não estão ameaçados de expropriação por políticos revolucionários, não há razão para cidadãos com espírito republicano votarem em candidatos que defendem interesses dos ricos.

Eles estarão agindo de acordo com princípios de justiça se escolherem candidatos razoavelmente competentes que estejam comprometidos com os interesses dos pobres.

Estas considerações podem ser relevantes para eleitores de classe média decidirem seu voto, mas o que decide eleições é o voto dos pobres, como acabamos de ver na reeleição de Hugo Chávez na Venezuela.

Sua nova vitória comprova que a Venezuela é uma democracia e que os pobres lograram votar de acordo com seus interesses. Mas mostra também que os venezuelanos de classe média que nele votaram não defenderam seus interesses oligárquicos, mas os da maioria. Agiram conforme o critério republicano.

Chávez não é um revolucionário, mas um reformador. Sua retórica relativa ao "socialismo bolivariano" dá a impressão de que está prestes a implantar o socialismo no país, mas seus atos deixam claro que não tem essa intenção nem esse poder.

Essa mesma retórica alimenta a oposição local e dos Estados Unidos - uma potência imperial que, desde que ele foi eleito pela primeira vez, procura desestabilizá-lo.
Mais importantes, porém, são suas ações de governo. Essas apresentaram resultados impressionantes.

A renda per capita, que em 1999 era de US$ 4.105, passou a US$ 10.810 em 2011; a pobreza extrema foi de 23,4% da população para apenas 8,8%; e o índice de desigualdade caiu de 55,4% em 1998 para 28%, em 2008, com Chávez.

A Venezuela é um país muito difícil de governar porque é pobre e heterogêneo. E os interesses em torno do petróleo são enormes.

Nesse quadro de dificuldades, Chávez vem representando de forma exemplar a luta de uma coalizão política desenvolvimentista formada por empresários (poucos), trabalhadores e burocracia pública contra uma coalizão liberal e dependente formada por capitalistas rentistas, financistas, e pelos interesses estrangeiros. A luta de um país pobre para realizar sua revolução nacional e capitalista e melhorar o padrão de vida de seu povo.

Nas últimas eleições, o establishment internacional voltou a apoiar o candidato da oposição. Mas o que tem sido a oposição "liberal" na Venezuela desde a Segunda Guerra?

Essencialmente, uma oligarquia corrupta que se alternou no poder por 50 anos em um simulacro de democracia; uma elite econômica que reduziu a política à partilha das rendas do petróleo entre seus membros; um governo de ricos que sempre se submeteu às recomendações de política econômica do Norte, e exibiu, entre 1950 e 1999, o mais baixo crescimento de PIB da América Latina.

O establishment internacional ainda não foi vencido, e a nação venezuelana não está consolidada. Chávez contou com a ajuda dos preços elevados do petróleo para realizar um governo desenvolvimentista e social. Não a terá sempre.

Mas as últimas eleições mostraram que o povo venezuelano construiu uma democracia melhor do que aquela que o nível de desenvolvimento do país deixaria prever.

E que esta democracia é o melhor antídoto contra a oligarquia interna e o neoliberalismo importado.


Por Luiz Carlos Bresser Pereira, professor emérito da Fundação Getúlio Vargas. Foi Ministro da Fazenda, da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia

domingo, 11 de novembro de 2012

VIRGENS


Você acredita em virgens?

O que?

Em virgens? Óvnis, mula sem cabeça...

Virgem, por definição é o “atributo de uma pessoa (ou animal) que nunca foi submetida a qualquer tipo de relação sexual (conjunção carnal). Por uma pessoa ou animal leia-se “mulher”.

Para infelicidade feminina a questão da virgindade quase sempre esteve ligada a preceitos religiosos, o que fizeram o tabu se tornar dogma.

Entre muçulmanos a quebra do lacre é considerada crime grave (mais um, mulher por lá está sempre cometendo algum pecado pesado e precisando ser castigada). Além disso, o paraíso na concepção dos muçulmanos se dá com o fiel vivendo em terra de sombra fresca entre 70 virgens (não me pergunta por que tantas virgens, vai ver é porque não gostam de crítica).

Entre os ciganos o noivo mostra o lençol de núpcias como prova da virgindade mantida. Talvez faça coraçãozinho com as mãos e beije o lençol. Caso o pioneirismo não possa ser comprovado os pais do noivo ficam profundamente ofendidos e o casamento é anulado.

Entre os gregos e latinos antigos, ser virgem implicava numa série de honrarias que as mais rodadas, não possuíam. Assim por exemplo no antigo oráculo de Delfos o contato com os deuses era estabelecido pela Pítia, uma mulher virgem.

Para os mesopotâmios a virgindade era uma condição mágica. A partir da puberdade as jovens já eram levadas a participar da prostituição sagrada em honra da deusa Ishtar.

Mas, a tragédia mesmo, para as não virgens e não casadas do ocidente, começou com a ascensão da Igreja sobre antigos conceitos gentios. A partir de então, virgindade virou uma qualidade tão importante que se vinculou ao próprio nascimento de Jesus por uma mulher virgem. Atrelou-se também, ao conceito de pureza, de angelitude e de demonstração das mais sagradas virtudes cristãs. Ser virgem até o casamento tornou-se dever e obrigação.

Por outro lado, as não invictas caíram definitivamente em desgraça e sua condição passou a significar o oposto, imperfeição, vulgaridade, vinculação ao mal e ao demônio, até mesmo à bruxaria e a prostituição.

Muitas perderam a vida na fogueira por isso.

As coisas só melhoraram pra mulherada depois de muito sofrimento e muita estrada.

A partir da década de 60 do século passado aos avanços da mulher em vários campos adicionaram-se os avanços da ciência. Meios contraceptivos seguros, como a pílula, trouxeram consigo uma promessa enorme de liberdade. A partir da pílula passou a ser possível à mulher, transar apenas por prazer mesmo.

Mesmo tendo que enfrentar a Igreja e seus conceitos seculares e ainda os preconceitos do “mundo moderno”, as mulheres foram à luta, tomaram pílulas em praça pública e venceram.

Desde então, a mulher tem crescido em liberdade e na vontade sobre o próprio corpo. O sexo e sua prática deixaram de ser meramente exercícios reprodutores. A mulher passou a exigir os mesmos direitos de prazer e liberdade que o macharedo e a questão da virgindade foi definitivamente superada, sendo hoje, apenas uma característica do elemento feminino em formação.

Não ser mais virgem tornou-se um doloroso segredo de fórum íntimo. Segundo os próprios médicos, é impossível ter certeza que o hímem (uma pecinha anatômica que se rompe quando da primeira relação) já foi ou está sendo rompido ou não e até a medicina às vezes sofre para dar seu veredicto. (me desculpa se você achava que tinha certeza e isso era importante pra você).

Mentiras e repressão muitas vezes geram atitudes hipócritas e muita gente que já não era, tornou-se carrasco de quem deixasse de ser.

Hipocrisia, fiel definição de escândalo forçado e fraudulento, olhos arregalados e indignação patética diante de uma situação, na verdade conhecida.

- Ela já deu! Ela já deu!

Dedo em riste, acusatório, denunciando o que própria dona do dedo acusador já fizera.

Falsas virgens.

É o caso do mensalão.

Nós sabemos bem que se existe o corruptor, também existe o corrompido.
Se alguém corrompeu, alguém se deixou corromper, aceitou, pactuou. Se alguém comprou alguém vendeu.

Como não é lógico que os acusados principais, todos do PT, negociassem com políticos, deputados e senadores do próprio PT para aprovarem projetos do governo que eles mesmos formam a base, a conclusão óbvia é que os corrompidos eram dos outros partidos.

Onde estão os corrompidos?

Por toda a parte, com o dedo em riste.

Ver Roberto Jefferson escandalizado é mais ou menos como imaginar Dercy Gonçalves num convento.

A voz indignada do âncora do telejornal e a caretinha zangada da moça que lê com ele as notícias é impagável.

A expressão de dizer algo jamais imaginado e totalmente desconhecido nos remete as piores canastrices da sétima arte.

Não tem como não rir por mais que o momento seja de seriedade.

Falsas virgens.

Falsos puritanos.

Dedo em riste numa triste farsa que busca enganar a si mesmo e mostrar a imagem que outros querem ver.


Prof. Péricles
Uma homenagem ao meu amigo Luis Carlos “Batista”

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

GUERRA EM SÃO PAULO


Nos ataques em São Paulo, em 2006, o PCC (Primeiro Comando da Capital) ordenou e fez executar policiais. Militares e civis. Indiscriminadamente. Neste ano de 2012, oitenta e oito policiais militares já foram assassinados. Só cinco deles mortos trabalhando. Quando a morte é fora do trabalho, a família não recebe benefícios. E o PCC sabe que essa regra ainda vigora.

Além desses 88 PMs, supostamente mortos por ordem do PCC, 16 agentes penitenciários e 10 integrantes da Polícia Civil foram mortos em 2012; mas esses, os dez da polícia civil, mortos por reação a assalto, em ação, ou outras situações não caracterizadas como de execução.

Em todo o Estado, até este outubro, os homicídios chegam a 3.330. Só na capital, até setembro, 919 cidadãos assassinados; 96% a mais do que em setembro do ano passado.

Antonio Ferreira Pinto é o Secretário de Segurança Pública. Numa dessas coletivas para a imprensa, há pouco tempo, ele disse que os assassinatos de PMs não tinham "nenhuma vinculação com a facção". A "facção", como diz o secretário sem citar o nome, é o PCC.

Não há quem não saiba que está em andamento uma guerra particular entre o PCC e a PM. Uma PM, pelo que informam alguns dos seus, com divisões; digamos assim. Segundo oficiais da corporação, teriam sido rompidos, de parte a parte, "códigos de conduta".

Há quem negue a existência de tais códigos, mas eles existem. A polícia tem códigos próprios, não escritos, e os criminosos também têm os seus. E ambos têm um código em comum, também não escrito, onde certas atitudes não são aceitas. Pela quantidade de mortos, é evidente que algum tipo de código, ou de acordo – ou de acordos -, foi rompido.

Criminosos matam de um lado? Vem a resposta: alguns, quase sempre em motos, muitas vezes com munição de uso exclusivo de forças policiais, dão o troco e também matam. Fica no ar uma pergunta que talvez contenha a resposta: por que, nesta guerra nas ruas, apenas policiais militares, e não policiais civis, estão sendo executados?

A Inteligência do Estado certamente deve ter respostas para essa inquietante pergunta.

O secretário de Segurança nega, ou negava até outro dia, o que é óbvio. E, diante de câmeras e microfones, atua como se fosse o Durango Kid. Enquanto o secretario atua, e nega o óbvio, perceba-se a ousadia dos ataques: um tenente trabalha na Casa Militar e na escolta do governador Geraldo Alckimin. As iniciais do seu nome são SCS. O tenente foi atacado; não no trabalho. Recebeu um tiro de raspão, no rosto, reagiu e matou o agressor.

Essa informação é da experiente repórter Fátima Souza, a mesma que, em 1995, pela primeira vez enunciou a existência do PCC.

O Major Olímpio, deputado estadual pelo PDT, em recente ato na Praça da Sé, disse com todas as letras:

- Policiais estão sendo dizimados e não adianta negar e dizer que é lenda. O PCC está matando policiais.

O troco, ou os trocos, vem sendo dado nas ruas. Isso nunca funcionou. Nem no Velho Oeste, nem com as milícias no Rio de Janeiro, nem aqui e Brasil afora com os antigos e os novos esquadrões da morte. Isso só serviu e serve para produzir mais mortes, muitas vezes de inocentes. Serviu e serve, também, para eleger oportunistas, com discursos e práticas fascistóides.

Fato é que, antes de tomar posse, o governador Geraldo Alckimin pensou em substituir o secretário Ferreira Pinto. No final de 2006, um importante emissário do governo procurou e sondou o jurista Wálter Maierovitch. Antes mesmo de começar a conversar, Maierovitch impôs algumas condições. Uma delas nomear os comandos das polícias militar e civil. A conversa nem andou. E Ferreira Pinto aí está.

O bang-bang, as execuções, os acertos de contas avançam no interior e, principalmente, nas franjas da cidade de São Paulo. Até quando?

Bob Roberts
http://goo.gl/nWiDj

domingo, 4 de novembro de 2012

NARIGUDOS, RUIVOS E INTELIGENTES



Quem eram eles? Ou melhor seria perguntar, o que eram eles?

Com certeza nós, os homens sapiens modernos não somos uma continuidade deles já que foram extintos, sem deixar, aparentemente, herdeiros.

Os Neandertais foram os reis, os donos da Terra por 100 mil anos. Habitaram a Europa e partes da Ásia entre 130.000 e 30.000 anos atrás. Desapareceram misteriosamente, da Europa a 50 mil e da Ásia há 30 mil anos.

Alguns acreditam que eram inferiores na escala humana, degraus menores de uma escada cujo topo somos nós, os maravilhosos.

Mas então, como explicar que seus cérebros eram maiores do que o nosso? Sim, se a atividade cerebral é maior quanto maior for o cérebro, como explicar que eles tivessem um cérebro 10% maior que o nosso?

Mas, não falavam como nós. Eram macacões que faziam uga-uga...

Essa certeza caiu por terra em 1983 quando um osso hióide de neandertal foi encontrado na caverna Kebara em Israel. O osso encontrado é praticamente idêntico ao dos humanos modernos. O hióide é um pequeno osso que segura a raiz da língua no lugar, um requisito para a fala humana e, dessa forma, sua presença nos neandertais implica, no mínimo, alguma habilidade para a fala.

São tantas dúvidas e tão poucas certezas.

Com certeza tratavam melhor suas mulheres do que nós, construtores de sociedades machistas, pois está comprovado que suas sociedades eram matriarcais. Elas eram a lei não escrita de seu tempo (qualquer semelhança com os tempos atuais é mera coincidência).

Poderosas, mas feinhas se comparadas às gatinhas sapiens.

Tinham cerca de 1,65m de altura, pele muito branca já que habitavam lugares muito frios, narizes mais curtos, mais largos e volumosos e cabelos ruivos. Talvez, por causa desse mesmo frio outras atividades fossem mais selvagens. Gostou?

Nada sabemos sobre os olhos, orelhas e lábios.

Por que não migraram como as outras espécies ficando, praticamente 100 mil anos no mesmo espaço, relativamente reduzido?

E, principalmente, a pergunta mais perseguida pelo mundo científico: por que se extinguiram?

Há poucos anos foi descoberto um fóssil que deixou a todos encucados. Era um fóssil de humano? Ou de algum animal nunca antes identificado? Tinha formas estranhas e confusas.

Depois que todos os nóbeis e phds do mundo paleontológico se debruçaram sobre esses ossos, conhecidos como o “Menino de Lapedo" (Lapedo é o Vale de Portugal onde ele foi encontrado) descobriu-se que eram ossos de uma criança de apenas 4 anos e (incrível descoberta), era o produto de um cruzamento entre uma Neandertal com um homem moderno, o “homo sapiens”, nós.

Mais importante que demonstrar que os sapiens tinham uma quedinha por ruivas de narizinho arrebitado, isso provava que esses grupos tão distintos entre si, se conheceram, provavelmente trocaram informações, trocaram cultura, e transaram, e que tiveram filhos e esses filhos, mais altos, menos corpulentos e com nariz mais rechonchudo se espalharam por aí.

Cai por terra a teoria mais aceita para a sua extinção (que não resistiram ao crescimento e ao predomínio dos sapiens).

Veja que coisa intrigante: nós que nos imaginamos todos descendentes dos sapiens sapiens, talvez não tenhamos todos esses mesmos ancestrais. Talvez alguns descendam dos neandertais. Talvez Eva fosse baixinha, atarracada e nariguda.

Aquele político safado e corrupto... sapiens ou neandertal? E aquela guria metida a dar ordens... quem sabe netinha de neandertal? E o teu chefe brucutu, aquele baixinho?

Qual a causa do desaparecimentos dos neandertais? Se não foi o fato das mulheres mandarem, então, o que foi?

Ou seriam eles realmente mais inteligentes e ao perceber que dominaríamos o planeta e o que faríamos com ele, resolveram se auto-extinguir?

Quem pode saber?

Mas, calma, antes de correr para o espelho para examinar o tamanho do seu nariz, pense que, tudo isso são apenas teorias e nada são certezas.

Ou não?


Prof. Péricles